terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A Ditadura do Verão


Nesta semana, uma amiga, cansada do calor intenso que assola nosso Rio Grande do Sul, postou no Facebook, com intenções de protesto: “Quem precisa de verão?!” Senti-me na obrigação de opinar, em defesa de todos os veranistas convictos: “Eu preciso!” E preciso mesmo, é fato. Eu amo o verão.

Mas muita calma nesta hora: o fato de amar o verão não significa que eu concorde com essa absurda ditadura da estação, que impõe corpos sarados e bronzeados, enfiados em fio dentais tamanho infantil – para não mencionar os indignantes top lesses, com o único fim de não preservar marquinha. Verão para mim não tem a ver com essa necessidade extrema de exposição – nem ao sol, nem ao mundo. 

E por falar em exposição, escandalizei o litoral gaúcho no último mês: tive a ousadia de desfilar pelas areias de maiô. Maluca, doida varrida. Pois maiô é coisa de pessoa acima dos 150 anos ou dos 150 quilos, não é essa a concepção? Não me considero um exagero, nem em idade e nem em quilos, portanto sou “padrão biquíni”. Mas quem disse que quero ou que preciso mostrar meu corpo? Quem se importa com partes não bronzeadas escondidas debaixo da roupa? Eu não. Não mesmo.

Interessante observar que o recato no vestir é muitas vezes associado a falta de vaidade ou de cuidado com a aparência. Como se cobrir as partes íntimas fosse coisa de mulher desleixada ou “fora do prazo de validade”. Às jovens e em forma, impõe-se o clichê: “o que é bonito é pra ser mostrado”. E mostra-se à vontade, não mais apenas no “horário nobre” da televisão brasileira! 

O cúmulo do culto ao corpo, por sinal, é aquela aberração que está no ar mais uma vez, na Rede Globo. “Heróis” de um zoológico humano desfilam suas formas físicas exuberantes enquanto revelam em rede nacional sua estupidez mental. Mas a ignorância dos playboyzinhos não deve incomodar seus telespectadores: para acionar a TV num programa do tipo, a cabeça não deve mesmo funcionar muito bem...

Excedi-me nos julgamentos, expus-me demais até aqui. Quem dera, a sobrexposição fosse apenas intelectual, de seres humanos afoitos em compartilhar seu conhecimento, suas convicções... Mas faz-se exatamente o contrário: fio dental na praia e burca no que se refere a envolvimento com projetos sociais, voluntariado. Mostrar o corpo é glamoroso, mas mostrar a cara em grandes causas, quem quer?

Que fique claro: aparência e cuidado com o corpo são fundamentais, é uma expressão visível de amor próprio. Mas daí a vulgaridade há uma linha que precisa ser claramente demarcada. Admiro profundamente mulheres que sabem ser elegantes sem serem ofensivas em seu modo de vestir, que são capazes de atrair atenção mais por sua perspicácia do que por suas formas esculturais – embora as tenham e preservem. Admiro quem sabe ser conveniente e reservar sua sensualidade para momento oportuno.

Se a ditadura do verão impõe corpos perfeitos, bronzeados, e vestes mínimas, com convicção me declaro rebelde. E seguirei malhando, mas usando meu maiô na praia, sem medo de parecer ridícula ou ultrapassada. Nunca fui a favor da ditadura, não seria agora que eu me renderia. E viva o verão! 

Suzy Rhoden 



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...