Foto: arquivo pessoal. |
A
Fé que Precede os Milagres
“Mesmo quando tudo parece desabar
cabe a mim decidir entre rir ou chorar,
ir ou ficar,
desistir ou lutar;
porque descobri,
no caminho incerto da vida,
que o mais importante é o decidir.”
Cora Coralina
Quando tinha todos os motivos para desabar, fui
tomada de inexplicável tranquilidade. Um sentimento muito forte de que tudo
daria certo, apesar das adversidades. Lembro-me claramente de conversa que tive
com uma amiga, a Marcia, mãe de 3 filhos, todos nascidos de partos normais. Ela
me encorajou em meu intento, dizendo que certamente eu conseguiria. E
acrescentou palavras que nunca esqueci: “O
Senhor precisa de mulheres corajosas nos tempos atuais!” A palavra coragem
preencheu minha alma, pois era dessa forma que me sentia: valente,
resistente, capaz de tudo suportar e reverter para meu bem. As coisas
simplesmente aconteceriam como tinham de acontecer.
Também vivi encontro
inesperado com amiga de um dos grupos
virtuais. Ela, residente em São Paulo, encontrava-se em Porto Alegre visitando
a família. Casualmente, nos dirigimos ao templo de nossa religião (A Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias) na mesma data e horário. Foi
maravilhoso, um encontro providencial e muito fortalecedor!
Além de Álissa, a amiga
citada, o apoio veio com força na reta final, de amigas espalhadas por este
Brasil afora e outras do exterior, todas ativistas na causa da humanização.
Fiquei maravilhada com tanta vibração positiva de gente que nem me conhecia,
mas torcia de verdade por mim!
Claudia, que acompanhava
minha batalha desde o princípio, dizia: “Há
um propósito pra tudo, só precisamos descobrir que propósito é esse... Vá até o
final!” E fui.
No entanto, me faltava
um testemunho pessoal de que estava no
caminho certo e o Senhor aprovava minha decisão. Orei continuamente para chegar
a tal resposta, pois embora confiante em meu corpo e minha saúde, jamais
desconsiderei a sabedoria divina de meu Pai Celestial. Ele me concedia o
privilégio de gestar e maternar um de Seus filhinhos espirituais, também me
inspiraria em relação a forma de nascimento desejável para essa criança amada.
Dos céus veio a resposta
que por 9 meses busquei, ao longo da montanha russa que foi esta quarta
gestação. Soube, através de revelação
pessoal, que viveria a experiência tão desejada do parto natural, pois meu
corpo havia sido criado para esse fim. Soube que traria ao mundo tantos filhos
quantos o Senhor quisesse me dar – e eu aceitasse – e não um número limitado
por cirurgias. Eu iria parir em segurança e voltar para minha família, com
saúde, para criar meus 4 filhos. Não foi uma simples intuição, alcancei
conhecimento perfeito a esse respeito. E confiei naquilo que me foi revelado.
A
Reviravolta
“Somewhere over the rainbow
Way up
high
And the
dream that you dare to,
Why, oh
why can’t I?”
Harold
Harlen,
Música:
Over the Rainbow
Apesar de todos os
contratempos, vivi uma gestação celestial. Cada exame confirmava meu bom estado
clínico, esbanjei saúde e disposição. Da mesma forma, o bebê encantava meus
olhos a cada ecografia, cheio de vida, na posição cefálica, bem à vontade em
meio a muitooo líquido amniótico, aparentemente sem qualquer pressa para
nascer. Eu seria a gestante ideal para um parto domiciliar, certeza. Não fossem
as 3 cesáreas.
Cuidei dos preparativos
finais, pois estava chegando a hora. Isso incluía minha playlist, pois a música
exerce enorme poder sobre mim. Escolhi como trilha sonora do parto a versão de
Israel Kamakawiwo’Ole mesclando os clássicos
Over the Rainbow e What a Wonderful World. Simplesmente amo essa versão,
ela me leva além do arco-íris, onde os sonhos que ouso sonhar tornam-se realidade.
E não é que, conforme a letra da música, meus sonhos começaram a tornar-se reais?!
Primeiro, surgiu em meu
caminho um anjo chamado Luana. Enfermeira obstetra, indicada por Ana Lu. Sua
agenda estava visivelmente cheia, não conseguia tempo para me incluir.
Implorei. Luana, comovida, fez visível esforço para encontrar-se comigo e me
dar o suporte que naquele momento precisava. A primeira impressão que tive de
Luana é a mesma que tenho até hoje: personificação da luz e da serenidade.
Conhecê-la não foi um acaso do destino, foi providência divina.
Fomos acolhidos por
Luana e ouvidos atentamente, em nenhum momento julgados pela aparente loucura
de nossa solicitação. Havíamos estado com muitos obstetras, inclusive com os
considerados tops da humanização, mas ali, com Luana, foi a primeira vez que
recebemos atendimento verdadeiramente respeitoso e humanizado.
Luana orientou-me em
relação aos exercícios para fortalecimento do períneo e uso do epi-no. Apesar
da agenda cheia para o mês de dezembro, a jovem parteira me acrescentou aos
seus planos. Queria me ajudar. Não precisava e nem tinha tempo para fazê-lo,
mas sua bondade a impulsionava. Combinamos que Luana ficaria em casa comigo em trabalho de parto
até eu alcançar dilatação suficiente para ir ao hospital público ter meu bebê por parto
normal. Era o melhor que tínhamos para o momento. Eu sentia que podia confiar em
Luana como pessoa e como profissional, e ela sentia que eu iria parir. Nunca
duvidamos uma da outra. Afinidade total.
Quase no final de nosso
encontro, Luana perguntou se eu havia contatado a médica obstetra Guísella de
Latorre. Quem? Nunca tinha ouvido falar em tal nome , e olha que o nome é
incomum! Luana não a conhecia pessoalmente, mas tinha ouvido belos relatos de
partos assistidos pela médica e seu esposo na cidade de Novo Hamburgo, região
metropolitana de Porto Alegre. Luana incentivou-me a contatá-la e explicar
minha situação. Disse a Luana que só um milagre faria com que uma médica me
acolhesse com 37 semanas e aceitasse assistir um vba3c, até onde eu sabia
inédito neste estado. Além disso, eu duvidava que ela pudesse me internar pelo
plano. Luana finalizou: não custa tentar.
Não custava mesmo. Mas
precisava entrar na agenda da médica ‘pra ontem’, ou chegaria para a primeira consulta em trabalho
de parto! Voltei pra casa com um sorriso de orelha a orelha naquele dia. Para quem bateu em portas equivalentes a uma
cidade inteira ao longo dos 9 meses, e encontrou-as todas fechadas, agora abriam-se
até as janelas: Guísella poderia me atender e posteriormente me internar pelo
plano e aceitava me receber para uma conversa/consulta a fim de avaliarmos
minha situação.
A Obstetra que Não Recua
“And
the dreams that you dreamed of
Dreams
really do come true”
Harold
Harlen,
Música:
Over the Rainbow
Conhecemos Guísella
pessoalmente numa tarde de dezembro, sorriso escancarado, esbanjando bom humor
e alegria. Sua expressão facial e corporal transmitia mensagem inequívoca: amo
viver! Quem mais eu poderia querer no meu momento extremo, no limiar entre
terra e céu, do que alguém pleno de vida? Era ela, providência divina mais uma
vez!
Olhando para minha
barriga nada discreta, e sempre sorrindo, perguntou em que poderia nos ajudar.
Respondi: em um parto normal após 3 cesáreas. Fui direta, resoluta, dando a ela
a chance de encurtar a conversa. Pois com 38 semanas e 3 dias o que eu menos
tinha era tempo pra perder com quem não considerasse seriamente tal
possibilidade.
Guísella não recuou, não
me julgou, não zombou da ousadia. Ouviu atentamente meu relato, conheceu meu
histórico, acolheu meus anseios por um parto até onde sabíamos inédito no RS,
mas vivenciado por mulheres em outros estados do Brasil. Solicitou informações
sobre o pré natal e eu forneci carteirinha de gestante incompleta, preenchida por
letras diferentes, dos tantos médicos pelos quais passei. Mas apresentei pasta
completa de exames, todos comprovando saúde minha e do bebê. Esperava ouvir
alguma censura relativa a carteirinha, por isso me adiantei na justificativa de
que procuramos diversas opiniões. A médica me surpreendeu dizendo que isso era
sinal positivo, pois não chegamos leigos ao seu consultório, sabíamos
exatamente o que queríamos. E o que não queríamos também.
Guísella abriu artigos
em seu computador, dando-nos ciência do que preconizava a medicina baseada em
evidências. Ouvimos estatísticas, conversamos sobre os riscos reais, mínimos
mas existentes, e sobre tudo que envolveria um parto normal depois de 3
cirurgias. Informamos conhecer e aceitar os riscos, tomando sobre nós a responsabilidade
por qualquer intercorrência em virtude de nossa escolha.
Após consultar seu
esposo, a obstetra revelou-nos aceitar o desafio com uma condição: presença de
2 obstetras no parto, ela e o marido. Era o primeiro vba3c que ambos
assistiriam, os riscos não poderiam ser desconsiderados. O custo financeiro
naturalmente aumentou, mas eu teria direito à internação em excelente hospital
pelo convênio.
Mais uma vez
confrontou-me a ousadia do passo que estava prestes a dar ao romper com um
sistema que dita o que fazer. E mais uma vez senti que tal passo precisava ser
dado, por mim e por muitas outras mulheres depois de mim. A história dos
meus partos precisava ser reescrita e aquela era minha única oportunidade. Topei.
Marido assentiu e junto comigo, naquele dia, saiu do consultório pisando em
nuvens.
Voltei a ver minha
médica nos dias 16 e 22 de dezembro, e esse foi o total de consultas antes do
nascimento do bebê Felipe. Guísella solicitou exames diversos nesse intervalo
de tempo, dentre eles um que avaliava a espessura do segmento (cicatriz das 3
cesáreas). Mais uma vez, sinal verde. Tudo aparentemente favorável para meu
parto normal.
Nesse clima positivo,
entramos na tão aguardada semana do Natal...
Suzy
Rhoden
Cadê a parte V amiga????
ResponderExcluirTo igual criança querendo a história toda!!!!!
Se nós aqui do lado de fora embora já conhecendo o Gran finale, estamos assim
ResponderExcluirávidos pelo próximo capítulo imagino você a protagonista, ainda mais pela aproximação do Natal, que é uma data tão significativa, que mexe tanto com o nosso lado materno. Guísella chegou como um Anjo.