quinta-feira, 4 de agosto de 2011

De Volta ao ‘Trevo do Castelinho’



Considerando a repercussão da crônica que postei falando de prática desconhecida em muitas regiões, mas tão comum em Santa Maria, decidi voltar ao ‘Trevo do Castelinho’ para elucidar a questão das caronas, e claro, fazer o relato de mais algumas de minhas aventuras.

Em primeiro lugar, quero que fique bem claro que pegar uma mochila e uma plaquinha e partir para o trevo no fim de semana é tão comum quanto vestir a roupa de ginástica, um tênis, e partir para um cooper. Não causa estranheza a quem assiste a cena. Não é indicativo de estilo de vida hippie e muito menos de atividades relacionadas à prostituição. Para os estudantes é uma forma econômica e divertida de chegar ao seu destino, considerando que a prioridade dos investimentos financeiros é a própria universidade e a formação que ela propicia. Para que, então, gastar com a passagem de ônibus se o percurso pode ser feito de maneira segura e gratuita? Sim, geralmente há segurança, pois os condutores na região já estão habituados e até mesmo gostam de companhia ao longo de suas viagens. As plaquinhas são fundamentais para isso: feitas no capricho, mostram que aquele jovem tem destino certo e que não é um simples e misterioso aventureiro à beira de uma estrada.

Nessas condições, lá fui eu, certa vez, para os rumos de Bagé, acompanhada de um casal de amigos. Como a viagem é longa, não se esperava conseguir uma carona direta até o destino pretendido. Não lembro da primeira carona, sei que ela nos levou até  aproximadamente metade do caminho. Mas da carona seguinte lembro bem: um caminhão carregado, tão lento que nos perguntávamos se não seria mais prático e saudável acompanhá-lo numa maratona à margem da estrada! Bicicletas nos ultrapassavam seguidamente, o que deixa uma idéia muito clara da velocidade em que o veículo andava. E assim, em marcha de tartaruga, avançamos para a campanha. Se pelo menos fôssemos deixados seguros em casa, à meia-noite, não haveria problema. Mas não, fomos deixados quase nesse horário só que em uma bifurcação da estrada onde, para nosso pavor, não se via vestígios de civilização, nem para um lado, nem para outro.

Tudo bem, exagerei no horário. Era fim de tarde. Mas se fosse meia-noite dava na mesma, quem pararia na estrada para dar carona a um trio desconhecido? Nem sinal de posto de gasolina ou mesmo de alguma casa até onde nossa vista alcançava; somente aqueles campos típicos da região da campanha a se perder de vista. E o sol despencando no horizonte, para nossa total agonia! Finalmente, um caminhão se fez ouvir. Era tudo ou nada. Perdêssemos aquela carona, era certa a noite ao relento. Para piorar meu estado de nervos, meus amigos lançaram para mim a ‘batata-quente’: Te vira, tu que és de nós a mais dramática! Nem tive tempo de contestar, o caminhão se aproximava. Lancei-me no asfalto, de joelhos, e numa posição de súplica fiz a minha melhor versão ‘gatinho do Shreck’. O motorista parou o caminhão e rindo abriu a porta de seu veículo para nós. Aproveitou para me dar uma dica bastante útil: se algum dia cansasse de meu curso na faculdade, poderia tentar seguramente as artes cênicas, pois criativa e convincente em meu teatro ele tinha provas de que eu era.

Nossa carona nos deixou no trevo de acesso a Bagé, tínhamos ainda alguns quilômetros pela frente e já havia escurecido. Colocamo-nos a andar, mas para nossa felicidade o condutor de um buggy parou ainda em nossos primeiros passos, e ofereceu carona até o centro da cidade. Que maravilha de chegada, pensei eu! E como não sou boba, já fui tomando meu assento na frente, enquanto os outros dois se arranjavam com as malas na parte de trás. Fomos a toda velocidade, e eu amando o passeio! Chegamos ao nosso ponto de referência, descemos do buggy e então, surpresa, dei com o rosto pálido de meu amigo e em minha amiga vi a imagem do desespero.

- Divertido, né? – perguntou ela. Sacudi a cabeça afirmativamente, os olhos brilhando de felicidade, o sorriso lá nas orelhas, quando então ela complementou – Divertido pra você, que estava se achando a Miss Brasil lá na frente, só faltou acenar para o povo! – e me explicou que na parte traseira, onde eles estavam, eram arremessados para o alto a cada curva ou lombada do caminho, e sem ter onde se segurar e ainda com as mochilas para cuidar, tinham que torcer para cair de volta em cima do carro a cada vez. Minha amiga que me perdoe, mas essa para mim foi justamente a parte mais engraçada da viagem.

Claro que eles se vingaram. Levaram-me para um tour madrugada afora, nos pontos mais altos da cidade. Em minha pele, eu sentia o vento assoviar de tão gelado, e na mochila apenas roupas de verão. Por que ninguém me avisou que em Bagé faz inverno o ano todo?! Fiquei traumatizada. Até hoje quando alguém me fala que vai lá para as bandas de Bagé, aqui começo a ‘bater o queixo de frio’ – expressão regionalista que para os gaúchos quer dizer que está ‘frio barbaridade’!

Suzy Rhoden
Gravataí, 04 de agosto de 2011

4 comentários:

  1. hahahahaha

    Nossa Suzy, n conhecia esse teu lado aventureiro! Muito legal! =)

    Acho q vou tentar uma dessas um dia =P

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  2. Oi, Suzi, adorei! Mas você conhece bem aquele ditado: o que aqui se faz, aqui se paga... Pois é. Com dramas e afins, você conseguiu pegar o melhor lugar, ainda. Mas seus amigos lhe aprontaram. Sempre me cuido com o levar vantagem rsr.
    Porém hoje, já não se pega mais 'carona' como antigamente; não tão antigamente, né amiga? Mas acho difícil; tá tudo tão estranho...Mesmo no interior que é mais calminho. Adorei esta foto. Deu pra recordar.

    Grande beijo
    Tais Luso

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  3. Marcos Vinícius Conceição7 de agosto de 2011 às 22:05

    Já pegamos carona juntos... lembra?
    Quando tu conseguiu carona de um camioneiro pelo rádio amador de outro...pra Catuípe se não estou enganado!!!

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  4. Aventura é sempre uma delícia de recordar, ainda mais quando tudo acaba bem.

    Beijos

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