quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Novata!




Quem já viveu a ansiedade de um primeiro dia de trabalho sabe o que senti na semana que passou. Bem, devo confessar que tenho uma coleção de “primeiros dias”...

Antigamente, esse dinamismo mancharia meu currículo, pois o sucesso de um profissional era medido pelos anos que atuava na mesma empresa: quanto mais, melhor. Hoje, a multiplicidade de experiências é considerada positiva e desejável. Bom pra mim, que tenho sede de novidades e um particular gosto pela mudança e inovação.

Comecei a vida profissional como professora. Antes do curso de Letras, cursei o magistério, durante o qual tive minha primeira experiência conduzindo uma classe, aos 14 anos: compareci à escola para realizar observações solicitadas pela grade curricular. Mas, para minha surpresa, a professora titular não pode comparecer e EU fui escalada para assumir a turma naquela tarde. Não tive tempo sequer pra sentir o tremor nas pernas, pois quando percebi já havia sido empurrada pra dentro da sala, onde crianças quase do meu tamanho me olhavam com cara de: “é hoje que vamos botar a estagiária pra correr!”.

Ao longo da faculdade, vieram outras experiências: a primeira vez é sempre marcante! Olho para trás e vejo uma menina insegura disfarçando o medo de não dar conta do fardo que se propunha a carregar. O disfarce era tão convincente, porém, que até eu acabava por acreditar em minha capacidade e seguia em frente, experimentando sucessos. Cada vez que entrava em uma sala de aula, ainda que fosse a primeira vez com aquela turma, engolia a ansiedade e fazia todos acreditarem que era a milésima. Deu certo!

Letrada, fui atraída de volta a cidadezinha do interior, de onde havia partido. Era enorme a carência de profissionais em línguas estrangeiras na região: acabei lecionando nas escolas onde estudei – e em todas as outras também! Meu tour começava antes das 6h da manhã, e cada dia da semana tinha uma direção: a escola mais próxima ficava a duas quadras de casa; a mais distante a quarenta quilômetros de estrada de chão! E eu sobrevivi...

Nessa época de novata, eu trabalhava em escolas do estado, do município, curso de idiomas em duas cidades e ainda encontrava tempo para fazer academia regularmente e para atuar como professora de religião na escola dominical da igreja. “Novinhos” tem uma incrível energia e a capacidade incomum de abraçar o mundo, fazer todas as coisas ao mesmo tempo e ainda fazê-las bem feitas!

Mas o tempo passou e deixei de ser novata. Uma pena! Quando “envelhecemos”, ficamos ranzinzas: passamos a reclamar insistentemente daquilo que nos falta ao invés de saborearmos com alegria aquilo que temos! O medo de errar já não nos impele a agir com cautela; as dificuldades já não são desafios; e a humildade, atributo  que nos qualifica para o verdadeiro aprendizado, há muito deixou de ser nossa companheira. Deixar de ser novato é um perigo!

Por isso volto sempre a ser “novinha”! De tempos em tempos, avalio o caminho: se percebo que conheço de cor a paisagem, é hora de mudar os rumos. Sinto-me viva diante da possibilidade de aprender, de descobrir, de construir. Alguns balançam a cabeça negativamente: mudar de profissão a essa altura da vida?! Sim, mudei! E por que não? Difícil fazer alguns entenderem que conhecimento adquirido não se perde ou se dissipa no ar... continuo professora, estou apenas agregando, acrescentando experiências de vida!

Minha mais recente estréia aconteceu na última sexta-feira. Que maravilhosa sensação de primeiro dia! Como se ainda tivesse 14 anos e fosse empurrada para cima do palco, entrei em cena. Mais madura desta vez, mas quem disse que isso evitaria o calafrio inicial? Sabia, contudo,  que a passagem pelo palco seria breve e discreta: longe da luz dos holofotes, minha vida agora acontece nos bastidores.

Suzy Rhoden 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Cabelos: a Cor do Momento



Semana passada, quando apareci de cabelos castanhos diante de meus amigos, perguntaram entre risos se meu cachê também fora de R$ 2 milhões. Só então me dei conta do desastre: que péssima época para voltar às origens! Logo eu, que contesto abertamente a escravidão dos modismos; que me nego a seguir tendências; que me oponho radicalmente ao batalhão de uma cor só de madeixas! Mas, pra não perder a piada, respondi com voz embargada: o que uma filha não faz pra realizar o sonho de sua mãe! A Xuxa que me desculpe, mas não tem como levar a sério a justificativa para sua transformação.

Fiquei pensando na pobre mãe da Xuxa: levar mais de 40 anos para ver seu sonho realizado! Eu teria sido uma filha melhorzinha, com metade desse tempo já teria dado um arco-íris de opções a ela. Mudar nunca foi um problema para mim. Ou melhor, foi sim...

A primeira decisão de mudança veio na adolescência: decidi acabar com os ares de mocinha romântica do interior e cortar a cabeleira num ousado Chanel. Sem muita intimidade com salões de beleza, aceitei ser a cobaia de uma prima estudante de cabeleireiro. Foi um dos dias mais tensos da minha vida! Olhei pra prima, toda desajeitada com a tesoura na mão, e desejei sair correndo. Ao invés disso, sentei na cadeira e falei: estive pensando, um Chanel pode não combinar com o formato do meu rosto... então faz aí um repicado nas pontas... mas bem nas pontinhas mesmo! Saí de lá com 1 centímetro a menos nos cabelos, mas certa de que havia saído no lucro.

Anos depois, caí novamente em mãos erradas. Dessa vez, servindo como missionária em cidade distante e desconhecida, entrei num salão que parecia bastante amplo e cheio de funcionárias. Fui atraída pela ideia de agilidade no atendimento. Agilidade? Pois é... Fui parar justamente numa escola de cabeleireiros – meu carma! – e a moça que me atendeu estava mais interessada em reclamar da profissão que escolhera do que em fazer  seu serviço.

Claro que a lamúria começou quando metade do cabelo já havia sido cortado e eu não tinha chances de abandonar o salão naquele estado. A mulher reclamava da qualidade do curso, permanecia ali apenas porque  havia investido muito dinheiro. Mas  detestava o trabalho, muito cansativo, muito chato; dizia precisar parar pra descansar de 3 em 3 minutos, pois seu pulso doía devido ao esforço; que os clientes eram desagradáveis, sempre reclamavam do trabalho excelente que ela lhes prestava... A essa altura, eu já estava chorando, desesperada, implorando pra saber quem era o professor da criatura e se ele consertaria algum eventual deslize que ela viesse a cometer.

Como neste mundo não há nada tão ruim que não possa piorar, vivi drama ainda maior quando mudei de cidade e precisei atualizar o corte nos cabelos: seguindo indicação de amiga, solicitei ao meu esposo que agendasse horário pra mim em determinado salão. Ele esteve no local pessoalmente, perguntou pra mulher se fulana de tal era sua cliente e lógico que a mulher disse que sim. As referências eram ótimas, por isso fui muito confiante pro salão. Saí de lá em depressão profunda, praticamente careca. Liguei furiosa pra minha amiga e perguntei como ela pôde me indicar tão péssima cabeleireira! Um minuto de conversa foi o suficiente pra saber que entrei no salão errado, ao lado do qual ela me havia indicado.

Depois disso, decidi que somente mãos amigas mexeriam em meus fios. Até descobrir que mãos amigas também erram! Claro que não foi um erro fatal, nada muito grave... afinal, ficar com o cabelo cor de laranja é a coisa mais natural e mais tranqüila deste mundo!!! Confesso que nesse dia revirei minhas bolsas, atrás do cartão da mulher que me deixou careca... ela seria muito útil naquelas circunstâncias!

Apesar de tantos contratempos, nunca fui resistente às mudanças. Experimentei quase todas as cores disponíveis no mercado, mudo de corte algumas vezes por ano. Gosto do novo, do diferente, do inusitado. Mas sem radicalismos! Essa história de chocar me parece coisa de gente insegura, que se alimenta do susto dos outros. Não sou assim, não faço nada pra chamar a atenção. Prefiro ser discretamente notada e, se for mencionada, que seja pelo senso estético e pelo bom gosto, e não por seguir tendências.

Quanto ao castanho do momento,  Xuxa não tem nada a ver com isso. Nem minha amada mãe, que é muito privilegiada por já ter tido filha loira, ruiva, chocolate, castanha, com mechas, sem mechas, cor de laranja, careca... Seja qual for o sonho dela, é certo que já realizei! E sem cachê milionário...

Suzy Rhoden
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