Alguns acreditam em destino traçado. Eu não, acredito em escolhas.
Mas... O que dizer daquelas impressões tão nítidas de que algo está previsto para acontecer? Não me refiro ao déjà vu – sensação de já ter visto ou vivido algo – e sim aos inexplicáveis “flashes do futuro”. Serei eu a única a conviver com eles?!
Calma, fiquem tranqüilos, eu não “ouço vozes”! Apenas sinto, de tempos em tempos, uma espécie de confirmação de que estou no caminho certo, de que cheguei onde deveria ter chegado. Obra do destino? Ou fruto do acaso?
Embora exista um caminho preparado, certamente mais elevado, não acredito que andamos por ele como marionetes, desprovidos de liberdade de escolha. Muito pelo contrário, utilizamos nosso arbítrio o tempo inteiro, indo pelos rumos que nós mesmos decidimos. E como nem sempre somos sábios, nem sempre acertamos... Então sofremos, choramos e, ignorantes, lamentamos a nossa “triste sina”. Na verdade, foi apenas a nossa estúpida escolha.
A primeira impressão do futuro, da qual me lembro, veio muito nítida aos meus dez anos. Eu voltava da escola, distante quatro quilômetros da pequena propriedade rural de minha família. Em dado instante, levantei o olhar até a linha do horizonte e a impressão do que vi e senti me acompanham até hoje: eu soube, com absoluta certeza, que iria além daqueles limites; que, como alguém que tem asas, ultrapassaria as fronteiras que minhas vistas alcançavam.
Alguns anos mais tarde, precisei escolher entre um namoro, que me daria a tranqüilidade de bom casamento na região, e os estudos numa universidade federal, sozinha, longe de casa. Bati as asas e voei, muito além do que meus dez anos, naquele fim de tarde, alcançaram.
Outra impressão que me acompanha está relacionada à mudança para Santa Maria, quando passei no vestibular. Fui com a cara e a coragem, carregando as próprias malas, sem pai, mãe ou padrinho trilhando a minha frente o caminho. Quando o ônibus descia a serra, vi do alto a imagem da cidade, entre duas montanhas, saltar diante de meus olhos, e em meu coração registrou-se a certeza: esta cidade será meu lar, a escolhida de meu coração. E é, será para sempre, não necessariamente um lugar para morar, mas o lugar inequívoco para onde voltar a qualquer momento e repousar.
A terceira grande impressão aconteceu durante viagem da escola, no ano de minha formatura no Ensino Fundamental. Nossa rota incluía, além das cidades da Serra Gaúcha, uma visita a Porto Alegre. Lembro-me pouco, porém, da capital, apenas de termos passado a noite num alojamento do Corpo de Bombeiros. Acordamos cedo para seguir viagem, antes das 6h da manhã. Ao deixar o alojamento, meus olhos presenciaram o mais belo amanhecer que já haviam visto, acompanhados de certeza inequívoca: voltarei para ver muitas vezes o amanhecer em Porto Alegre.
Eu tinha apenas 13 anos, portanto logo esqueci a experiência. Tratei de viver a vida, aproveitando as boas oportunidades que ela trazia. E foram muitas! Uma delas, por sinal, me trouxe recentemente à região metropolitana, acompanhada da família que constituí ao longo dos anos. Matriculada em um curso em Porto Alegre, passei a enfrentar o trânsito diariamente para assistir as aulas. Numa dessas manhãs, meus olhos passearam pelo céu porto-alegrense e trouxeram do passado uma lembrança que me deixou estupefata: era o mesmo amanhecer dos meus 13 anos!
Destino? Não, decisões. E uma ajudinha lá dos céus, para que eu fizesse sempre a mais sábia escolha. Chamo esses eventos de “flashes do futuro”, mas bem sei que são impressões espirituais, orientações que vem na forma de sussurros e que me dão a certeza de que estou onde deveria estar, cumprindo minha missão terrena e meu propósito pessoal.
De qualquer forma, as escolhas são minhas e poderiam me levar, ou não, à confirmação do que senti há muitos anos. Escolhi estar aqui, escolhi ter sobre mim este céu indescritivelmente belo, que desce para mergulhar nas águas do Guaíba estabelecendo, enfim, meu limite – o meu horizonte! Até que venha nova escolha.
Suzy Rhoden