domingo, 2 de outubro de 2011

Maternidade: um chamado sagrado.



Os anos passam e acrescentam centímetros a eles, acréscimos que no dia-a-dia não vemos, ocupadas na árdua tarefa de sermos mães. Não somos desatentas, muito menos distraídas. Penso que não vemos porque não queremos ver mesmo. Mas aí chega aquele dia específico no ano, ditador, trazendo a lente de aumento que tanto rejeitamos, e obriga-nos a encarar a verdade: eles cresceram! Olhamos atônitas ora para o bebezinho que embalamos em nossos pensamentos, ora para o mocinho de olhos brilhantes à frente do painel que lhe deseja um Feliz Aniversário. Entre tantos super-heróis espalhados pela parede, ele é o único que conseguimos ver: o herói menino que de mulheres fez-nos nascer mães, acrescentando a nossa vida, a partir de então, uma aventura por dia. Afinal, como faz todo herói, ele nos salvou do mais perigoso de todos os vilões: o egoísmo, típico daqueles que não sabem o que é cuidar de alguém.

Meu super-herói completou seis anos hoje. Isso explica a nostalgia deste texto. Mas como, se ele nasceu ontem?! Sim, foi ontem mesmo. Ainda sinto o desconforto das últimas horas com ele na barriga, eu enorme e com fôlego reduzido, mas insistindo em fazer tudo como no primeiro mês e em andar longas distâncias. Afinal, estava decidida a trazer meu primogênito ao mundo em um parto normal. Esse era meu ideal de parto.

Mas quem disse que a mim cabia o ideal, o normal, o natural? Os nove meses de preparação física para o grande momento aquietaram-se diante da resistência de meu corpo em ceder passagem para o bebê que queria vir ao mundo, como se meu ventre desejasse retê-lo, guardá-lo ali. Depois de quase 24 horas de contrações e dores intensas, fui encaminhada ao bloco cirúrgico para um parto cesáreo, onde vi surgir, diante de meus olhos encantados, o menino mais lindo deste mundo: o meu menino! Como explicar a emoção de um momento desses? Momento em que passo a ser co-autora da criação, sendo capaz de gerar vida em mim e pelo poder da divindade ter o privilégio de trazê-la a este mundo. Nesse dia, minha compreensão da maternidade afirmou-se como a descrevo hoje: um chamado sagrado que ao mesmo tempo em que eleva a mãe aos céus, traz o reino celestial a terra através do pequenino rebento, numa perfeita comunhão de ambos os mundos.

O famoso ‘parece que foi ontem’ descreve bem os sentimentos de uma mãe a cada aniversário de seu herdeiro. O ‘Parabéns pra Você’ que ecoa pelo salão de festas encontra eco também no filme mental que só ela vê, e os seis anos então se desdobram em muitos até virarem eternidade: momentos felizes que se multiplicam, como se existissem desde sempre e permanecessem para sempre. Nenhum detalhe é esquecido pela mãe, nenhum sorriso ignorado, nenhum abraço compartilhado em vão. As mães lembram de tudo, ainda que não tenham encontrado tempo para atualizar seus diários; confiam nos registros inequívocos de seus corações. Pois coração de mãe nunca falha.

Considero a maternidade a expressão máxima do amor. Incluo aqui aquelas que não geraram dentro de si os seus filhos, impedidas de fazê-lo pelo funcionamento de seu organismo assim como o meu não me permitiu recepcionar meu primogênito por vias consideradas naturais. São mães da mesma forma se aceitaram de algum modo o chamado e se correspondem positivamente à grandeza de suas atribuições. A maternidade para mim é  prova irrefutável de que existe um Deus, um Senhor da vida, que nos ama a ponto de nos convidar, enquanto maridos e esposas, a participar de Seu plano eterno, dando-nos a oportunidade de criarmos e nos tornarmos responsáveis por aquela vida especial que geramos na carne. Isso para mim torna sagrado o poder da procriação, motivo pelo qual ele deve ser usado com cautela e responsabilidade.

Recebi meu primogênito com amor, mas ele não foi apenas amado: ele foi desejado, ansiosamente esperado. E assim que ele nasceu, desejamos dar-lhe um irmão. E depois, com alegria, nos preparamos para receber uma princesa em nosso lar. Fosse novamente um príncipe, haveria a mesma aceitação. Escolhemos a família que temos hoje e trabalhamos muito para mantê-la não apenas financeiramente, mas emocional e espiritualmente também. O estabelecimento de valores individuais e a formação de caráter fundamentado na integridade eu posso assegurar que são prioridade absoluta em meu lar.  

Por ter uma família composta por três crianças pequenas, frequentemente sou solicitada a dar explicações do tipo: são todos seus? Sim, são todos meus. Todos queridos, todos amados, todos desejados. Mas você consegue dar a eles tudo de que necessitam? Sim, estou me esforçando sinceramente para isso. O inquiridor, diante dessa resposta, imagina uma família bem-sucedida, e crianças felizardas cercadas de tudo que o dinheiro pode comprar. Mas está relacionado ao dinheiro o ‘tudo’ de que nossas crianças necessitam? Penso que aí está um grande e comum equívoco da sociedade moderna. Sacrificar impulsos, fazer economias em família, dizer não ao desejo de um filho não é um problema. É assim que eles aprendem a administrar seus bens, a substituir o imediatismo supérfluo pelo que mais importa em longo prazo, e especialmente é ouvindo um ‘não’ que eles aprendem a lidar com as frustrações da vida sem provocarem uma guerra no trânsito ou uma chacina na escola, pois saberão desde cedo e com o exemplo no lar que o mundo não gira ao seu redor e que a vida não lhes trará somente benefícios.

Os maiores valores da vida, e aqueles que realmente importam, não estão à venda. Tive nesta semana um excelente exemplo disso: meu aniversariante, pouco antes de seu sexto aniversário, perdeu mais um dentinho e  foi visitado pela fada do dente que bondosamente lhe deixou uma moeda de R$ 1,00. Sabemos o valor que essas moedas simbólicas adquirem para nossas crianças, contudo fomos surpreendidos com a atitude de nosso filho. Ele espontaneamente ofereceu sua moeda para completar o valor do presente de aniversário que  havia solicitado. Desejava contribuir, dando tudo que naquele momento possuía e que era realmente só seu. E ainda acrescentou algo que fez toda diferença para o grande homem de cinco anos que naquele momento ele se tornou: “Se você puder me dar esse presente, papai, eu ficarei muito feliz. Mas se não puder agora, quero que guarde minha moeda para ajudar a pagar o presente no próximo aniversário”. Ele sabe que às vezes nossa resposta é não para suas solicitações. Mas não duvida de nosso amor por causa disso. Ao contrário, isso faz com que ele valorize cada aquisição, faz com que deseje participar conscientemente delas. Preciso dizer que sua moeda de valor ínfimo completou exatamente o que faltava para a compra de seu presente? Ele fez a verdadeira conquista, com apenas R$ 1,00.

Tenho motivos para ser grata  pela escolha que fiz ao aceitar o chamado sagrado da maternidade. Não esperei até ter uma mansão, o carro dos meus sonhos e uma carreira internacionalmente conhecida. Para mim, a ordem de prioridade é outra. Estabeleci minha família e trouxe com alegria a este mundo os filhos que o Pai Celestial quis me dar, e ao lado dessa família maravilhosa tenho trabalhado para conquistar muitas coisas, menores porém do que aquela que já conquistei e que é a minha força motivadora.

Aos que perguntam se tenho condições de oferecer tudo aos meus filhos, visto que já são três, respondo com segurança neste momento: não, eles não têm à disposição tudo que desejam. Mas meu empenho é incessante em dar-lhes tudo de que necessitam. E isso significa amor, educação, e uma base moral e espiritual sobre a qual estarão estabelecidos para fazerem por si mesmos escolhas sensatas, sempre que a vida lhes fizer essa exigência.

Suzy Rhoden

Gravataí, 01 de outubro de 2011



5 comentários:

  1. Que coisa linda ,Suzi! Adorei ler! Parabéns pelo e para o filhote que completa 6 aninhos...

    E sei bem o que é isso e os questionamentos pois tive 4 filhos em 5 anos...Um atrás do outro...
    Uma linda semana, boa noite, chica

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  2. Oi Suzy, seu texto demonstra muito bem o quanto você é mãe zelosa, consciente de que impor limites aos filhos é uma forma de fazê-los crescer em caráter e espírito. Parabéns ao seu filho aniversariante, que Deus lhe conceda o necessário para que tenha muita saúde e seja feliz sempre!

    Beijos

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Perfeito!!
    Nada a acrescentar, Suzy, só dizer que é um belo texto; um empenho em educar, em dar amor e a conscientizar teus filhos para a fase adulta. Para serem verdadeiros cidadãos.

    Penso que todas as mães deveriam ter oportunidade de ler teu texto. Tudo está em harmonia, amiga! Já dá pra te conhecer um pouquinho. No outro post eu disse que beleza é a interior.

    Um beijo ao aniversariante!! Fez um dia antes de mim? rsrs

    Grande beijo.

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