segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ei, Dor!



     Uma experiência recente, com uma amiga magoada, despertou em mim o desejo de confrontar uma velha conhecida, a Dor. Tenho algumas coisas a dizer a essa senhora, coisas que em outros tempos não me ocorreriam, provavelmente por pensar que na nossa relação meu papel era única e exclusivamente o de ouvi-la. Respeito por sua sabedoria? Talvez. O fato é que sua presença me intimidava, e eu não me sentia capaz de contestá-la. Mas os anos passaram, a garotinha frágil cresceu, ganhou experiência, formou suas próprias convicções,  amadureceu. E hoje está aqui, cheia de argumentos para o confronto.

Ei, Dor! Agi sob tua influência diversas vezes, sendo facilmente persuadida por causa de minha fragilidade momentânea. Todas ações equivocadas, das quais me arrependi em momentos futuros. Em uma ocasião, fiz como esta minha amiga: julguei precipitadamente muitos dos meus amigos, e antes que pudesse ouvi-los para desfazer o equívoco, eliminei todos de minha vida. Eles tentaram, mas como contatar-me se coloquei todos para fora e ergui em minha volta uma fortaleza?! Eles gritaram, mas não pude ouvi-los, porque meus ouvidos estavam ocupados ouvindo-te. Como culpar esta minha amiga fragilizada, quando ela fez comigo o mesmo que em outros tempos fiz com outros amigos? Um dia ela compreende, como eu compreendi, que tu não tinhas  razão em todas as coisas e volta para ter esta mesma conversa contigo.

Pensei, durante muito tempo, que tu eras minha única companheira. Aquela que me entendia profundamente e que me acalentava. Que me protegia a qualquer custo de meus inimigos, quando a inimiga era tu! Pois sempre que ouvi teus conselhos, andei com passos largos para a solidão. Fiz julgamentos precipitados, ferindo outros e aumentando a ferida que em mim já era enorme. Neguei  perdão àqueles que consciente ou inconscientemente me machucaram, mantendo acesa a chama devastadora do rancor, provocando incêndios incontroláveis de tempos em tempos... sendo eu a principal vítima, aquela que saía dilacerada de todos eles!

Tanto te ouvi, que me esqueci de viver. Do teu lado, fui continuamente infeliz. Mas não para sempre, pois encontrei em meu caminho um aliado: o Tempo. Esse bom senhor me falou do papel das madrastas nos contos de fadas, e então te reconheci! Fugi de ti. Corri muito para que não me reencontrasse. Reuni forças para hoje voltar  e dizer-te sorrindo, com as palavras de uma música que me faz muito bem aos ouvidos e ao coração:

“Ei, Dor, eu não te escuto mais!” Não importam quais sejam teus argumentos, não posso ouvi-los, pois estou ocupada demais sendo feliz. Não temo tua presença, pois ela só se faz sentir na solidão ou no silêncio. E eu vivo bem no meio de uma multidão de amigos – sem cobrar  deles a perfeição, sabendo que sou também imperfeita com eles – e quebro qualquer silêncio que se imponha com a força do meu canto ou com o poder do meu argumento. Dor, eu realmente não te escuto mais.

Suzy Rhoden
Gravataí,   03 de julho de 2011

2 comentários:

  1. "Pensei, durante muito tempo, que tu eras minha única companheira. Aquela que me entendia profundamente e que me acalentava. Que me protegia a qualquer custo de meus inimigos, quando a inimiga era tu!"
    Uma das minhas partes favoritas!
    Agimos assim constantemente, dando espaço a dor em nossas vidas, fazendo com que acreditemos que ela é nossa saida, nossa fuga, nosso castelo forte! Que não deixemos que ela seja nosso refúgio, uma vez que exista felicidade, pois o que importa é ser feliz!

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  2. Isso mesmo, Lanna, abaixo o império da dor e do sofrimento! Aprendamos a lição que eles vêm trazer a nossa vida, mas não façamos deles nosso refúgio afinal, como você bem mencionou, que nosso destino seja sempre a felicidade!!!!
    Obrigada pelo comentários, beijinhos!

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