Aproximava-se
o Dia das Crianças e, como de praxe, fomos à Feira do Livro de Gravataí
procurar os presentes solicitados pelos pequenos. Sério, eles pedem livros,
isso nem é mais novidade.
Novidade
foi ouvir do marido um pedido em tom de súplica:
-
Quero presente no Dia das Crianças.
Tudo
bem, pensei eu. Teve infância difícil, pai ausente, irmãos menores praticamente
por criar. Tudo isso no interior, onde os brinquedos dificilmente chegavam. Vai
pedir carrinho movido por controle remoto.
-
Não, não quero carrinho.
Ai,
lá vem ele de novo com a história do arco e flecha! Extravagância a essa altura
da vida também não, com três pequenos para criar, vestir, alimentar, educar...
Não vai ficar gastando dinheiro em arco profissional, quando já passou longe a
idade de competir nas olimpíadas.
-
Nem lembrava mais do arco! Não é isso, não.
Comecei
a ficar curiosa. Marido não tem o hábito de ficar pedindo coisas, quando quer
vai lá e compra. Não viria pedir justo a mim material de pesca, sabendo que o
respeito em seu passatempo preferido, mas que morro de dó dos peixinhos e
jamais providenciaria, para agradá-lo, tal tipo de presente.
-
De fato, jamais pediria material de pesca a ti, não te preocupa.
-
Mas então fala de uma vez, criatura! Se continuar enrolando desse jeito, vai acabar
ganhando livro como as crianças – disse eu sarcasticamente, conhecendo o marido
avesso a leituras que tenho em casa.
-
É isso mesmo que quero, um livro.
-
UM LIVROOOO?!
Justiça
seja feita, marido sempre foi leitor de gibi, revista, jornal. Mas corria
léguas de um clássico. Trocava as histórias escritas pelas contadas através de filmes e séries, das quais
entende como ninguém. Dizia não ter paciência para acompanhar lentamente um
livro, quando o filme mostra tudo em detalhes em poucas horas. Mas pescador
convicto falando em falta de paciência merece algum crédito? Pois é...
Fato
é que algo mudou drasticamente, a ponto de colocar um livro no topo da lista
dos desejos do marido. O calor do dia estaria afetando seu raciocínio? Ou seria
algum tipo de penitência? Olhei em volta, em busca de respostas, talvez alguma
capa...
E
o que vi foi um trio encantado, abrindo livros e devorando histórias. O
entusiasmo de nossas crianças com a literatura transbordava, contagiava! Bastava
observá-los para querer entrar no mundo deles e sair desvendando mistérios,
revelando segredos. Como poderiam subir no tapete mágico e partir sem nós?!
Iríamos juntos naquela aventura, em família, estava decidido! Nossos filhos
eram a resposta.
Marido
e as crianças receberam os presentes solicitados. Também recebi os meus, não no
Dia das Crianças, mas no aniversário, pouco depois. Livros como presente, para
todos, em todas as datas!
Assim,
nossa casa tem ficado pequena para tantos livros. E nossa história familiar vem
sendo preenchida por muitas histórias...
Suzy Rhoden
A
propósito, Uma História de Muitas Histórias é exatamente o tema da 60ª Feira do
Livro de Porto Alegre, que acontece de 31/10 a 16/11/2014. Evento perfeito para
maridos não convertidos à literatura, desde que acompanhados por esposa e
filhos leitores... Palavra de quem viveu pessoalmente o milagre! Rsrsrs