domingo, 7 de julho de 2013

Reencontro

Um encontro inesperado marcou minha última sexta-feira.
Qual a probabilidade de, em pleno centro histórico de Porto Alegre, me deparar com uma colega de faculdade, residente no interior do estado, a quem não via há anos? Mínima, claro. Mas não para mim, conforme comprova o relato seguinte.
A colega em questão deixou Santa Maria, onde estudamos juntas, rumo a sua cidade natal, na região Noroeste do estado. E eu andei por terras mineiras, depois retornei ao Rio Grande do Sul, onde morei em duas cidades diferentes, vindo a residir finalmente na região Metropolitana. Nunca mais nos vimos, não nos falamos, não nos escrevemos. E então, num dia qualquer de julho, um Fórum na área da Educação e um curso voltado para a Segurança Pública, ambos em Porto Alegre, vieram a unir nossos destinos.
Naturalmente, ela não foi a primeira colega que reencontrei em tantos anos. O que distingue este encontro, contudo, é o fato de termos sido grandes amigas no passado, companheiras, dupla nos estudos e na vida. Por sinal, éramos parceiras muito bem-sucedidas nos trabalhos de aula: eu, subjetiva, me estendia nos relatórios com minha habilidade para a escrita; Ela, objetiva, cortava meus floreios, deixava o texto no ponto para o 10, que sempre cobiçávamos. Funcionávamos perfeitamente bem, uma não se metia na habilidade da outra, éramos eficientes e eficazes. Fomos uma dupla nota 10, de fato, inclusive no estágio  final de curso!
Agora me pergunto: como é que uma amizade dessa proporção simplesmente se perdeu no tempo e na distância?! Por que perdemos contato uma com a outra? Como permitimos isso, em plena era virtual? Não existe explicação, não há justificativa. Simplesmente aconteceu – e quase sempre acontece, infelizmente.
O destino deu-nos uma chance, isso ficou evidente. Colocou-nos na mesma rua, uma andando em direção a outra, no meio de uma multidão. O centro histórico fervilha às 18h, poderíamos ter passado lado a lado sem sequer nos reconhecermos.  
Mas, transcorridos treze anos, nos cumprimentamos com a mesma intimidade – apesar da surpresa – dos  tempos de outrora: diante de mim estava minha colega, minha dupla, minha amiga! Que alegria! Levava o mesmo sorriso discreto, a mesma serenidade nos olhos azuis; a fala bem articulada, em tom suave, acompanhada de gestos elegantes, nada disso mudou.  Conversamos como se tivéssemos nos falado ontem, com a mesma naturalidade.
Minha conclusão: a distância não corrompe os verdadeiros sentimentos nem as verdadeiras amizades. Ao invés disso, age para eternizá-las, intocadas, à espera de uma oportunidade futura. Talvez essa oportunidade nunca venha, e fiquemos apenas com as doces lembranças.
Ou então nos depararemos com a pessoa, quase 15 anos depois, em plena sexta-feira, no horário mais movimentado do dia, frente ao Mercado Público – símbolo  maior do patrimônio cultural de Porto Alegre. E, esse local, no dia seguinte, estará lastimavelmente em chamas.
O incomum, definitivamente, é a regra pra mim!
06/07/2013 - Mercado Público de Porto Alegre em chamas - Lamentável!!!
Suzy Rhoden

24 comentários:


  1. Olá Suzy,

    Acredito que amizades verdadeiras não se perdem no tempo ou no espaço. O reencontro, quando acontece, restabelece a conexão imediatamente, como se nunca tivesse ocorrido um afastamento.
    Às vezes não entendemos bem porque perdemos contato com pessoas especiais, mas isto simplesmente acontece. A vida de cada um segue seu rumo e é absorvida a tal ponto pelos novos caminhos que antigos laços se afrouxam, mas nunca se rompem. Basta um reencontro que tudo volta ao ponto da separação, como se esta nunca houvesse acontecido.
    É mesmo lamentável o incêndio do Mercado Público de Porto Alegre. Vi as imagens na internet. Logo ele estará restaurado.

    Obrigada pelo carinho. Já está tudo sob controle por aqui, graças a Deus, e estou retornando ao blog.

    Beijo.

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    1. Vera Lúcia, fico impressionada com sua capacidade de compreensão de minhas postagens: é exatamente assim que penso e sinto, foi assim que aconteceu em relação a amada amiga do texto e outros que aparentemente se perderam - mas que seguem guardados no coração, à espera do reencontro. Obrigada por sua presença sóbria e inspiradora! Beijos.

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  2. Tudo pertence a uma engrenagem gigantes e difícil de entender, mas quando aprofundamos os olhos encontramos o coração no mar do entendimento! abraços

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    1. Muito poético, Ives! Adoro essa gigantesca e surpreendente engrenagem, adoro essas surpresas da vida! Abraço aí!

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  3. Esse reencontro deve ter sido lindo mesmo e como é bom e faz be, As conversas simplesmente são retomadas como se ontem fosse o dia da separação.não?

    Mas essa do Mercado, foi triste, triste mesmo! beijos,chica, linda semana!

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    1. Foi um lindo - e breve! - reencontro, Chica, pois estávamos a caminho de outros compromissos. Mas valeu a pena, fez-me muito bem!

      Ah, e o nosso Mercado, que coisa triste de se ver! Aguardemos a restauração, torcendo para que dê tudo certo. Beijo grande!

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  4. Limerique

    Encontro casual, qual a possibilidade?
    Em meio à multidão de grande cidade?
    Impossível, eu diria
    Mas o caso se daria
    Pela mão invisível da amizade.

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    1. Essa mão invisível certamente deu um empurrãozinho, sugeriu o caminho naquela noite de sexta-feira! Transformou o impossível em realidade, e eu adorei :)

      Grande abraço, Jair!

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  5. Suzy isso que você narra também pensei muitas vezes, e como pode?
    A gente faz amizade na época em que tudo parece ser para sempre e de repente as estradas se separam e nunca mais vimos a criatura, nunca mais ouvimos falar da melhor amiga do mundo! Mesmo assim, guardo as lindas lembranças de uma época que não volta mais, não por que não queremos, mas porque o destino não lembrou de nos (re)unir! Porém quando acontece, e pouco – como você narrou – ficamos perplexas!

    Vejo esse tipo de coisa muitas vezes com tristeza, escancara, infelizmente, a força dos laços afetivos...

    Sobre o incêndio no nosso Mercado... foi a dor na alma!
    Beijo grande!!
    Nota 10!

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    1. Tais, as estradas insistem em se separar, não é? Tenho tantas amigas queridas que, não posso dizer que se perderam, mas tomaram direção oposta da minha... Sinto falta delas, naturalmente. Mas não tristeza, sabia? Pois estou sempre esperando por um reencontro e, milagrosamente, eles acontecem muitas vezes comigo! Será a força atrativa do pensamento?! O que os estudos científicos dizem sobre isso, sabe algo? rsrsrs

      Adoro você por aqui, sempre! Beijos.

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  6. Sabe, Suzy... acho que a amizade nunca se acaba e nem se perde. Por mais que a gente esteja distante e tenha perdido o contato, ela permanece lá, guardadinha no fundo da alma, e aparece com força em momentos como esse, em que nos reencontramos. É daí que vem a familiaridade que você menciona, pois parece que o tempo não passou. Queria ter conversado mais com você naquela hora, mas parece que vou poder fazer isso por aqui. Ganhou (novamente!) uma leitora! Abraços!
    Graci

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    1. Graci, também queria ter estendido aquele momento! Mas sabia que, mais uma vez, andávamos em direção contrária, e precisávamos seguir nossos caminhos. O maravilhoso disso é que, não importa a ausência física, a presença real da amizade permanece e floresce em momentos como o que vivemos na sexta. Foi como se o tempo não tivesse passado, ainda éramos colegas, jovenzinhas, lá na UFSM... Não é mágico tudo isso? Adoro essas surpresinhas da vida! Rever você alegrou meu dia, reavivou lembranças queridas. Obrigada por isso! Beijos.

      Ah, estou mesmo precisando de alguém competente para lapidar meus textos, veja como eles ficam enormes!!! Que tal fazermos reativarmos nossa dupla dinâmica no estilo EAD? hahhaha

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  7. Conheci o Mercado, e sofri vendo as chamas... tomara possam recuperar o que se perdeu, e em breve!

    O encanto de um reencontro sem prévia intenção é mesmo essa alegria que escapa das palavras neste teu relato emocionado, Suzy - e como acontecem surpresas que resgatam fases e pessoas de nossas experiências anteriores, né? Parece que desvira a ampulheta e o tempo está intacto, preservada a relação e incontidas as emoções... adorei esta bonita história que compartilhou conosco!!

    Beijos, boa semana pra ti!

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    1. Também espero, Denise! Aquele local não é apenas lindo, é um espaço repleto de significado, de cultura gaúcha...

      Adorei o 'desvirar da ampulheta', e não é que voltamos no tempo mesmo?! E 13 anos atrás se transforma em ontem, quando falamos uma para a outra 'até amanhã'. Para mim, o brilho da vida está nesses acontecimentos fora do script, que vem informar que há uma Providência Divina conduzindo os ventos a nosso favor.

      Boa semana pra ti também, minha querida!

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  8. Coisa boa reencontrar os amigos. Concordo com você sobre as distâncias... Como são pequeninas quando há verdade!!!! Fico feliz por terem se encontrado!

    Fiquei triste com a noticia no mercado público. Uma pena mesmo!
    Beijos mil!

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    1. R. Vieira, que bom ter você circulando por aqui novamente! Também andei sumida, acho que na esfera virtual também estamos protagonizando um reencontro... E isso sempre é maravilhoso! Beijão pra você.

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    2. Total reencontro Suzy!
      Amo demais este espaço. Ando aprendendo muito por aqui!

      Mil beijos pra ti!
      <3

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  9. Lamentei daqui pelas chamas no Mercado :(

    Qto ao reencontro e amizade que não estava perdida conforme vc mesma descreveu, pois o abraço foi como o último tivesse sido dado ontem e a distância, o contato perdido deu provas da amizade atemporal, isso é maravilhoso. Uma história boa de se ler, ouvir e mais ainda de viver. Feliz por vc :)

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    1. Bem assim, Tina, a amizade é atemporal! Tenho outras amigas, distantes fisicamente, e isso não significa nada para nós: estamos sempre muito presentes uma na vida da outra! Portanto, amizades não se perdem e, se isso acontece, não houve amizade de fato e sim, no máximo, um coleguismo.

      Beijos, agradecendo o carinho e a visita aqui!

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  10. Olá querida Suzy :)
    Que crônica maravilhosa.
    É tão bom reencontrar pessoas especiais,
    afinal elas são inesquecíveis.
    Eu também perdi contato com amizades que muito me acrescentaram e ensinaram.
    Vez ou outra,me acham no Face, e eu fico muito feliz,quando isso ocorre.
    Mas,há uns 2 meses,aconteceu algo muito legal:
    Eu tive uma grande amiga,estudamos vários anos na mesma sala,mas depois perdemos o contato.
    E meu sobrinho estuda há uns 3 anos,com o irmão dela,e fomos descobrir isso recentemente.
    Foi muito divertido e bom esse reencontro!
    Até a próxima!
    Bjs \o/

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    1. Que legal conhecer sua experiência de reencontro, Clau!
      Na verdade, eles estão sempre acontecendo, e isso é tão bom! Bom seria nunca perder contato com as pessoas queridas, mas é inevitável, cada um segue seu rumo... O jeito é aproveitar as oportunidades de reencontro que a vida oferece, seja pessoalmente ou pelas redes sociais.

      Obrigada por vir, beijão!

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  11. Maravilhosa crônica. Sempre sonhei em reencontrar minhas grandes amigas, mas não tive a mesma sorte que você. Achei lindo quando você concluiu com a frase; A distância não corrompe os verdadeiros sentimentos e as verdadeiras amizades. Sinto assim também.Fico só pensando na emoção do momento.Deve ter sido lindo mesmo.
    Um grande abraço Susy.

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    1. Oi Lourdinha! Foi emocionante, de fato. Mas o mais interessante é que não havia o drama da ausência, entende? Pois foi como se tivéssemos nos visto ontem... Espero que algum dia você também possa ter uma história assim pra contar, quem sabe sua sorte anda a seu favor, hein! rsrsrs
      Beijo, querida!

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    2. OI SUZY!
      COMO BEM SABES, TAMBÉM SOU DE SANTA MARIA E ESTA HISTÓRIA QUE CONTAS ACONTECEU COMIGO, VIM EMBORA PARA PORTO ALEGRE ASSIM QUE ME FORMEI E ME SEPAREI DE VÁRIAS AMIGAS, PORQUE MUITOS SÃO OS COLEGAS, MAS, ALGUNS, MARCAM NOSSAS VIDAS PARA SEMPRE, ESTES SÃO OS AMIGOS.
      TAMBÉM, A POUCOS DIAS REENCONTREI UMA AMIGA, COLEGA, QUERIDA E FOI MUITO BOM ESTE REENCONTRO, TAMBÉM ESPERO PODER CULTIVAR ESTA NOVA OPORTUNIDADE.
      TOMARA QUE TAMBÉM CONSIGAS.
      SEMPRE BOM TE VER LÁ NO "SÓ PRA DIZER"
      http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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