segunda-feira, 1 de agosto de 2011

De repente, 30!


Um convite muito criativo para uma festa de 30 anos, postado no Facebook, chamou minha atenção nesta tarde. Fazia uma divertida referência ao filme De Repente 30, lançado em 2004, no qual uma jovem de 13 anos acorda, no dia seguinte ao de seu aniversário, com inacreditáveis 30 anos! Para ela, cansada de sua vida de adolescente, foi a realização de um desejo... Mas claro que vieram os contratempos. Não me prolongarei comentando um filme antigo, que já deve ter sido assistido por todos os leitores, quero falar do convite: trazia uma montagem que substituía o rosto da protagonista do filme pelo rosto da aniversariante, e um lembrete para todos os amigos de ‘13’ comparecerem ao local da diversão. Adorei a idéia, e até seria tentada a copiá-la se não tivesse vindo com 2 anos de atraso para minha festa de 30...

Mas, se a idéia chegou atrasada para a data festiva, chegou bem a calhar com minhas intenções de escrever uma crônica sobre o assunto: de repente, 30! Os meus chegaram assim, de repente, num agradável dia de outubro. Não tinha me dado conta deles até aquele momento... Estava ocupada demais vivendo, sem tempo para somas ou para neuras com números (idade). Mas considerei a utilidade de uma avaliação de meu percurso, e passei um dia ‘fechada para balanço’, em total e absoluta introspecção.

30 anos... ‘já?!’ ou ‘finalmente!’? Só havia um modo de saber: fiz o caminho inverso ao do filme, voltei aos meus 13 anos. Voltei a ser a garota do interior,  despedindo-me do meio rural nessa época, partindo para a cidade com o firme propósito de estudar. Sabia em meu íntimo que jamais voltaria para ficar perto de meus pais naquele vilarejo, que trilharia meu caminho em outros pampas. Sentia isso claramente aos 13 anos: que iria além de onde o horizonte me permitia ver.

Foram muitas andanças a partir de então, muitas cidades onde vivi, muitas pessoas que conheci. Inumeráveis escolhas tive que fazer, nem sempre acertei na que me desse o melhor resultado. Sofri, chorei quando vi as coisas darem errado, mas em nenhum momento pensei em regressar. Juntei as pedras do caminho até compreender com que propósito estiveram lá e me fizeram tropeçar: extraída a lição de cada uma delas, pude finalmente me livrar de seu peso, e deixar as pedras para trás. As lições, contudo, continuam comigo, me ajudam a detectar novas armadilhas e com antecedência desviar-me delas.

Muitas realizações vieram dos 13 aos 20, porém as mais significativas vieram a partir daí: encontrei, finalmente, uma religião que ao invés de tentar trazer respostas vagas para minhas infindáveis perguntas, trouxe a certeza do lugar onde eu mesma posso  encontrar, com segurança, todas as respostas e aquietar minha alma. Filiei-me a essa igreja, e tão forte é minha crença em sua doutrina que logo parti em missão voluntária, proclamando com alegria as coisas que considero verdadeiras. Terminada a missão, concluí também a faculdade, interrompida temporariamente para o serviço religioso. E encontrei então a alegria do trabalho profissional, na área que escolhi para exercer.

Cheguei aos 25. Só então começaram a vir as verdadeiras realizações que uma pessoa pode ter de forma plena nesta vida: casei-me e tive filhos, 3. Até hoje ano ímpar provoca em mim um calafrio... Pois em ano ímpar nasceram todas as minhas crianças! Mas antes que os mais perspicazes tirem suas conclusões, 2011 foi ano ‘fechado para balanço’ no quesito ‘encomenda de bebês’. Mercado saturado.

Mas nem tudo são flores, voltemos para as pedras. Não há data específica para o surgimento do problema, fato é que recebi o diagnóstico de Síndrome da Ansiedade Generalizada e dentro de algum tempo foi constatada sua associação à Síndrome do Pânico. Dias no deserto. Estágio no inferno. Incompreensão e solidão. Dor extrema.

E, de repente, 30! Para algumas, o começo de seus problemas: rugas, primeiros fios brancos, lei da gravidade em ação. Para mim, o fim de meus problemas: oásis. Mudança definitiva para o paraíso. Sociabilidade, multidão de amigos. Paz e equilíbrio. Plenitude. Não encontrei a cura para meus problemas psíquicos, tornei-me a cura. Aos 30 anos. E a vida veio de forma abundante, e eu a recebo com alegria e gratidão. Que pode uma pessoa querer mais do quer ser feliz todos os dias? Bem, eu quero algo mais: fazer outras pessoas felizes todos os dias. Acordo sempre com esse pensamento.

Sobre os dias no deserto, disse a escritora Adélia Prado que vê “a aridez como uma experiência necessária” e que a “temporada no deserto” lhe fez bem. Penso e sinto exatamente o mesmo. Por mais estranho que isso pareça aos que estão por lá agora, e ainda não encontraram o caminho de volta... Persistam, há uma saída! Mas tragam a lição...

Quanto aos meus 2 anos depois dos 30, é muita história para uma crônica apenas... Aguardem, informarei data e local do lançamento do livro!

Suzy Rhoden
Gravataí, 01 de agosto de 2011



4 comentários:

  1. São 8h da manhã, eu devia estar trabalhando e cá estou, não consigo para de ler suas crônicas! hahaha bom né? adoro boa leitura e me identifico com suas experiências - caronas em SM, a vîvência nos tempos de faculdade, e enfim, a chegada nos 30 e junto com ela o Artur! peguei o exame bem no dia do meu aniversário de 31 (tinha feito dia 30), e ele nasceu em 30 de novembro, o pai dele é do dia 30,...

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  2. Juliana, que bom saber que estás gostando das crônicas e se identificando com elas! Isso é o que realmente torna nossa leitura especial, marcante...
    Quanta história com o dia 30, hein! Isso faz você participante do texto, com certeza!
    Bem-vinda sempre, beijos.
    Suzy

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  3. Que texto lindo e bem escrito, Suzy! E que bom ver - e até sentir - que você veio, de mansinho, trilhando seu caminho, tirando pedras e ultrapassando obstáculos. Dá, pra sentir que você é feliz, amiga. Parabéns pelo belo texto. E escolheu bem seu caminho. Você tem um coringa na mão: sua fé. Ja notei.

    Um beijão
    Tais Luso

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  4. Li, apreciei, virei fã! Obrigada por expor tão bem coisas que sentimos e não conseguimos expressar em palavras! Bjos!

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