quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Abrem-se livros, e surgem os caminhos...



Vivi momentos de introspecção nos últimos dias, lendo muito sobre muitas coisas.

É interessante, a leitura  me leva  por novos caminhos, acrescenta saberes, imagens, paisagens. Não canso de me deslumbrar com um Brasil que até então não tinha conhecido, por exemplo, com seu povo e sua história, sua cultura, sua tradição. Outras vezes, vou ao exterior, falo novas línguas, conheço nova gente... Tudo tão diferente daqui, do meu país, e ao meu alcance: nada além do folhear de algumas páginas ou do navegar por outros mares, via internet.

Saboreio essa experiência, vou realmente além do saber, transformo tudo em vivência. Sinto aquilo que leio. Choro emocionada, outras vezes me indigno. Faço ares de chocada, impressionada, extasiada! Depende da qualidade da aventura...

Confesso que às vezes desisto do passeio, porque ele não vale a pena. Afinal, ser sedento e ávido por conhecimento não significa aceitar tudo: muito pelo contrário, pessoas com essa especificação tornam-se muito mais exigentes. Gosto do novo, mas não tolero a vulgaridade. Se o trajeto me leva para o que é medíocre, tenho a coragem de fechar o livro. Sou cuidadosa com minha mente, uma vez que vivo tudo que chega até ela: evito que seja utilizada como depósito de lixo.

Recentemente, me embrenhei pelo sertão, junto com uma ‘caravana do bem’. São os voluntários do Instituto Brasil Solidário, representados pelo Dr. Wolber Campos em seu blog Crônicas de um Brasileiro. Não sei explicar o quanto seu trabalho de amor, junto com sua equipe, preencheu meu coração. A palavra ‘preencher’ cabe muito bem, de fato, pois é esse o sentimento. Como se antes houvesse uma lacuna, algo ainda em branco dentro de mim. Já não há. Vivi com eles a alegria de servir o povo brasileiro, nos lugares mais remotos. Entendi algo que só quem empreende semelhante viagem consegue captar: população desprovida de certos recursos não significa, exatamente, população pobre ou infeliz. Vi alegria nas fotos, uma alegria que saiu da tela e se projetou em cheio sobre mim. Um povo sofrido, sim, sob certos aspectos, mas que muitas vezes vive a vida com muito mais sabedoria do que eu, metropolitana, priorizando o contato com a natureza e a presença real (e não apenas virtual) dos amigos e da família.

De fato, a leitura me leva por novos caminhos. Mas às vezes também me leva de volta a estradas já percorridas... Ah, como é bom ler algo que me faça sentir saudades! Um bom livro sempre  nos conduz por lembranças, proporciona reencontros, traz de volta os elos perdidos no tempo e na distância...

Por isso leio. Leio muito. Leio sempre. Quero rever amigos nas páginas de um bom livro! E brincar de novo como brincava quando era criança. Faço isso exatamente quando leio, e curioso, a brincadeira ainda tem o mesmo gosto e até o mesmo cheiro! Mas explicar isso é complicado, não vou tentar fazê-lo... Afinal, um verdadeiro leitor sabe exatamente sobre o que estou falando e dispensa minha explicação.

O mesmo blog já mencionado me levou de volta a um lugar amado, uma cidade chamada Montes Claros, no norte de Minas Gerais. Trabalhei lá como voluntária em uma missão religiosa, cujo propósito era tornar as coisas em que acreditamos conhecidas de toda população, mas antes de tudo servir  essa gente, assim como serviu a todos o nosso exemplo perfeito, o próprio Salvador Jesus Cristo. Essa era nossa missão.

E num desses dias inspirados, quando recebemos novos colchões para nossa casa de missionárias, tivemos o desejo de levar um dos antigos colchões para uma família, composta por uma mãe e seis filhinhos menores de oito anos. Pouco sabíamos de sua história, eram há poucos dias nossos conhecidos. Mas que importava? O colchão lhes serviria bem, tínhamos certeza.

Ao chegar a casa, encontramos apenas o filho mais velho com alguns de seus irmãozinhos, a mãe saíra mas logo retornaria. Tivemos a idéia de surpreendê-la, organizando a casa para aquela atarefada mãe, já deixando o colchão no seu devido lugar e a cama feita. Mas que surpresa tivemos nós! Não havia colchão naquela cama, nada além de alguns papelões, sobre o qual as crianças dormiam. Partiu-se nosso coração! E com lágrimas terminamos nossa tarefa, deixando tanto quanto conseguimos aquela casa mais alegre e harmoniosa.

Pouco depois, retornou a mãe. Os filhos, todos felizes, sentados sobre a cama, onde ela também se sentou, para ouvir o hino que cantamos para eles. Havia lágrimas em todas as faces, mas também sorrisos!

E isso ainda não é o fim da história: condoída pela chegada dos dias frios, a mãe não suportou mais ver os filhos dormindo sobre papelões e foi à casa de um familiar solicitar um colchão, naquele dia, naquele horário. O dono da casa, que tinha um colchão sem utilização, negou a doação ou mesmo o empréstimo justificando que nunca se sabe quando chegarão as visitas. E a mãe voltou triste para casa.

Quem, senão aquele que naquela missão representávamos poderia ter feito o milagre e nos inspirado a levar o colchão para a família? Todos tivemos, naquele dia, a certeza de que existe um Deus e um Salvador, Seu filho Jesus Cristo. E Eles olham por nós, ouvem nossa súplica e providenciam socorro a seu tempo. Nem todos os leitores desta crônica compartilham dessa crença, eu sei. Mas o que senti e o testemunho pessoal que recebi da presença divina naquele momento é algo que permanece dentro de mim, independente do que os outros, neste mundo democrático, pensam ou sentem.

Agora sim vem o fim da história: vivi tudo isso outra vez. Lendo. Sendo remetida a lembranças doces, comoventes, inesquecíveis. Sentindo a mesma emoção daquele dia. Ah, o que seria de mim sem os livros?! Realmente pobre e desprovida de qualquer recurso que uma pessoa precisa para viver.

Suzy Rhoden
Gravataí, 31 de agosto de 2011

8 comentários:

  1. Que experiência maravilhosa você viveu, seu texto é um lindo testemunho. Vivenciar esses momentos é lembrar que é preciso tão pouco para ser feliz e podemos doar muito mais que imaginamos em prol da felicidade do outro.
    Amei seu texto.

    Beijos

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  2. Já ouvi muita gente dizer que os livros são os melhores companheiros, seja na dor, seja na alegria. Ler sim, porcaria não, concordo com você, Suzy. Sem solicitarmos, recebemos em nossas casas muita porcaria através das mídias. E muita coisa boa, também. É só saber escolher.

    Quanto à sua experiência, como voluntária, foi magnífica. São estas coisas que fazem nossa alma pular de alegria. O resto é o resto. Tudo passa.

    Um beijo, amiga!

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  3. Néia,

    Bom ter você sempre por aqui! Obrigada pelo carinho =)

    Beijos

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  4. As melhores coisas das nossas VIDAS acontecem de forma simples e sem rodeios.
    Você muito bem o disse aqui.
    E seu comentário na minha postagem vem de encontro com tudo o que penso,amiga.
    Lógico que de certa forma compreendemos as técnicas e teorias, mas não vivemos somente por elas.
    Somos livres e capazes de levantarmos nossas próprias conclusões.
    Abraços

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  5. Suzy, minha amiga,

    Me faltam palavras para agradecer as palavras que usou para meu blog e para o trabalho que fazemos.

    Lhe agradeço, do fundo do coração, por tudo!!

    Peço desculpas pela demora em comentar, havia lido no dia em que você postou, mas a correria fez com que eu deixasse para mais tarde.

    Pra você ter uma idéia da loucura desses dias estou no aeroporto, às 5:30h da manhã. Estamos embarcando para Fortaleza, onde começamos um trabalho no sertão de 20 dias.

    Assim que voltar consigo te escrever com mais tempo.

    Muito obrigado por tudo, Suzy!!

    Abraço!

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  6. Tais, foi mesmo uma experiência incrível, que me fez tanto bem ao ponto de desejar compartilhá-la.

    Obrigada por você estar sempre por aqui, com sua sabedoria e e seu talento indiscutível para propôr reflexão com teus comentários!!!

    Beijão, minha amiga!

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  7. Malu, é isso mesmo, é preciso haver respeito por todos os profissionais. Mas precisamos ser capazes de discernir o exagero que há em certas teorias, e usar nosso livre arbítrio para fazer nossa própria escolha.

    Obrigada por sua passagem por aqui, um beijão!

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  8. Wolber, meu amigo!

    Entendo e justamente admiro essa sua correria para fazer o bem, para servir, para ajudar!

    Bom saber que você esteve ausente em palavras para estar presente em ação junto aos que precisam de seu talento.

    Ótimos dias no sertão, volte de lá cheio de histórias para contar em seu blog - não tenha dúvidas de que estarei lá para ler!

    Um abraço.

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