Às
vésperas do dia dos professores, a mídia repercute a pergunta: onde estão eles
para que os parabenizemos? Cada vez mais raros nas universidades são os
optantes pelo Magistério, menos de 2% segundo as estatísticas. Não por falta de vocação, certamente. Mas justamente
porque vocação é a única coisa que não lhes falta para o trabalho, pois o
restante...
Ter um
professor na família, em tempos antigos, era motivo de orgulho. Minha mãe,
ainda criança, relembra a alegria de meus avôs quando a filha mais velha
decidiu ser professora: incentivaram-na, pagaram com alegria seus estudos, seus
cursos. O professor era tratado com deferência, chamado de mestre, de modo que
ter um professor na família era a certeza de alguém sábio e cheio de
conhecimento sempre à disposição. A autoridade do professor era respeitada, não
apenas na sala de aula, mas o título que carregava lhe dava direito inquestionável
a sapiência.
Fico me
perguntando em que momento da história
as coisas desandaram deste jeito! Quem é o professor hoje, senão um sonhador violado
em seus ideais? Pois não existe ideal que resista à realidade de nossa
educação. Um profissional rebaixado e desvalorizado, tanto por alunos quanto
por pais, e principalmente pelo governo que, diante dos milagres que alguns ainda
conseguem fazer, parece dizer friamente através da remuneração oferecida: não fez mais do
que a obrigação.
E por
falar em obrigação, há os pais que, hoje em dia, associem escola com reformatório:
não podem com a vida dos filhos em casa, então largam no portão da escola com a
recomendação de que no final da tarde virão buscar anjinhos, e ai da professora
se não domar as feras! Mas ai dela também se tentar domar, se por acaso
solicitar que o aluno limpe algo que sujou... Processo por expor a criança à
humilhação!
Quem
aguenta ser professor nessas amargas condições? Eu não aguentei, abandonei as salas
de aula – que para mim eram palcos, de
tanto que eu amava pisar nelas! Mas não suportei a pressão, o sufoco, a
humilhação. Não aguentei a dualidade da mente explodindo de ideias para o
trabalho: ideias suicidas, porém, pois saltavam vivazes num abismo de
impossibilidades, nadavam e morriam na praia!
Como
pode este mundo pensar que é capaz de viver sem o professor?! É algo
equivalente ao filho recém-nascido e completamente dependente rejeitar os
cuidados da mãe... Assim, esta sociedade que ainda nem engatinha culturalmente
desvaloriza a mão amiga, crendo-a inútil e desnecessária. Cresceremos órfãos de
ideias, subnutridos de conhecimento, desprovidos das asas da sabedoria, sem as
quais não se pode voar!
Alguns
mestres, contudo, não fogem do palco em ruínas onde são obrigados a atuar!
Professores com muito orgulho, dignos de dez vezes o valor estampado em seu
contracheque; remando contra todas as correntezas e ainda assim fazendo um
trabalho que arranca aplausos! São raros, são poucos, são sobreviventes, mas
não arredam pé, tamanha a força de sua convicção! Seguem acreditando na causa
que os levou ao Magistério, ainda que ninguém mais acredite... Pois sabem que,
morrendo a educação, passa a viver apenas vegetalmente toda uma população – e isso
eles, guerreiros comprovadamente, jamais aceitarão!
Parabéns,
mestres! Obrigada por não deixarem morrer em mim a esperança que por vezes
agoniza... Em dias melhores, em uma educação valorizada; em cenários
construídos sobre palcos apropriados, onde
atores possam brilhar em sintonia com a platéia que os aplaude, havendo
respeito, havendo riso! Pois hoje, lastimavelmente, a cena que se vê provoca apenas
lágrimas.
Suzy
Rhoden
Lindas e pertinentes reflexões!!Parabéns aos professores que se interessam, dedicam e se preocupam em ensinar e formar crianças. Pena, falte tanto desrespeito com eles e reconhecimento! beijos,chica
ResponderExcluirUma pena mesmo, Chica, que essa valorização não venha na medida em que eles merecem, pois a profissão é linda, encantadora! Exige dedicação maior do que na maioria das profissões e um cuidado exacerbado, pois é um trabalho que lida o tempo todo com pessoas - não adultos, com personalidade, mas "pessoinhas" em formação, futuros cidadãos! Profissionais desmotivados são um perigo nessas condições... não seria melhor manter nossos professores sempre entusiasmados?
ExcluirObrigada pela presença amiga aqui, Chica! És sempre bem-vinda, beijão.
Suzy, que texto lindo! Você me levou de volta ao meu passado quando sentia carinho, respeito e admiração pelas minhas professoras. Tínhamos um clima de cordialidade em nossos colégios. Onde mudou, quando? Penso que de uns (muitos) anos pra cá a família começou numa desestruturação acelerada. O respeito que foi se esvaindo dentro de casa chegou à escola. E com a mesma fúria. Lógico que não preciso nem falar da desestruturação familiar, tá na cara...
ResponderExcluirOs professores começaram a ser desvalorizados pelo próprio país, com seus salários vergonhosos. Aí vieram as greves que levantavam a ira dos pais que não tinham onde deixar os filhos. A escola tinha de ser creche, também. Hoje, nada mais do que 2% pensam em Magistério. Se tanto! Há ideal que sobreviva? Como reciclar os professores se não há dinheiro nem tempo disponível e nem vontade política para reverter a situação?
Apenas posso desejar aos professores melhores dias e parabéns por tentarem...
Beleza de texto, amiga. Você está cada dia melhor!!!
Grande beijo!
Realmente, Tais, a realidade da escola pública é muito triste. Posso falar a respeito disso, pois é uma realidade que vivi. Conheço de perto a estagnação por falta de recursos para o trabalho; o desânimo que vem na sequência, por perceber que muitas vezes nem os pais e nem os alunos estão preocupados com a tal qualidade, que tanto estrago faz em nossas mentes perfeccionistas de professores comprometidos! Queremos fazer milagres, mas não temos apoio de lado nenhum.
ExcluirO respeito, que se perdeu, de fato foi perdido em casa. Mas sentimos o reflexo lá na escola, na criança revoltada e desprovida da noção de regras que não hesita em ameaçar e tratar com violências seus colegas e seus professores. Para corrigir, é preciso maestria: muito cuidado para não esbarrar nos Direitos Humanos, já que tudo hoje em dia é uma questão de interpretação (as brechas nas leis provocam isso) e o professor que tenta simplesmente corrigir corre o risco de manchar definitivamente sua carreira com um processo nas costas!
Ainda assim, há escolas que conseguem erguer-se acima das ruínas e brilhar pela qualidade de sua educação! Tive a bênção de trabalhar em algumas assim, raras e inesquecíveis! São, em sua maioria, voltadas para projetos e conseguem a adesão da comunidade escolar. Esse para mim é o segredo, o ponto de partida: o trabalho conjunto. As escolas que conseguem agir assim, trazendo a família para perto, envolvendo-a diretamente em suas atividades, tendem a ter muito mais sucesso em tudo que realizam - e até milagres são capazes de fazer!
Agradeço o carinho e a presença aqui, seus comentários são sempre ricos de conteúdo, plenos de conhecimento. Um forte abraço, com meu carinho.
Suzy, fico impressionada com o número de professores afastados para tratamento de depressão, síndrome do pânico e outras doenças similares. Os que persistem, arduamente, na profissão estão se arrastando, literalmente, nas salas de aula. Que triste e dura realidade!
ResponderExcluirParabenizo todos os mestres e a você por tão belo texto.
Beijos
Néia, também percebo isso ao meu redor: vários professores em licença para cuidar da saúde. Aqueles que permanecem na escola são amargos, duros, negativos. Claro que não posso generalizar, mas lembro de ter pensado em meus tempos de novata na educação que eu não queria terminar minha carreira assim! O mais frustrante é saber que estamos falando a respeito de uma bela profissão, a mais encantadora de todas em minha opinião! Mas tão desvalorizada, lastimavelmente.
ExcluirAinda assim, afirmo que é possível encontrar alegrias na profissão e também a realização pessoal, tão necessária nesta vida! Alguns amigos são bons exemplos disso, fazendo seu máximo todos os dias para garantir àqueles que estão sob sua responsabilidade uma boa educação. Para esses, meus aplausos, são guerreiros!
Beijo, querida, é muito bom ter você aqui!
Concordo com a Néia, não tinha pensado nos professores com 'pânico', 'estressados'!!
ExcluirNão há mais respeito. Não há proteção. A base da educação começa em casa e segue na escola. Mas ninguém está afim de reverter o quadro. Pelo menos é o que está parecendo...
bjssss.
Minha querida Suzy,
ResponderExcluirÉ uma benção ler este seu texto! Muito obrigada, obrigada mesmo!
Embora fale de uma realidade cruel, de uma sociedade que está à deriva em suas necessidades primordiais, ele não nos deixa desesperançados e isto é fundamental! Enquanto tivermos esperança, haverá possibilidades de mudanças e poderemos contagiar as pessoas para elas.
Porém o que mais me aflige é a decadência da família que não assume mais as suas responsabilidades sobre a educação de suas crianças. As pessoas embrenhando-se na correria da vida e esquecendo-se do quanto é boa e importante a convivência familiar e que não é perder tempo conversar com criança e adolescente: é oportunidade de educar!
Mas, são as escolhas! Pena que quem não fez a escolha de ausentar-se pague pela ausência dos outros!
Bjssssssssssssss, quérida!
Querida Brechique,
ExcluirVocê tocou em assunto essencial, eu diria que o cerne da questão: a família! Os pais, cada dia mais envolvidos na tarefa de crescer profissionalmente, muitas vezes fazem isso com o sacrifício do tempo que deveriam dedicar aos filhos, relegando à escola a responsabilidade de educar. O resultado é esse: crianças carentes de limites, de uma educação que vem de casa, e professores sobrecarregados com a tarefa de construir conhecimentos e disciplinar ao mesmo tempo, ou seja, atrito e desrespeito em sala de aula. Violência gratuita muitas vezes!
De fato, é insubstituível a convivência familiar! É boa, é prazerosa, mas nem todas as famílias parecem compreender isso. Uma pena!
E, quanto à esperança, ela precisa existir! Quando agonizante, precisa ser alimentada com os bons exemplos que estão por toda parte e que, como você mencionou, são contagiantes.
Um beijo carinhoso, grata por sua presença aqui. Volte sempre!
Suzy esse texto ficou magnífico! A realidade triste e regressiva! Minha vida escolar fundamental/médio terminou faz pouco tempo. Tenho em minha mente tantas situações frescas que, no lugar do professor, eu teria desistido! Não sei se você assistiu ao vídeo chocante em que o aluno pega a folha de notas da professora sem sua permissão, vai até sua mesa e tenta apagar. Quando a professora vai atrás dele, ele parte para a agressão e a professora vai ao chão. São cenas chocantes. Se eu que saí a pouco da vida escolar não imaginaria ver isso acontecendo com as turmas que passei, imagina a velocidade com que a coisa está piorando?
ResponderExcluirSe não viu o vídeo, aqui está o link:
http://www.youtube.com/watch?v=6VbLrl5q0z8&feature=related
Obrigada por compartilhar o link, Hugo! Eu já havia assistido, mas foi muito importante você relembrar a cena aqui, pois é perfeitamente condizente com o teor do texto. Violência é um dos fatores que afasta educadores das salas de aula, pois o professor se sente na obrigação de educar, porém impotente para fazer com que essa educação de fato aconteça, já que o aluno hoje em dia não reconhece no mestre uma autoridade. Generalizamos aqui, obviamente, pois nem todos os alunos tem esse perfil desinteressado e violento. Contudo, o elevado índice de violência contra educadores nas escolas é gritantes e merece ser lembrado e, de preferência, imediatamente cessado.
ResponderExcluirObrigada pela contribuição, um abraço!