domingo, 5 de agosto de 2012

Tiete por Um Dia


É fato, sou mesmo distraída. Mas daquelas distrações que fazem você perder o óbvio, bem diante de seus olhos, para enxergar o singular, o ímpar, o exclusivo. Minha distração me colocou numa encrenca, mas a encrenca rendeu esta crônica... e umas boas risadas!

Ia eu pela calçada, num desses meus lapsos de realidade – em pleno centro histórico de Porto Alegre – quando avistei ao longe um grupo de adolescentes interditando o caminho. Que falta de respeito dessa gurizada, – pensei  eu – tomarem toda calçada, deixando pedestres e carros desviando-se uns dos outros pela rua!

Tentava entender o que faziam ali, aglomeradas – haveria uma escola que eu nunca tinha percebido nas proximidades? Bem condizente com aquele horário da tarde... Mas apenas meninas?! Muito estranho...

Cheguei ao local do tumulto. O burburinho era grande, tive medo de ser pisoteada. Entre as adolescentes e uma van ali estacionada, havia apenas o cordão da calçada. Mas, teimosa que sou, me neguei a andar pelo meio da rua. Alguém precisa dar limites a essa juventude, afinal! Decidi que o cordão da calçada me pertenceria, gostassem elas ou não!  

Mal comecei minha travessia, abriu-se a porta da van e a histeria tomou conta das meninas! Flashes para todos os lados, gritos estridentes de emoção, lágrimas torrenciais... enquanto saltavam de dentro do veículo alguns magrelos tatuados. E eu ali, passos a frente da mulherada, como a mais enlouquecida das fãs – aquela que, apaixonada, invade o cordão de isolamento e praticamente se joga sobre seus ídolos.

Não sei em quantas fotos e filmagens apareci nessa situação deplorável – eu, passada dos 30, disputando espaço com garotinhas de 13!!! E o pior foi nem saber a quem eu, a considerar as circunstâncias, reverenciava tão incontidamente: seriam astros do rock? Atores? Famosos esportistas? Quem eram os magrelos, afinal?!

Não fiquei lá pra saber! Tão logo abriu-se o caminho, conforme os rapazes adentraram o hotel, fui-me embora ainda ouvindo: “ooooooh, como ele é lindo!” Tive que rir da coincidência: quantas horas aquelas meninas passaram a postos, à espera de seus ídolos, desejando desesperadamente aquele momento! E eu, que apenas queria passagem, fui parar quase nos braços – literalmente falando – das celebridades. Que coisa!

Encucada com o episódio, tentei relembrar meus tempos de tiete: procurei, revirei na memória, mas não achei! Nenhuma tarde perdida na frente do hotel esperando meu ídolo; nenhuma noite mal dormida, tentando imaginar onde naquele exato momento estaria o fulano; nenhuma loucura para compartilhar. Até mesmo os famosos pôsteres no quarto eu dispensei em meu tempo adolescente. Era torcedora fiel da “geração de ouro” do vôlei brasileiro, mas nada que lembrasse a idolatria. Tinha todos os CDs de Legião Urbana, mas não sentia a necessidade de vigiar a vida dos artistas.

Bem, agora eu tinha uma história de tiete pra contar! Se bem que... quem eram mesmo os fulaninhos? Internet existe pra isso: situar os desinformados. Lá fui eu pesquisar os nomes de meus mais recentes ídolos... e, que surpresa, era uma atração internacional, vinda diretamente do Arizona! Nesse momento lamentei não ter falado com os moços... pra perguntar se eles conheciam Gabriela! Ora quem?! Como poderiam morar no mesmo estado e não conhecer minha ilustre amiga Gabriela?!

No dia seguinte, lá estava eu, passando em frente ao mesmo hotel, reencontrando as mesmas meninas. Teriam dormido ali?! Cá entre nós, vida de tiete me parece muito cansativa! As criaturas não comem, não dormem, não vivem a própria vida!

Dessa vez  havia espaço na calçada, mas, por precaução, preferi o meio da rua. Nunca se sabe exatamente onde  estaremos mais seguros...

Suzy Rhoden

13 comentários:

  1. Rsssss...Imagino a cena...

    A curiosidade, esticadinha de pescoço pra ver se via o motivo da histeria das tietes, no mínimo, hilário.

    E, ali, de passagem , realmente, deves ter aparecido em muitas fotos...

    Legal pensar nessas pessoas que perdem seus dias, para ficar de longe dos ídolos que nem sabem de suas existências... Estranho.né?

    Linda tua crônica, sempre legal te ler! beijos,chica

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  2. Muito engraçado Suzie! Só quero ver tuas fotos começarem a pipocar nos sites... haushasuahsuas
    Ser distraída tem destes percalços... ou passar por chata pelos amigos que estão na rua e você cruza por eles pensando na vida e nem olha... já fiz isto tantas vezes isto... aff...
    bjos! ótimos textos, como sempre!
    Claudia Von Frihauf

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  3. rsrsrsrsr, Está cômica tua crônica, e ainda mais com estas meninas aí... Na verdade, nunca fui vidrada em ídolos, e não sei o porquê da coisa. Talvez por serem gente de carne e osso, darem suas mancadas e no fim terem seus pés de barro partidos.Aliás, lembrei: tive um sim! 'Bandeirava' feito louca por ele... E o sonho acabou mais depressa do que eu esperava.Acho que não preciso dizer o nome, né?

    Mas fiquei curiosa!!! Afinal, Suzy, quem era o ídolo das meninas??? Não deu pra descobrir? Será que não li direito? Isso sim me abalou! Você estava no meio da confusão!rsr

    Muito boa essa sua saia-justa!
    Beijão!

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  4. Que situação Suzy! Também não passei pela fase da tietagem e confesso que não saberia lidar muito bem com uma filha tiete. Nesse momento sinto um alívio por ter tido um filho e que não tem ídolos, ufa!
    Casos corriqueiros rendem sempre ótimas crônicas e a sua ficou perfeita!

    Beijos

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  5. Oi Suzy :)
    Muito divertida sua crônica!
    Eu já tive minha fase tiete,adorava alguns cantores e atores.
    Tinha pôsteres,camisetas,etc;mas nunca fui eufórica ao ponto de perder meu tempo seguindo esses artistas por aí.
    Eu gostava,mas não idolatrava.
    Foi uma época boa!
    Não faz tanto tempo assim,porém
    hoje em dia nem sei o paradeiro das criaturas que eu era tão fã!rsrs
    Aposto que as menininhas ficaram morrendo de inveja de vc!!rsrs
    Abraços!

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  6. Pelo Blogue de uma amiga comum cheguei aqui. Em boa hora pois o seu espaço e delicioso.
    Adorei tudo o que li, nessa forma deliciosa do português do Brasil, imaginando a doçura do sotaque que encanta.
    Se me for permitido voltarei porque fico , tal como a garotada, muito fã.

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  7. Olá Suzy!
    Muito boa a sua história! Gostei muito.
    Assim como vc, não fui de tietagens. Tive até, e tenho, alguns preferidos dentre os artistas, mas essa coisa de "amar até às lágrimas e o desespero" nem consigo entender, juro!
    Quando tinha meus treze anos (há muitos anos atrás) vi minha irmã quase surtar ao ver Wanderley Cardoso pela TV!!! Fiquei boquiaberta e me julguei um espécime muito esquisito, incompatível com a realidade à minha volta.
    Daí, para não ficar desigual, resolvi ser fã do Jerry Adriani e quando me perguntavam de quem eu era fã, tinha a resposta: não ficava mais sem entender a pergunta! rsssssssss
    Bjssssssss, quérida!

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  8. Una crónica divertida,
    la imagen es magnífica.
    que tengas buena semana.
    saludos.

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  9. Manuel,

    Agradeço o carinho de suas palavras, é realmente um prazer tê-lo aqui, trazendo a gentileza e o cavalheirismo do povo português!

    Volte sempre que desejar, como um convidado especial!

    Abraço,

    Suzy

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  10. Suzy! Genial amiga! Não foi só vc quem riu dessa tua trapalhada, eu ri à beça! rsrs. Talvez me lembrando de como sou também distraída.
    Ahhh, amiga eu ganho de vc viu! Moro num lugar onde celebridades (da música, da TV, do futebol, etc.) se ‘escondem’ em busca de privacidade. Mas confesso que aqui ninguém dá muita bola pra eles não, mas dizer ‘me passa o guardanapo, por favor’ numa lanchonete para um, sem ao menos olhar na cara, já é demais, né... rsrs.
    Pois é, tua amiga aqui fez isso!!! Um dia ainda conto isso no meu blog. Sem dar nomes aos bois, naturalmente rsrs.
    Não pratiquei tietagem no meu tempo de adolescência, não que me lembre... A bem da verdade, não tive oportunidade. Meus ídolos, todos pintores consagrados, já haviam morrido rsrs.

    Adorei amiga!!!

    Bjo grande.

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  11. Oi Susy, entrei para conhecer teu blog, gostei já estou seguindo. Convido você a conhecer o meu se gostar participe. Abraços uma noite abençoada.

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  12. Obrigado,Suzy e para os papais daí também um lindo dia, cheio do carinho de todos! beijos pra ti,chica

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  13. Ola Suzy,vim conhecer teu cantinho e gostei muito.Será um prazer ser tua seguidora.Meu grande abraço.

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