domingo, 28 de agosto de 2011

Relação Homem X Animais




Tenho a impressão de que, em conformidade com minha proposta pessoal de servir de testemunha de meu tempo e de minha sociedade, são os assuntos que me escolhem, e não eu a eles.  Alguns, neste momento, gritam em meus ouvidos sua  relevância e ainda que eu  desejasse ignorá-los, são tão prementes que seria impossível  não lhes dar voz. Eles falam por  si, e empresto meu espaço neste texto para que dêem seu recado.

Refiro-me a esse ser, dotado de racionalidade, mas com pouco uso prático da  mesma, que é o ser humano.  Bem, não posso  ser leviana e afirmar que o ser humano não usa seu raciocínio. Ele utiliza, de maneira dissimulada maioria das vezes, e para seu próprio benefício. Para criar maravilhas tecnológicas, úteis não exatamente ao  seu  semelhante mas a si mesmo, considerando o retorno financeiro. Para levar vantagem nas mais diversas situações.

Falo de outros seres também, não dotados de racionalidade. Mas não parece muitas  vezes justamente o inverso: que nossos animais pensam e sentem mais do que os humanos? Que são incapazes de trair ou atacar sem serem antes atacados, ao contrário da espécie que intenta sujeitá-los?

 Planeta dos Macacos: A Origem, que estreou na sexta-feira aqui no Brasil, trouxe exatamente essa idéia. Abordou de maneira brilhante a relação do homem com os animais, e a intenção de cada um nessa relação. Confesso que senti vergonha de minha espécie!  A história de César, o primeiro símio inteligente, encontrou terreno fértil em minha mente: fiquei imaginando o que aconteceria se, cansados da injusta sujeição, animais de todas as espécies se rebelassem contra o homem...

Com a expressão ‘injusta sujeição’ refiro-me especificamente aos maus-tratos. Lembrando que considero maus-tratos práticas como as touradas, as rinhas e as festas de peões, cujo fundamento é levar o animal à ira, dominá-lo nessas condições para consagração daquele que o sujeitou. Sinceramente, que mérito pode haver aí? Gostaria muito de ver um César despertar num galo ou num touro em um momento desses, como vi ontem na ficção. Mas o que vemos são animais antes inofensivos, agora feridos e encolerizados. E chamam isso de festa?! Quanta atrocidade em nome da cultura e da tradição...

Engana-se quem pensa que estas são palavras de uma extremista. Sou a típica cidadã comum, normal, porém consciente. Acredito que muito se revela do caráter de um homem no modo como ele trata os animais. Se não respeita um ser irracional e indefeso, o que poderá fazer  contra  seu semelhante quando contrariado, quando frustrado?

Felizmente, assim como o símio César tinha o cientista Will Rodman a seu favor no filme mencionado, uma multidão de ativistas em ONGs de proteção aos animais ou mesmo civis em ações isoladas e individuais me fazem acreditar no ser humano. Parecem ser a minoria diante de tanta maldade evidente, mas fazem a diferença para cada ser dos quais se aproximam. Deixam seu rastro de amor, um amor capaz de amenizar ou até mesmo apagar toda a  dor de um animal ferido, perdido ou cruelmente abandonado. Por esses, ainda se  faz possível um voto de  confiança à humanidade,   pois  são  os  representantes mais  dignos de nossa espécie.

Concluo com a   história verídica de um  herói: meu cachorrinho Urso. Nunca esquecerei do olhar bondoso que lhe rendeu o nome, nem da atitude heróica que lhe custou a vida. Todas as manhãs, meus pais e eu descíamos para o estábulo onde fazíamos o serviço de ordenha das vacas. Assim que acordava, meu irmão caçula, 3 anos, fazia um trajeto rotineiro para nos encontrar. Não foi assim naquele dia, e nunca mais teria sido dessa maneira se não fosse a interferência corajosa de Urso que saltou sobre a cobra que esperava meu irmão no meio de seu caminho. Urso foi picado, e meu irmão preservado.

Foram apenas algumas horas e nada pudemos fazer para salvar nosso Urso. Ele partiu diante de meus olhos inconformados, porém sinceramente gratos. Pensei que eu nunca mais fosse capaz de ter outro animal de estimação depois dele. E de fato nenhum outro foi como ele, pois eles também são únicos e insubstituíveis – não vêm um  para ocupar o lugar do outro simplesmente. Minhas lágrimas por Urso deslizam até hoje, toda vez que me lembro. E estou lembrando nitidamente agora...

Eu poderia esperar a mesma atitude de um ser humano? Claro que não. Nosso problema é que somos racionais. Demais.

Suzy Rhoden
                      Gravataí, 28 de  agosto de 2011                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

Um comentário:

  1. Que bela crônica. Abomino quando vejo o que nossa espécie faz contra os animais. Nas touradas, rinhas, brigas entre cachorros, festa do boi, etc, minha indignação parece que vai sair pela boca. Suzy, temos um dos melhores supermercados aqui, bem perto. Porém só vendem carne de novilho. Não compro nunca, amiga. Não como patê de ganso, o conhecido 'foie gras'; se você soubesse o sofrimento destes animais; se você ler sobre a carne de novilho...

    Seu grito é de raiva e de compaixão. 'Conheço os homens pela forma que tratam seus animais', esta frase não é minha, mas assino embaixo. Lendo esta sua crônica, e sobre seu 'Urso' fiquei comovida com ele e com sua gratidão. Sou capaz de qualquer coisa para salvar um animal. E tenho certeza de que jamais me arrependeria...

    Beijos pra você.

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