segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Parto Normal Após 3 Cesáreas (VBA3C) – Parte IV

Foto: arquivo pessoal. 
A Fé que Precede os Milagres

“Mesmo quando tudo parece desabar
cabe a mim decidir entre rir ou chorar,
ir ou ficar,
desistir ou lutar;
porque descobri,
no caminho incerto da vida,
que o mais importante é o decidir.”

Cora Coralina

Quando  tinha todos os motivos para desabar, fui tomada de inexplicável tranquilidade. Um sentimento muito forte de que tudo daria certo, apesar das adversidades. Lembro-me claramente de conversa que tive com uma amiga, a Marcia, mãe de 3 filhos, todos nascidos de partos normais. Ela me encorajou em meu intento, dizendo que certamente eu conseguiria. E acrescentou palavras que nunca esqueci: “O Senhor precisa de mulheres corajosas nos tempos atuais!” A palavra coragem preencheu minha alma, pois era dessa forma que me sentia: valente, resistente, capaz de tudo suportar e reverter para meu bem. As coisas simplesmente aconteceriam como tinham de acontecer.
Também vivi encontro inesperado com  amiga de um dos grupos virtuais. Ela, residente em São Paulo, encontrava-se em Porto Alegre visitando a família. Casualmente, nos dirigimos ao templo de nossa religião (A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias) na mesma data e horário. Foi maravilhoso, um encontro providencial e muito fortalecedor!
Além de Álissa, a amiga citada, o apoio veio com força na reta final, de amigas espalhadas por este Brasil afora e outras do exterior, todas ativistas na causa da humanização. Fiquei maravilhada com tanta vibração positiva de gente que nem me conhecia, mas torcia de verdade por mim!
Claudia, que acompanhava minha batalha desde o princípio, dizia: “Há um propósito pra tudo, só precisamos descobrir que propósito é esse... Vá até o final!” E fui.
No entanto, me faltava um testemunho pessoal de que  estava no caminho certo e o Senhor aprovava minha decisão. Orei continuamente para chegar a tal resposta, pois embora confiante em meu corpo e minha saúde, jamais desconsiderei a sabedoria divina de meu Pai Celestial. Ele me concedia o privilégio de gestar e maternar um de Seus filhinhos espirituais, também me inspiraria em relação a forma de nascimento desejável para essa criança amada.
Dos céus veio a resposta que por 9 meses busquei, ao longo da montanha russa que foi esta quarta gestação.  Soube, através de revelação pessoal, que viveria a experiência tão desejada do parto natural, pois meu corpo havia sido criado para esse fim. Soube que traria ao mundo tantos filhos quantos o Senhor quisesse me dar – e eu aceitasse – e não um número limitado por cirurgias. Eu iria parir em segurança e voltar para minha família, com saúde, para criar meus 4 filhos. Não foi uma simples intuição, alcancei conhecimento perfeito a esse respeito. E confiei naquilo que me foi revelado.

A Reviravolta

“Somewhere over the rainbow
Way up high
And the dream that you dare to,
Why, oh why can’t I?”

Harold Harlen,
Música: Over the Rainbow

Apesar de todos os contratempos, vivi uma gestação celestial. Cada exame confirmava meu bom estado clínico, esbanjei saúde e disposição. Da mesma forma, o bebê encantava meus olhos a cada ecografia, cheio de vida, na posição cefálica, bem à vontade em meio a muitooo líquido amniótico, aparentemente sem qualquer pressa para nascer. Eu seria a gestante ideal para um parto domiciliar, certeza. Não fossem as 3 cesáreas.
Cuidei dos preparativos finais, pois estava chegando a hora. Isso incluía minha playlist, pois a música exerce enorme poder sobre mim. Escolhi como trilha sonora do parto a versão de Israel Kamakawiwo’Ole mesclando os clássicos  Over the Rainbow e What a Wonderful World. Simplesmente amo essa versão, ela me leva além do arco-íris, onde os sonhos que ouso sonhar tornam-se realidade. E não é que, conforme a letra da música, meus sonhos começaram a  tornar-se reais?!
Primeiro, surgiu em meu caminho um anjo chamado Luana. Enfermeira obstetra, indicada por Ana Lu. Sua agenda estava visivelmente cheia, não conseguia tempo para me incluir. Implorei. Luana, comovida, fez visível esforço para encontrar-se comigo e me dar o suporte que naquele momento  precisava. A primeira impressão que tive de Luana é a mesma que tenho até hoje: personificação da luz e da serenidade. Conhecê-la não foi um acaso do destino, foi providência divina.  
Fomos acolhidos por Luana e ouvidos atentamente, em nenhum momento julgados pela aparente loucura de nossa solicitação. Havíamos estado com muitos obstetras, inclusive com os considerados tops da humanização, mas ali, com Luana, foi a primeira vez que recebemos atendimento verdadeiramente respeitoso e humanizado.
Luana orientou-me em relação aos exercícios para fortalecimento do períneo e uso do epi-no. Apesar da agenda cheia para o mês de dezembro, a jovem parteira me acrescentou aos seus planos. Queria me ajudar. Não precisava e nem tinha tempo para fazê-lo, mas sua bondade a impulsionava. Combinamos que Luana  ficaria em casa comigo em trabalho de parto até eu alcançar dilatação suficiente para ir  ao hospital público ter meu bebê por parto normal. Era o melhor que tínhamos para o momento. Eu sentia que podia confiar em Luana como pessoa e como profissional, e ela sentia que eu iria parir. Nunca duvidamos uma da outra. Afinidade total.
Quase no final de nosso encontro, Luana perguntou se eu havia contatado a médica obstetra Guísella de Latorre. Quem? Nunca tinha ouvido falar em tal nome , e olha que o nome é incomum! Luana não a conhecia pessoalmente, mas tinha ouvido belos relatos de partos assistidos pela médica e seu esposo na cidade de Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre. Luana incentivou-me a contatá-la e explicar minha situação. Disse a Luana que só um milagre faria com que uma médica me acolhesse com 37 semanas e aceitasse assistir um vba3c, até onde eu sabia inédito neste estado. Além disso, eu duvidava que ela pudesse me internar pelo plano. Luana finalizou: não custa tentar.
Não custava mesmo. Mas precisava entrar na agenda da médica ‘pra ontem’, ou  chegaria para a primeira consulta em trabalho de parto! Voltei pra casa com um sorriso de orelha a orelha naquele dia.  Para quem bateu em portas equivalentes a uma cidade inteira ao longo dos 9 meses, e encontrou-as todas fechadas, agora abriam-se até as janelas: Guísella poderia me atender e posteriormente me internar pelo plano e aceitava me receber para uma conversa/consulta a fim de avaliarmos minha situação.

A Obstetra que Não Recua

“And the dreams that you dreamed of
Dreams really do come true”

Harold Harlen,
Música: Over the Rainbow

Conhecemos Guísella pessoalmente numa tarde de dezembro, sorriso escancarado, esbanjando bom humor e alegria. Sua expressão facial e corporal transmitia mensagem inequívoca: amo viver! Quem mais eu poderia querer no meu momento extremo, no limiar entre terra e céu, do que alguém pleno de vida? Era ela, providência divina mais uma vez!
Olhando para minha barriga nada discreta, e sempre sorrindo, perguntou em que poderia nos ajudar. Respondi: em um parto normal após 3 cesáreas. Fui direta, resoluta, dando a ela a chance de encurtar a conversa. Pois com 38 semanas e 3 dias o que eu menos tinha era tempo pra perder com quem não considerasse seriamente tal possibilidade.
Guísella não recuou, não me julgou, não zombou da ousadia. Ouviu atentamente meu relato, conheceu meu histórico, acolheu meus anseios por um parto até onde sabíamos inédito no RS, mas vivenciado por mulheres em outros estados do Brasil. Solicitou informações sobre o pré natal e eu forneci carteirinha de gestante incompleta, preenchida por letras diferentes, dos tantos médicos pelos quais passei. Mas apresentei pasta completa de exames, todos comprovando saúde minha e do bebê. Esperava ouvir alguma censura relativa a carteirinha, por isso me adiantei na justificativa de que procuramos diversas opiniões. A médica me surpreendeu dizendo que isso era sinal positivo, pois não chegamos leigos ao seu consultório, sabíamos exatamente o que queríamos. E o que não queríamos também.
Guísella abriu artigos em seu computador, dando-nos ciência do que preconizava a medicina baseada em evidências. Ouvimos estatísticas, conversamos sobre os riscos reais, mínimos mas existentes, e sobre tudo que envolveria um parto normal depois de 3 cirurgias. Informamos conhecer e aceitar os riscos, tomando sobre nós a responsabilidade por qualquer intercorrência em virtude de nossa escolha.
Após consultar seu esposo, a obstetra revelou-nos aceitar o desafio com uma condição: presença de 2 obstetras no parto, ela e o marido. Era o primeiro vba3c que ambos assistiriam, os riscos não poderiam ser desconsiderados. O custo financeiro naturalmente aumentou, mas eu teria direito à internação em excelente hospital pelo convênio.
Mais uma vez confrontou-me a ousadia do passo que estava prestes a dar ao romper com um sistema que dita o que fazer. E mais uma vez senti que tal passo precisava ser dado, por mim e por muitas outras mulheres depois de mim. A história dos meus partos precisava ser reescrita e aquela era minha única oportunidade. Topei. Marido assentiu e junto comigo, naquele dia, saiu do consultório pisando em nuvens.
Voltei a ver minha médica nos dias 16 e 22 de dezembro, e esse foi o total de consultas antes do nascimento do bebê Felipe. Guísella solicitou exames diversos nesse intervalo de tempo, dentre eles um que avaliava a espessura do segmento (cicatriz das 3 cesáreas). Mais uma vez, sinal verde. Tudo aparentemente favorável para meu parto normal.
Nesse clima positivo, entramos na tão aguardada semana do Natal...

Suzy Rhoden

2 comentários:

  1. Cadê a parte V amiga????

    To igual criança querendo a história toda!!!!!

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  2. Se nós aqui do lado de fora embora já conhecendo o Gran finale, estamos assim
    ávidos pelo próximo capítulo imagino você a protagonista, ainda mais pela aproximação do Natal, que é uma data tão significativa, que mexe tanto com o nosso lado materno. Guísella chegou como um Anjo.

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