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Pouco
entendo de futebol, por pura falta de paciência para ficar duas horas
acompanhando o vaivém da bola para lá e para cá. Aos cinco minutos iniciais já
estou entediada, querendo saber por que o gol ainda não saiu. Coisa de mulher?
Não, tem muita mulher moderna discutindo futebol de igual pra igual com seu
sexo oposto. É coisa minha mesmo, questão de desinteresse pessoal.
Mas
em tempos de Copa do Mundo, a história é outra. Impossível não vestir a amarelinha e não vibrar, ou sofrer, com
nossa seleção. Tudo bem que a Copa veio em hora indesejada, como uma intrusa
cheia de pompa, esbanjando e esnobando num país que há tempos anda mal das pernas:
não avança, não progride, não cresce naquilo que precisa crescer. Não foram os
nossos jogadores, porém, que trouxeram a fulana para dentro de casa. Ela veio,
e convidada, por quem tem o poder de decisão neste país. Para os primeiros, é
justa a torcida, a manifestação positiva; para os segundos, outubro é o mês do
acerto de contas.
Com
esse pensamento, estou aqui na torcida, sim, e não me envergonho disso.
Aproveito, inclusive, para dar uma espiadinha nos futuros adversários de nossa
seleção brasileira. Espiadinha, já falei, pois não agüento tanto tempo sentada,
fazendo nada. Hoje, no entanto, fiquei presa ao final eletrizante de México x
Holanda. Não é que a Laranja Mecânica empatou aos 42 minutos do 2º tempo, e ainda
virou o jogo nos acréscimos finais, eliminando de vez o México desta Copa?!
Ficou
evidente pra mim que a equipe soube administrar suas emoções diante da iminente
derrota. Não ficaram atabalhoados em campo, confusos frente à situação adversa.
Pelo contrário, renovaram as forças e foram à luta, com um único foco: a
vitória. Só essa lhes servia.
Quem
acreditaria que virar o jogo seria possível a três minutos do fim da partida?
Empatar, ainda. Mas virar? E viraram. De imediato me veio à mente imagem veiculada pela mídia ao longo da
semana, que me pareceu muito bonita: ao invés da tensão da concentração às
vésperas das importantes partidas, a seleção holandesa confraternizava com a
família! Cada jogador com os seus, e todos unidos num mesmo local, compartilhando
alegrias. Vi garotinhas chutando a bola para seus pais famosos, casais
namorando e rindo felizes um para o outro. E mais: em dias de treino, lá
estavam as mães com seus filhos, acenando para os pais em campo, vibrando com
cada gol.
O
repórter explicou que tal interação familiar não é novidade, faz parte da
tradição holandesa: aonde os jogadores vão, levam consigo a família. Fiquei
pensando: estaria aí o segredo da Holanda nesta Copa? Uma das favoritas para o
título, embora não apresente um futebol espetacular, mostrou hoje a que veio.
Fez o impossível tornar-se possível. Será que jogaram pelas esposas, aflitas,
na arquibancada? Pelos filhos, talvez, aos quais prometeram a garra e os gols.
Seja lá qual tenha sido sua motivação, deu certo.
E
nós, como reagimos aos 45 minutos do segundo tempo, diante de iminente
fracasso? Quando a vida, de modo aparentemente injusto, parece apenas nos proporcionar
gols contra, o que fazemos? Onde vamos buscar a motivação necessária para
seguir lutando e acreditando até o apito final do Juiz Supremo?
Tenho
minhas respostas, elas foram construídas não apenas de vitórias. Ouso dizer que
as derrotas foram, justamente, as que me ensinaram mais. Hoje me sinto capaz de
virar o jogo a qualquer momento, inclusive no minuto extremo de uma partida.
Por vezes, preciso de uma prorrogação, como precisou nesta semana nosso Brasil.
Mas sigo em frente e, se preciso for, vou para os pênaltis. Não me entrego, não
me dou por vencida.
Minha
base, contudo, é holandesa: família. É neles – marido, filhos,
pais, irmãos – que encontro o poder para virar o jogo. É deles que vem tudo que
me move para mais e para além. É por eles que enfrento os revezes da vida sem recuar.
Família é a base de toda vitória, dentro ou fora dos
estádios de futebol.
Suzy Rhoden