domingo, 29 de março de 2015

Um Final para Rodrigo e Carolina


Tomou coragem, finalmente, para rabiscar o final daquela história, há muitos anos iniciada. Escreveu assim:

“Carolina, após uma década de teimosia, aceitou o fato de que amava Rodrigo. Se não fosse amor, teria conseguido esquecê-lo. Pegou, portanto, o telefone  e ligou, agendando um encontro entre os dois, em local romântico. No dia marcado, declarou seu amor tardio, suplicando para que fosse perdoada. Rodrigo, eterno apaixonado, viu chegar o dia tão pacientemente aguardado. Sorriu para Carolina e recebeu-a em sua vida, como se dez anos atrás fosse ontem e não houvesse existido entre ambos nada além de um até amanhã. Fim.” 

Um belo final feliz, mas nada convincente. Qual rapaz estaria esperando sentado, por dez anos, pelo amor de sua vida?! E, ainda, perdoaria a confusão prolongada da moça, que não sabia se casava ou comprava uma bicicleta? Nem nos contos de fadas se acharia um príncipe tão lento assim! O rascunho foi  descartado. Surgiu para o romance um novo fim:

“Carolina, após uma década de teimosia, aceitou o fato de que amava Rodrigo. Se não fosse amor, teria conseguido esquecê-lo. Procurou na agenda o telefone do rapaz e ligou: número inexistente. Lógico, em dez anos, troca-se dez vezes de telefone! Não teve outro jeito senão recorrer ao Facebook e enviar mensagem inbox. Tentou, mas não conseguiu. Estava bloqueada! Esmiuçou o perfil de amigos que tiveram em comum, em busca de  informações relevantes. Constatou que o moço fora eficiente na intenção de não deixar rastros! Mas como quem procura acha, achou: aniversário da filha de um colega de faculdade de Rodrigo, do qual veio a se tornar compadre. Lá estavam posando para a foto, atrás do bolo, Rodrigo, uma bela  mulher a qual ele abraçava, e três crianças, além da aniversariante!  Família de comercial de margarina, coisa linda de se ver. Após constatar que pelo menos aqueles dez anos foram produtivos para alguém, Carolina entendeu que, fosse amor ou não, só lhe cabia esquecer."

Um final realista, no qual Rodrigo levou vantagem. Péssimo para Carolina. Quem mandou levar dez anos para reconhecer o amor?! Atrasada! Perdeu o amor de sua vida, e não havia o que pudesse fazer. Bem, há quem não veja problema em destruir uma família constituída, em nome do que chama de amor. Mas, convenhamos, existe algo mais egoísta?! Carolina era teimosa e imatura, mas tinha  bom caráter. Não ressurgiria do passado para interferir em algo tão sagrado, o matrimônio. Tinha que aceitar a conseqüência natural de sua indecisão há dez anos: a fila andou!

Mas, calma, Rodrigo tinha mesmo que estar casado? A história era sua, poderia manipulá-la...

Quer saber? Engavetou novamente os manuscritos. Existem romances aos quais não pertence nenhum final. O que os mantém vivos é justamente a condição de eternamente inacabados.


Suzy Rhoden
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