sábado, 26 de novembro de 2011

A Dúvida - Parte I



A sequência de textos a seguir – apresentados em 3 registros distintos, mas interligados entre si – faz parte de narrativa pessoal intitulada Relatos de Fé. As postagens acontecerão em dias intercalados.



Fui criada dentro de uma religião, ensinada conforme a crença de meus pais desde o berço. Cresci participando ativamente da igreja, tanto quanto me era permitido. Mas vieram os questionamentos da juventude, e com eles uma sede da verdade que não se aplacou onde eu me encontrava. Toda resposta que eu buscava em vão era creditada aos mistérios da deidade, e assim esperava-se que eu me resignasse e seguisse tateando por meu caminho, como uma cega conformada com sua falta de visão.

Não podia ser assim. Havia em mim uma ânsia de conhecer que não me permitia aceitar o mistério como resposta máxima. Com essa sede espiritual implacável cheguei à faculdade, onde foram jogadas sobre mim as mais diversas filosofias – filosofias de homens, o que eu definitivamente não aceitava como verdade suprema. Contudo, influenciada por tudo que ouvia e vivia, acabei me afastando de minha primeira religião, permanecendo apática por alguns anos. Por dentro, esperava por respostas que não vinham; ansiava por uma verdade que não se revelava.

Por fim, esqueci-me das perguntas que carregava e tratei de viver a vida como eu a tinha. Até ser encontrada por dois jovens missionários, dispostos a compartilhar comigo os princípios de sua religião. Por educação, aceitei as mensagens. Mas fui clara ao dizer a eles que não buscava uma religião. Afinal, depois de tantos anos convivendo com um Deus silencioso, não seria agora que Ele iria revelar Sua face e dar-me as respostas antes tão procuradas.

De fato, não vieram as respostas: as perguntas é que voltaram! Aqueles jovens sensatos não vinham jogar conhecimento sobre minha mente assoberbada, mas aquietavam minha alma enquanto falavam de um Deus que eu desconhecia: um Deus de perfeito amor, atento a mim e minhas necessidades; um Pai disposto a falar comigo de acordo com minha fé. Ensinavam-me também a respeito de um Salvador, que veio a terra com a missão de resgatar a humanidade do pecado e de levar-nos de volta a presença de nosso Pai Celestial. Sua crença centralizava-se claramente na fé em Jesus Cristo.

Na mesma época, aproximou-se de mim um colega de faculdade, pastor em outra denominação religiosa. Suas visitas eram freqüentes, mas observei que ao invés de compartilhar comigo a doutrina que acreditava, limitava-se a atacar a doutrina pregada pelos jovens missionários. Situação inversa, porém, jamais ocorria. Os  missionários não atacavam qualquer denominação, tampouco tentavam impor sobre mim a sua verdade. Ao invés disso, ofereciam sua doutrina como um convite para quem desejasse investigá-la, não exercendo sobre mim qualquer pressão. E isso fez com que eu quisesse saber cada vez mais.

Observando meu interesse, meu colega passou a atacar não apenas a outra religião, mas a mim também. Questionava meu padrão de vestimenta, meu hábito de usar maquiagem e o estilo de vida que eu levava. Perguntei-lhe  porque, sendo nós colegas há tantos anos, jamais me falara de sua religião. Sua resposta foi estarrecedora: você não parecia uma pessoa interessada em coisas espirituais. Confesso que fiquei chocada com o pré-julgamento que recebi e considerei que uma religião que faz acepção de pessoas não está, definitivamente, preparada para conduzir ninguém a salvação. Descartei imediatamente qualquer possibilidade de filiar-me a essa igreja e, como era de se esperar, enfrentei a partir daí intensa perseguição.

Ainda assim, eu não estava convencida quanto à religião dos rapazes missionários. Nem eles  tinham a pretensão de me convencer: convidaram-me a orar e perguntar diretamente a Deus a respeito das coisas que me intrigavam. Que existia um Deus eu sabia, jamais duvidara ou deixara de crer. Mas... Ele me ouviria? E falaria comigo? Afinal, são tantos filhos problemáticos neste mundo aos quais dar atenção... Seria eu importante a tal ponto para Ele? Sentia-me pequena e, acostumada que estava a um Deus distante e misterioso, nunca tinha me ocorrido a idéia de me aproximar e buscar diretamente  Seu conselho. Será?!

                                                                                                       Suzy Rhoden

5 comentários:

  1. Suzy:

    Quando nascemos, somos batizados, crismados e vem a 1ª comunhão. E seguimos a religião de nossos pais por muitos anos. Ou para sempre. Como aqui no Brasil a maior religião é a católica, nela fui educada. Fui indo sem nem saber o porquê. Criança não tem escolha quanto a isso. E nem sabe de nada. A gente vai indo...

    Porém, também cheguei à minha adolescência e parti para as contestações. E nunca obtive as respostas das quais eu necessitava. Certas coisa não me convenciam. E também me afastei.
    Mas existem dezenas de caminhos... Vejo esses tantos 'caminhos' apenas como algo que possa conduzir a criatura para seu objetivo, para o que for melhor para ela, para um encontro com seu Deus - e se assim quiser. Então para mim, qualquer 'caminho' escolhido, que fizer alguém feliz e em plena sintonia com sua procura, com seu Deus, é o verdadeiro. Isso é liberdade.

    O que importa, Suzy, é a sintonia entre nosso espírito, nosso fé com a expectativa que buscamos. Os caminhos pouco importam se chegarmos ao topo.

    Belo texto, amiga. Espero a II parte.
    Grande beijo
    Tais Luso

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  2. Puxa,Suzy! Que belo tema abordaste e será legal acompanhar... Esses pré julgamentos ninguém merece mesmo...

    Um beijo,tudo de bom,lindo domingo!chica

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  3. Suzy, confesso que nunca me prendi a nenhum questionamento religioso, não por achar a minha religião melhor que qualquer outra, mas por, simplesmente, pensar que Deus se revela e fala com a gente tão naturalmente, um olhar mais atento e pronto, podemos senti-lo ao nosso lado.
    Estou esperando a parte II do seu relato, agrada-me essa forma verdadeira de partilhar esse momento da sua vida.

    Beijos

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  4. Boa tarde Suzy!
    Gostei muito da postagem,abordada com sutileza e inteligência.
    Os questionamentos existem sempre,mas nem toda pessoa tem coragem de admitir isso...
    Geralmente vivem acomodadas a vida inteira.
    Tô ansiosa pra conferir a sequencia do texto.
    Bjs!
    Uma ótima semana.

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  5. Suzy amei seu post nao conhecia sua historia,tens realmente uma maravilhosa e linda historia com o Evangelho e isso se reflete na sua familia e nas pessoas que voce seleciona pra fazer parte do seu circulo de amizade.Parabens Flor.Beijos

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