terça-feira, 26 de julho de 2011

Pais ‘de Primeira Viagem’




Hoje, em meu retorno ao consultório médico, pensei que, por ser o Dia da Avó, iria me deparar com uma e ter algo atualizado para escrever a elas, numa espécie de homenagem. Não foi o que ocorreu. Para minha decepção, as únicas pessoas a dividirem comigo a sala de espera na clínica, na primeira hora da manhã, era um casal com seu filho recém-nascido. E o que se pode esperar de interessante de pais ‘de primeira viagem’, afinal?! Frustrante. Eu queria a avó.

Mas de repente aquele casal coadjuvante foi roubando a cena, com seu pequeno rebento a mexer as  mãozinhas. De onde eu estava,  não via seu rostinho, mas percebia as mãos agitadas que iam e vinham, para cá e para lá. Pequenos dedos compridos que ora esticavam, ora se comprimiam. E aqueles pais babões acompanhando encantados a cena, como se estivessem diante do mais aguardado musical da Broadway, extasiados com a performance do ator principal.

Eles estavam justificados: aquele era seu primeiro filho. Eu, mãe de ‘terceira viagem’, logicamente não me deixaria comover por algo que já vivi, revivi e  ‘trivivi’. Não mesmo? Em segundos, estava eu na maternidade, recebendo dos braços da médica o meu primogênito. Meu lindo menino! Amamentá-lo era de todos o momento mais esperado, pois silenciosamente conversávamos um com o outro. Eu, oferecendo o alimento que o nutria, fortalecia e fazia sentir amado. Ele, piscando os olhos de uma maneira especial e prolongada como jamais, em outra circunstância ou para outra pessoa, eu o vi piscar da mesma maneira. Guardarei esse momento, que carinhosamente chamo de ‘a piscadinha’,  para sempre em minha memória e em meu coração. Eis algumas preciosas lembranças de minha primeira viagem.

Minutos depois, eu de novo na maternidade! Meu segundo filho, tão amado, sendo entregue pela pediatra a mim e ao papai, numa manhã ensolarada. Assim ensolarado foi crescendo ele, com olhos enormes sempre arregalados, e um sorriso que ia de orelha a orelha. Acompanhávamos seu crescimento encantados, como turistas deslumbrados, esquecidos por um instante de que não passavam por ali pela primeira vez. Eis um breve relato de minha segunda viagem.

E mais uma vez, a maternidade. Mas nada de discrição desta vez, a princesinha tão esperada chegou a este mundo anunciando a que veio. Seu choro forte ecoava pelos corredores, impondo a vontade de alguém ao mesmo tempo tão pequenino e tão resoluto. Ela sabia que precisaria ser forte para lutar pela vida, pois teve que passar suas primeiras horas longe da mamãe, recebendo banho de luz na Unidade de Tratamento Intensivo. Como pareceram longas essas horas! Contudo, havia momentos em que elas paravam completamente, vencidas pela força do instante eternizado: instantes em que eu visitava minha filha para amamentá-la. Aproximava-me de seu bercinho e sussurrava meu amor para ela. Não compreendia como um ser tão pequenino ganhava tanta força de repente, pois ela, que ainda não tinha qualquer domínio sobre seu próprio corpo, agitava pernas e braços na tentativa de mover-se  em minha direção. Não chorava, mas emitia sons perfeitamente compreensíveis para mim, plenos, repletos de amor. Assim foram os primeiros dias de minha terceira viagem.

Mas... Onde mesmo eu estava? Ah, sim, num consultório médico, observando um casal de primeira viagem. Poderia ser a quinta, ou a décima, que a cena seria a mesma, haveria o mesmo deslumbramento. Em relação a nossos filhos, somos todos turistas encantados, daqueles que carregam a câmera para todo lado, atentos para o clique exato a cada primeira vez: primeira roupinha, primeira troca de fraldas, primeiro banho, primeiro passeio, primeiro dentinho, primeira faculdade... o quê?! É, eles estão barbados, concluindo o doutorado, e nós querendo clicar cada primeira vez.

Não encontrei a avó que me desse a crônica. Concluí que não precisava mesmo encontrá-la... Dia da Avó para quê?! Ser avó é empreender a mesma primeira viagem, só que desta vez junto com os filhos... E não é necessário um dia específico para isso, pois a qualquer tempo será sempre a primeira vez.

Avó com a netinha - viajando em família!

Suzy Rhoden
Gravataí, 26 de julho de 2011




6 comentários:

  1. Amei Suzi !!! No mesmo instante que lia ficava imaginando como será a minha terceira vez? Ai que ansiedade pra ver o rostinho do Davi !!! Parabéns pelo talento e obrigada por compartilhar !!! Um grande abraço pra toda a Família !!!

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  2. Oi, Suzy! Olha, amiga, acho que não existe pais de segunda, terceira viagem, pois na medida em que um filho é único e diferente dos demais, tudo também se torna diferente. Tanto a primeira gravidez como a segunda e as demais, serão únicas. Os partos serão diferentes, também. E no decorrer da vida, do crescimento dos nossos filhos, vamos nos deparar com as situações mais inusitadas, então aquela viagem que pensamos que dominaríamos, ficou só no inconsciente.

    Meus filhos são muito diferentes, apesar da educação dada ter sido a mesma. Não sei de onde surgiu estas viagens, talvez pelo conhecimento das mães em relação ao período da gravidez. Bem que também pode ser uma maneira de pensar apenas minha, pois as pessoas são diferentes e os mundos são desiguais.

    Porém, o que dizes na crônica, o amor é o mesmo! Este sim não muda. A gente vibra com o primeiro dentinho, os primeiros passos e o esperado 'mamãe'! Sim, neste ponto as viagens são iguais. E nós vibramos como na primeira viagem.

    O que mais se parecem, penso, são as avós! Estas são iguais, estão aqui para serem amigas, companheiras e não mais educadoras, já cumpriram seu papel. Agora, elas só desfrutam amor.

    Um beijo, amiga, vou lendo teu blog, tem muita coisa boa.
    Até.
    Tais luso

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Nossa Suzy, quantas aprendizagens...parabéns pelo teu blog, prometo que sempre que eu puder vou estar conectada com ele ok?Esse texto ficou maravilhoso, e nada como ser mãe de três anjinhos para falar com tanta propriedade não é mesmo?Acredito que ser mãe é algo inexplicável e encantador...espero que quando eu for mãe (se Deus quiser logo logo) eu saiba educar e amar ao mesmo tempo, pois acho que essa não deve ser uma tarefa muito fácil...vou te pedir algumas dicas ok?
    Mais uma vez parabéns, seu blogo ficou um sucesso!
    Bjão amada

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  5. Confesso que cheguei aqui por acaso e me encantei com seu texto, magnífico!

    Beijos

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  6. Ai que lindo, Suzy!!!!! É assim que me sinto mesmo agora em minha "3ª viagem"!!!! Quando ouvi o coraçãozinho a bater pela primeira vez.... mesmo que em minha terceira gestação, o meu pareceu que saltaria pela boca... outro dia eu senti o "primeiro chutezinho" (ou será terceiro? kkk) e já me veio a vontade de chorar... mas como assim, né?! Já não era pra estar acostumada? Que nada! E ontem então, que eu o/a vi numa Ultrassonografia e com os braços mexendo pra lá e pra cá... e não aguentei mesmo.... mais chorinho, mesmo que bem disfarçadamente!!!!! Assim como você, amiga.... também amo minha terceira viagem, como se fosse a primeira!!!!!!!

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