quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um Ano Novo para Mônica




Eu particularmente amo esses dias finais que encerram os anos. Alguns dizem que é apenas uma mudança numérica, nada que vá de fato além do calendário. Para mim é diferente: eu realmente revejo as experiências que vivi e que me fizeram chegar até aqui. Acabo rindo das mancadas e memorizando muito bem as trilhas erradas que peguei, para não ter perigo de cair nelas por distração mais uma vez!  E depois vem a parte boa: os acertos, os progressos, as conquistas, os sonhos realizados, aqueles que ainda estão pela metade mas dos quais não desistirei... Tão bom isso, renovo meu ânimo para o ano que chega e entro nele com a certeza de que vou fazer tudo dar certo!

Mas nem todos têm os mesmos motivos que eu para comemorar, para se alegrarem com o ano que termina e fazerem planos em relação ao ano que vai chegar. Não será assim para Mônica. O rostinho infantil, antes sorridente, agora estampa uma dor que ao invés de amenizar, acentua-se com a chegada do Natal e Ano Novo. A expressão reunião familiar , tradicional nesta épocacausa lágrimas que não encontram motivos pra parar de jorrar. 

E por que o Natal e o Ano Novo de Mônica serão tristes assim? Porque algumas pessoas, ao invés de fazerem sobriamente  suas metas e comemorarem alegremente ao lado de seus familiares, enchem a cara e sobem em seus carros de luxo como se montassem em dragões, prontos pra destilar fogo contra quem cruzar seus caminhos. Jalva, a mãe de Mônica, acordou cedo, feliz por mais um dia de trabalho, por meio do qual trazia o sustento de seus 6 filhinhos. Saiu de casa quando o dia amanhecia, mesmo horário em que as baladas entregavam às ruas seus monstros cuidadosamente produzidos ao longo da noite, com doses fatais de álcool e entorpecentes. Um desses monstros descontrolados arremessou-se sobre Jalva, sugou-lhe a vida abundante, e diante do estrago fugiu acovardado. De dragão tornou-se rato, desapareceu no esgoto de sua existência, deixando-a agonizante numa rua qualquer de Porto Alegre.

Mônica sorria quando enterrou a mãe, tinha apenas 3 anos e não compreendia o significado daquela despedida. Mas neste Natal, já com 6 anos, ela sabe muito bem do que sente  falta e falou sobre isso em lágrimas com sua tia Gabriela: só quero vê-la mais uma vez, só mais uma! Por favor, abram a caixa pra que eu possa enxergá-la mais uma vez!

A caixa não foi aberta e Mônica não recebeu o único presente de Natal que realmente lhe importava: ver sua mãe. Consciente da impossibilidade de tê-la ao seu lado neste estágio de vida,  fez novo pedido a tia Gabriela: queria morrer e ir ao encontro de sua mãe, a fim de estar com ela para sempre. A verdade é que Mônica queria ter partido naquela trágica manhã, junto com sua amada mãe... Como consolar uma criança, tendo ouvido dela tão fortes palavras? Como restituir-lhe um pedaço que brutalmente e sem qualquer aviso prévio lhe foi arrancado?

Não posso eliminar sua dor, embora quisesse de todo meu coração poder fazê-lo. Não posso sequer prometer que, assim como termina um ano e outro começa, cheio de novas expectativas e promessas de grandes alegrias, a felicidade voltará para sua vida. Mas posso refazer minhas metas pessoais com coragem e ousadia, e há muito tempo elas me deixam longe das baladas, dos entorpecentes e do álcool. Termino um ano e recomeço outro com a certeza absoluta de que não serei eu a irresponsável a beber e dirigir, ceifando vidas por aí. Como tenho tanta certeza? É simples: escolhi a abstinência total e absoluta de todas as substâncias mencionadas. E escolhi me casar com um homem que compartilha dos mesmos princípios, de modo que nossos filhos estão sendo ensinados a respeito das consequências destrutivas de tais substâncias, e crescem livres do vício.

Surge então a pergunta típica desta época do ano: mas uma taça de champanhe não faz mal nenhum a saúde e você pode beber, não é? É, eu posso beber. MAS EU NÃO QUERO, e por isso não bebo. Nenhuma gota. Há muitos anos. E NÃO ME FAZ FALTA NENHUMA! Os anos viram, participo da ceia com minha família e me alegro junto com eles, danço e me divirto. SEM CHAMPANHE! Aliás, meu maior orgulho é ser casada com um homem que, assim como eu, não entende nada de marca nenhuma de vinho, espumantes, wisky, cerveja ou qualquer coisa do tipo.  Que bênção para minha família, e para as que nos encontram no trânsito, não entendermos nada do assunto!

Para minha querida Mônica, e tantas outras Mônicas, pequenas vítimas da irresponsabilidade alheia, desejo sinceramente que venha um Novo Ano em suas vidas. Sua dor não será apagada com o desejo de vingança, nem com a reprodução da violência sofrida. Mas nas escolhas adequadas virá a paz, eu tenho certeza, e a possibilidade de alegrias até então desconhecidas. Que nas profundezas de sua dor encontrem a sabedoria e escolham tornar-se exemplos de vida bem vivida.

Para todos nós, um novo ano centralizado mais nas metas e objetivos de vida do que nas celebrações vazias; que antes de virarmos os copos brindando o ano que chega, avaliemos se isso é realmente necessário e importante; se estamos preparados com alguém sóbrio, apto para assumir o volante, havendo a necessidade de locomoção. E se alguém ainda quer beber e sentir fortes emoções, que se atire de uma ponte ao invés de ziguezaguear em alta velocidade pelas ruas – mas que vá a pé até lá e faça isso SOZINHO, deixando as Mônicas e suas mães vivas para celebrarem o novo ano que chega em suas vidas.

Responsabilidade no trânsito, por favor! E um Ano Novo para Mônica é a súplica sincera de meu coração aos céus.



Suzy Rhoden

9 comentários:

  1. Triste história real da Mônica e sua dor, ainda tão cedo...
    Pena que cada festividade, feriado, tenhamos que ver ou ler notícias assim...
    Uma pena! Até quando? beijos,FELIZ 2012 e tuuuuuuuudo de bom! chica

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  2. Nossa, que história mais triste, Suzy! Essa de ver só mais um pouquinho a mãe...Foi de partir o coração.
    Suzy, tenho a felicidade de não gostar de bebidas, de cigarros e seus 'primos'. Puxei aos meus pais. Veja só o que estas porcarias fazem na vida dos outros, a irresponsabilidade que causam, o estrago para sempre em vidas que nada têm a ver com os problemas de quem enche a cara! Sei lá, as pessoas precisarem beber para conseguirem se divertir é algo já meio atrapalhado. Não consigo entender isso. E dá no que dá.

    Triste tua crônica, mas divinamente bem escrita.
    beijo grande, amiga!
    Até.
    Tais

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  3. Olá Suzy!
    Que triste perder quem a gente ama...
    Que a Mônica encontre paz e volte a sorrir um dia,e que seja realmente feliz.
    *Desejo pra você e sua família um 2012 maravilhoso,com muita saúde,e mais um mundo de coisas lindas!
    Que seus sonhos se realizem,e que tudo possa fluir da melhor maneira possível.
    Bjs!

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  4. Ah!Suzi...que triste né?!O pior é constatar que a maioria não se conscientiza...bebem e acham que podem tudo!
    Escolhi a abstinência também,cresci no meio da violência doméstica por conta da bebida...
    Aprendi que para me divertir não preciso beber nada!!
    Uma linda crônica querida!!!!Consciência social!
    Beijos!
    FELIZ 2012!!!Com mais alegrias.

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  5. Suzy,
    Linda e triste sua crônica, nem sei o que dizer...

    ...

    Feliz Ano Novo, com muita saúde e muita paz.
    Um beijo
    Denise

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  6. Suzy, infelizmente, essa é uma época marcada por tantos acidentes, na sua maioria, devido à irresponsabilidade. E pensar que a cada dia, os jovens precisam da bebida e das drogas para se sentirem realizados, uma tristeza, nem imagino onde tudo isso vai parar.

    Quero lhe desejar um 2012 repleto de realizações, muita saúde e paz para você e sua família.

    Beijos

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  7. Éééééé.... esta história se repete em vários feriados, vários finais de semana pelo ano todo. Que triste fim! Que neste novo ano Mônica possa sentir mais e mais o amor do Salvador por ela!!! Assim como outras vítimas de crimes tão créis do trânsito!

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  8. Recebi este comentário de uma amiga, via Facebook, e como ele me pareceu muito interessante, estou postando aqui, com a devida autorização de sua autora:

    Gostaria sinceramente que todos lessem este texto... e tivessem consciência de que o álcool até hoje nunca trouxe felicidade a ninguém...pelo menos eu não conheço quem diga isso...Neste final de ano praticamente passei dentro de um hospital trabalhando, e só o que eu vi foram tragédias provocadas por ele, aquilo que parece trazer alegria temporária só traz desgraças com o tempo...pena que muitas pessoas não percebem isso...Lamentável !!!!!!!!

    Marinês Santos Bisognin

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  9. hoje tive conhecimento de seu blog e quase não consegui parar de ler suas crônicas. Essa em especial chamou minha atenção, pois há 4 anos atrás sofri um acidente (no qual fiquei tetraplégica) e minha filha, que na época tinha 4 anos, até hoje tem medo que eu morra e as vezes tem crises de choro. Eu e meu esposo oramos muito ao Pai Celestial pra que um dia, esse medo dela passe. vc é de santa maria? eu fiz missão em santa maria há mais de 10 anos atrás.

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