Tomou coragem, finalmente, para rabiscar o final
daquela história, há muitos anos iniciada. Escreveu assim:
“Carolina, após uma década de teimosia, aceitou
o fato de que amava Rodrigo. Se não fosse amor, teria conseguido esquecê-lo. Pegou,
portanto, o telefone e ligou, agendando
um encontro entre os dois, em local romântico. No dia marcado, declarou seu
amor tardio, suplicando para que fosse perdoada. Rodrigo, eterno apaixonado,
viu chegar o dia tão pacientemente aguardado. Sorriu para Carolina e recebeu-a
em sua vida, como se dez anos atrás fosse ontem e não houvesse existido entre
ambos nada além de um até amanhã. Fim.”
Um belo final feliz, mas nada convincente. Qual
rapaz estaria esperando sentado, por dez anos, pelo amor de sua vida?! E,
ainda, perdoaria a confusão prolongada da moça, que não sabia se casava ou
comprava uma bicicleta? Nem nos contos de fadas se acharia um príncipe tão
lento assim! O rascunho foi descartado.
Surgiu para o romance um novo fim:
“Carolina, após uma década de teimosia, aceitou
o fato de que amava Rodrigo. Se não fosse amor, teria conseguido esquecê-lo.
Procurou na agenda o telefone do rapaz e ligou: número inexistente. Lógico, em
dez anos, troca-se dez vezes de telefone! Não teve outro jeito senão recorrer ao
Facebook e enviar mensagem inbox. Tentou, mas não conseguiu. Estava bloqueada!
Esmiuçou o perfil de amigos que tiveram em comum, em busca de informações relevantes. Constatou que o moço fora eficiente na intenção de não deixar
rastros! Mas como quem procura acha, achou: aniversário da filha de um colega
de faculdade de Rodrigo, do qual veio a se tornar compadre. Lá estavam posando
para a foto, atrás do bolo, Rodrigo, uma bela mulher a qual ele abraçava, e três crianças,
além da aniversariante! Família de
comercial de margarina, coisa linda de se ver. Após constatar que pelo menos
aqueles dez anos foram produtivos para alguém, Carolina entendeu que, fosse
amor ou não, só lhe cabia esquecer."
Um final realista, no qual Rodrigo levou
vantagem. Péssimo para Carolina. Quem mandou levar dez anos para reconhecer o
amor?! Atrasada! Perdeu o amor de sua vida, e não havia o que pudesse fazer.
Bem, há quem não veja problema em destruir uma família constituída, em nome do
que chama de amor. Mas, convenhamos, existe algo mais egoísta?! Carolina era
teimosa e imatura, mas tinha bom
caráter. Não ressurgiria do passado para interferir em algo tão sagrado, o
matrimônio. Tinha que aceitar a conseqüência natural de sua indecisão há dez
anos: a fila andou!
Mas, calma, Rodrigo tinha mesmo que estar
casado? A história era sua, poderia manipulá-la...
Quer saber? Engavetou novamente os manuscritos.
Existem romances aos quais não pertence nenhum final. O que os mantém vivos é
justamente a condição de eternamente inacabados.
Suzy Rhoden