sábado, 3 de novembro de 2012

Casados com a Solidão



A discussão sempre me pareceu algo terrível dentro de um lar.  Aquele barulho incessante de gente brigando, reclamando, provocando... Mas hoje penso um pouco diferente: terrível mesmo é a total falta de comunicação em uma família.

Não quero dizer que a discussão é algo aceitável. Porém, a argumentação, até certo limite, mostra justamente o desejo de se chegar a um consenso. Argumenta-se na tentativa de convencer o outro de que nosso ponto de vista é o melhor, o mais acertado. Muitas vezes, uma discussão não é uma briga e sim uma forma de comunicação.

Conheço casais que discutiam muito, mas contornaram as crises e evitaram o divórcio. Com o tempo, adaptaram-se um ao outro, aceitando as manias e os defeitos inicialmente horrendos. Um ajudou o outro a mudar, pois não tinham dificuldade em expressar como se sentiam.

Casais que não se comunicam, esses sim me assustam. Maridos e mulheres que andam dentro de suas casas como se fossem dois estranhos, vivendo cada um em seu universo particular, sem qualquer esforço por interação. Nada sabem da vida, dos negócios, da agenda um do outro. Aparentam, para os que olham de fora, ser o casal ideal,  pois jamais são flagrados em meio a uma discussão. Da mesma forma que jamais serão vistos em momentos espontâneos de ternura e afeto. Compartilham o mesmo teto apenas, mas não suas vidas.

Penso que esses são solitários, são tristes, são acumuladores de mágoas. Eu explodiria na primeira semana se não conseguisse expressar o que sinto, seja alegria ou insatisfação! Mas alguns guardam por anos suas dores, até que se tornam frios e indiferentes – existe algo pior do que a frieza e a indiferença em uma relação?!

O problema não se restringe ao casal: os filhos crescem seguindo esse padrão de infelicidade. Há alguns dias, eu conversava com uma mãe angustiada: temia perder o filho para as drogas, vê-lo ingressar em caminhos sem volta. Perguntei a idade do filho e ela me contou que aí estava o problema: ele completara 18 anos e dizia que agora ninguém mais daria palpite em sua vida. Aquela mãe pouco sabia sobre seu filho – com quem andava, a que horas voltava para casa, o que fazia de seu tempo. Perdeu o controle não sabe quando, mas certamente muito antes da maioridade do rapaz.

A falta de comunicação tem devastado famílias. A novela tira a mãe de cena, o futebol tira o pai, e os filhos ficam livres para  aventurarem-se sozinhos pelos sites que quiserem na internet. A falta de diálogo abre espaços no lar, que serão preenchidos com vícios e valores invertidos. A questão não é, como muitos atestam, falta de tempo para a comunicação e sim falta de interesse em realmente saber como foi o dia do outro. Ninguém quer falar, e muito menos ouvir.

Um amigo, à beira do divórcio, resumiu seu drama: “seremos o único casal a se divorciar sem nunca ter tido uma briga sequer”. Pois eu preferiria ter tido mil brigas na tentativa de estabelecer comunicação do que chegar ao extremo da separação sem ter tido o bom senso de abrir a boca!

Geração mais estranha: desabafa com o mundo inteiro através das redes sociais, mas não tem a capacidade de estabelecer uma conversa franca com aquele que dorme ao lado, na mesma cama. Insatisfeitos, casados com a solidão, por sua própria opção!


Suzy Rhoden

23 comentários:

  1. A falta de comunicação complica tudo. Um vivendo aqui, outro lá , mesmo juntos, pois em suas cabeças estão cada um mais longe do outro. Isso é uma pena.

    Prefiro ( como boa goeluda,rs)discutir por vezes,mas aquele silêncio mortal, credo!! Sai de mim,rs beijos,ótima crônica como sempre!

    Olha o feriadão que ganhamos! Lindo! Daqui a pouco estamos nos mandando pra mais um dia na natureza!! beijos,chica

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  2. Também sou uma boa goeluda, Chica! rsrsrs
    Não suporto o silêncio, permanecer no mesmo teto indiferente a outra pessoa! Passar dias emburrada, de birra, não é comigo: se for pra passar, serão 15 dias só falando e não ignorando o companheiro! rsrsr

    Lindo feriado, realmente! Aproveita por mim, querida, pois, acredite, meus filhos estão com catapora e eu de molho em casa!!! Beijão.

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  3. Está aí Suzy.

    Creio que este seja um dos grandes males que estamos cultivando em nossa sociedade há tempos. São pouquíssimas pessoas que se colocam disponíveis para o diálogo. Parece que tem medo, se conformam e vão se conformando como você bem disse. Medo de deixar suas ideias serem ouvidas...

    Um abraço grande para ti. E, melhoras aos teus filhos! .)

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    1. Obrigada R. Vieira! Os pequenos já estão melhores, sim.

      Sabe, um amigo comentou no Facebook a dificuldade que existe para as pessoas ouvirem empaticamente umas as outras. Cada um quer enxergar do seu próprio ângulo apenas, e isso limita a disposição de dialogar, cria barreiras. Uma pena, nosso mundo precisa e muito de conversas francas e pacíficas sobre os mais diversos temas! Mas o conformismo faz muitos se calarem, como você pontuou.

      Grata pela contribuição, beijos!

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    2. uma pena mesmo Suzy, passo por isso em minhas salas de aula. Eles olham, veem e não ouvem, mas quando é a hora de falar querem ser ouvidos. Sorrio e fico triste ao mesmo tempo. Porque sou daqueles que aprende ao ouvir. =) Gosto de saber como pensam os outros acho rico. Mas continuo tentando sempre!

      Hey, quero agradecer tua visita de sempre ao meu cantinho. amando mesmo te ler ;)) E hoje te ofereço um presentinho. Está lá te esperando. Espero que gostes!

      Um beijo de quem já te admira! ;))

      Clica aqui Prêmio

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  4. Tb faço parte do club das goeludas...rs.

    Cronica boa de se ler.

    Beijo

    Margoh

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    1. Obrigada, Margoh! Estamos entre goeludas então! rsrsrs
      Beijos, volte sempre que desejar!

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  5. Boas melhoras pras cataporas por aí!! beijos,tudo de bom,chica

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  6. Obrigada pelos elogios, Amanda!
    Acabo de dar uma passadinha por seu espaço, para conhecê-lo, e me pareceu muito agradável também, com muitas "memórias" compartilhadas... Já estou seguindo, logo retorno para ler e comentar!
    Beijos

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  7. Suzy!
    Que texto instigante pra se escrever, escrever... rsr.
    Bem, não existe pior solidão do que 'a dois'. Hoje estamos vivendo noutra época, a época dos descartáveis. Não deu, não gostou? Troca! Muitos não querem mais saber de tentar, pois tentar dá mais mão de obra do que passar no cartório e resolver rapidinho o que foi feito. Hoje está bem mais fácil.
    Não há mais manobras pra acertar um relacionamento. Casal conversar? Não... uma amiga é melhor! Então desembucham tudo fora do relacionamento, é triste. E burrice!!
    Ou ela se anula para dar certo o casamento, ou ele. Ninguém quer ceder. E quando há filhos o negócio complica mais ainda.

    Veja bem: duas pessoas se unem por amor. Mas são duas pessoas de culturas diferentes, de educação diferente, de sonhos diferentes e de sexo diferente. Cabeças diferentes em todos os sentidos. Pelo amor de Deus, tem de haver um ajuste legal, um cede aqui, outro cede ali! Mas muitas vezes o orgulho impede que duas pessoas marchem juntas. Fica aquela coisa do 'quem manda'. Então, já que ninguém quer ceder, desfazem logo os projetos antes sonhados.

    Pode dar certo? De jeito nenhum, se as partes não cederem, não tirarem a venda do egoismo, do orgulho dos olhos, pouco enxergarão.
    É isso que acontece com os casamentos de hoje. As estatísticas mostram que os casamentos, hoje, duram em média 3 anos.

    Os filhos? Bá, essa é outra história cabeluda! Assim como a divisão dos bens. Assim como os filhos que ficam perdidos por aí... muitos na rua da amargura cheios de problemas. Mas fica aí o assunto para outra crônica!!

    Carinho daqui, amiga!!

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  8. Tais, você tem razão: o assunto instiga a escrever sempre mais! É uma triste realidade que constatamos ao nosso redor e, se não cuidarmos, poderá acontecer até mesmo conosco! Refiro-me a era do descartável, quando substituir dá menos trabalho do que consertar. Refiro-me também ao desabafo com a melhor amiga que, baseada numa única versão, dá os seus palpites, bota lenha na fogueira só pra ver todo mundo queimar junto! A conversa franca, que deveria acontecer entre marido e mulher, acontece com os colegas de trabalho, com os amigos e com quem não tem nada a ver com a história e muitas vezes não tem nenhum interesse em ver a solução dos impasses conjugais. Resultado: dá-se ouvido ao que qualquer um diz, menos ao que o cônjuge pensa ou sente! E mais um divórcio para as estatísticas...

    A falta de comunicação no lar já está levando suas consequências para as escolas e sobrecarregando de trabalho as delegacias, que tem de lidar com os casos mais absurdos, os quais poderiam ter sido evitados se existisse uma simples e clara conversa cara a cara, tanto de marido para mulher, quanto de pais para filhos. Mas isso também é assunto para outra crônica...

    Nem preciso dizer o quanto valorizo sua contribuição aqui, é um prazer ler seus comentários!

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  9. Olá, Suzy!
    Adorei a crônica! Consigo enxergar tantas situações diversas sobre o assunto... A começar pelos meus pais. Estão casados há 21 anos e aprenderam muito com o tempo. Ainda têm alguns defeitinhos, mas estão conseguindo melhorar pouco a pouco.
    É muito triste que isso esteja interferindo na vida dos filhos. Uma criação falha pode levar a caminhos quase irreversíveis. A questão familiar tem mudado radicalmente com o passar dos anos.
    A comunicação é fundamental dentro de um lar. Acredito que as palavras têm poder de transformar uma situação em qualquer âmbito. Mas elas dificilmente são lançadas com prudência e moderação. As pessoas perdem a paciência muito facilmente e as atitudes não pensadas sobrepõem qualquer diálogo...

    Amiga, ótima crônica, meus parabéns.
    Um abraço.

    P.S.: Cheque seu e-mail!!

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    1. Obrigada, Luís Fellipe!

      Também vejo muitas situações ao meu redor... e cada caso é um caso, cada família tem seu jeito de evoluir, de se relacionar. O importante mesmo, em minha opinião, é que de alguma forma se estabeleça a comunicação: que cada um sinta não apenas o amor, mas o valor que tem em uma relação; que os filhos cresçam seguros, sentindo-se amados ao mesmo tempo em que são orientados e educados por seus pais. Pena que, como você mencionou, as pessoas perdem rapidamente a paciência... perdem tão rápido a razão! Ou falam de menos (não se comunicam), ou falam demais (agridem-se verbalmente)... Nenhum extremo é sábio, bom mesmo é o equilíbrio.

      Agradeço por ter vindo e retribuo o abraço.

      Já chequei meu email, obrigada ;)

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  10. Suzy, acredito que casamentos solitários duram pouco tempo, é na troca de opinião, no diálogo esclarecedor que se estrutura uma relação. Porém, costumo ser direta e objetiva, sem muita falação.
    Você lembrou muito bem que, hoje em dia, o diálogo tem perdido espaço para a tv e as redes sociais, isso sim, é mesmo preocupante!

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    1. De fato, Néia, temos nossas personalidades: alguns falam mais, outros menos. Penso que isso não importa, não afeta uma relação desde que haja, com pouca ou com muitas palavras, alguma forma de comunicação. Problema mesmo é a "solidão a dois", como mencionou a Tais, quando um anda pela casa e pela vida indiferente ao outro... não tem como evoluir e muito menos durar uma relação assim!

      Pois é, houve tempo em que as famílias se sentavam nas varandas ou sacadas, no final da tarde, para conversar... Hoje, se isso acontece, é com "dedinhos clicantes", sendo que o foco está mais nos eletrônicos do que na conversa em si... Tendemos naturalmente a solidão, mas não percebemos, pois as redes sociais nos dão a falsa impressão de estarmos sempre cercados por muita gente.

      Obrigada por vir, minha amiga!

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  11. Voltei, esqueci de deixar um beijo e desejar uma ótima semana.

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  12. Suzy,
    Eu não sei se você conhece isso, mas vou te contar, eu acho lindo.
    É uma história que Mahatma Gandhi conta:
    - Vocês sabem por que se grita com uma pessoa? O fato é que quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas?Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê?Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.
    Quando vocês discutirem, não deixe que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.
    É isso, por isso acredito que não somente no amor, mas em todas as relações que são cotidianas nós precisamos cuidar. Saber dosar o silêncio e a forma de falar é uma joia em nossas vidas. Muito legal seu texto, como sempre. Beijos.
    Denise

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    1. Que bela história, Denise! Obrigada por compartilhar.

      De fato, o segredo é a dosagem! Você utilizou a palavra "cuidado", muito adequada em minha opinião: quando cuidamos, nos importamos, evitamos qualquer coisa que venha a ferir ou magoar - seja a indiferença expressa através do silêncio, seja a fúria que eclode com os gritos. Se tivermos cuidado com nossas relações, não estaremos jamais casados com a solidão!

      Linda a história, gostei muito! Beijos.

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  13. Você tocou em um ponto muito importante, Suzy. E fez isso muito bem....há muito o que se refletir nas suas palavras e mais ainda a que se pôr em prática.

    []s

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    1. Olá Rafael! Que bom receber sua visita!

      Sim, há muito o que se refletir nesse assunto... Cuidar de nossos relacionamentos não é tarefa fácil, exige atenção diária. Me alegra saber que você gostou do texto, volte sempre que desejar! Um abraço.

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  14. Olá Suzy,

    Vim agradecer sua visita, mas considerando que meus olhos pousaram na imagem deste post, resolvi chegar até ele, pois a imagem realmente chamou a minha atenção.
    Aproveitei para ler sua bem elaborada crônica e as opiniões a respeito do tema. Vejo que o assunto foi bem esgotado.
    Creio que a pior solidão é aquela vivida a dois. É insustentável e insuportável que o casal viva sob o mesmo tempo e permaneça indiferente ao outro ou à vida do outro. Isto não representa o sentido do casamento. Todos sabemos que a vida em comum não é um constante mar de rosas, mas é uma grande fonte de aprendizado e exercício do amor, através da paciência e da tolerância. O diálogo é imprescindível em qualquer relação, principalmente entre os cônjuges ou entre aqueles que optaram por uma vida em comum. Somente através do diálogo chega-se ao entendimento. O silêncio tenebroso ou as brigas inflamadas prejudicam sobremaneira os filhos. Enfim, melhor dialogar do que colecionar mágoas e deixar o amor morrer.

    Gostei muito da crônica.

    Desejo-lhe um excelente final de semana.

    Beijo.

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