sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Mar, um Velho Amigo Meu...



Não sei quando exatamente começou minha paixão pelo mar, mas acho que foi antes de conhecê-lo. Não, eu não tive uma infância colorida pelas praias do litoral, férias de verão significavam no máximo uma visita às primas da cidade. O mar ficava do outro lado do mundo para mim: um mundo de lavouras de trigo e de soja, em meio as quais fui criada. Meus pais não tinham tempo e nem dinheiro para incluir o litoral em nossa agenda anual.

Mas eu amava o mar como se fosse um velho conhecido, não tinha dúvidas de que o primeiro contato seria, no fundo, como um reencontro. E foi... Não esqueço da imagem que se formou diante de meus olhos depois da curva, quando nosso ônibus, lotado de estudantes, alcançou a avenida beira-mar: o sol, exibido, banhava-se na água salgada, distribuindo um reflexo vermelho-alaranjado que não deixou dúvidas: eis a cor do verão! Foi paixão à primeira vista.

Depois desse, vieram muitos verões com praia, e o litoral ficou logo ali. Mas nada de praia deserta ou ilha desabitada, o meu lance é outro: gosto mesmo é do movimento! Adoro estar cercada de gente, assistir à prática livre de esportes na areia e ocasionalmente participar de alguns deles. No sábado, aderi ao futevôlei improvisado pela ala masculina, enquanto minhas amigas assistiam sentadinhas à cena – o que é isso, companheiras?! Praia pra mim é movimento, é energia, é disposição. Essa coisa de ficar deitada ao sol comigo não funciona: branquinha, mas fervilhando!

Também gosto da areia debaixo dos pés e da água pela canela. Não vou ao mar para nadar ou surfar, não encaro ondas gigantescas. E nem me fale em alto-mar, o glamour dos cruzeiros passa bem longe dos meus sonhos de consumo! Gosto de terra não apenas à vista, mas bem firme debaixo dos meus pés.

E não dispenso, por nada no mundo, a corrida na praia ao final do dia. Sou capaz de correr quilômetros, sem sequer perder o fôlego: o espetáculo diante de meus olhos renova energias a cada passo! Quando, por fim, dou por encerrado o exercício à beira-mar, subo nas dunas e despeço-me silenciosamente do meu velho amigo.

Esse é um momento sublime, é sagrado, e faço questão de estar só. Permito-me sentir o vento nos cabelos, enquanto meus olhos vagueiam até a linha do horizonte, onde céu e mar se encontram. Perfeita sensação de paz! Dispenso as palavras, até mesmo elas atrapalham nesse instante de comunhão com meu Criador, deixo-me preencher apenas por gratidão.

Por fim, levanto-me e vou embora. Sem dramas, sem lágrimas pelo fim da estação: que importa o inverno? Depois dele haverá sempre um novo e intenso verão!
Suzy Rhoden 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Mania de Literatura



Todo leitor tem suas manias. Uns são ávidos, leem quinhentas páginas bem lidas em 3 dias; outros fazem questão do exercício diário, em doses homeopáticas, cujo tratamento para a mente dura semanas, meses.

Há  os que, considerando a leitura um momento sagrado, não abrem mão do silêncio, da reclusão e da calmaria. Leem em bibliotecas, escritórios, debaixo de árvores, em praias desertas.  Mas existem também os que leem no transporte público, na fila do banco, na areia lotada de gente, no topo das árvores, no consultório médico ou onde quer que se encontrem, sozinhos ou acompanhados.

Uns só entendem o livro se lido em voz alta, outros devoram a história com os olhos e a mente, sem qualquer ruído exterior. Há quem leia o primeiro e o último parágrafo, depois mergulhe com vontade na obra. E ainda os que interagem: brigam, xingam, riem, choram com os personagens, como se estivessem diante de pessoas e situações reais.

É inevitável, temos nossas excentricidades, nossos rituais particulares. Eu, por exemplo, gosto de saborear minhas leituras como quem saboreia rara especiaria. Tenho a necessidade de degustar e identificar cada tempero da obra, da introspecção até a ironia escancarada. Isso requer tempo, cuidado, interação com o objeto de leitura. Ou seja, nada de uma saga em 3 dias! Faço questão de manter a mesma companhia por semanas…

Contudo, quando mergulho em um livro, fecho a porta de conexão com o mundo exterior. Isso quer dizer que choro no metrô e dou gargalhadas na fila, totalmente alheia às caras de “alguém denuncie esta foragida do hospital psiquiátrico!”.  Não me privo de me emocionar em publico, permito-me viver as emoções que a boa leitura proporciona – esteja onde estiver!

Mas tem uma coisa: essa história de “best seller” não me convence! Leio se o assunto me interessa, se o conteúdo me agrada, e não porque foi o mais vendido ou porque é o preferido da torcida do Flamengo. Leio o que gosto e o que quero, e quando quero. Por exemplo, enquanto minha vida segue num único tom de cinza, sem qualquer pretensão de conhecer os outros 49, pego Um Lugar na Janela com Martha Medeiros e saio por este mundão afora, fazendo escala em Cabul, no Afeganistão, para conhecer a famosa história do menino (O) Caçador de Pipas.

- Mega atrasada! – muitos dirão.  Admito. Mas sem peso na consciência: acredito que cada obra tem o seu tempo e o seu momento para fazer sentido em nossa vida. Não devem ser engolidas goela abaixo...

Quando era adolescente,  preocupava-me em vencer as disputas com minha melhor amiga, numa corrida silenciosa para determinar quem lia mais em menos tempo. Devorei livros, e isso foi maravilhoso. Quanto mais lia, mais sedenta me sentia!

Tornei-me adulta e continuo lendo muito. Mas sem a pressa de outros tempos, sem qualquer concorrência. Leio por puro e indizível prazer, leio por paixão, por anseio de viver!

E se for pra apontar minhas manias, que seja essa – a qual preservo com muito empenho e muito orgulho:

- Ela tem mania... de LITERATURA!
Suzy Rhoden

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Férias em Família



O que se pode esperar de uma inesperada folga prolongada? Isso mesmo, folga do sábado anterior ao Natal até a terça-feira de Ano Novo! Praticamente férias, o que deixa a mente da gente fervilhando com muitos planos...
Mas não sou mais uma menininha independente, tenho marido. E o marido também tinha planos:
- Vamos viajar!
- Que ótimo, meu bem, vamos sim!
E lá fui eu, alegre e sorridente arrumar as malas, rumo ao litoral norte catarinense. A filharada toda no carro, cachorro, gato, papagaio... Pronto, hora de pegar a estrada!
No caminho, puxei assunto com o marido sobre o roteiro de nossa viagem, que não podia se resumir apenas em praia, e então veio a bomba:
- Calma, temos que ouvir a opinião dos outros também...
- Outros? Que outros?!
- Minha mãe idosa, minha irmã grávida de quase 9 meses, meu irmão recém divorciado e profundamente deprimido, tendendo ao suicídio de 5 em 5 minutos, que vai levar os filhos pequenos para se divertirem com os nossos (leia-se: pra eu cuidar enquanto ele chora e lamenta sua triste sina) e meu irmão caçula viciado em filmes e jogos virtuais (ou seja, adivinhe o programa da casa nos dias de veraneio... a detestável TV!!!).
- Noooossa, que legal... As férias da minha vida! – disse eu, pensando nas trilhas que não faria... No mar, para o qual eu apenas acenaria, ocupada em não deixar um dos 5 pequenos ser levado pelas ondas... Nas noites divertiiiidas vendo sangue sair da tela, pois os Rhoden que conheço não iriam querer assistir Os Miseráveis comigo, iriam?
Com toda essa expectativa, não preciso fazer um relato completo de minhas férias. Mas vou fazê-lo mesmo assim: INESQUECÍVEIS!!! E no sentido mais exato e positivo da palavra. Explico.
Antes de tudo, justiça seja feita aos meus cunhados queridos e a minha amada sogra: eu sabia que iria encontrá-los, por sinal a viagem foi planejada justamente para celebrarmos Natal e Ano Novo em sua companhia. Mery – que está grávida de 4 meses e não de 9 – foi uma anfitriã maravilhosa, ao lado de seu esposo Thiago, levando-nos aos melhores pontos turísticos da cidade: devo a esses dois a melhor anchova grelhada da minha vida! Jaime, o mais novo e cobiçado solteiro da família,  foi um grande parceiro de esportes radicais – aquele nosso vôlei na chuva foi radical, não foi? – e de muitas conversas também, por sinal, estou orgulhosa de suas sábias decisões e de sua capacidade de contornar problemas aparentemente sem solução. Jonatan, o ex viciado em jogos virtuais, só queria saber de jogar ao vivo e a cores: foram muitas madrugadas de poker, o jogo favorito desta temporada.
Quanto à escolha dos filmes, foi sangrenta em seu sentido mais literal: fomos para o cinema ver nada mais, nada menos do que Amanhecer – Parte II, o Final!!! Sei que estamos atrasados, considerando a febre nacional, mas quem se importa com isso? Eu que, com meus preconceitos, relutava em ver o filme, acabei curtindo tudo, em especial a companhia. E como não sou crítica de cinema, dispenso-me da obrigação de analisar a saga Crepúsculo (Ufa, salva pela criatividade literária!).
Da sogra tenho uma reclamação: fez o doce preferido de meu esposo, daquela forma impecável, que  invariavelmente gera a observação: quando você vai fazer uma aulinha de culinária com minha mãe e aprender o ponto do doce com ela, querida? Podia ter-me deixado passar o verão sem essa, né sogra...
Quanto aos meus dia de polvo, com muitos tentáculos para segurar ao mesmo tempo 5 criancinhas curiosas que queriam ir mar adentro, não houve exagero: exatamente assim foram meus dias de praia!
Ouço muita gente reclamando dos programas em família, como se fossem o extremo oposto de qualquer forma de diversão – especialmente se for justo a família da sogra! Não tenho dúvidas de que a imaturidade somada à visão pessimista de tudo e de todos acompanha esse pensamento. Quando amadurecemos, valorizamos mais um “programa de índio” – como nosso churrasco na chuva em pleno Parque Malwee, quando o tempo mudou repentinamente – do que as aventuras radicais que ficam bonitas em fotos, mas que nem sempre são tão divertidas assim. Aprendemos a valorizar as pessoas como elas realmente são, e não como gostaríamos que elas fossem.
Antes de questionar as atitudes dos membros da família que eu tinha a minha volta, pensava no quanto eu poderia ser chata e estranha para eles com minha mania de leitura – falavam em olhar um filme, e eu sumia agarrada em um livro! A péssima companhia era eu, sob determinado ponto de vista...
Com esse pensamento, aproveitei ao máximo cada minuto. Tive dias plenos, ricos de alegria genuína, que terminaram com um sabor de “ano que vem tem mais!” – tudo isso sem a necessidade de um esforço supremo, bastou nutrir dentro de mim o estrito significado da palavra respeito.
Voltei para casa compreendendo melhor as palavras de L. Tom Perry, quando  disse: “Os estudos mostram que o atrativo das gangues de jovens é a tradição e o ritual de pertencer a algo maior do que eles mesmos. É isso que deve ser a família. Certifiquem-se de criar um ambiente rico no qual sua família anseie estar naquelas ocasiões especiais do ano em que as tradições os unam numa grande família eterna”. Foi assim, senti-me pertencendo a algo maior do que eu, e nem era minha família imediata: era a família do meu esposo, para quem finalmente deixei de ser forasteira.
- Noooossa, que legal... As férias da minha vida! – E não é que foram mesmo! Fui vencida por minha própria ironia.

Suzy Rhoden
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