Preciso compartilhar a novidade: tem neném chegando na
família Rhoden! E, por incrível que pareça, não é meu – é sobrinho! Ou
melhor, sobrinha. Fico feliz em saber que a tradição do “ano ímpar” está sendo
preservada sem a minha participação e que, pelo menos até 2015, estou fora das
estatísticas familiares.
Mas o assunto gravidez não me lembra apenas de ano
ímpar... Alguém já ouviu falar em enjoo?
Desejo de grávida? Aquelas frescuras que a mulher inventa para acordar o marido
de madrugada e testar a profundidade do amor. Frescuras?! Pois é, assim pensava
eu. Até 2005, quando paguei a língua ferina.
Tudo começou por volta da sexta semana, com uma náusea
matinal. Falei com minha médica, ela
sugeriu aquelas bolachinhas água e sal, afinal era coisa simples e passageira.
Nem uma, nem outra! Foram pelo menos três meses do mais absoluto terror, no
qual eu não me reconhecia em meus próprios gostos gastronômicos!
Passei a detestar queijo, algo inacreditável para uma “queijólotra”
como eu! E não podia ouvir falar em qualquer prato feito com frango ou galinha,
a simples menção ao bicho me causava bem mais do que náuseas... Por outro lado,
aderi a mandioca com bife, mistura que até então não tinha entrado em minha
cozinha. Um pouco estranho, mas aceitável se não fosse um detalhe: passei a
comer apenas mandioca e bife.
Passado um mês, meu marido previu os outros sete e encheu o freezer com meus ingredientes preferidos. Querido como
só ele é, foi para a cozinha preparar meu jantar favorito e eu, que
não tolerava 99,9% dos cheiros existentes neste mundo, senti-me na obrigação de
agradar o lindo e fazer companhia pra ele enquanto cozinhava. Resultado: foi o
último dia da gestação em que comi bife e mandioca, e o primeiro de meu marido, que precisava dar um fim naquele estoque...
Ah, os malditos cheiros! Se meu olfato já era
desenvolvido, na gravidez personifiquei-me num cachorro perdigueiro: meu nariz
andava 10 metros a minha frente, identificava qualquer odor! Até cheiro das
árvores eu sentia, um cheiro específico para cada uma. E o mais bizarro foi sentir
cheiro de uma espécie de aranhas, eu sabia às léguas quando havia alguma delas
no ambiente.
Em outra ocasião, enjoei de um perfume. Muito esperta,
dei-o de presente para minha mãe. E ela, mais esperta ainda, perfumou-se toda
com o dito cujo e teve a excelente ideia de me visitar. Até hoje ela se
pergunta por que mal a “senti” entrar pela porta, corri para o banheiro e lá
fiquei, em estado de decomposição, até que ela partisse.
Uma loucura tudo isso, eu sei. Mas vivi o drama, senti
na pele a revolução completa dos hormônios. Logo eu, que taxava as enjoadas de
espertalhonas! E ainda nem confidenciei o pior dessa fase: enjoei do marido. É
sério, o cheiro dele me dava náuseas. E o beijo, então, tinha gosto metálico,
um sacrifício absurdo! Mas sobrevivemos, e depois desse ainda tivemos outros
dois filhinhos.
Sempre ouvi que uma gravidez é completamente diferente
da outra. Comprovei, de fato o é. No meu caso, a segunda foi ainda pior em
termos de enjoos. Pois além das náuseas, eu tinha desejos estranhos: que gosto
teria terra molhada de chuva? E tijolo? Calma, gente, não sou tão doida assim,
satisfiz-me só com o cheiro.
Não posso esquecer de contar sobre as frutas, cada
gestação foi marcada por uma escolha: melancia, goiaba e abóbora – abóbora?!
Pois é. Mas falemos antes da goiaba: entrei no mercado e senti o cheiro vindo
lá do outro lado, do setor de horti-fruti. De início, não sabia de que se
tratava, mas avisei meu marido: “Quero comer esse cheiro!” “Que cheiro, mulher,
ta louca?” “Estou louca, mas isso não muda o fato de eu querer comer esse
cheiro”, e deixei-o para trás enquanto andava pelo mercado igual a um legítimo
cão perdigueiro, perseguindo um odor que praticamente se materializava diante
de meu nariz. Cheguei às goiabas.
Depois, na terceira gestação, vieram as
abóboras. De manhã com leite, de meio-dia com guisado, de noite sem qualquer
outro acompanhamento, para sentir melhor o sabor do alimento, né! Com toda essa
variação no meu cardápio, dá para entender que de repente senti uma vontade
incontrolável de comer um docinho... de abóbora, naturalmente! E tinha que ser
doce em calda, daqueles caseiros, de tijolinhos, feitos pela vovó. Meu marido
revirou a cidade e nada de achar o doce encomendado. Então teve uma brilhante ideia:
levou a abóbora pra eu fazer o doce do jeito que eu queria. Nesse dia, quem
esteve prestes a ter uma variação no cardápio foi ele: abóbora crua, engolida
inteira!
Não sei como sobrevivi, sinceramente. Alguns quilos
mais magra, por sinal, pois além das náuseas, existiam os... Bem, pulemos essa
parte. É de espantar que, com toda essa excentricidade, eu tenha sido sempre
uma gestante saudável e tenha gerado filhos sem qualquer prejuízo nutritivo.
Uns creditam os exageros aos hormônios, outros dizem que é de ordem emocional,
e terceiros ainda apontam carência de nutrientes específicos na alimentação. A
verdade não sei, mas que sou um perigo em tempos grávidos está comprovado! O
marido que o diga...
Superei essa fase, mas confesso ainda sofrer com a
falta de empatia de algumas gestantes, as quais, ao serem questionadas sobre
seus enjoos, respondem: “Nada! Só
descobri que estava grávida no terceiro mês, nenhuma náusea, nenhuma mudança nos meus hábitos alimentares, comi de tudo sempre!” Respondo de imediato: “Bem feito pra você,
que jamais saberá que cheiro tem as aranhas, nunca imaginará o sabor de um
tijolo e nem comerá exclusivamente bife e mandioca por meses seguidos! Você
definitivamente não sabe o que está perdendo!”. E saio, deixando a criatura com
cara de quem perdeu muita coisa mesmo. Detesto gente insensível!
Suzy Rhoden