terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Sede do Saber



Alguém aqui ainda duvida da ‘lei da atração’, apresentada pela autora Rondha Byrne em seu ‘best seller’ O Segredo? Antes mesmo de ler o livro, eu já entendia muito bem desse segredo na prática, pois tinha a impressão de que meus pensamentos vinham com um ímã natural, capaz de atrair o objeto em que pensei, ou a pessoa pensada para perto de mim. Felizmente, nunca fui extravagante. E nunca usei essa capacidade para promoção ou para minhas conveniências pessoais, de modo egoísta. Era apenas algo do tipo: sentia saudades de alguém, e a pessoa aparecia, ligava, dava um sinal de vida. Isso acontecia com os ‘amores’ da juventude, com os amigos reais e também com os virtuais. Sempre foi algo muito especial para mim.

Agora isso acontece com minhas crônicas. Sinto-me inspirada a falar sobre um assunto, e surge uma infinidade de situações relativas àquilo para eu viver ou presenciar. Surgem também as pessoas certas, que complementam meus pensamentos acerca do tema planejado. Como um fio invisível, que vai aproximando pessoas, ligando fatos, e formando uma teia perfeita: a teia do aprendizado. Todos nós acrescentamos algo, todos somos participantes do ‘novo’ que surge a partir daí.

Há alguns dias, eu pensava em escrever sobre a sede do saber, que atinge alguns de maneira avassaladora. Li as postagens de uma jovem, inconformada com a idéia de trabalhar durante o dia, atender às aulas da faculdade à noite... e seus livros, tão queridos, tão companheiros, quando teriam um tempo só para eles?! Compartilhei de sua agonia, vi-me em sua pele. Como viver sem os livros? Eles não merecem tamanho descaso, jogados em uma prateleira qualquer de nossas estantes, porque não temos tempo para eles. Estão lá, vastos de informação, generosos, querendo dar-nos de seu conhecimento da maneira mais plena, e nós, pressionados pelo tempo escasso, jogamos sobre eles nosso olhar choroso e nosso suspiro resignado: não hoje, meu amigo, infelizmente. E adiamos a viagem. Tristes, muito tristes.

Ou não. Lembro-me de como tudo acontecia em minha infância. Oriunda de família humilde, sem instrução secular, não tive em casa o contato com os livros. Fui descobri-los na escola - e que descoberta! Eles foram decisivos para a aluna que me tornei: realizava todas as tarefas aprimoradamente, sabendo que então seria dispensada para a minúscula biblioteca e, enquanto os colegas concluíam as atividades, eu decolava rumo aos lugares mais inusitados. Experimentava toda sorte de sentimentos. Lembro-me, por exemplo, do burrinho mal-tratado de Memórias de um Burro: quanta indignação por aquela família malvada, que só fazia explorar os serviços do pobre animal! Daí vem minha solidariedade e empatia ao sentimento do outro, sobrepondo-se à tendência natural do julgamento. Outra de minhas leituras favoritas era Os Desastres de Sofia: pobre menina desajeitada, derrubando tudo das mãos, provocando todo tipo de incidente. Mas esse não era um caso de empatia com o outro... era total identificação!

Assim os livros foram se tornando prioridade máxima em minha vida, a ponto de eu me levantar no meio da madrugada pronta para alçar meus vôos noturnos, sem testemunhas – para evitar chamar a atenção de meus pais, por vezes usava a luz fraca de velas ao invés da energia elétrica! Não que meus pais fossem contrários a minha avidez por conhecimento, mas sabiamente compreendiam que em algum momento crianças precisavam dormir ao invés de ler. Eu era totalmente desequilibrada nesse quesito, e pendia para o lado dos livros.

O tempo passou, mas pouca coisa mudou. Casada, formada, mãe de 3 filhos, preciso mais do que nunca das horas de sono para renovar as energias. Mas quantas madrugadas em que ouço o sussurro dos livros me chamando para viajar em suas páginas! Confesso a dificuldade que tenho em dizer não a seus convites, uma vez que as viagens noturnas parecem ser sempre as melhores, as mais ricas. Certa vez, fui a Key West, na Flórida. Isso ainda em minha  infância, faz tempo... mas lembro bem da paisagem, de cada detalhe. A madrugada me permitia ver com os sentidos ainda mais aguçados, sentir a aventura... Não voltei mais lá, tomei outros rumos. Mas dessa viagem em especial, nunca me esqueço...

Ah, essa sede implacável! Ontem me deparei, por meios virtuais, com 2 criaturinhas sedentas. Jovens, cheias de convites para as baladas, vendo as luzes coloridas do mundo piscarem  intensamente para elas. Mas onde encontram suas melhores aventuras? Nos livros. Em seu fotolog , uma delas se pronuncia ‘eterna amante das palavras’. A já mencionada ‘lei da atração’ me levou a esse reencontro, com essas jovens que foram minhas alunas no curso de Inglês, há alguns anos. E que alegria vê-las bebendo de substância que não embriaga, mas que farta a alma de saber. Jovens, cheias de talentos, e já cheias de histórias para contar...

Nessas horas, me pego cantando com Louis Armstrong: ‘What a wonderful world!’. Enquanto existir gente, de todas as partes e idades, sedenta do saber, existirão bons livros sendo escritos... e o mundo será, sim, maravilhoso!

Suzy Rhoden
Gravataí, 02 de agosto de 2011

7 comentários:

  1. Que linda tua crônica e em meio de tantas coisas que podem nos deixar desesperançosas, de repente ver que ainda há a sede do saber( e isso vemos nas crianças que temos por perto) nos faz bem...

    Um beijo, agradeço pela visita e tudo de bom,chica

    ResponderExcluir
  2. Olá!!

    Impossível não estar aqui depois do seu comentário em meu blog!

    É uma maravilha esse ir e vir através de outros, gosto de ler um comentário que me faça querer conhecer quem o escreveu. Um prazer estar aqui!

    Eu nunca tive tal poder- sempre desejo e faço força acredite.. rs enfim... seu blog é inteligente- nos prende gostei muito de estar aqui, já sigo você!

    Espero ser constante aqui e você no Alma- um trocar de ideias. Tenho paixão por pessoas inteligentes, gosto de conteúdo e isso encontrei aqui parabéns!

    Estou esperando por vc no Alma!

    ResponderExcluir
  3. Suzy, os livros são realmente fundamentais na construção moral, racional e emocional do ser humano. Consciente disso, leio muito e gostei de te encontrar, ainda mais alguém com tamanho fascínio por livros.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  4. Nossa! Que honra a minha ser citada em uma das suas obras maravilhosas, muito obrigada! Sou sua fã, sabia? Se eu conseguir ser uma mãe, profissional, esposa, e todas as outras coisas que você é, tão dedicada quanto você, estarei satisfeita! Obrigada por compartilhar sua bela visão e paixão conosco atráves das palavras.
    Muitos beijos, e saudade!

    ResponderExcluir
  5. Que lindo! São agora 0.50 da madruga e eu aqui no seu blog lendo este encanto de crônica! E teria tanta coisa a dizer também... Mas já é tarde, Suzy, e vou fechar o pc. Amanhã retorno. Porém quis deixar registrada esta minha 'ronda' por aqui.
    Um beijo, amiga.
    Tais Luso

    ResponderExcluir
  6. Suzy, gostei muito dos teus relatos e me identifico muito com os mesmos. Me imagino em uma sala de aula e os alunos atrás de um PC fazendo tudo menos o que foi pedido na aula( navegando, olhando mensagens no msn...).

    ResponderExcluir
  7. Comentário recebido via email... obrigada, amigo Eleandro!

    Olá minha amiga,

    Gostei muito de sua crônica. Como é motivador ver alguém que mesmo em uma sociedade impregnada por um imediatismo e materialismo tão presente, ainda consegue viajar horas a fio, mesmo de madrugada, com boas leituras. Mesmo que essas não tragam retorno econômico, tampouco, contribuem para um mundo consumista.

    Parabéns pela produção que para além da qualidade textual existe algo muito precioso entre as linhas - uma motivação, um convite muito forte para leitura, para um tour entre os livros. Já que você usou a palavra “atração” para descrever pensamentos e ações, penso que esse texto possui uma “atração” - uma força gravitacional, porque nesse exato momento estou me sentindo atraído pelos livros que estão em minha estante. Com sua licença, mas vou ver se consigo uma "passagem" ainda essa noite hehehe

    Um grande abraço e ótimas leituras.

    Eleandro C. Rossatto

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...