sábado, 13 de outubro de 2012

Onde estão os professores?!



Às vésperas do dia dos professores, a mídia repercute a pergunta: onde estão eles para que os parabenizemos? Cada vez mais raros nas universidades são os optantes pelo Magistério,  menos de 2% segundo as estatísticas. Não por falta de vocação, certamente. Mas justamente porque vocação é a única coisa que não lhes falta para o trabalho, pois o restante...

Ter um professor na família, em tempos antigos, era motivo de orgulho. Minha mãe, ainda criança, relembra a alegria de meus avôs quando a filha mais velha decidiu ser professora: incentivaram-na, pagaram com alegria seus estudos, seus cursos. O professor era tratado com deferência, chamado de mestre, de modo que ter um professor na família era a certeza de alguém sábio e cheio de conhecimento sempre à disposição. A autoridade do professor era respeitada, não apenas na sala de aula, mas o título que carregava lhe dava direito inquestionável a sapiência. 

Fico me perguntando em que  momento da história as coisas desandaram deste jeito! Quem é o professor hoje, senão um sonhador violado em seus ideais? Pois não existe ideal que resista à realidade de nossa educação. Um profissional rebaixado e desvalorizado, tanto por alunos quanto por pais, e principalmente pelo governo que, diante dos milagres que alguns ainda conseguem fazer, parece dizer friamente através da remuneração oferecida: não fez mais do que a obrigação.

E por falar em obrigação, há os pais que, hoje em dia, associem escola com reformatório: não podem com a vida dos filhos em casa, então largam no portão da escola com a recomendação de que no final da tarde virão buscar anjinhos, e ai da professora se não domar as feras! Mas ai dela também se tentar domar, se por acaso solicitar que o aluno limpe algo que sujou... Processo por expor a criança à humilhação!

Quem aguenta ser professor nessas amargas condições? Eu não aguentei, abandonei as salas de aula – que  para mim eram palcos, de tanto que eu amava pisar nelas! Mas não suportei a pressão, o sufoco, a humilhação. Não aguentei a dualidade da mente explodindo de ideias para o trabalho: ideias suicidas, porém, pois saltavam vivazes num abismo de impossibilidades, nadavam e morriam na praia!

Como pode este mundo pensar que é capaz de viver sem o professor?! É algo equivalente ao filho recém-nascido e completamente dependente rejeitar os cuidados da mãe... Assim, esta sociedade que ainda nem engatinha culturalmente desvaloriza a mão amiga, crendo-a inútil e desnecessária. Cresceremos órfãos de ideias, subnutridos de conhecimento, desprovidos das asas da sabedoria, sem as quais não se pode voar!

Alguns mestres, contudo, não fogem do palco em ruínas onde são obrigados a atuar! Professores com muito orgulho, dignos de dez vezes o valor estampado em seu contracheque; remando contra todas as correntezas e ainda assim fazendo um trabalho que arranca aplausos! São raros, são poucos, são sobreviventes, mas não arredam pé, tamanha a força de sua convicção! Seguem acreditando na causa que os levou ao Magistério, ainda que ninguém mais acredite... Pois sabem que, morrendo a educação, passa a viver apenas vegetalmente toda uma população – e isso eles, guerreiros comprovadamente, jamais aceitarão!

Parabéns, mestres! Obrigada por não deixarem morrer em mim a esperança que por vezes agoniza... Em dias melhores, em uma educação valorizada; em cenários construídos sobre palcos apropriados,  onde atores possam brilhar em sintonia com a platéia que os aplaude, havendo respeito, havendo riso! Pois hoje, lastimavelmente, a cena que se vê provoca apenas lágrimas.

Suzy Rhoden

11 comentários:

  1. Lindas e pertinentes reflexões!!Parabéns aos professores que se interessam, dedicam e se preocupam em ensinar e formar crianças. Pena, falte tanto desrespeito com eles e reconhecimento! beijos,chica

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    1. Uma pena mesmo, Chica, que essa valorização não venha na medida em que eles merecem, pois a profissão é linda, encantadora! Exige dedicação maior do que na maioria das profissões e um cuidado exacerbado, pois é um trabalho que lida o tempo todo com pessoas - não adultos, com personalidade, mas "pessoinhas" em formação, futuros cidadãos! Profissionais desmotivados são um perigo nessas condições... não seria melhor manter nossos professores sempre entusiasmados?

      Obrigada pela presença amiga aqui, Chica! És sempre bem-vinda, beijão.

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  2. Suzy, que texto lindo! Você me levou de volta ao meu passado quando sentia carinho, respeito e admiração pelas minhas professoras. Tínhamos um clima de cordialidade em nossos colégios. Onde mudou, quando? Penso que de uns (muitos) anos pra cá a família começou numa desestruturação acelerada. O respeito que foi se esvaindo dentro de casa chegou à escola. E com a mesma fúria. Lógico que não preciso nem falar da desestruturação familiar, tá na cara...

    Os professores começaram a ser desvalorizados pelo próprio país, com seus salários vergonhosos. Aí vieram as greves que levantavam a ira dos pais que não tinham onde deixar os filhos. A escola tinha de ser creche, também. Hoje, nada mais do que 2% pensam em Magistério. Se tanto! Há ideal que sobreviva? Como reciclar os professores se não há dinheiro nem tempo disponível e nem vontade política para reverter a situação?

    Apenas posso desejar aos professores melhores dias e parabéns por tentarem...
    Beleza de texto, amiga. Você está cada dia melhor!!!
    Grande beijo!

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    1. Realmente, Tais, a realidade da escola pública é muito triste. Posso falar a respeito disso, pois é uma realidade que vivi. Conheço de perto a estagnação por falta de recursos para o trabalho; o desânimo que vem na sequência, por perceber que muitas vezes nem os pais e nem os alunos estão preocupados com a tal qualidade, que tanto estrago faz em nossas mentes perfeccionistas de professores comprometidos! Queremos fazer milagres, mas não temos apoio de lado nenhum.

      O respeito, que se perdeu, de fato foi perdido em casa. Mas sentimos o reflexo lá na escola, na criança revoltada e desprovida da noção de regras que não hesita em ameaçar e tratar com violências seus colegas e seus professores. Para corrigir, é preciso maestria: muito cuidado para não esbarrar nos Direitos Humanos, já que tudo hoje em dia é uma questão de interpretação (as brechas nas leis provocam isso) e o professor que tenta simplesmente corrigir corre o risco de manchar definitivamente sua carreira com um processo nas costas!

      Ainda assim, há escolas que conseguem erguer-se acima das ruínas e brilhar pela qualidade de sua educação! Tive a bênção de trabalhar em algumas assim, raras e inesquecíveis! São, em sua maioria, voltadas para projetos e conseguem a adesão da comunidade escolar. Esse para mim é o segredo, o ponto de partida: o trabalho conjunto. As escolas que conseguem agir assim, trazendo a família para perto, envolvendo-a diretamente em suas atividades, tendem a ter muito mais sucesso em tudo que realizam - e até milagres são capazes de fazer!

      Agradeço o carinho e a presença aqui, seus comentários são sempre ricos de conteúdo, plenos de conhecimento. Um forte abraço, com meu carinho.

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  3. Suzy, fico impressionada com o número de professores afastados para tratamento de depressão, síndrome do pânico e outras doenças similares. Os que persistem, arduamente, na profissão estão se arrastando, literalmente, nas salas de aula. Que triste e dura realidade!
    Parabenizo todos os mestres e a você por tão belo texto.

    Beijos

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    1. Néia, também percebo isso ao meu redor: vários professores em licença para cuidar da saúde. Aqueles que permanecem na escola são amargos, duros, negativos. Claro que não posso generalizar, mas lembro de ter pensado em meus tempos de novata na educação que eu não queria terminar minha carreira assim! O mais frustrante é saber que estamos falando a respeito de uma bela profissão, a mais encantadora de todas em minha opinião! Mas tão desvalorizada, lastimavelmente.

      Ainda assim, afirmo que é possível encontrar alegrias na profissão e também a realização pessoal, tão necessária nesta vida! Alguns amigos são bons exemplos disso, fazendo seu máximo todos os dias para garantir àqueles que estão sob sua responsabilidade uma boa educação. Para esses, meus aplausos, são guerreiros!

      Beijo, querida, é muito bom ter você aqui!

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    2. Concordo com a Néia, não tinha pensado nos professores com 'pânico', 'estressados'!!
      Não há mais respeito. Não há proteção. A base da educação começa em casa e segue na escola. Mas ninguém está afim de reverter o quadro. Pelo menos é o que está parecendo...

      bjssss.

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  4. Minha querida Suzy,

    É uma benção ler este seu texto! Muito obrigada, obrigada mesmo!
    Embora fale de uma realidade cruel, de uma sociedade que está à deriva em suas necessidades primordiais, ele não nos deixa desesperançados e isto é fundamental! Enquanto tivermos esperança, haverá possibilidades de mudanças e poderemos contagiar as pessoas para elas.
    Porém o que mais me aflige é a decadência da família que não assume mais as suas responsabilidades sobre a educação de suas crianças. As pessoas embrenhando-se na correria da vida e esquecendo-se do quanto é boa e importante a convivência familiar e que não é perder tempo conversar com criança e adolescente: é oportunidade de educar!
    Mas, são as escolhas! Pena que quem não fez a escolha de ausentar-se pague pela ausência dos outros!
    Bjssssssssssssss, quérida!

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    1. Querida Brechique,

      Você tocou em assunto essencial, eu diria que o cerne da questão: a família! Os pais, cada dia mais envolvidos na tarefa de crescer profissionalmente, muitas vezes fazem isso com o sacrifício do tempo que deveriam dedicar aos filhos, relegando à escola a responsabilidade de educar. O resultado é esse: crianças carentes de limites, de uma educação que vem de casa, e professores sobrecarregados com a tarefa de construir conhecimentos e disciplinar ao mesmo tempo, ou seja, atrito e desrespeito em sala de aula. Violência gratuita muitas vezes!

      De fato, é insubstituível a convivência familiar! É boa, é prazerosa, mas nem todas as famílias parecem compreender isso. Uma pena!

      E, quanto à esperança, ela precisa existir! Quando agonizante, precisa ser alimentada com os bons exemplos que estão por toda parte e que, como você mencionou, são contagiantes.

      Um beijo carinhoso, grata por sua presença aqui. Volte sempre!

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  5. Suzy esse texto ficou magnífico! A realidade triste e regressiva! Minha vida escolar fundamental/médio terminou faz pouco tempo. Tenho em minha mente tantas situações frescas que, no lugar do professor, eu teria desistido! Não sei se você assistiu ao vídeo chocante em que o aluno pega a folha de notas da professora sem sua permissão, vai até sua mesa e tenta apagar. Quando a professora vai atrás dele, ele parte para a agressão e a professora vai ao chão. São cenas chocantes. Se eu que saí a pouco da vida escolar não imaginaria ver isso acontecendo com as turmas que passei, imagina a velocidade com que a coisa está piorando?
    Se não viu o vídeo, aqui está o link:
    http://www.youtube.com/watch?v=6VbLrl5q0z8&feature=related

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  6. Obrigada por compartilhar o link, Hugo! Eu já havia assistido, mas foi muito importante você relembrar a cena aqui, pois é perfeitamente condizente com o teor do texto. Violência é um dos fatores que afasta educadores das salas de aula, pois o professor se sente na obrigação de educar, porém impotente para fazer com que essa educação de fato aconteça, já que o aluno hoje em dia não reconhece no mestre uma autoridade. Generalizamos aqui, obviamente, pois nem todos os alunos tem esse perfil desinteressado e violento. Contudo, o elevado índice de violência contra educadores nas escolas é gritantes e merece ser lembrado e, de preferência, imediatamente cessado.

    Obrigada pela contribuição, um abraço!

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