Recentemente, apesar de meus apelos
reivindicando o livre arbítrio que pensava possuir, fui jogada para dentro de
uma quadra de basquete na condição de jogadora. Foram minutos intermináveis de
tortura para mim, pois é tarefa cansativa correr de um campo a outro fugindo da
bola... É isso mesmo, eu fugia da bola! Que mais poderia fazer uma pessoa com
pouco mais de um metro jogando contra outros de praticamente 2 metros?! Tenho
amor à vida e um pouco de sanidade ainda me resta!
Não satisfeito com o fiasco, meu
professor me levou direto do basquete para a quadra de futsal – eu praticamente
amarrada, óbvio! Pelo menos era um esporte acessível aos de estatura privilegiada como eu... Além disso,
nesse esporte eu tinha certa experiência: havia jogado no time da faculdade. Se
eu era da equipe? Não, joguei uma única vez. E fui dispensada... traumatizante!
Nessas condições – pronta pra detestar a
experiência – entrei em campo. E amei o
jogo! Verdade, eu amei. Joguei com energia, disposição. Era apenas uma
brincadeira, por que não vivê-la intensamente? Foi essa minha decisão, de modo
que mudei a estratégia: ao invés de fugir da bola, passei a disputá-la. Acredito
que essa atitude fez toda diferença: quando parei de me omitir, descobri que era capaz de jogar futebol até com certa
habilidade. Não havia dado a mim mesma a chance de descobrir isso, desistindo
diante da primeira dificuldade em outros tempos. Que bom que os anos não me
trouxeram somente rugas, mas também um pouco de maturidade!
Quantas vezes agimos como a criança que
diz, diante do prato preparado pela mãe: “não comi e não gostei”? Fazemos isso
em relação aos esportes, resistimos à atividade física. Sabemos que hoje em dia
não se fala em saúde dissociada dos exercícios regulares, mas, da mesma forma
que as crianças, pretendemos comer o
bife e a batata frita, dispensando o brócolis. Jogamos para a lixeira não somente
oportunidades de melhorar nosso condicionamento, como momentos de prazer e
diversão que se revelam para quem paga o preço da diligência nesse setor.
Não posso negar que fui uma adolescente
muito ativa, contudo evitei o aperfeiçoamento em algumas áreas. Pensava ser
descoordenada, desastrada demais pra me dar bem nos esportes. Então deixava os
outros brilharem sem sequer tentar conquistar meu espaço; acreditava que
haveria sempre alguém melhor do que eu pra completar o time. Pra compensar,
atirei-me nos livros, e isso foi ótimo. Li muito nesta vida! Mas hoje penso que
poderia ter existido, desde cedo, um equilíbrio maior nas atividades as quais devotei
meu tempo.
Descobri a corrida aos 30 anos, preparando-me
para o teste de aptidão física de um concurso. Nunca em minha vida havia sido
desafiada a correr! Responsabilizo parcialmente meus professores de Educação
Física, pois nem sequer me ofereceram a oportunidade de conhecer o atletismo.
Nossas aulas restringiam-se basicamente ao vôlei, no máximo ao futebol. A
corrida me parecia a mais cansativa das atividades, a menos atrativa de todas.
Pois foi por ela justamente que me apaixonei desde o primeiro treino na pista
da Universidade Federal de Santa Maria. Aperfeiçoei tanto meu desempenho que a sensação é de ter corrido a vida inteira...
Hoje, quando convido minhas amigas pra
correr comigo, ouço respostas tipo: detesto! Tudo bem, algumas pessoas
realmente detestam. Eu, por exemplo, ainda não me apaixonei pelo basquete...
mas que nossa atitude pode ser mais positiva acerca do assunto, pode sim, com
certeza! Se não gostamos de uma modalidade esportiva, escolhamos outra. O que
não podemos, definitivamente, é ficar parados reclamando do peso, da saúde
fragilizada, do sedentarismo. Somos senhores de nossos corpos, eles merecem
cuidado e atenção, merecem o sacrifício do brócolis até encontrarmos a salada
que mais nos agrada!
Por fim, registro minha gratidão aos bons
mestres que tenho tido em tempos atuais. Se não fosse a façanha de um certo professor, que me desafiou a ter experiências com diferentes esportes, eu provavelmente ainda resistiria ao futebol... pena
que as aulas acabaram, pois ele estava bem próximo de um milagre também na
quadra de basquete!
Mas, se uma aula maravilhosa chegou ao fim,
outra aula viciante está em curso e diz respeito às artes marciais, minha mais
recente paixão. Segundo meu excelente mestre e a gentileza de alguns colegas,
levo jeito pra coisa... Que esplêndida
descoberta a ser feita no caminho dos 40, estou realizada! Olho para a Suzy de
15 anos atrás e digo desafiadora: bem feito pra você, que ficou lendo tanto
livro na vida e evitando os esportes! Deixou-me inteligente o suficiente para
hoje dar conta de ambos e encontrar satisfação em tudo que faço.
Suzy Rhoden