sábado, 2 de julho de 2011

Quanto vale seu sonho?



Esta semana começou com más notícias relativas ao concurso da Polícia Civil, no qual fui recentemente aprovada. Por alguma razão injustificada, o andamento do concurso atrasou e a previsão para matrículas no curso de formação exigido passou deste para o próximo semestre. Nada bom para quem, como eu, se dedicou às várias fases desse  concurso e mobilizou toda sua vida em função dele. Qualquer reação de indignação, neste contexto, me parece compreensível. Tenho visto isso em meus colegas, mas não é a indignação  que me incomoda, e sim o desânimo que tomou conta de alguns. Esse, sim, é destrutivo e merece meu olhar de escritora (e não o de candidata) neste momento.

Enfrentar contratempos no percurso é algo comum para quem se aventura a grandes e nobres feitos. Eu diria, inclusive, que eles fazem parte do percurso e que não haveria jornada, de fato, sem eles. Enfrentar o previsível é tarefa fácil, qualquer ser humano precavido consegue. Mas quando os ventos sopram em outra direção, quem tem forças para seguir andando? A resposta para essa pergunta parece muito simples, mas na prática nem todos avançam, alguns retrocedem e outros se desviam por outros caminhos. Não há mal nisso, em minha opinião. O instante em que os ventos sopram é justamente o momento propício para a reflexão: quanto vale meu sonho?

Por vezes, estamos insistindo no sonho errado. Não acontece? Claro que sim! As universidades estão cheias de pessoas insatisfeitas com suas escolhas, mas incapazes de radicalizar e trocar o curso de Arquitetura pelo de Música, por exemplo. Da mesma forma, pessoas caem de paraquedas nos mais diferentes concursos públicos, afoitas por uma oportunidade de ter vida financeira estável, um plano de carreira, ainda que o retorno financeiro não seja o melhor, nem o mais justo. Estarão erradas? Entrar nesse assunto significa criar uma nova polêmica, o que não é o objetivo deste texto. O ponto essencial é que esse investimento no “sonho errado” pode acarretar em desânimo diante do obstáculo. A solução, então, é retroceder ao ponto inicial e recomeçar a caminhada em outra direção, ou então aproveitar uma bifurcação no caminho e fugir da fúria dos ventos. Não há erro nisso, nem covardia, mas há o exercício da liberdade de escolha que todos felizmente temos nesta vida. Aqui estão contemplados meus queridos colegas que, diante dos imprevistos, retomaram seus estudos para algum outro concurso. Boa sorte em sua futura profissão! Pagando o preço da diligência, serão bem-sucedidos naquilo que escolherem, chegará o dia de sua conquista.

Outras vezes, sabemos muito bem quanto vale nosso sonho, e isso dos dá as forças de que precisamos para resistir aos ventos e andar. A princípio, talvez andemos mais lentamente, pegos de surpresa pela oposição. Mas conforme oferecemos resistência, nossos passos se tornam mais e mais seguros, e nossa mente se torna cada vez mais firme e convicta naquilo que realmente queremos. Dentro de algumas horas, entendemos as dificuldades como aliadas, pois nos dão a oportunidade de reafirmar nossos propósitos, renovar força e empenho. Passamos a lutar com muito mais ânimo e coragem, sendo capazes, pela força de nossa convicção, de enfrentar não somente os ventos, mas o que vier tentar nos desviar de nosso curso, pois sabemos com exatidão para onde estamos indo. Aqui estão meus colegas guerreiros, dedicados ao extremo, que em seu esforço individual buscam beneficiar o coletivo, agindo das mais diversas maneiras apesar de todo vendaval. Talvez se frustrem, cansem, tenham seus momentos de fúria ou de desatino, mas não param jamais de andar e de acreditar. Sabem quanto vale seu sonho e estão dispostos a pagar o preço para vivê-lo.

Existem, porém, os que sentam à beira do caminho e se põem a chorar. Com esses me preocupo. Não avançam, não retrocedem, não mudam o curso. Por esses a vida passará, e nem terão percebido. Ficarão sempre à margem dos acontecimentos, lendo a história escrita por outros, abismados por se darem conta tardiamente de que a batalha aconteceu bem diante de seus olhos, porém não enxergaram! Quanto valia seu sonho? Por que não se doaram um pouco mais, por que não insistiram, por que não enfrentaram os ventos? Esses estão anônimos, isolados, submetidos à ação do destino, que os levará para cá e para lá, pois como bem mencionou  Lewis Carroll em seu clássico Alice no País das Maravilhas, se você não sabe para onde vai, tanto faz o caminho que escolhe. Esse é o único grupo, o dos desanimados, para o qual não haverá qualquer chance de realização: nem agora, nem em momento algum. No momento em que pararam, decretaram o fim do caminho.

A esta altura do texto, não posso negar: a escritora que há em mim provoca a candidata, apta em tantas fases do certame, que foi temporariamente atingida pelos ventos. As duas de repente se encontram e a primeira desafiadoramente pergunta para a outra: Então, quanto vale seu sonho?

A escritora parte (debochada, talvez), sabe que nesse momento a candidata aprovada tem muito (muito mesmo!) a refletir e avaliar...

Suzy Rhoden
 Gravataí, 18 de junho de 2011

Um comentário:

  1. Suzy, parabéns pelo belíssimo texto, traz reflexões conscistentes e muito importantes...sabe que me perguntei isso também??quanto vale meu sonho??tenho tantos...um deles o próximo é ser Mãe, mas esse é indiscutpivel, pra mim vale ouro!Mestrado???sei lá...já valeu bastante, hoje já não sei mais qual é o seu valor nesse momento da minha vida. Ter minha casa própria??é um dos mais difíceis até agora, mas a hora que for o momento certo esse sonho vai se realizar. Passar num concurso público???sim esse também tem um peso bastante grande na minha caminhada, mas também acredito que tudo é uma questão de tempo, e a hora vai chegar!
    Na verdade, acredito que muitos sonhos ainda vão surgir pelo meu caminho e a medida que a minha vida vai acontecendo os sonhos vão se realizando, e não adianta termos pressa porque as coisas acontecem no momento certo. O que nós podemos fazer????lutar, lutar, acreditar e nunca, mas nunca desistir dos nossos sonhos!
    Um beijo e parabéns pela reflexão Suzy

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