quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um Ano Novo para Mônica




Eu particularmente amo esses dias finais que encerram os anos. Alguns dizem que é apenas uma mudança numérica, nada que vá de fato além do calendário. Para mim é diferente: eu realmente revejo as experiências que vivi e que me fizeram chegar até aqui. Acabo rindo das mancadas e memorizando muito bem as trilhas erradas que peguei, para não ter perigo de cair nelas por distração mais uma vez!  E depois vem a parte boa: os acertos, os progressos, as conquistas, os sonhos realizados, aqueles que ainda estão pela metade mas dos quais não desistirei... Tão bom isso, renovo meu ânimo para o ano que chega e entro nele com a certeza de que vou fazer tudo dar certo!

Mas nem todos têm os mesmos motivos que eu para comemorar, para se alegrarem com o ano que termina e fazerem planos em relação ao ano que vai chegar. Não será assim para Mônica. O rostinho infantil, antes sorridente, agora estampa uma dor que ao invés de amenizar, acentua-se com a chegada do Natal e Ano Novo. A expressão reunião familiar , tradicional nesta épocacausa lágrimas que não encontram motivos pra parar de jorrar. 

E por que o Natal e o Ano Novo de Mônica serão tristes assim? Porque algumas pessoas, ao invés de fazerem sobriamente  suas metas e comemorarem alegremente ao lado de seus familiares, enchem a cara e sobem em seus carros de luxo como se montassem em dragões, prontos pra destilar fogo contra quem cruzar seus caminhos. Jalva, a mãe de Mônica, acordou cedo, feliz por mais um dia de trabalho, por meio do qual trazia o sustento de seus 6 filhinhos. Saiu de casa quando o dia amanhecia, mesmo horário em que as baladas entregavam às ruas seus monstros cuidadosamente produzidos ao longo da noite, com doses fatais de álcool e entorpecentes. Um desses monstros descontrolados arremessou-se sobre Jalva, sugou-lhe a vida abundante, e diante do estrago fugiu acovardado. De dragão tornou-se rato, desapareceu no esgoto de sua existência, deixando-a agonizante numa rua qualquer de Porto Alegre.

Mônica sorria quando enterrou a mãe, tinha apenas 3 anos e não compreendia o significado daquela despedida. Mas neste Natal, já com 6 anos, ela sabe muito bem do que sente  falta e falou sobre isso em lágrimas com sua tia Gabriela: só quero vê-la mais uma vez, só mais uma! Por favor, abram a caixa pra que eu possa enxergá-la mais uma vez!

A caixa não foi aberta e Mônica não recebeu o único presente de Natal que realmente lhe importava: ver sua mãe. Consciente da impossibilidade de tê-la ao seu lado neste estágio de vida,  fez novo pedido a tia Gabriela: queria morrer e ir ao encontro de sua mãe, a fim de estar com ela para sempre. A verdade é que Mônica queria ter partido naquela trágica manhã, junto com sua amada mãe... Como consolar uma criança, tendo ouvido dela tão fortes palavras? Como restituir-lhe um pedaço que brutalmente e sem qualquer aviso prévio lhe foi arrancado?

Não posso eliminar sua dor, embora quisesse de todo meu coração poder fazê-lo. Não posso sequer prometer que, assim como termina um ano e outro começa, cheio de novas expectativas e promessas de grandes alegrias, a felicidade voltará para sua vida. Mas posso refazer minhas metas pessoais com coragem e ousadia, e há muito tempo elas me deixam longe das baladas, dos entorpecentes e do álcool. Termino um ano e recomeço outro com a certeza absoluta de que não serei eu a irresponsável a beber e dirigir, ceifando vidas por aí. Como tenho tanta certeza? É simples: escolhi a abstinência total e absoluta de todas as substâncias mencionadas. E escolhi me casar com um homem que compartilha dos mesmos princípios, de modo que nossos filhos estão sendo ensinados a respeito das consequências destrutivas de tais substâncias, e crescem livres do vício.

Surge então a pergunta típica desta época do ano: mas uma taça de champanhe não faz mal nenhum a saúde e você pode beber, não é? É, eu posso beber. MAS EU NÃO QUERO, e por isso não bebo. Nenhuma gota. Há muitos anos. E NÃO ME FAZ FALTA NENHUMA! Os anos viram, participo da ceia com minha família e me alegro junto com eles, danço e me divirto. SEM CHAMPANHE! Aliás, meu maior orgulho é ser casada com um homem que, assim como eu, não entende nada de marca nenhuma de vinho, espumantes, wisky, cerveja ou qualquer coisa do tipo.  Que bênção para minha família, e para as que nos encontram no trânsito, não entendermos nada do assunto!

Para minha querida Mônica, e tantas outras Mônicas, pequenas vítimas da irresponsabilidade alheia, desejo sinceramente que venha um Novo Ano em suas vidas. Sua dor não será apagada com o desejo de vingança, nem com a reprodução da violência sofrida. Mas nas escolhas adequadas virá a paz, eu tenho certeza, e a possibilidade de alegrias até então desconhecidas. Que nas profundezas de sua dor encontrem a sabedoria e escolham tornar-se exemplos de vida bem vivida.

Para todos nós, um novo ano centralizado mais nas metas e objetivos de vida do que nas celebrações vazias; que antes de virarmos os copos brindando o ano que chega, avaliemos se isso é realmente necessário e importante; se estamos preparados com alguém sóbrio, apto para assumir o volante, havendo a necessidade de locomoção. E se alguém ainda quer beber e sentir fortes emoções, que se atire de uma ponte ao invés de ziguezaguear em alta velocidade pelas ruas – mas que vá a pé até lá e faça isso SOZINHO, deixando as Mônicas e suas mães vivas para celebrarem o novo ano que chega em suas vidas.

Responsabilidade no trânsito, por favor! E um Ano Novo para Mônica é a súplica sincera de meu coração aos céus.



Suzy Rhoden

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal!


Queridos amigos,

Nesta época do ano, meu coração se aproxima de meu Salvador Jesus Cristo, pleno de gratidão. Ele tem sido meu amigo, em cada um dos meus dias. Em Seu evangelho, tenho encontrado a paz que preciso para viver em um mundo que traz, muitas vezes, dores e aflições. Contudo, por tê-lo ao meu lado, sigo sempre sorrindo, sempre feliz! Eu realmente amo Jesus Cristo e sei que Ele vive! Celebro neste Natal o Seu nascimento, a sua vinda a esta terra onde Ele andou fazendo o bem, dando-nos um perfeito exemplo de como viver. Sou grata por isso, alegro-me no esforço diário por seguir Seus passos de retidão.

Compartilho aqui meus sentimentos, e meu desejo de um Feliz Natal a todos que me acompanharam neste ano, que possam desfrutar do verdadeiro espírito natalino e sentir claramente a presença do Salvador em seus corações e em suas vidas. Que alcancem a paz tão necessária e somente encontrada em uma vida de retidão! Sou grata por sua presença e apoio aqui, cada comentário me fortalece - obrigada!

Sem mais palavras, compartilho um belo vídeo que conduz nossos corações ao Menino de Belém - que Ele seja o centro da nossa noite de Natal, e nos encha de amor e luz!

Suzy Rhoden


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Lembranças de Natal




Tenho observado a correria típica de final de ano: a busca desesperada por presentes que agradem no Natal, os preparativos para a ceia – que  deve ser a melhor de todos os tempos – e uma série de ocupações voltadas para a grande noite de 24 para 25 de dezembro, que precisa ser perfeita. O que muitos não percebem é que nesse empenho incansável para garantir a festa, acumulam também o estresse, terminando o ano fatigados e carrancudos. Vejo muitas pessoas assim, cabisbaixas nesta época linda do ano! Não desfrutam da alegria do Natal, nem da recepção do novo ano que se aproxima, pois para elas tudo tornou-se um fardo pesado demais, um incômodo, uma obrigação indesejada.

Vejo tudo isso de longe. Sim, de longe. Pois me nego a participar da parte comercial do Natal. Enquanto a maioria corre, permaneço serena, experimentando suavemente o espírito natalino. Será isso possível em tempos atuais? Sim, se tivermos disposição e força o suficiente pra nadar contra a correnteza. Pois a moda é comprar, ostentar, extravazar.

Não sigo tendências, faço o que me alegra e eleva a alma. Nesta semana, por exemplo, ao invés de correr atrás de presentes, deixo-me levar pelas doces lembranças de outros Natais, enquanto me preparo tranquilamente para este. Meus pensamentos me levam para a infância, quando o Natal era ansiosamente esperado em nossa casa. A face de meus pais não estampava o estresse que vejo hoje nos semblantes, dezembro era recebido com alegria e satisfação.  Meu pai encerrava novembro com as compras para o mês sagrado, e nossa alegria era visitar a despensa sem tocar em nada, numa expectativa prazeirosa pelas guloseimas que seriam preparadas. A mãe fazia biscoitos caseiros e nós nos encarregávamos de decorá-los, tudo com deliciosa antecipação – o que nos dava a nítida impressão de que o Natal durava o mês inteiro!

Também me lembro do Papai Noel, que naquela época entrava pela chaminé. Era querido, mas ao mesmo tempo temido, pois sabíamos que investigava rigorosamente nossa conduta durante o ano. Saber da existência dele sem nunca conseguir vê-lo era a melhor parte para mim, pois me fazia traçar mil planos para capturá-lo no ano seguinte, no instante exato da entrega dos brinquedos. Nunca consegui, ele era incrivelmente rápido e silencioso, e por isso eu o amava. O Papai Noel hoje entra pela porta da sala, carregando um saco de brinquedos caros, e ai dele se não forem do gosto da criançada! Corre o risco de sair linxado, o pobre velhinho... 

Nunca reclamei de nenhum brinquedo que recebi, lembro-me de ter sido ensinada a ser grata. Além disso, ainda na infância aprendi que a aniversariante não era eu, mas um menino especial que nascera em Belém para ser nosso rei: o menino Jesus. Para Ele iam as honras daquela noite especial e o motivo da comemoração. O hábito de trocar presentes funcionava apenas como um lembrete de que havíamos sido presenteados por Deus, recebendo Dele um Salvador. Assim, a comercialização do Natal nunca ofuscou, em nossa casa, os propósitos de adoração na noite encantada.

Mas foi na juventude que minha concepção do verdadeiro espírito do Natal se solidificou: compreendi que não basta adorar a Cristo e receber presentes – é preciso doar, sacrificar por outros, para que minha noite e minha vida sejam infinitamente mais significativas! Lembro do dia em que acompanhei um grupo de missionários a um asilo em Santa Maria, levando cada dupla uma pequena árvore de Natal enfeitada. Deixamos uma árvore em cada quarto visitado, e o nosso carinho por aqueles idosos. A melhor parte foi quando um dos missionários cantou Jingle Bell Rock com voz de trovão, e todos encontramos um par entre os velhinhos. Eles riam, dançavam como podiam. Outros sacudiam apenas as mãos, mas sentiam e  movimentavam-se no ritmo. E nós, moças e rapazes presentes, chorávamos sabendo que aquela tarde especial nunca mais seria esquecida.

Não tive uma experiência isolada, tornei a dedicação ao próximo parte importante de minha vida, de várias maneiras, conforme conseguia. E não somente no Natal, mas em especial nessa data tão significativa. Um desses Natais passei em Belo Horizonte, MG, distante dos amigos gaúchos e de minha família. Poderia, pelas circunstâncias, considerá-lo o Natal mais triste e solitário de minha vida, mas foi exatamente o contrário: foi o Natal no qual consegui esquecer completamente de mim mesma para alegrar outras pessoas, e isso me acrescentou alegria genuína.

Junto com minha companheira de trabalho e 2 outras duplas de missionários, saímos ao longo do dia 24 a cantar canções de Natal na casa daqueles que conhecíamos – membros ou não de nossa religião. Levamos, através do canto, a paz natalina a todos que nos receberam: alguns em prédios  luxuosos, outros em casas humildes; algumas famílias bem-estruturadas, já reunidas em seus preparativos para a ceia, outras completamente destruídas pela violência ou pelo abandono, sem qualquer pretensão de celebrações naquela data. Cantamos igualmente para todos o nosso canto de amor, às vezes com voz embargada ou então provocando lágrimas, mas com uma certeza muito íntima e muito real: cantava conosco um coro celestial.

Desde então, quando chega o Natal e o mundo corre, eu paro e escuto as lembranças do passado: elas me ajudam a saber o que realmente vale a pena na Noite Especial, e aquilo de que me alegrarei em lembrar no Natal do ano que vem. E então tranquilamente ajo.

Suzy Rhoden

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Oportunidades de Fazer o Bem


O Bom Samaritano


Recentemente, enquanto passeava pelos canais de TV com o controle a mão, um filme deteve minha atenção. Não havia nada de surpreendente na trama da história, que apresentava o esforço pessoal de um menino para abrandar o amargo coração de um velho rabugento, rejeitado por todos no pequeno vilarejo onde viviam. Diante de um acidente que quase custou a vida do idoso, o menino foi o único a se importar com o ocorrido. Desejava uma aproximação, que era sempre rejeitada pelo velho ranzinza. Não recolhia sequer os alimentos deixados pelo garoto do lado de fora de sua porta, não queria a piedade de ninguém, e em nada amenizava a grosseria e antipatia que o descreviam bem. Os adultos aconselhavam: desista, rapaz, se esse homem não mudou até hoje, não há nada que você possa fazer para mudar sua mentalidade.

Claro que o menino mudou tudo. Histórias assim têm sempre um final feliz, o milagre acontece na ficção. Surpreendente seria ver atitude semelhante a do menino na vida real: quem ainda acredita na capacidade de mudança do ser humano? Principalmente em se tratando de um sujeito vivido, anti-social e com ares de vilão. A idéia que se propaga é justamente esta: que colha o que plantou!

Não pensava assim o menino. Olhou para o passado daquele homem, e na infância dele descobriu um histórico de violência, tortura física e psicológica que lhe era imputada pelo próprio pai. Cresceu assim, sem estrutura familiar, sem uma referência pela qual se guiar. Como poderia ser, na idade adulta, julgado pela incapacidade de amar, de dar um afeto que ele próprio nunca conheceu?

Triste realidade: a vítima de hoje é o vilão de amanhã. Poucos nessas circunstâncias conseguem por si mesmos quebrar o ciclo. Geralmente precisam de ajuda, mas quem se habilita? Não me refiro somente à ajuda profissional, sugiro especialmente aquela que está relacionada à dignidade humana: a pessoa saber-se e sentir-se alguém digno de respeito e da atenção de outrem. Nesse aspecto nós, os bem-estruturados, falhamos grandemente.

Claro que vem a mente a cautela exigida pelos tempos atuais, o medo de o bom samaritano descobrir que seu viajante ferido é na verdade um farsante, pois há quem se aproveite justamente da bondade alheia. Porém, se os bons se recolherem em suas casas amedrontados, a que fim estará esta humanidade fria condenada?! Ainda que o bom senso prevaleça em  situações claramente perigosas – e deve mesmo prevalecer! – há outras nas quais podemos agir sem risco a nossa integridade física. O menino do filme, por exemplo, escolheu seu método: passou a escrever cartas para o idoso!

Sempre acreditei no poder da palavra escrita. Ela vai direto ao coração. As interrupções da palavra falada não cabem para uma carta: ela somente encerra seu recado com o ponto final, quando tudo já foi dito. E ainda concede ao destinatário o momento precioso da reflexão, quando as palavras escritas  repetem-se mentalmente, cumprindo de vez seu propósito. Uma visita pode até ser rejeitada, pode-se levar uma porta na cara. Mas quem resiste a uma carta sem lê-la? A palavra escrita atrai, e se for inspirada planta ali mesmo, naquele momento, a semente do amor!

Assim agiu o protagonista do filme, escolheu seu método e atingiu seu alvo: derreteu um coração aparentemente petrificado. Mas não vem da ficção meu melhor exemplo nesse assunto,  e sim de uma pequena cidade ao sul de Minas Gerais, chamada Três Corações. A mesma terra que gerou o rei Pelé e lançou-o para o mundo, foi o berço de uma rainha que preferiu reinar no anonimato, aliviando feridas da alma do povo tricordiano: Érica Terra. Enquanto Pelé comandava a bola com perfeição, Érica fazia também os seus dribles com a caneta a mão: escrevia e enviava 5 cartas por dia! Não, não havia jogada repetida para a jovem, as cartas eram únicas e individuais, escritas sob inspiração. Escrevia o que sentia, sem uma lista fixa estipulando quem seria o felizardo naquele dia, simplesmente deixava a escolha ser feita por seu coração. E seu coração naturalmente era imenso, incluía desde a mais simples e humilde conhecida até as pessoas ilustres de seus contatos: todos eram contemplados com a inspiração de suas palavras!

Conheci Érica pessoalmente durante missão religiosa que realizei na cidade. Conheci também muitos dos destinatários, abençoados com suas palavras edificantes. Eram unânimes em declarar: as cartas pareciam mágicas, chegavam como recados dos céus, levando paz e conforto em momentos de dificuldade, como se Érica tivesse a capacidade de ler os corações! E tinha mesmo acesso a eles, pois levava consigo a chave universal capaz de abri-los: amor cristão.

A cidade não ostenta uma estátua de Érica como a dedicada ao rei, na Praça Pelé, mas estou certa de que como ele, ela passou dos 1000 gols. Coleciona vitórias nos sorrisos que brotaram de cada carta lida. Formou não apenas um time, mas uma legião de amigos gratos pela sua presença fortalecedora em suas vidas. Incluo-me nesse grupo, tendo sido eu mesma contemplada com suas doces palavras e gentilezas. Foi Érica quem, no dia de meu aniversário e  também minha despedida da cidade, preparou um bolo enorme e organizou para mim linda festa surpresa. Isso depois de escrever suas 5 cartas naquele dia, sem qualquer dúvida.

Exemplos como esse me dão uma certeza:  não há justificativa para a apatia, temos sempre pelo menos uma oportunidade de fazer o bem. Se não tenho dinheiro sobrando para doá-lo a uma instituição de caridade, tenho meu tempo e posso utilizá-lo fazendo algo de útil por alguém. Se não tenho o dom da escrita para as 5 cartas de Érica, posso simplesmente dizer um sonoro e alegre bom dia ao morador de rua, do qual desvio constrangida na calçada. Será que ele sabe que é alguém? Se eu não disser isso a ele, ele talvez nunca saiba... Nem eu saberei quem é Jesus Cristo, e o que Ele sentiu toda vez que fez o bem.


 Suzy Rhoden

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Aos Meus Desafetos




Enfim, dezembro. Aproxima-se o Natal, e com ele ressurgem os bons sentimentos ignorados o ano inteiro. Quem nunca fez caridade, agora se lembra dos pobres, separa brinquedos velhos para doação; prepara, quem sabe, alguma cesta com alimentos não perecíveis; ou qualquer coisa que o faça se sentir digno do espírito natalino. O que não pode é dezembro passar em branco. A apatia social dos 11 primeiros meses é facilmente apagada por um ato de amor, um único ato, desde que seja amplamente divulgado – e as redes sociais estão aí para isso!

Mas há ainda um problema: o que fazer com os desafetos, colecionados primorosamente ao longo do ano? Foram cuidadosamente alimentados com palavras mordazes, rigorosamente alfinetados de tempos em tempos, um trabalho perfeito de terror. Mas  aproxima-se o Natal e o discurso não muda, fala-se sempre em perdão. E agora, como driblar essa situação? Seria possível um acordo temporário de paz? Ignorar a criatura é opção descartada, pois desafeto que honra o título  é colega de trabalho, membro da família ou alguém do círculo inevitável de convivência diária. Não é pessoa distante, da qual se pode livrar facilmente. É alguém próximo, é parente, é ‘amigo’.

O desencargo de consciência em relação aos pobres  é coisa prática, dá-se um jeito. Mas um desafeto causa muita dor de cabeça nesta época do ano. Quem agüenta receber o ano novo ‘de mal’ com alguém? Dá azar, do pior tipo! E o Natal, então, quando são relembrados cada um dos atributos de Cristo, com ênfase especial para Sua capacidade de perdoar até mesmo os algozes que o crucificaram! É desesperador passar o Natal com um desafeto, é garantia inequívoca de crise existencial, de dramas de consciência e terrível sensação de fracasso. É muito triste ver chegar a noite de Natal e, ao invés do Ho ho ho! do Papai Noel, ouvir o riso sarcástico do desafeto deixando claro que ele é o próprio presente grego da noite, incansável, dentro de nossa consciência pesada.

Pensando em tudo isso, e em outros Natais, neste me antecipo e mando um recado aos meus desafetos: queridos, neste ano vocês não me atormentarão, não roubarão nem um segundo sequer da minha paz! E sabem por quê? Simplesmente porque vocês não existem!  Pela primeira vez em minha vida, considerando a fase adulta, termino o ano zerada nesse quesito!  Nenhuma mágoa mal resolvida, nenhuma história inacabada. Tudo em ordem, ficha limpa, só esperando o Natal!

Logicamente não foi sempre assim. Mas a gente cresce, amadurece e tem a obrigação de aprender. Quando recebi  minhas rasteiras, pensei que nunca fosse superar; que jamais fosse perdoar aqueles que me traíram. Mesmo já bem crescidinha, minha reação imediata foi tola e imatura: excluí todos que me fizeram sofrer de meus contatos virtuais. Foi um ato simbólico indicando que estavam igualmente excluídos de minha vida. Hoje, ao invés da opção pela exclusão, vejo a rede social sendo utilizada como meio para atingir publicamente os desafetos. A roupa suja já não é lavada em casa, mas na lavanderia social diante de todos os olhos.  Não basta resolver o problema ‘cara a cara’, é preciso garantir o  rol de testemunhas online. Excluir pra quê?! Melhor é atormentar. E então 500 contatos lêem 500 vezes no dia o que deveria ser dito a uma única pessoa, na página dela...

Voltando ao meu caso, é claro que eu afirmava que tudo estava bem e que aquelas pessoas não faziam falta a minha vida. Declarava minha indiferença a elas, que estava bem, estava feliz. Mas quem acredita nisso? Ilusão de magoado é assim, engana a si mesmo fingindo que indiferença é solução em relação a um desafeto. Não é verdade. Enquanto não acontece o perdão, toda noite, antes de dormir, tiramos as ataduras e colocamos o dedo na ferida. Ninguém vê ou sabe, mas é assim dentro de nós. Mais  corrosiva do que a própria traição, é a mágoa que nos envenena.

Mudei minha visão e minha vida quando um amigo inspirado, ciente de minha situação, me ensinou através de um relato bíblico. Relembrou a história de Caim e Abel. O primeiro matou o segundo, embora fossem irmãos. O que somos todos nós aqui nesta terra? Exato, somos irmãos. Quando eliminamos alguém de nossa vida, motivados pelo orgulho, seguimos o princípio de Caim e ‘matamos’ nosso irmão. Ouvir isso foi como levar um choque! Não consegui parar de pensar... Eu fazia mal a mim mesma guardando tanto rancor, sentia-me de fato uma assassina! Sabia que precisaria me esforçar muito para trazer de boa vontade aquelas pessoas de volta ao meu convívio, mas decidi que  iria me empenhar nesse sentido. Se era um ato de caridade, eu o fazia por mim, pela minha paz. Queria de volta a minha liberdade!

Na mesma noite, mandei convite para todos, trazendo-os de volta aos meus contatos nas redes sociais. Voltamos pouco a pouco a interagir, e eu nada cobrei em relação ao passado. Alguns perceberam o quanto erraram e me pediram perdão, outros nunca se retrataram. Que importa? Não estava neles a cura para minha ferida, estava em mim mesma! Quando decidi vencer meu orgulho e realmente perdoar e esquecer o que tanto me feriu, a ferida cicatrizou. Tudo ficou para trás e nunca mais me incomodou. Junto com a capacidade de perdoar, recebi a capacidade de suportar ofensas, críticas e injúrias sem deixar que elas me atinjam. Não significa que sofro tudo calada: reivindico meus direitos, exijo sempre  justiça. Mas sofrer com a imperfeição dos outros? Não, eu não sofro. Aprendi de certa forma, e em certos aspectos, a ser inabalável.

Por isso comemoro este Natal que se aproxima. Ofender-se é uma escolha – não é a minha! Prefiro a sabedoria de compreender que vivo entre seres imperfeitos, que ora erram comigo, ora eu erro com eles. Alguns até se esforçam, eu percebo, pra encabeçarem minha lista de desafetos. Mas respondo com um sorriso e muitas vezes com o silêncio. Funciona, pois segue em branco minha lista.

Para os que não sabem o que fazer com seus inimigos nesta época do ano, fica aqui  minha dica: nada poderia ser pior para um desafeto do que perder o título pelo qual tanto se esforçou ao longo do ano, com suas pitadas de maldade. Perdem o chão e a força quando se transformam subitamente em ‘afeto’. Afogam-se sozinhos no próprio veneno. E nós ganhamos a paz, curamos a ferida.

Que venha o Natal!



Suzy Rhoden

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A Conversão – Parte III




Obter o conhecimento de que existe um Deus e de que, além do Ser Supremo, Ele é de fato um Pai e um amigo foi essencial para mim, mudou os rumos da minha vida. Falo aqui sobre conversão. Mas engana-se quem imagina uma mudança drástica da noite para o dia, não foi assim. E, de acordo com minha concepção do que significa a conversão, não poderia ser dessa forma: a conversão é um processo.

Existe, sim, a experiência espiritual desencadeadora. Mas afirmar que houve vida nova a partir de então é algo que somente o tempo – significando os frutos observados ao longo desse tempo – dirá. E terá que ser, obrigatoriamente, mudança positiva que converge para o que é bom e mais elevado, em termos de sentimentos e atitudes. Parar de fazer algo, em função da punição talvez, não é indicativo de mudança real. As obras diárias, inclusive aquelas feitas em segredo, é que confirmarão a escolha de um novo estilo de vida, ou não.

Da mesma forma, não associo o fanático ao convertido. Esse é um erro comum, por sinal: a pessoa converter-se a uma religião e pensar que todos devem aceitá-la pela imposição. Nesta semana, uma amiga reclamava disso: não suportava mais os ataques de outra, fanática, que impunha suas verdades de maneira ofensiva. Passei por isso e sei o quanto é desagradável, não é certamente o método do Senhor, pois nem Ele age dessa maneira conosco: enviou-nos o filho Jesus Cristo para convidar-nos a segui-Lo. Um evangelho nos foi ensinado, bem como as conseqüências da desobediência a essa lei divina. Mas a escolha é nossa, e será respeitada – lembrando que cada escolha traz atrelada a si uma conseqüência, um resultado. O livre arbítrio é, portanto, um dom precioso e nos foi dado por Deus. Quem não compreende isso, não experimentou integralmente um processo de conversão.

Tenho esses pontos como premissa básica. Respeitar o livre arbítrio alheio, contudo, não me impede de ter minhas próprias convicções e meus padrões firmemente estabelecidos. Preciso que eles sejam respeitados também! Mas quanta pressão sofre uma pessoa que ousa acreditar em Deus e ajustar sua vida aos padrões estabelecidos por Ele ao invés de andar segundo os caprichos do mundo! Sei bem disso, fiz minha opção religiosa justamente quando cursava uma faculdade e circulava no meio acadêmico. Para muitos mestres, a crença na deidade vinha junto com um atestado de ignorância. A seu ver, era um retrocesso. Nunca me deixei intimidar por essas opiniões. Não me sentia ignorante, muito pelo contrário: sentia-me em plena expansão de conhecimentos, que não se limitavam a este universo. Eu começava a conhecer também os mistérios da criação, os propósitos desta vida, os mistérios do depois... Intrigava-me justamente como pessoas tão cheias de títulos conheciam tão pouco de sua própria existência espiritual!

Compreendi logo depois de minha primeira experiência que não bastava saber da existência de Deus: era preciso comprometer-me com o plano que Ele tinha para mim – e certamente há um para cada pessoa. Não falo de um destino já escrito. Mas de um motivo muito especial pelo qual estamos aqui, já que definitivamente não viemos a passeio. Compreendi que não bastava uma vivência correta, mas que eu precisava de uma religião onde fundamentar minha fé. Meu modelo era o Salvador Jesus Cristo e sendo que Ele próprio, embora perfeito, submeteu-se ao batismo e outras ordenanças, entendi que deveria eu também realizá-las.

A escolha de uma religião é coisa sagrada. Não se trata de uma roupa que posso comprar e, se descobrir logo depois que não gostei do modelo, esquecer no closet ou ignorar. Eu sabia que deveria escolher e ‘vestir a camiseta’. Sempre me incomodou a ideia de professar uma crença que não fosse verdadeira, ou de citar uma religião como minha se eu de fato não estivesse comprometida com seus princípios. A comodidade nesse aspecto não me servia, e ainda penso que não será aceitável no grande e último dia como justificativa para uma vida de apatia espiritual... Mas cada um que cuide de si mesmo nesse quesito!

Tratei de buscar o caminho que fosse de todos o mais excelente. Como alcançar essa certeza? Ora, eu já conhecia o segredo! Sabia que poderia ir diretamente à fonte da verdade e obter dos céus uma resposta. Sabia que não precisava confiar em opiniões divergentes ou filosofias de homens, mas que poderia escolher conscientemente segundo a resposta que recebesse de meu Pai Celestial. Em Tiago 1:5, na Bíblia, eu tinha a promessa de que, havendo em mim falta de sabedoria, deveria pedir a Deus, e Sua resposta me seria dada. Não duvidei, perguntei.

Embora muitos proclamem que não importa o caminho, sinto em meu coração que nos enganamos quando nos agarramos a essa idéia. Ela é cômoda, conveniente. Pois posso adequar o caminho as minhas expectativas. Ouvi, certa vez, de um jovem, que ele gostava da idéia de ter uma religião, mas que não aceitava pagar por um pacote inteiro de mandamentos. Ele queria crer em Jesus Cristo e seguir somente alguns pontos de Seu evangelho. Fiquei imaginando se ele tinha essa mesma idéia a respeito das regras de trânsito...

Obedecer somente ao que convém no momento parece interessante, mas nos conduzirá  ao aperfeiçoamento necessário para o próximo estágio de vida? Por isso pondero muito a respeito do caminho. Procuro o que me aproxime ao máximo de meu Salvador Jesus Cristo, pois uma passagem bíblica reproduz as palavras do próprio Senhor, declarando: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim”(João 14:6). Ele, portanto, é o caminho. Seu exemplo de vida é seguramente o mais acertado para se escolher. Qualquer coisa que fuja disso, em minha opinião, é um atalho e pode não me levar de volta ao meu lar eterno.

Minha resposta à procura de uma religião foi clara e indescritível. Não tentarei reproduzi-la aqui. Basta dizer que no dia 30 de outubro de 1999 filiei-me à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tendo absoluta certeza de minha escolha. Sou membro fiel e ativo dessa igreja – o que é o oposto de fanático – desde então. Casei-me dentro desse evangelho com um homem que compartilha da mesma fé, e seguimos juntos, olhando na mesma direção: a eternidade. Recebemos filhos amados em nossa união, que estão sendo criados na nossa fé, mas que terão sua oportunidade de orar e receber um testemunho pessoal, fazendo por si mesmos a escolha do caminho pelo qual desejarão seguir. Acreditamos que a linda família  que construímos aqui perdurará além desta vida, devido aos convênios que temos com o Senhor, e que teremos a oportunidade de continuarmos juntos por toda eternidade. Cremos firmemente nisso, vivemos por esse maravilhoso conhecimento!

Mas antes de qualquer outra coisa, cremos em Jesus Cristo como o salvador deste mundo. Eu, particularmente, sei que Ele veio a esta terra com a missão de nos resgatar do pecado, para que possamos ser dignos de habitar na presença Sua e do Pai Eterno depois desta jornada terrena. Sei que por meio de Seu sacrifício supremo podemos vencer nossos erros, nossas dores, nossas angústias e nossas imperfeições  e alcançar esperança na vida eterna. Eu obtive essa esperança, e vivo para torná-la real. Em minha escolha, não me sinto privada de nada que seja realmente importante, uma vez que tenho vida pessoal, social, familiar e profissional. Contudo, tenho sérios princípios morais, e ando rigorosamente de acordo com eles. São como as leis de trânsito para mim: não existem para me limitar ou restringir, mas para garantir meu retorno seguro ao lar celestial. Sigo firme e convicta nesse caminho, comprometida com ele integralmente. Sei exatamente de onde vim, porque estou aqui e para onde vou. E quando sinto me faltar a sabedoria – quando as perguntas retornam! – não hesito: dobro meus joelhos e humildemente pergunto àquele que tudo sabe: meu Pai Celestial e meu Criador!

Suzy Rhoden








Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...