quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Contadores de Histórias



Um projeto recente tem-me conduzido pelo túnel do tempo, fazendo-me aportar em épocas distantes, quando fadas existiam, porquinhos construíam casas e bruxas más tinham o fim que mereciam. Sim, tenho voltado à infância, e tenho sentido outra vez na pele a sensação mágica de ser criança.

Cresci ouvindo as historinhas que minha mãe contava; depois, com a alfabetização, descobri por mim mesma o universo a parte dos contos de fadas. Agarrei-me aos livros, fiz deles meu esconderijo preferido, meu cantinho seleto. 

Contudo, nunca havia visto em mim uma contadora de histórias... Até escolher, como atividade complementar de graduação, a disciplina de Literatura Infanto-Juvenil: no princípio, era apenas mais uma aula divertida, ministrada por um professor extremamente dinâmico e criativo. Então chegou a greve, que anualmente se instala nas universidades federais, e  eu fiz a mala e voltei para a cidade de meus pais...

Um belo dia, decidi dar as caras de novo pela UFSM e, para minha surpresa, alguns  professores haviam retomado as aulas. Dentre eles, o professor Silvio, da referida literatura! Retornei às vésperas da apresentação de um trabalho, a turma já devidamente organizada. Tratava-se da análise literária de uma obra infantil, atividade que, modéstia a parte, eu dominava e amava realizar. Mas todos na sala já tinham sua responsabilidade, o que poderia ser delegado a mim?!

Não me coube escolher, naturalmente. Juntei-me ao grupo que me aceitou e recebi deles a designação: já fizemos tudo, querida colega atrasada, portanto contente-se em simplesmente contar a história. Ok, eu conto a história, disse eu, revestida de humildade – e me cabia algum orgulho naquelas condições?!

No grande dia, os olhares se voltaram para mim e eu soube que era minha hora de atuar – atuar?! Levantei-me e, com diferentes tons de voz, dei vida a um Reizinho Mandão. Algo mágico aconteceu de súbito, eu tive a exata sensação de ter voltado à infância, quando ouvia sem cansar aquela mesma frase: “Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu!” Olhando em volta, não via adultos, mas crianças grandes de olhos arregalados, agarrados a um tapete mágico que apareceu do nada e os levou para voar!

Sentei-me acompanhada por aplausos. A apresentação dos grupos prosseguiu e, ao final dela, veio de todos na turma o feedback para minha modesta contribuição para o trabalho: “Senti-me criança outra vez, foi mágico!” – diziam. Por fim, o professor incentivou: “Existem grupos itinerantes de contadores de histórias, que saem mundo afora levando seu conto, e eu gostaria de vê-la integrando um desses!!!” Menos, professor, beeeem menos...

Nunca integrei grupo nenhum de contadores de histórias, nem trabalhei diretamente com a Literatura Infantil, mas guardei a experiência como algo precioso. Vieram oportunidades na vida de professora que me colocaram nos palcos, lugar onde me sinto muito bem... no papel de narradora. Não me importa aparecer, brilhar, mas contar! Isso é que me encanta...

Nesse sentido, um projeto recente tem ocupado meus dias: trata-se da contação de histórias numa comunidade carente, onde as crianças reúnem-se mensalmente para almoço solidário. O trabalho é voluntário, vem crescendo discretamente pelas mãos de  mulheres bondosas que preparam para os infantes farta e nutritiva refeição... Por que não ofertar também alimento para a imaginação?!

A ideia nasceu durante a festa do Dia das Crianças, quando a amiga Eliane vestiu-se de Emília e entreteve os pequenos. Que coisa mais linda de ver aquela boneca falante todo tempo cercada por meninas que, com olhos brilhantes, lhe contavam segredos e faziam promessas!

Agora selecionamos histórias, despretensiosos, querendo apenas estimular sorrisos, num trabalho feito de amor. Sonhamos com uma pequena biblioteca, montada com doações de livros infantis, para que, através deles, Emílias possam falar e Belas Adormecidas despertar!

E, quem sabe, fazer nascerem novos contadores de histórias...

Eliane em seu momento "Emília", durante atividade do Dia das Crianças
Suzy Rhoden

*Aceitamos doações de livros infantis, os quais serão utilizados na contação de histórias, visando o incentivo à leitura e o desenvolvimento do gosto pela literatura. Interessados  em ajudar podem entrar em contato através do email salrhoden@hotmail.com . Para maior compreensão da atuação do Projeto Mãos Que Ajudam junto à comunidade local, clique aqui

11 comentários:

  1. Que coisa linda,Suzy!

    Esse é um projeto maravilhoso e te vejo direitinho nesse papel de contadora de histórias, fazendo voar as cabecinhas infantis para outros lugares.

    Parabéns pra ti, pra "Emília" e tantas que participam nesse trabalho!

    beijos,segue me frente!! chica

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    1. Obrigada, Chica! O projeto é lindo, sim, já existe há algum tempo, mas agora envolverá a Literatura de forma mais específica. Há sempre algo a mais a fazer por nossas crianças... Se me encaixo bem no papel, não sei. Mas gosto, gosto muito!

      Beijos, querida!

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  2. Uma maravilha esse projeto Suzy! Sou da opinião que uma história bem contada incentiva crianças e adultos à leitura. Acredito que você faz isso muito bem!
    Parabéns a todos que estão participando desse evento.

    Beijos

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    1. Também penso assim, Néia! Histórias abrem passagens secretas em nossa mente, deixam nossa imaginação fértil e o fascínio pela leitura é apenas uma consequência!

      Grande beijo.

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  3. É isso aí, Suzy, trabalhos assim incentivam à leitura, e desde pequeninos. O hábito, o gosto por histórias se forma nessa idade. E parece que você é moldadinha pra isso! Gosto de ver seu entusiasmo por certas coisas que você conta aqui. Posso lhe dar o maior parabéns? Continue, amiga, você sempre surpreende... Eta guria que deu boa! Aliás... você conta algumas histórias pra nós, já notou??

    Grande beijo!

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    1. Querida Tais,

      Você não imagina o peso que um elogio seu tem para mim! Receber incentivo constante para meus projetos e minhas invenções, não tem preço, mas é algo que recebo com frequência e gratuitamente de ti! Fico até sem palavras, pois percebo o carinho nas palavras... Realmente, sou uma entusiasmada, uma otimista, uma sonhadora sob alguns aspectos! Quero fazer tanta coisa ainda... E, quando consigo, é porque encontro pessoas como você no caminho, que incentivam, que fortalecem e que motivam! Quando se tem bons amigos, é muito fácil ir mais longe em nossos planos e projetos. Por tudo isso, OBRIGADA DE CORAÇÃO!

      Um beijo e todo meu carinho por ti, querida amiga!

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  4. Olá, Suzy
    Que atitude linda a sua de levar a essas crianças a magia da infância! Acredito que seja dessa forma, ao discernir o mundo conto de fadas do mundo real, que eles fortificarão seus sonhos não com a surrealidade, mas com uma força humana baseada na força dos heróis das histórias.

    Seu texto me impulsionou a ser ainda mais solidário. Eu estou estudando uma forma de fazer algo parecido, procurando um jeito. Não tenho todo o gingado para contar histórias, mas sei que meu amor por crianças somado à magia proporcionada por esses sorrisos lindos a minha volta com certeza resultarão numa coisa boa.
    Meus parabéns pelo gesto e obrigado por compartilhar conosco! Um ótimo coração no mundo pode formar muitos outros ótimos corações. Você está fazendo isso.

    Ah! Estou a procura de um livro que ganhei há uns 8 anos. Ele continha 365 histórias para serem lidas uma a cada dia do ano. Infelizmente com a mudança acabei perdendo-o de vista. Caso eu encontre, doarei.

    Um grande abraço!

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    1. Oi, Luís Fellipe!

      Uau, 365 histórias num livro só!!! Isso explica como nasceu o grande cronista que, tão jovem, já brilha com seus textos no Cronicalize: ler muito é essencial para escrever bem! Fiquei imensamente feliz com sua disposição de ajudar, caso encontre o livro. Se não conseguir encontrá-lo, não se preocupe, bastou-me conhecer sua boa vontade e seu desapego com coisas que podem, de fato, serem doadas conforme crescemos e não precisamos mais delas.

      Quanto ao projeto, estamos dando apenas os primeiros passos aqui. Existe uma iniciativa muito bonita, que envolve duas religiões unidas no mesmo propósito: cuidar de nossas crianças. A ideia é ampliar, estender o projeto e fazê-lo crescer, não para ser visto pelo mundo, mas para melhor servir as crianças que fazem parte desse grupo.

      Quanto as suas intenções de atuar como voluntário, tenho certeza de que encontrará muitas oportunidades para fazê-lo utilizando suas habilidades, afinal há espaço para o voluntariado na área da música, do teatro, da literatura, línguas estrangeiras, esportes, etc, etc. Ou seja, há muito o que fazer, o que precisamos realmente é ter o desejo e a iniciativa, e isso percebo que você já tem! Não desista, servir ao próximo é fonte de alegria genuína nesta vida!

      Grande abraço pra você também, grata por sua grandeza de coração.

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    2. Suzy, muito obrigado pelos lindos elogios! Eu é que agradeço de coração o carinho e também por estar sempre por lá para acompanhar minhas crônicas. É muito importante pra mim receber de você essas palavras.
      Continuo a procurar o livro! Acredito que existam caixas ainda na casa antiga. Vou passar por lá em breve!

      Um abraço e mais uma vez obrigado!

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  5. Ola Suzy!

    Primeiramente agradeço sua visita, palavras, divulgação da postagem e fico feliz sempre que encontro pessoas, projetos, entendimento do valor das atividades manuais, lições domésticas e em especial essa temática trabalhada junto com a religião, eu pelo menos penso que os valores morais e espirituais tem uma forte ligação e trabalhados juntos são mais bem percebidos, transmitidos e preservados.

    Quanto a contação de histórias, contar histórias é comigo mesma, sejam as mesma, novas, clássicas, do cotidiano, verídicas ou imaginárias. Contar e escutar, ler, amo.

    Acho fantástico ler para crianças, divino ler para crianças cegas, mágico e social despertar e alimentar a literatura na infância.

    Prazer em conhecer, volte sempre por lá, voltarei por aqui e através da blogosfera, das nossas histórias, filosofias, fé, fantasias, lutas e glórias vislumbro que nascerá uma amizade :)

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  6. Oi Suzy,

    Quantas coisas boas me trazes com teu relato. rsrs Ora, fiquei aqui lembrando do meu Curso normal, quando no último ano na aula de literatura tivemos muitas apresentações como a sua. lembro-me como se fosse hoje. A sensação que descrevestes ali em cima foi exatamente o que senti.

    hoje fico toda boba quando vejo as contadoras de história do município impressionando as crianças e a mim também (hehehe)

    Coisa boa estas experiências. Feliz em saber deste projeto. Sucesso grande pra vocês!

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