segunda-feira, 25 de julho de 2011

‘No, no, no’




Depois de abordar tangencialmente a escravidão do relógio, em minha última crônica, o trágico fim de Amy Winehouse não me deixa opção senão abordar diretamente a questão dos vícios, escravidão que lhe roubou a juventude e a carreira e que culminou com o fim extremamente precoce de sua vida.

Não se fala em outra coisa. Como acontece com todo artista que tem sua carreira meteórica assinalada por um fim desse tipo: a morte, nesse caso literalmente da noite para o dia. É de certa forma chocante. Não a morte em si, pois essa sinceramente já era anunciada pela própria cantora em canções como Rehab, o que choca é o exercício do livre arbítrio, a que todo ser humano tem direito, para a escolha de coisas tão ruins e decadentes.

Penso o seguinte sobre os vícios: ao menor descuido, eles entram “de mala e cuia” em nossas vidas.  No começo, dão a entender que vieram apenas para uma visita de alguns dias, e que irão embora a qualquer tempo. Mas como um parente folgado, vão ganhando espaço e tomando conta do terreno. Quando pensamos em expulsá-los de vez, descobrimos que até a escritura da casa já está em seu poder, e assinada por nós! Eles assumem o controle, direcionam nossas vidas, e nós, covardes, acreditamos na ilusão que eles fazem questão de transmitir: é tarde demais para qualquer ação, somos cativos seus para sempre.

O vício se instaura nas ações mais simples do cotidiano. Quem garante que o inofensivo copo de cerveja com os amigos na Happy Hour não será a passagem secreta para as muitas garrafas esvaziadas nas madrugadas frias e solitárias do futuro? E o cigarro um precursor para uma série de outros entorpecentes? O parente folgado às vezes traz consigo, com os passar dos dias, os seus amigos ainda mais folgados do que ele. E quem não teve firmeza para expulsar um só, terá voz para fazer recuar todo um grupo?

Preocupo-me com essa ação desencadeadora. Preocupo-me também com aquele que recebe oferta de ajuda, mas que insiste em dizer que tudo está bem, que tudo está sob total controle. Dependência química, seja qual for a substância viciante, é a própria afirmação do descontrole. Normalmente está relacionada à dependência psíquica. E ambas causam um estrago irreversível na vida dos que se condicionam a ela. A oferta de ajuda – sugestão de tratamento clínico, normalmente oferecida por familiares ou amigos próximos – vem como uma tábua de salvação para o náufrago a vida dos dependentes. E ainda há os que a rejeitam! Amy Winehouse é exemplo perfeito disso. Em Rehab  disse um criativo não, pois veio cantado, repercutido e reproduzido em todos os países deste mundo. Não a reabilitação. Em seu caso, comprovadamente um não à vida. E muitos há que se inspiram em seu ato rebelde e tolo.

No seu caso, de que valeu a voz inconfundível? O sucesso, a fama, o dinheiro? Os famosos affairs? Há os que proclamem, como se isso servisse de consolo, que ela viveu uma vida intensa e que isso tem o seu valor. Mas que intensidade pode existir na mente entorpecida? Se nada foi real, nada perdurou. Outros a vêem como uma vítima do destino. Como assim, vítima?! Ela teve escolha, e escolheu. Vítima então é minha amiga, abandonada antes dos 4 anos por mãe e pai, criada por famílias que a exploraram, espancaram e desprezaram. Amor? Só foi conhecer na idade adulta. Nem esse amor gratuito em quase todos os casos, que é o amor de pai, de mãe, de família, ela teve na vida. E estruturou sua existência nos entorpecentes? É hoje uma pessoa amarga e ranzinza?  Está entre os seres mais doces e felizes que conheço na vida! Casada com um homem maravilhoso, mãe de 3 crianças lindas, profissional bem-sucedida, exemplar em todas as coisas que faz na vida. Contou-me sorrindo sua triste história, como se falasse de algum conto-de-fadas que leu em algum livro, sem dramas, sem mágoas. Vítima ela? Não, alguém que fez a escolha certa na vida.

Quanto a mim, sou desse jeito e quem me conhece sabe disso: parente folgado jamais encontrará em meu território espaço para armar sua tenda. Como tenho tanta certeza disso? É simples: até mesmo o copo de cerveja com os amigos na Happy Hour eu dispenso. Vivo muito bem sem ele. Saio, vou às festas, a bailes, viajo, me divirto e tenho amigos. Sem álcool, sem cigarros, sem drogas, nem mesmo na quantidade que as pessoas chamam de “dose social”.

Zelo por minha saúde, tenho amor à vida. Prezo minha liberdade, coisa que não teria se utilizasse, em qualquer grau, cigarros, bebidas alcoólicas ou entorpecentes. É lamentável o trocadilho, mas Amy Winehouse estaria viva se para eles, e não para a clínica de reabilitação, ela tivesse cantado com firmeza o seu famoso ‘no, no, no’.

Suzy Rhoden
Gravataí, 25 de julho de 2011

2 comentários:

  1. Oi Susy! Amei o teu blog. Aos poucos vou lendo tudo... A última crônica, aborda um tema que, além de atual, é de suma importância. Definitivamente, temos que levantar essa bandeira. No, no, no. Bjusss.
    Janete Vargas

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  2. Oi, Suzy, obrigada pelas tuas palavras tão gentis. Procurei teu quadro de seguidores, mas vi que não colocaste. Quanto a esta cantora, dá pena, sim, dela e de tantos outros que entram num vício qualquer, seja drogas, bebida, esporte ou internet. Sim, tudo que é exagero, é vício, nosso cérebro é safado, sente falta do que dá prazer, manipula. Quantos estão viciados, também na Internet, fazendo parte de várias comunidades sociais? Que perdem seu emprego por causa disso? Recentemente a Globo mostrou um programa sobre esses viciados, é triste. Jo Japão há programas voltados para a juventude nesse sentido, também. Tudo tem uma medida certa, saiu dela, tá ferrado.

    Um beijo pra você
    Tais Luso

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