sábado, 2 de julho de 2011

Vislumbre da Partida


Haverá um momento em que a guerra terá acabado, e os valentes soldados serão chamados de volta para casa.

Uma de minhas canções favoritas, cantada pelos pioneiros Santos dos Últimos Dias durante sua travessia nas planícies geladas dos Estados Unidos, diz:

Chegando a morte tudo irá bem
Vamos paz todos ter
Livres das lutas e dores também
Com os justos viver

Alcançar de fato esse vislumbre da partida é coisa para poucos. Tudo irá bem? Haverá paz? Temos certamente essa esperança, mas pouco nos importamos com a trajetória, raramente a avaliamos para saber se ela realmente nos levará a esse dia de paz. Importa-nos viver bem cada dia e evitar ao máximo possível qualquer menção ao temido dia da passagem. Hoje, porém, quero falar dele. Se alguém se sentir incomodado com o assunto, este é o momento de interromper sua leitura. Prossigam comigo os bravos e corajosos!

Nos funerais, ouve-se com freqüência, entre cochichos, algo do tipo “foi um bom homem nesta vida”. Mas quem quer ser simplesmente um bom homem? Essas palavras me intrigam, vêm como se algo precisasse ser dito, como se uma existência precisasse ser naquele momento justificada e, na falta de algo mais interessante, apela-se para a bondade. Confesso que fico incomodada com os “bons homens” que são descobertos no dia de seu funeral.

Em algumas raras e especiais ocasiões, no entanto, ouve-se o reverente silêncio, profundo de sentimentos. São desnecessárias as palavras, inoportunas. Não há o que se comentar sobre esses homens. Mas há uma história escrita com vida realmente vivida, um legado de obras deixado como herança, um exemplo que será citado de pai para filho, transmitido de geração para geração. Esses não foram bons homens, foram os melhores! Por causa de sua grandeza, eles nunca, de fato, se vão. Seus feitos ficam para narrar a continuidade da vida que sempre lhes será atribuída. Será mais ou menos assim  em todos os lugares por onde um desses valorosos homens passou:

Os vizinhos olharão para a casa ao lado e retribuirão com um sorriso o “bom dia” que desta vez não ouvirão  com o sentido auditivo. Os colegas de trabalho não terão tempo para sofrer  sua ausência, pois lembrarão do homem produtivo e responsável que ele sempre foi, a postos toda vez que o dever o chamou, e farão também sua parte com toda diligência. A família sentirá a dor da saudade, mas viverá  pela alegria do reencontro em algum “lugar” do futuro, pois a morte não pode separar em definitivo aqueles sobre os quais há um selo eterno e uma perspectiva que ultrapassa as fronteiras desta vida... e, com esse conhecimento, haverá paz!

Haverá um momento em que a guerra terá acabado, e os valentes soldados serão chamados de volta para casa. Esse será um lindo dia de reencontros. Dia de descanso. Mas alguns  foram tão bravos e destemidos que eu ouso crer que serão despertos, do outro lado do véu, por uma voz familiar de comando: Levanta, guerreiro! A batalha continua, e somente os melhores soldados foram escolhidos para servir aqui.

Os bons descansam. Os melhores seguem lutando até o Dia Perfeito.

*Homenagem póstuma ao Patriarca Artur Nunes (In Memoriam - 12/06/11)

Suzy Rhoden

Gravataí, 13 de junho de 2011

2 comentários:

  1. POR MUITO TEMPO VAGUEI PELA INTERNETE TENTANDO LER ALGO SOBRE MEU PAI, NUNCA QUIZ FAZÊ-LO, POIS SERIA SUSPEITO DE HOMENAGEÁ-LO COMO MERECIDO, CONTUDO, AGRADEÇO PELAS SUAS INSPIRADAS PALAVRAS EM DESCREVER SEU LEGADO AQUI NA TERRA E O CONFORTO DE QUE UM DIA SEREI ORDENADO A LEVANTAR-ME JUNTO DELE. DEIXO MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS. Idomiro..

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  2. SUZI, MINHA QUERIDA IRMÃ, SÓ AGORA VI QUE ERAS TU, AS PALAVRAS ACONSOLADORAS QUE LI, TINHAM QUE VIR DE TI.. ESCREVEU COM PROPRIEDADE E CONHECIMENTO, COMO SEMPRE FAZES. UM GRANDE E FORTE ABRAÇO A TODA FAMILIA... SAUDADES VIU!!

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