quarta-feira, 27 de março de 2013

Privacidade: Prezo Muito!



Fala-se muito em privacidade. Fala-se tanto que, tenho a impressão, até a palavra já deixou de ter associação com a ideia de privado, de secreto e de reservado. Privacidade significa hoje, por exemplo, selecionar um grupo – de umas 900 pessoas – para ter acesso a fotos e publicações nas redes sociais, que outras – perigosíssimas! – 12  pessoas não são autorizadas a ver. Ou seja: o privado não é realmente privado, é apenas  limitado. Ou, melhor ainda: tem a aparência de ser limitado, mas nem isso chega a ser.

Não me interessa ficar resgatando a etimologia da palavra privacidade aqui, me interessa mesmo sua aplicação prática: como é difícil realmente resguardar nosso espaço! Frequentemente ele é invadido, seja pelos amigos dos amigos de rede social da gente, seja pelo povo com o qual convivemos face a face, que tem a mania de se atribuir uma intimidade que não lhes foi dada, e agir conosco como se fosse “de casa”.

Confesso que sou chata com essas coisas. Conhecido não é melhor amigo; educação não é mensagem de “casa aberta”; convite para um jantar ou mesmo para um chimarrão no fim da tarde não deve ser entendido como “faz um puxadinho no meu terreno e te muda pra cá”.

Antes que eu seja taxada como antissocial, explico que valorizo sobremaneira a boa amizade. A prova disso é que sou seletiva. Embora seja gentil com todos que conheço e considere isso parte fundamental de uma boa educação, não sinto  a obrigação ou mesmo a necessidade de encher  minha casa de gente e de ficar distribuindo sorrisos amigáveis e dando tapinhas nas costas, como se fôssemos amigos de infância. Essa intimidade é para quem é realmente amigo, das horas boas às extremas; é para quem não se afugenta por qualquer motivo.

Embora tenha sempre mantido uma certa discrição, existiram épocas de minha vida nas quais estive mais propensa a ampliar o círculo social. Recebia amigas com freqüência, as quais tinham acesso a minha casa e, por conseqüência, a muitos assuntos de minha vida pessoal. Foi nessa época que vivi algumas de minhas piores turbulências. E as amigas? Não tive mais notícia, só soube de uma que perdeu meu número de telefone e está a procurá-lo até hoje.

Não traumatizei. Apenas confirmei pela experiência aquilo que meu sexto sentido já dizia: privacidade é zelo, evita confusão e nos poupa de frustrações desnecessárias. A culpa não foi das “amigas”, foi minha por esperar delas algo que não poderiam oferecer: amizade incondicional. Esse assunto é para poucos, e não está relacionado a um grupo de pessoas más e outro de pessoas boas, e sim a um certo padrão de afinidade.

Se sou seletiva com aqueles que convido para minha residência, naturalmente não vivo enfiada na casa dos outros. Que péssimo hábito para o ser humano! Pois, além de roubar a privacidade dos anfitriões, é natural que logo acabe o assunto, e aí o que impera? A fofoca, impiedosa e cruel. Pois, na falta de outra coisa para falar, imagino que sobre tempo para criar e extrapolar a respeito da vida dos outros...

Meu recado está dado, para esse assunto não sou de muitos rodeios. Uma última orientação, apenas: se eu for vista na casa dos outros, falando da vida alheia, chama o psiquiatra que surtei, sou caso para internação. Reclusão é uma boa dica, até a língua parar de coçar.

Suzy Rhoden

quarta-feira, 13 de março de 2013

Mágoas e Ressentimentos



Dentre todos os venenos, acredito que o mais devastador é o ressentimento. Pois mata aos poucos, sem dar chances ao moribundo de tratar a doença, uma vez que esse irá para o leito de morte jurando estar ileso: o magoado não percebe quanto mal faz a si mesmo, é um suicida ludibriado pelo próprio orgulho.

É fácil reconhecer um ressentido no meio da multidão. Seus olhos, sem brilho e sem vida, respingarão vingança para onde quer que olharem; de seus lábios jorrarão maldições contra toda raça humana, pois o magoado tem como regra a generalização: se foi traído por uma mulher, é porque nenhum ser vivo do sexo feminino, habitante desta terra, é digno de confiança e consideração.

O ofendido é incapaz de acreditar que as pessoas podem mudar: passarão 80 anos, ele verá todos os frutos do arrependimento daquele que o feriu e ainda duvidará, esperando pela rasteira que decretou em sua mente insana que algum dia virá.

 A pessoa ressentida não vive mais sua própria vida, abdica da felicidade para assistir de camarote a queda do outro. Acredita que somente estará livre da dor quando seu agressor for de igual modo ferido, humilhado e publicamente desmoralizado.

Que lamentável perda de tempo! Enquanto o magoado chora suas tristezas e remói seus desejos de vingança, o outro se arrepende, cresce, cai, levanta de novo, aprende, aperfeiçoa-se, descobre a felicidade, sorri, ama, VIVE! Geralmente faz tudo isso alheio ao sofrimento do ressentido, sem sequer perceber que o feriu em algum ponto da jornada.

Carregar mágoas é exatamente o mesmo que carregar pedregulhos acreditando que são diamantes: depois de muitos anos de esforço vão, virá a constatação de que todo aquele empenho não serviu para nada!

Ainda que o ofensor seja realmente culpado e mereça de fato uma sentença, deixemos que o universo se encarregue disso: a justiça de Deus não é falha como a dos homens, e virá com estrito rigor, no seu devido tempo. Autodenominar-se um justiceiro é inútil, é tolo e perigoso. Pois nós, que tanto queremos  justiça, devemos lembrar das dívidas que fomos deixando pelo caminho... Ou será que  estivemos sempre acima do bem e do mal e jamais ferimos um coração?

Naturalmente, o perdão não está na primeira prateleira, no mercado dos atributos divinos. Não perdoamos aquele que nos fez mal no minuto seguinte ao da ofensa. Mas há uma enorme diferença entre, pouco a pouco, vencer o incidente e carregá-lo para todos os lados, pelo resto da vida!

Perdão nada tem a ver com humilhação, muito pelo contrário: é o melhor exercício do qual tenho conhecimento para a autossuficiência. Quando perdoamos o mal que o outro nos causou, estamos  justamente nos livrando dele para sempre, deixando-o a margem do caminho para que faça o que quiser, já que nós decidimos: seguiremos em frente!

Suplantar uma mágoa antiga significa recuperar qualidade de vida, são anos de rejuvenescimento para a alma. E, o mais saboroso nesse contexto, descobrimos que a partir de então nada nos atinge: passamos a voar alto, acima dos ventos e dos mal-entendidos! Não somos afetados por críticas ou atitudes mesquinhas, a opinião alheia não tem mais o poder de abalar nossa autoestima.

Finalmente, despidas de mágoas, poderemos cantar em uníssono com Simone: “Senhora das minhas vontades e dona de mim!”


Suzy Rhoden

terça-feira, 5 de março de 2013

Tatoo de Amor



Nesta semana, em função de meu trabalho, prestei atendimento a uma jovem recém separada, em disputa judicial pela guarda da filha. A mulher fazia graves acusações ao ex companheiro, mostrava ter-se envolvido em um relacionamento errado, ter vivido uma grande desilusão. Minha ingenuidade dizia “pobrezinha, deve ter traumatizado com a espécie masculina”, quando percebi um nome tatuado em seu braço:

- Douglas? É seu ex? Um filho, talvez.

- Não, Dra., é meu novo companheiro.

- !!!!!!!!!!!!!!!!!

E eu compadecida da mulher, pensando no sofrimento de ver findar um casamento, tendo um filho de dois anos no meio dessa náufraga história... Três meses depois, lá estava a bonita, não apenas vivendo, mas tatuando uma nova relação como se fosse eterna!

Que fique claro: eu não esperava um luto permanente, afinal a vida continua depois dos pontos finais, há a possibilidade de se escrever um novo capítulo. Mas confesso ficar chocada com a velocidade das trocas e, principalmente, com esse modismo disfarçado de prova de amor que é a tatuagem de nomes. Se a personagem de meu relato seguir no ritmo que começou, terá o alfabeto tatuado no corpo em poucos anos!

Alguns justificam a prática dizendo que as tatuagens hoje em dia não são tão definitivas, existe a possibilidade de remoção. Para mim, essa é uma ideia absurda: a qualidade da tatuagem não está justamente relacionada a sua durabilidade do tipo “para todo o sempre”?! Tatuagens facilmente removíveis sempre estiveram relacionadas a trabalho medíocre do tatuador.

Além disso, e o mais importante para mim, o que realmente prova um nome gravado no braço ou na perna – ou onde a vista não alcança? Prova o amor? A fidelidade? Ah, se o antídoto contra a traição fosse tão simples assim, se bastassem alguns rabiscos feitos com agulhas rasgando a pele para atrelar inseparavelmente uma vida à outra...

Sinceramente, sou antiquada. Sou quadrada no que diz respeito a tatuagens, não consigo ver a utilidade delas. Mesmo aquelas mais simples, que simbolizam uma homenagem de pais para filhos, ou o inverso: pra quê?! Não preciso registrar os nomes de minhas crianças na pele, quando os tenho gravados em cada fibra de meu coração!

Nem mesmo esteticamente sou favorável a tatuagem. Não é preconceito, convivo perfeitamente bem com pessoas tatuadas da testa ao dedão do pé, isso realmente não muda o interior de uma pessoa. Mas nenhuma amiga minha ouviu de mim até hoje, em relação a uma tatuagem que tenha feito, algo do tipo “que liiiindo!”, pois não vejo beleza em agredir o corpo com desenhos ou escritos e não consigo fingir apreciação por algo que me choca.

Quem me conhece, atribuirá o ponto de vista aos princípios religiosos: nosso corpo é o templo de Deus, deve ser mantido puro. De fato, essa é minha linha de raciocínio. Porém, muito antes de minha conversão ao evangelho que sigo fielmente, fui jovem e rebelde como todos nessa fase são, em algum grau. E mesmo em plena rebeldia, as tatuagens jamais me passaram pela cabeça. Ou seja, não se trata apenas de princípios, são gostos pessoais.

Por fim, aos tatuados que me leem, peço que não se sintam ofendidos por minhas palavras, não é nada pessoal. Espero que gostem muito dos nomes ou desenhos que desejaram tatuar, pois terão de carregá-los por toda vida – ou de submeterem-se a um longo processo de remoção, pois tatoo de amor dói e custa caro!

Quanto a mim, que fujo da dor e de qualquer coisa dispendiosa, estou fora!

Suzy Rhoden
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