sábado, 2 de julho de 2011

Projeções


            Eu, que sou otimista assumida e não dou o braço a torcer nesse quesito, fiquei me perguntando: o que existe de positivo em se extraviar na mudança o primeiro quadro pintado na escola, e dedicado aos pais, pelo filho primogênito da família?! Aconteceu comigo... e meu árduo desafio foi encontrar algo de bom nessa experiência!

            Reconheço que a primeira reação foi de inconformidade com a perda. Era um quadro simples, um auto-retrato feito por uma criança de 4 anos... mas de valor inestimável para uma mãe caça-talentos como eu! Portanto, aos meus olhos, era uma obra-prima e sinceramente de muita qualidade para tão pouca idade.  Na nova casa, já estava reservado local de destaque para o quadro na parede da sala, e eu mal esperava pelo momento de pendurá-lo ali, inchada de orgulho de meu pequeno Da Vinci. Mas o quadro nunca chegou.

            Refletir sobre esse incidente me levou além das questões materiais e afetivas...  Quantas vezes pintamos um quadro de expectativa em nossa mente, reservamos lugar especial para ele nos aposentos secretos de nossa alma, mas a obra se extravia nas mãos descuidadas do destino? Quantas projeções que nunca vêm a se concretizar, deixando paredes de nosso coração sem cor e sem vida? Lacrimejantes, sentamos e observamos  o espaço vazio mais do que apreciaríamos a própria obra se ali estivesse!

            A solução para o problema com o quadro que se perdeu veio depressa, em uma conversa com minha mãe: “Para que tanta preocupação com o quadro, se você tem o artista? Peça a ele que pinte outro, será uma excelente oportunidade de desenvolver seus talentos!” Sábias palavras, perfeita resolução de meu dilema. Mas... Será assim tão simples resolver as frustrações da vida?

            Sim, o princípio é o mesmo. Somos nós os artistas, decidimos o quadro que queremos pintar. Escolhemos como decorar cada compartimento de nosso coração. Se a primeira experiência não deu certo, que tal mudarmos as cores, o motivo, a textura? Podemos fazer isso a qualquer momento, assinamos a obra! Lamentar espaços vazios, reservados para quadros que nunca chegaram, não muda os fatos. Arregaçar as mangas, pegar os pinceis e aproveitar esses espaços vazios muda tudo, traz novas perspectivas.

            Enfim, concluo este texto com a agradável sensação do dever cumprido: encontrei vários pontos positivos em minha triste experiência de perda. E assim é a vida... não adianta lutar contra os fatos, as tristezas não se converterão em alegrias simplesmente. Mas podem significar um excelente ponto de partida para novos brilhantes caminhos... Que tal nos aventurarmos por eles agora mesmo?

Suzy Rhoden
           Gravataí, 13 de abril de 2011 

Um comentário:

  1. Muito legal e tua m~e,sábia. O artista estava ali!! Faltava outra tela... Lindo!!

    Te sugiro republicar aos poucos esses textos lindos que no início do blog ficavam sem leituras. Vale a pena!! beijos,chica

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