terça-feira, 23 de agosto de 2011

Concursos, provas, testes e afins.




Eles acompanham a vida de todo ser humano, desde quando a inocência é perdida com o ingresso na escola. Ali começam nossos testes, que evoluem para provas, transformam-se no bicho-papão do vestibular e, depois de nós graduados e especializados, múltiplos são seus nomes para melhor se adequarem a nossa escolha profissional: entrevista de emprego, concurso público, defesa de tese.

O fato é este: em cada fase da vida estaremos sendo avaliados, tendo que provar nosso conhecimento adquirido. Mais do que isso, temos que provar que mesmo sob pressão não somos abandonados por um conhecimento fujão – o famoso ‘branco’ nas horas mais impróprias – mas que somos capazes de administrar nossas emoções sem que o conhecimento requerido nos falte.

Minha lembrança mais remota de um teste me leva para o que era a segunda série na época, em meus 7 anos, na escola rural onde fui alfabetizada. Não lembro de uma palavra sequer da avaliação, mas tenho vívida a imagem das carteiras rigorosamente enfileiradas; a professora à frente com ares de general, esforçando-se por esconder o sorriso tão fácil em seu rosto em dias normais. Precisava mostrar para a classe que aquele não era dia de brincadeiras. Na fileira paralela a minha, exatamente ao meu lado, estava minha prima Judite. Esse foi meu azar!

Terminado o teste, colori o patinho que decorava a página de atividades, e claro que precisava exibi-lo para minha prima Judite, como num concurso sem palavras para decidir quem havia feito o melhor trabalho. Fui pega no flagra apresentando a prova para minha colega! Bem, não era a prova, e sim o patinho, mas que argumentos teria uma menina de 7 anos contra o olhar reprovador da professora decepcionada? Fiquei arrasada. Abaixei minha cabeça e tomei uma decisão: eu nunca mais seria censurada pelo mesmo motivo em minha vida. Concluí a faculdade livre da vergonhosa acusação de obter boas notas por haver recorrido à cola. Graças ao patinho!

Cresci sem traumas com os testes – na escola ou na vida. Percebi bem cedo que estamos sempre sendo provados, e tratei de me preparar. Quando utilizo a palavra ‘preparação’, refiro-me especialmente à capacidade de driblar a pressão natural nessas circunstâncias. Quem disse que falhamos quando não conseguimos a nota mais alta em uma prova? Ou então que perdemos a oportunidade de nossa vida quando fomos eliminados em um processo seletivo? Ou quando nosso nome não consta na lista de aprovados para determinado curso no vestibular? O que parece ser uma falha pode ser apenas uma curva em nossa rodovia profissional, ou uma vírgula na história que de fato  algum dia escreveremos.

Lembro-me de minha primeira nota na prova teórica de redação, na faculdade: não alcançava a média. Logo depois veio a prova prática, e obtive nota 10 e os mais rasgados elogios da professora. Não demorou até ela própria chegar a uma conclusão: “você tem um estilo particular de escrita, que foge às regras e padrões convencionais”. Sugeriu que eu não me deixasse padronizar e assim perdesse  minha peculiaridade. A falha, nesse caso, não era exatamente uma falha e sim uma distinção – o que não dispensava minha obrigação de dominar a teoria, ainda que eu não fizesse uso prático dela. Agi com sabedoria em relação a isso e não tive mais problemas com notas na disciplina.

Posso citar aqui mais do que um amigo que enfrentou um, dois, três, até quatro vestibulares para Medicina! Era o curso que realmente queriam, insistiram diante da sensação inicial de fracasso e alcançaram o êxito ao seu tempo; são hoje ótimos profissionais nas mãos dos quais entregaria meus filhos para que cuidassem de sua saúde, se tivesse a oportunidade de fazê-lo. Injustiçados pelo destino na primeira tentativa, não gastaram vocábulos reclamando ou se lamentando, mas colocaram em prática ano após ano aquilo que a experiência lhes acrescentou em sabedoria e um dia brindaram a alegria dos objetivos atingidos.

Existem, claro, aqueles que surpreendem a si mesmos com a vitória na primeira tentativa. Aconteceu comigo no vestibular. Viajamos de minha cidade natal, eu e um grupo de mais cinco jovens, com o intuito de prestar vestibular na Universidade Federal de Santa Maria. Quatro desses estavam em pânico, porque precisavam ser aprovados. Eu e outro jovem queríamos, mas não nos sentíamos obrigados a conquistar uma aprovação, afinal era nosso primeiro vestibular. Transformamos nossos dias de provas em agradáveis momentos de passeio e turismo, distantes da tensão que tomava conta de maioria dos vestibulandos: eles ocupados com suas revisões, nós com as novidades da cidade, a beleza das montanhas, os novos ares. Preciso especificar quem foram os únicos aprovados desse grupo?

Penso que nosso sucesso nesse caso nada teve a ver com ‘sorte de principiante’, e sim com um modo de enfrentar os desafios que nos possibilitou raciocinar de maneira sensata na hora precisa. A tensão nos rouba essa capacidade. A ansiedade é a grande vilã responsável pelos lapsos de memória – os famosos ‘brancos’. Mas já não precisamos sofrer com ela, pois foi desmascarada: apresenta-se hoje a nossa disposição uma multiplicidade de terapias, desde as técnicas de respiração trazidas pela prática da ioga, até a terapia da exposição, aconselhada no caso das fobias. Para quem não vê a necessidade de investimento financeiro, a sugestão é o investimento de tempo: exercícios simples de inspiração e expiração minutos antes da prova são apontados como milagrosos. Os efeitos são imediatos.

Depois de muito me expor em situações de avaliação, desenvolvi uma teoria: mais importante do que a finalidade pela qual estou participando de um concurso ou seleção é o fato de eu ser participante. Sinto-me grata pelo momento, vivo o instante. Gosto de sentir aquele típico calafrio, a emoção de estar frente ao incerto. Gosto particularmente do sabor de desafio que cada prova traz em si, recebo-as como um estímulo às faculdades adormecidas dentro de mim. Há em tudo a oportunidade de aprendizagem.

Tive esse privilégio no último domingo, fui participante de um concurso público. Em cada face, estampava-se uma reação: o terror, o pânico, a ansiedade. A tranqüilidade, a calma, a serenidade. E eu, atenta a tudo e a todos, quase esquecida de que estava lá para uma prova... não seria para uma crônica?

Bem, não tenho qualquer garantia de que conquistei a vaga única oferecida, mas aqui está a prova cabal de que minha tarde de testes não foi perdida. E assim é com tudo na vida.

Suzy Rhoden

Gravataí, 23 de agosto de 2011

6 comentários:

  1. O TEMPO PASSA E NOS TORNA MAIS SÁBIOS E PASSAMOS(OU TENTAMOS) SOFRER APENAS NAS COISAS QUE realmente VALEM À PENA...UM TESTE, UM CONCURSO? ORA, ISSO É SÓ MAIS UM... TENHO CERTEZA, DEVES TER IDO BEM NESSE DOMINGO E NO MÍNIMO, DEU UMA LINDA CRÔNICA...BEIJOS,CHICA

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  2. Parabéns pelo seu texto. Vou salvar seu endereço, para ler sempre seu blog e recomendar.

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  3. Suzy, realmente, cada vestibular para Medicina era um aprendizado maior. Só assim se pode medir o que ainda falta. A ansiedade, a pressão e o pânico também atrapalham, mas fazem parte. A velha receita de "inspira e expira" funciona bem! Pena que só aprendi isso durante o curso!!hehehehe.

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  4. Moacir,

    Obrigada pelo carinho!
    Espero você, sua esposa e seus amigos por aqui, comentando e participando do blog =)
    É uma alegria receber a visita virtual dos amigos, especialmente daqueles que sempre foram inspiradores e serviram de exemplo de vida para mim.

    Um abraço!

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  5. Moises, querido!
    Você sabe que fez parte da minha crônica, és meu exemplo de esforço e dedicação: vestibular, concurso, liderança na igreja e etc.
    Aguardo o dia em que será o 'médico da família'! rsrsrsrs
    E vamos divulgar a receitinha do 'inspira/expira' que funciona mesmo!!! rsrsrsrs
    Abraço!!!

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  6. Suzy,
    Acredite que essa é uma das melhores crônicas que já li. Sobre as provas de concurso,tenho um "truque" dos bons. Português, matemática,informática e atualidades são assuntos digamos que indispensáveis em quase todos os concursos; portanto, não fico esperando sair edital para poder me aprofundar em tais matérias.Experiência de quem já foi reprovado em muitos concursos e de quem já foi aprovado em tantos outros, o útimo obtendo a primeira colocação.
    É isso, menina! Desejo sucesso na prova; mas sem que isso a impeça de continuar escrevendo bons textos como esse.
    Abraços!

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