quarta-feira, 14 de março de 2012

Falhas e fracassos: a vida continua?




Na condição de humanos, estamos sujeitos a falhas e fracassos ao longo da vida. Sabemos muito bem disso e até teorizamos a respeito, ensinando nossos amigos a serem positivos nessas circunstâncias, a verem o outro lado da desgraça. Mas quando acontece conosco, sinceramente, a última coisa que queremos ouvir são as teorias de que “há um propósito pra tudo” e de que “poderia acontecer com qualquer um”. Afinal, do amanhã eu dou conta, eu me supero, eu me refaço: o problema é o agora!

Vivi algo dessa natureza nesta semana. Experimentei uma falha justamente onde eu não poderia falhar. Fracassei num ponto específico que não aceitava o fracasso. Não estou falando subjetivamente, mas de algo prático e de certo ponto até simples. Falhei contudo. Só uma pessoa em um milhão poderia ter cometido a mesma falha, e fui eu a premiada. Semana que vem tudo estará bem, já sei disso. Mas como estou hoje, neste momento?

Preciso confessar o que todos já sabem: sinto-me destruída emocionalmente. Pois para onde quer que olhe, revejo o erro tolo cometido – até meus filhos pequenos teriam sido mais prudentes!  Mas fatos são fatos, e negá-los é algo que não faço.  Assumo, arco com o prejuízo – nesse caso, um enorme prejuízo emocional.

Antes que alguém pense “coitada, em que encrenca terá se metido!”, informo que não foi nada de grandes proporções, a não ser para minha personalidade perfeccionista. Os semelhantes a mim sabem do que estou falando: exigimos o melhor de nós o tempo todo, e quando percebemos exposta justamente a pior parte, é como se sumisse o chão debaixo de nossos pés. É algo pessoal, que nada tem a ver com a opinião dos outros. É uma cobrança interna que não para de avivar o débito, ainda que todos em volta já o tenham esquecido.

E, como todo carrasco, a consciência cobradora é impiedosa, fazendo-me lembrar das falhas passadas: lembra-te da reprovação no primeiro exame  para obter a CNH? Como desta vez, foi um erro tolo, num ponto que eu dominava. Respondo para a consciência: lembro, sim, e lembro inclusive que no segundo exame fui perfeita, concluindo a prova sem um ponto negativo sequer. A consciência não desiste e acusa: e aquele terceiro lugar no concurso que você mais queria, quando você deveria ter sido a primeira colocada para conquistar a vaga? E eu replico: obtive incrivelmente um terceiro lugar, tendo estudado por apenas um mês durante as madrugadas, sem tempo ou dinheiro para investimento em cursinhos, já que me ocupava com meus filhos e minha profissão na época, e ainda assim consegui ser a terceira melhor entre tantos!

Seguem os ataques da consciência, seguidos de minha resposta justa para cada um deles. Assumo o fracasso momentâneo, mas não aceito a condição de derrotada. Não permito que minha autoestima seja atingida e ferida – não de maneira definitiva! O abalo emocional é indiscutível e natural. Mas quem disse que ele é de todo ruim? Afinal, vejo nessas situações uma oportunidade de autoavaliação para, talvez, uma mudança de percurso. Ou quem sabe para motivação e empenho ainda maior naquele ponto em que se deu o erro. Exemplos não me faltam para citar: minha professora de Inglês, que até os 25 anos tinha aversão ao idioma, mas decidiu vencer a si mesma e se tornou uma das melhores profissionais que já conheci na área; meu instrutor de tiro, que não teve um acerto sequer ao alvo em sua primeira competição; e vários outros, incluindo o célebre Steve Jobs, que conseguiu ser demitido da  empresa que fundou, para então redirecionar sua vida e voltar a mesma empresa para levá-la ao sucesso internacional.

Finalmente, posso afirmar que temos no fracasso o melhor antídoto contra o orgulho e a arrogância. O que seria de nós se nunca errássemos, se jamais falhássemos? Haveria empatia em relação ao erro do outro? Passaríamos a vida nos sentindo superiores, incapazes de ser solidários com alguém que falhou, impiedosos, e certamente seríamos pessoas de poucos amigos. Pois é na dificuldade que as amizades se confirmam, que os laços se estreitam.

No fim das contas, fracassar por um momento não é tão prejudicial assim. Mas tornar-se um fracassado por causa de um erro isolado na vida é estupidez. Não precisamos disso, afirmo categoricamente. Evitar uma crise por vezes é impossível, é algo que foge ao nosso controle. Mas gerenciá-la é uma questão de inteligência, é o que realmente separa os bons dos melhores: os bons nunca erram; os melhores convertem o erro de um dia no sucesso de uma vida.

Suzy Rhoden

11 comentários:

  1. oi!! como sempre perfeita com as palavras... gratidão por ter o privilégio de te conhecer e poder ler tão sábias palavras!!! obrigada, por compartilhar seu talento... por fazer brilhar sua luz e dizer tanto!!
    Márcia Dias

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  2. Suzy, reconhecer um erro, uma falha é uma prova de humildade e somente assim é possível não errar novamente em circunstâncias semelhantes. Quem traz em si um espírito cristão transforma esses momentos delicados em aprendizado e, tenho certeza, é o que você está fazendo nessa situação.
    Desejo-lhe paz e tranquilidade, fique com Deus!

    Um beijo minha querida amiga.

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  3. Suzy, confesso que faz tempo que não leio suas crônicas, mas ao ver esse link no facebook, deu uma saudade das suas palavras que sempre tem um fundo meio que inspirador. Obrigado! Moises

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  4. Oi Suzy, confesso que faz um tempinho que não leio suas crônicas. Mas ao ver este link no facebook, deu uma saudade de ler suas palavras que sempre tem um fundo inspirador. Abraço! Moises

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  5. Oi Suzy :)
    Sentir-se destruída emocionalmente dói muito.
    Mas ainda bem que erramos e falhamos.
    Isso nos permite uma autoavaliação...
    E nos ajuda a sermos melhores.
    Ficamos mais tolerantes (até com nós mesmos).
    Bjs!

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  6. Oi, Suzy, pois é, amiga, sei o que é ser perfeccionista! Como a gente sofre... A perfeccionista quando enfrenta algo e comete um erro pequenino, parece que vai desabar o mundo; nos culpamos poque esperamos o nosso máximo. E nem sempre esse máximo é possível. Sabe, Suzy, só a vida e o tempo vão nos ensinar a aceitar nossos pequenos erros e a nos perdoar; sim, temos de nos perdoar antes de termos um ataque! rsrs É muita cobrança.
    Você, pelo que lhe conheço, é detalhista, perfeccionista e se cobra muito. Pegue leve com você; acho que você merece isso... É muito responsável, não tem grande perigo de cometer grandes erros.

    Beleza de texto, onde todas nós nos encontramos um pouco.
    Grande beijo.
    Tais luso

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  7. Nas nossas vidas passamos por momentos diferentes. Fases de acertos e outras em que nos vemos tendo que recomeçar pois erramos.

    E assim vamos. Aprender com cada um deles é preciso e não nos deixar paralisar.

    Linda crônica! beijos,tudo de bom,chica e ótimo domingo por aí!

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  8. Oi Suzy

    Enquanto o seu erro te martela a cabeça, eu aqui enxerguei sob um outro ângulo.
    Você escreveu de forma perfeita um assunto que muitas vezes não sabemos nem como contar para o analista.
    É exatamente assim que acontece! Um erro vira uma tormenta e num segundo todos os erros cometidos parecem desfilar à nossa frente com uma bandeira roxa do fracasso. É uma hora em que não queremos ouvir, não queremos falar, não queremos ajuda, não queremos nada!
    Nunca consegui escreve nesses momentos. Travo por completo!
    Parabéns pela sua capacidade de expor este momento tão seu e te forma tão natural.
    Isso é um sinal de maturidade e evolução!

    Beijos e ótimo domingo!

    Leila

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  9. Suzy,

    Primeiro quero agradecer a sua visita ao meu blog e o seu bondoso comentário. O segundo motivo é para dizer que gostei muito deste seu artigo (o tema é palpitante), com uma escrita irretocável. Também eu sofro desse “mal”, o perfeccionismo, mas sempre estou atento para não atender o seu chamado. Sabemos que não é fácil domar essa exigência interna, mas, por outro lado, também sabemos que quando à ela sucumbimos podemos ou não fazer as coisas com perfeição; quando atingimos a esperada perfeição é uma maravilha, mas, quando não conseguimos esse intento sobra-nos a frustação, que é um sentimento difícil de contornarmos.

    Abraços,
    Pedro Luso.

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  10. Suzy, minha querida, todos nós somos passíveis de ‘erros tolos’, como vc coloca... Eu cometo aos montes, e quer saber?... Dou boas risadas deles rsrs. Nesse caso, sou bem mais premiada que vc. Eu boto a culpa na minha distração crônica e toco o barco... rsrs.

    Mas, olha, sei um pouco do que está sentindo, não sou perfeccionista, porém me cobro muito em certos aspectos da minha vida. Além do mais, convivo com um perfeccionista há 40 anos! Sei bem o que é colocar as próprias falhas por trás de uma lente de aumento. rsrs.

    O bom é que temos o tempo que cura tudo , tudo amortece, vira passado...

    A verdade, amiga, é que pessoas de bem passarão a vida inteira em busca de aperfeiçoamento... Lembro-me sempre das palavras de Paulo que diz: “Homem miserável que sou (...). O bem que quero, esse não faço, mas o mal que não quero, esse sim é o que eu faço.” Com essas palavras o Apóstolo define com exatidão a imperfeição humana, e isso de certa forma nos alivia e conforta.

    Seu texto é impressionante! A maneira como vc explícita seus sentimentos com tamanha honestidade, humildade, me tocou profundamente. Sua conclusão de que ninguém tem que se sentir um fracassado por cometer uma falha, e que os ‘os melhores’ convertem o erro de um dia no sucesso de uma vida, foi de uma lucidez brilhante! Parabéns!!!

    Um beijo enorme amiga, fique na paz!
    Sueli Gallacci

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  11. Olá,Suzy!!

    Errar e assumir nunca é fácil,mas sempre aprendemos muito com isso.
    Linda sua crônica!Falaste sobre todos os pontos.Realmente cobramos muito de nós mesmos,mas sem os erros, não teríamos empatia com quem erra, não teríamos a lição da humildade.E vamos aprendendo!
    Beijos querida!!
    *Obrigada pelo comentário!Gostei muito.Desculpe a demora,mas tive que reduzir mais um dia nas visitas,para estudar.Fazer faculdade é ótimo,mas ocupa um pouco mais de tempo...

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