quinta-feira, 19 de junho de 2014

Bagagem

Imagem Google

Tantas vezes me perco na correria dos dias que, confesso, esqueço qual é de fato  meu grande objetivo. Corro tanto, me viro do avesso, me desdobro... pra que mesmo?! Gerar bens, produzir riqueza, fazer patrimônio? Ou trabalho dia após dia para comer, beber e festejar com todo luxo e  pompa que o dinheiro pode proporcionar? Pra me vestir elegantemente e atrair olhares de inveja de outras mulheres, e de cobiça de todos os homens? Para jantar nos mais caros restaurantes e sair deles saciada, mas com a alma vazia? Pra que, afinal?!

Tenho uma lista de respostas prontas, mas nenhuma delas silencia a verdade que ressoa dentro de mim: corro muito pra nada, sigo pra lugar algum, se essa corrida significa o sacrifício completo do meu tempo junto àqueles que amo. Não verei resultado, além de um amontoado de bens e minha descendência em guerra por causa deles. Melhor, nessas circunstâncias, será partir e não olhar pra trás.

Algum dia – e esse dia virá para todos nós – reivindicarei os minutos e os segundos de vida que, clamarei, me foram roubados pelo tempo! E então, aturdida, verei em 4D, no telão de minha memória, que em nada fui lesada a não ser por minhas próprias escolhas erradas. Gastei tempo onde não devia, depositei amor naquilo que com o tempo perecia.

Se hoje esbanjamos juventude, amanhã alguma ruga teimosa dirá que se aproxima a hora da partida. Mesmo que a ruga e o cabelo branco sejam rechaçados, com os milagres da indústria de cosméticos, o corpo naturalmente envelhecido mostrará que já não acompanha o ritmo acelerado do cérebro. Vimos isso em nossos avôs, relutamos em perceber em nossos pais, e algum dia sentiremos na própria pele. É fato, requer aceitação.

“Pra que pensar nessas coisas?!” Dirá alguém, indignado.  Preferimos evitar o assunto e fazer de conta que a passagem chamada morte não existe. Mas não adianta, o dia chega. Em algum momento ele nos alcança. E então, que teremos na bagagem?

Uma coleção antiga de desgostos, talvez. Mágoas já amareladas pelo tempo, possivelmente. Realizações profissionais, sucessos variados, prêmios e troféus, mas nenhum amigo para quem se gabar de tantas vitórias, nenhum descendente a quem nossas conquistas possam interessar. Ou, pior, talvez se interessem sim pela nossa conquista, pelo que adquirimos, e não por quem de fato nos tornamos ao longo da vida. Na mala, no fim das contas, restará apenas solidão.

Faz tempo que não me acompanha a necessidade de desfilar novos  modelitos no trabalho, nem me causa sofrimento a ausência de indagações como “onde você comprou?”, ou exclamações do tipo “arrasou, amiga!” Mas podem me perguntar se tenho lido e conversado muito com meus filhos; se tenho me dedicado a fazer temas escolares com eles e a prepará-los para as provas da escola e da vida; se os tenho ensinado a orar, estudar as escrituras, crer em Deus e respeitar  seu próximo. Melhor ainda, perguntem isso a eles, sei o que dirão.

O trabalho enobrece e dignifica, eu particularmente amo trabalhar. Adquirir riquezas, por meios lícitos, é justo, bom e desejável. Mas formar caráter é mais importante ainda. Gastar minhas preciosas horas oferecendo informação correta para meus filhos é privilégio, jamais tempo perdido.

Dentre tantas, educar minhas crianças numa fé cristã é minha maior prioridade. Pois tudo aqui é efêmero, findará quando menos se espera e se deseja. Exceto o conhecimento que adquiriram, esse os acompanhará nesta e na próxima vida. Quero que, no seu devido tempo, cheguem do outro lado do véu conhecendo seu Deus e seu Salvador Jesus Cristo. Não quero em meus filhos expressão de surpresa, enquanto balbuciam: Vocês existem mesmo?! Quero que saibam desde agora em quem confiar, e a quem recorrer em tempos difíceis, e a quem agradecer em tempos de dádivas!  A fé não será apenas um coringa para os momentos de desespero, e sim a rocha sobre a qual edificarão seus alicerces e sobre a qual estarão fundamentados todo o tempo.

“Tão despropositado esse assunto, em meio a festa da Copa do Mundo!” Não são assim os caminhos, interrompidos bem no meio de uma alegria? Os diagnósticos não esperam a colação de grau do filho na faculdade, os acidentes acontecem sem hora marcada. A tragédia bate a nossa porta quando menos esperamos. Preparados o suficiente, nunca estaremos, mas nada teremos a lamentar se tivermos preenchido nossa mala de lembranças com pertences de real valor. O remorso não nos ferirá com seu tiro certeiro.

Erramos ao acreditar que haverá tempo para fazer as malas e partir deste mundo. Maioria das vezes não há. Não sobra tempo para um pedido de desculpas, um adeus, um eu te amo. E então, com que nos apresentaremos diante de Deus?

Agora peço licença: tenho de preencher minha mala de viagem com outras coisas boas, além de escrever. A jornada segue, a vida continua. Aqui e além.


Suzy Rhoden

6 comentários:

  1. Noooooossa!Quantos pontos pegaste. Realmente o dia chegará pra cada um de nós.Isso é o mais certo que existe. Nunca sabemos quando será. Por isso, estar com nossa mala de realizações boas sempre prontinha e com lugar pra mais e mais uma é bom e nos ajudará na hora certa. Coisas que fizermos pela educação de nossos filhos, netos, pelo nosso bem e o dos que estão próximos de nós, caberá certamente...

    E, poderemos partir, sem a sensação de termos apenas passado por aqui! Lindo te ler! Belas reflexões! bjs,chica

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  2. Oi Suzy,
    Nossa preocupação deve ser esta:
    preencher nossa mala de viagem com coisas úteis e boas.
    A vida é efêmera, e o remorso pode ser cruel...
    Vivemos em um mundo em que o ter é mais importante do que o ser,
    entretanto, é uma atitude sábia, preenchermos nossa vida com valores eternos...
    Bjs!

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  3. Amiga, vc me deixa sem palavras sempre que venho aqui!

    Já virou clichê eu dizer que vc escreve bem! Então, direi apenas que cada vez me impressiono mais... não apenas com a escrita, mas com o ‘pensamento’ impresso, que sei, traduz tuas atitudes, teu ser, ver e sentir...

    “A fé não será apenas um coringa para os momentos de desespero, e sim a rocha sobre a qual edificarão seus alicerces e sobre a qual estarão fundamentados todo o tempo.”

    A fé é a base sólida para uma vida plena e feliz. Engana-se quem pensa que conseguirá educar e preparar os filhos para enfrentar o mundo sem ensiná-los como cultivá-la. A fé é o único elemento capaz de transformação. Através dela vemos claramente o caminho, mudamos de direção, caso necessário... Valorizamos o que realmente deve ser valorizado. A fé dá a certeza do que nos aguarda no futuro.

    Que lindo, amiga, que vc dedica tempo a transmitir isso aos seus filhos! Tua recompensa será grande, e na tua bagagem levarás o que há de melhor: a certeza de ter vivido uma vida plena de deveres cumpridos.

    Bjão.

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  4. Suzy, dissestes tudo e com tão grande sabedoria, como sempre saio daqui enriquecida.

    Beijos

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  5. Querida amiga

    Preciosas palavras

    Lembrou-me o mestre Dalai Lama:

    "Os homens vivem como se nunca fossem morrer,
    E morrem como se nunca tivessem vivido..."

    Há quem acredite
    que felicidade
    vem por acaso.

    Mas felicidade
    é um compromisso
    com a vida,
    com os outros,
    e com nós mesmos.

    Por isso faça e seja feliz.
    Que este seja o seu compromisso fiel.

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