domingo, 10 de junho de 2012

Felizes Para Sempre?


Impossível permanecermos apáticos diante da movimentação que precede a data: Dia dos Namorados. Os comprometidos saem em busca de presentes, e os solteiros usam a ferramenta de que dispõem para gritar ao mundo, via comunidades virtuais e páginas de relacionamento, que precisam de um companheiro nessa data tanto quanto precisariam de um índio para celebrar seu dia específico. Tal movimentação, de uns e de outros, sejam quais forem suas motivações, deixa claro: para os brasileiros, o dia 12 de junho definitivamente não passa em branco no calendário.

Ao invés de contestar a data simbólica, eu, que geralmente sou “do contra”, desta vez vou aderir. Não por concordar com o apelo consumista destes dias - tamanho consumismo é deveras desnecessário - mas porque tenho um namorado, um marido e um amor, e  - impressionante! - é a mesma pessoa. Alguns podem dizer que estou desatualizada, mas eu reconheceria a léguas a inveja em um comentário desse tipo, pois quem, por mais independente ou auto-suficiente que seja, não gostaria de ter um amor, sincero e real, que durasse a vida inteira?!

Tenho de fato um amor, e quero falar sobre ele. Nossa história começou ao contrário. Mal nos conhecemos, marcamos a data do noivado e a do casamento. Então, antes que houvesse tempo para qualquer outra coisa, ele se tornou meu marido. Fomos casados e selados no Templo, para esta vida e para toda eternidade, conforme determinam nossas crenças pessoais. E vivemos felizes para sempre.


Nada disso! Esse é o final das histórias infantis. Mas cresci e deixei de acreditar em contos de fadas. A frase adequada é: E pusemo-nos ao trabalho para vivermos felizes para sempre. Foi então que passamos a namorar, e finalmente pude começar a dizer por aí: “Tenho um namorado!” Mas não se iludam, o namoro não deu muito certo no princípio. Se eu pudesse ilustrar essa fase de nosso casamento, utilizaria sem hesitar a gravura de dois burros, amarrados um ao outro, indo cada um para um lado oposto, na direção de alimentos ali deixados, em dois montes distintos. Naturalmente a corda esticava, e como cada um puxava para seu lado sem ceder um milímetro, nenhum animal se alimentava. Tenho a imagem vívida em minha mente, e nenhuma descreve melhor os primeiros meses de meu casamento, ou seja, meu namoro. Foi nesse período que conhecemos de fato um ao outro. Que descobrimos as qualidades e, o que é terrivelmente assustador, que o outro não era o ser perfeito dos nossos sonhos! E então, o que fazer? Como dois burros atrelados, empacamos. Burros no duplo sentido da palavra: denotativo, numa referência a imagem descrita; conotativo, considerando a estupidez de nossas escolhas. Empacamos porque nosso namoro, e todo encantamento típico dessa fase, simplesmente se desintegrava como fumaça no ar. Aparentemente não evoluíamos. E os burros da história começaram a passar fome!


A esta altura, posso adivinhar os pensamentos de alguns: para que tanto sofrimento, afinal? Não seria mais lógico romper aquela corda, já que um não nasceu unido ao outro? Tão fácil desatar os laços... E ainda mais fácil do que devolver a liberdade aos animais da ilustração seria recorrer ao divórcio. Tão prático, tão simples, tão comum em nossos dias. E tão inútil! Que aprenderiam aqueles animais sobre a vida, se não tivessem que buscar juntos uma solução para seu problema? Egoístas, teriam que viver para sempre solitários, pois se novamente atrelados a outro, viveriam o mesmo dilema. Não acredito no divórcio como solução de problemas, embora o reconheça como recurso disponível e inevitável em certas situações. Na maioria dos casos, porém, a solução milagrosa não passa de uma fuga disfarçada de necessidade.


Após alguns meses de fome de amor e afeto, começamos a pensar. E quando pensamos, agimos. E quando agimos, resolvemos qualquer situação. Tão simples e tão óbvio! Como os burros precisavam andar primeiro em direção a um monte de alimentos, nutrirem-se juntos com ele, e depois andar em direção ao outro, nós precisávamos tão somente olhar e andar na mesma direção. Eu já tinha um marido, também um namorado, mas foi nesse dia de sol que ganhei um amor. E o amor significa exatamente isso: vencer  barreiras de egoísmo, destroçar  paredes de orgulho, suplantar montes de presunção. Não se requer compatibilidade de gênios para isso, nem que um dos cônjuges se anule em função do outro, muito pelo contrário: é necessário somente a disposição de olhar para além de si mesmo.

Não tenho qualquer dúvida de que justificativas para o divórcio, em tempos atuais, se acham às pencas. É de fato a saída pela tangente,  cômoda e propícia. Mas o desejo de permanecer casados, de reconquistar o amor quando ele parece de chama ardente ter-se transformado em brasa adormecida, esse requer esforço e poucos estão dispostos a pagar o preço. Como conseqüência, os namorados e os maridos se multiplicam, mas poucos de fato encontram um amor. Eu encontrei o meu, e como já mencionei, foi numa história que começou ao contrário. Se uma história às avessas pode dar certo, como justificar o fim em um relacionamento planejado, devidamente organizado em seus períodos? Certamente aí está o problema: estipular um começo, um meio e um fim para todas as coisas, partindo do conceito de que sentimentos eternizados estão fora de moda, ou, ainda que voltassem para a moda, estariam fora de nosso controle. Verdade, controlar o sentimento alheio não é algo que nos cabe ou que possa ser realmente possível. Mas controlar minhas decisões em um relacionamento é algo que faço com alegria, sem delegar tudo à ação do tempo ou do destino. Não acredito em fórmulas exatas, receitas para o sucesso, mas estou convicta de que qualquer casamento pode dar certo, havendo em ambos os envolvidos esse desejo e um mínimo de interesse pessoal em facilitar o acesso.


Basta de burros teimosos, acreditando que pode haver alguma vitória em jamais ceder! Basta de pessoas que trilharam metade do caminho e que saem por aí desacreditando o casamento e as relações duradouras: estou aqui para atestar a alegria de persistir. Afirmo que, embora árduo, é um caminho de realizações que não se conseguem, na mesma proporção, em nenhuma outra área da vida, nem pessoal, nem profissional. E viva o dia 12 de junho! Tenho muito a celebrar: tenho um namorado, um marido e um amor! E, a exemplo de Rapunzel e seu par romântico no filme Enrolados, “estamos vivendo felizes para sempre”... Sim, para toda eternidade!


Templo de Porto Alegre - A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Suzy Rhoden
* Texto reeditado, publicado originalmente em julho de 2011.






13 comentários:

  1. ameiiiiii lindo nossa fico feliz de ser tua amiga, uma pessoa muito culta e inteligente.Estou amando teus textos ......

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  2. Obrigada, Jana, pelo carinho de tuas palavras! Você sabe que aqui, neste texto, está boa parte de minha história... obrigada por ter sido um grande exemplo no momento em que precisei tomar algumas de minhas decisões mais importantes na vida!
    Beijão!!!

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  3. Olá,Suzy!!!!

    Belíssimo,querida!!!!!É isso mesmo!
    O amor se fortalece a cada dia...mas depende de nós para que isso aconteça!!!Tenho,graças a Deus um amor, que é meu marido,meu amigo,etc...E só posso agradecer todos os dias por ele!
    Parabéns pelo texto e pelo amor!!!!!
    Beijos!!!

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  4. Suzy, não conhecia essa parte da sua história de amor, realmente vocês merecem a família e o lar que vocês construiram.A cada dia foram moldando a felicidade com a ajuda do Pai celestial.
    Adoro vocês!
    Que continuem sendo sempre felizes!

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  5. OI SUZY!
    QUE LEGAL TEREM, PERSISTIDO!
    O QUE ESTÁ ACONTECENDO HOJE É QUE AS PESSOAS NÃO SE DÃO MAIS AO TRABALHO DE TENTAR CONHECER AO OUTRO E APÓS ISTO CONSTRUIR UM RELACIONAMENTO FORTE E DIGNO DE SER VIVIDO.AO PRIMEIRO PERCALÇO, SAEM FORA, ACABAM OS CASAMENTOS COMO O INICIARAM, SEM NEM TENTAREM SE CONHECER DIREITO.
    UM BELO DIA DOS NAMORIDOS PARA VOCÊS!
    ABRÇS

    zilanicelia.blogspot.com.br/
    Click AQUI

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  6. Suzy, que linda história de amor! Você tem toda razão, casamento é um conjunto de fatores, entre eles, a persistência. Acredito também que a fé ligada à prática da religiosidade fortalece um relacionamento, o casal sempre é mais unido e vence as dificuldades quando tem Deus no coração.
    Amei seu texto, uma preciosidade!

    Beijos

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  7. Suzy querida: este texto não é para lançá-lo apenas no Dia dos Namorados; é um texto para ser lindo sempre. É falar de matrimônio, de união, de amor. Não importa se você e seu marido começaram de trás pra diante, pelo fim... isso pouco importa. O que importa é o esforço para manter uma união, um casamento. Como você diz, e eu assino embaixo, é muito fácil desfazer algo que não está dando certo e partir pra outro relacionamento. Aliás, hoje é o que mais se vê, uma vez que as estatísticas mostram que casamentos, hoje, duram em média 3 anos.

    Tudo começa na base da paixão, e todos sabem que paixão dura pouco. O amor é que conto, o amor é gostar e se preocupar, é um relacionamento maduro, paramos de pensar na gente - com egoísmo -, para passarmos a pensar em duas, três, quatro pessoas.

    Parabenizo quem ama, quem sabe valorizar o outro pelo que é; quem é capaz de renúncias em prol de ver o outro feliz. Amar, amiga, a gente aprende, é como ser mãe, não nascemos mãe, nos tornamos mães ao longo de nossa história. Como também aprendemos e sentimos o que é o verdadeiro amor. E nada se compara a isso.

    Lindo seu texto, lindo seu amor, linda é você!!
    Beijão
    Tais

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  8. Suzy,
    Muito bonita a sua história de amor.
    Beijos
    Denise

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  9. Suzy, sua crônica reflete perfeitamente o que vc é: uma pessoa madura, íntegra e com princípios, pois soube valorizar seu casamento. Emocionei-me por que considero o casamento sagrado, uma instituição perfeita, originada por um Ser Perfeito.

    Não acho que começou de trás pra frente, começou do lado certo: o lado do descobrimento mútuo, o inicio da jornada onde não sabemos o que vamos encontrar pela frente.

    Além de esperta, vc foi inteligente. Analisou a relação, fez os ajustes, aparou as arestas e encontrou o equilíbrio. É isso que deveria fazer todo casal, mas partem logo para solução que lhes parece mais fácil: a separação. Ninguém hoje está disposto a ceder em favor do cônjuge, aí fica aquela disputa dos dois burros, que, aliás, vc exemplificou muito bem. Eu adorei! rsrs.

    Amor é isso mesmo, é doar-se. Amor se constrói com compreensão, afeto, confiança, e principalmente paciência! É uma conquista e não um presente que cai no nosso colo. Não é nada fácil essa conquista, mas a recompensa, ah! Essa não te preço!

    Parabéns amiga, nem imaginas como concordo com tudo que escreveu. Sua lucidez me impressiona! Tenho certeza que Deus aplaude, aprova e te abençoa!

    Um beijo

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  10. Linda essa tua história e foi bom relê-la..Vale relembrar coisas boas,não? beijos,tudo de bom e boa sorte para o pequeno de óculos...chica

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  11. Oi Suzy,

    Gosto de histórias reais, gosto de vida e a sua história é vida! Que lindo! Uma história de amor que não tem vergonha, não tem mistérios, não tem medo de enfrentar os desafios.
    Lindo! Parabéns por essa família linda que formaram!

    Beijos

    Leila

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  12. Oi Suzy :)
    Suas postagens às vezes demoram para atualizar no meu blog,mas acabei de ler 'Felizes para sempre'e fiquei encantada com a sua história de amor!
    Uma bela lição a todos nós.
    A arte da convivência é trabalhosa,mas quando insistimos e persistimos,conseguimos excelentes resultados.
    Adorei essa frase:
    ' E quando pensamos,agimos.E quando agimos,resolvemos qualquer situação.'
    Sou fã de suas crônicas.
    Bjs!

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