Um
projeto recente tem-me conduzido pelo túnel do tempo, fazendo-me aportar em
épocas distantes, quando fadas existiam, porquinhos construíam casas e bruxas
más tinham o fim que mereciam. Sim, tenho voltado à infância, e tenho
sentido outra vez na pele a sensação mágica de ser criança.
Cresci
ouvindo as historinhas que minha mãe contava; depois, com a alfabetização,
descobri por mim mesma o universo a parte dos contos de fadas. Agarrei-me aos
livros, fiz deles meu esconderijo preferido, meu cantinho seleto.
Contudo,
nunca havia visto em mim uma contadora de histórias... Até escolher, como
atividade complementar de graduação, a disciplina de Literatura
Infanto-Juvenil: no princípio, era apenas mais uma aula divertida, ministrada
por um professor extremamente dinâmico e criativo. Então chegou a greve, que
anualmente se instala nas universidades federais, e eu fiz a mala e voltei para a cidade de meus
pais...
Um belo
dia, decidi dar as caras de novo pela
UFSM e, para minha surpresa, alguns
professores haviam retomado as aulas. Dentre eles, o professor Silvio,
da referida literatura! Retornei às vésperas da apresentação de um trabalho, a
turma já devidamente organizada. Tratava-se da análise literária de uma obra
infantil, atividade que, modéstia a parte, eu dominava e amava realizar. Mas
todos na sala já tinham sua responsabilidade, o que poderia ser delegado a mim?!
Não me
coube escolher, naturalmente. Juntei-me ao grupo que me aceitou e recebi deles
a designação: já fizemos tudo, querida colega atrasada, portanto contente-se em
simplesmente contar a história. Ok,
eu conto a história, disse eu, revestida de humildade – e me cabia algum
orgulho naquelas condições?!
No
grande dia, os olhares se voltaram para mim e eu soube que era minha hora de
atuar – atuar?! Levantei-me e, com diferentes tons de voz, dei vida a um Reizinho Mandão. Algo mágico aconteceu
de súbito, eu tive a exata sensação de ter voltado à infância, quando ouvia sem
cansar aquela mesma frase: “Cala a boca
já morreu, quem manda na minha boca sou eu!” Olhando em volta, não via
adultos, mas crianças grandes de olhos arregalados, agarrados a um tapete
mágico que apareceu do nada e os levou para voar!
Sentei-me
acompanhada por aplausos. A apresentação dos grupos prosseguiu e, ao final
dela, veio de todos na turma o feedback para minha modesta contribuição para o
trabalho: “Senti-me criança outra vez, foi mágico!” – diziam. Por fim, o
professor incentivou: “Existem grupos itinerantes de contadores de histórias,
que saem mundo afora levando seu conto, e eu gostaria de vê-la integrando um
desses!!!” Menos, professor, beeeem menos...
Nunca
integrei grupo nenhum de contadores de histórias, nem trabalhei diretamente com
a Literatura Infantil, mas guardei a experiência como algo precioso. Vieram
oportunidades na vida de professora que me colocaram nos palcos, lugar onde me
sinto muito bem... no papel de narradora. Não me importa aparecer, brilhar, mas
contar! Isso é que me encanta...
Nesse
sentido, um projeto recente tem ocupado meus dias: trata-se da contação de
histórias numa comunidade carente, onde as crianças reúnem-se mensalmente para
almoço solidário. O trabalho é voluntário, vem crescendo discretamente pelas
mãos de mulheres bondosas que preparam
para os infantes farta e nutritiva refeição... Por que não ofertar também alimento
para a imaginação?!
A ideia
nasceu durante a festa do Dia das Crianças, quando a amiga Eliane vestiu-se de
Emília e entreteve os pequenos. Que coisa mais linda de ver aquela boneca
falante todo tempo cercada por meninas que, com olhos brilhantes, lhe contavam
segredos e faziam promessas!
Agora
selecionamos histórias, despretensiosos, querendo apenas estimular sorrisos,
num trabalho feito de amor. Sonhamos com uma pequena biblioteca, montada com
doações de livros infantis, para que, através deles, Emílias possam falar e
Belas Adormecidas despertar!
E, quem
sabe, fazer nascerem novos contadores de histórias...
Eliane em seu momento "Emília", durante atividade do Dia das Crianças |
Suzy
Rhoden
*Aceitamos doações de livros infantis, os quais serão utilizados na contação de histórias, visando o incentivo à leitura e o desenvolvimento do gosto pela literatura. Interessados em ajudar podem entrar em contato através do email salrhoden@hotmail.com . Para maior compreensão da atuação do Projeto Mãos Que Ajudam junto à comunidade local, clique aqui.
Que coisa linda,Suzy!
ResponderExcluirEsse é um projeto maravilhoso e te vejo direitinho nesse papel de contadora de histórias, fazendo voar as cabecinhas infantis para outros lugares.
Parabéns pra ti, pra "Emília" e tantas que participam nesse trabalho!
beijos,segue me frente!! chica
Obrigada, Chica! O projeto é lindo, sim, já existe há algum tempo, mas agora envolverá a Literatura de forma mais específica. Há sempre algo a mais a fazer por nossas crianças... Se me encaixo bem no papel, não sei. Mas gosto, gosto muito!
ExcluirBeijos, querida!
Uma maravilha esse projeto Suzy! Sou da opinião que uma história bem contada incentiva crianças e adultos à leitura. Acredito que você faz isso muito bem!
ResponderExcluirParabéns a todos que estão participando desse evento.
Beijos
Também penso assim, Néia! Histórias abrem passagens secretas em nossa mente, deixam nossa imaginação fértil e o fascínio pela leitura é apenas uma consequência!
ExcluirGrande beijo.
É isso aí, Suzy, trabalhos assim incentivam à leitura, e desde pequeninos. O hábito, o gosto por histórias se forma nessa idade. E parece que você é moldadinha pra isso! Gosto de ver seu entusiasmo por certas coisas que você conta aqui. Posso lhe dar o maior parabéns? Continue, amiga, você sempre surpreende... Eta guria que deu boa! Aliás... você conta algumas histórias pra nós, já notou??
ResponderExcluirGrande beijo!
Querida Tais,
ExcluirVocê não imagina o peso que um elogio seu tem para mim! Receber incentivo constante para meus projetos e minhas invenções, não tem preço, mas é algo que recebo com frequência e gratuitamente de ti! Fico até sem palavras, pois percebo o carinho nas palavras... Realmente, sou uma entusiasmada, uma otimista, uma sonhadora sob alguns aspectos! Quero fazer tanta coisa ainda... E, quando consigo, é porque encontro pessoas como você no caminho, que incentivam, que fortalecem e que motivam! Quando se tem bons amigos, é muito fácil ir mais longe em nossos planos e projetos. Por tudo isso, OBRIGADA DE CORAÇÃO!
Um beijo e todo meu carinho por ti, querida amiga!
Olá, Suzy
ResponderExcluirQue atitude linda a sua de levar a essas crianças a magia da infância! Acredito que seja dessa forma, ao discernir o mundo conto de fadas do mundo real, que eles fortificarão seus sonhos não com a surrealidade, mas com uma força humana baseada na força dos heróis das histórias.
Seu texto me impulsionou a ser ainda mais solidário. Eu estou estudando uma forma de fazer algo parecido, procurando um jeito. Não tenho todo o gingado para contar histórias, mas sei que meu amor por crianças somado à magia proporcionada por esses sorrisos lindos a minha volta com certeza resultarão numa coisa boa.
Meus parabéns pelo gesto e obrigado por compartilhar conosco! Um ótimo coração no mundo pode formar muitos outros ótimos corações. Você está fazendo isso.
Ah! Estou a procura de um livro que ganhei há uns 8 anos. Ele continha 365 histórias para serem lidas uma a cada dia do ano. Infelizmente com a mudança acabei perdendo-o de vista. Caso eu encontre, doarei.
Um grande abraço!
Oi, Luís Fellipe!
ExcluirUau, 365 histórias num livro só!!! Isso explica como nasceu o grande cronista que, tão jovem, já brilha com seus textos no Cronicalize: ler muito é essencial para escrever bem! Fiquei imensamente feliz com sua disposição de ajudar, caso encontre o livro. Se não conseguir encontrá-lo, não se preocupe, bastou-me conhecer sua boa vontade e seu desapego com coisas que podem, de fato, serem doadas conforme crescemos e não precisamos mais delas.
Quanto ao projeto, estamos dando apenas os primeiros passos aqui. Existe uma iniciativa muito bonita, que envolve duas religiões unidas no mesmo propósito: cuidar de nossas crianças. A ideia é ampliar, estender o projeto e fazê-lo crescer, não para ser visto pelo mundo, mas para melhor servir as crianças que fazem parte desse grupo.
Quanto as suas intenções de atuar como voluntário, tenho certeza de que encontrará muitas oportunidades para fazê-lo utilizando suas habilidades, afinal há espaço para o voluntariado na área da música, do teatro, da literatura, línguas estrangeiras, esportes, etc, etc. Ou seja, há muito o que fazer, o que precisamos realmente é ter o desejo e a iniciativa, e isso percebo que você já tem! Não desista, servir ao próximo é fonte de alegria genuína nesta vida!
Grande abraço pra você também, grata por sua grandeza de coração.
Suzy, muito obrigado pelos lindos elogios! Eu é que agradeço de coração o carinho e também por estar sempre por lá para acompanhar minhas crônicas. É muito importante pra mim receber de você essas palavras.
ExcluirContinuo a procurar o livro! Acredito que existam caixas ainda na casa antiga. Vou passar por lá em breve!
Um abraço e mais uma vez obrigado!
Ola Suzy!
ResponderExcluirPrimeiramente agradeço sua visita, palavras, divulgação da postagem e fico feliz sempre que encontro pessoas, projetos, entendimento do valor das atividades manuais, lições domésticas e em especial essa temática trabalhada junto com a religião, eu pelo menos penso que os valores morais e espirituais tem uma forte ligação e trabalhados juntos são mais bem percebidos, transmitidos e preservados.
Quanto a contação de histórias, contar histórias é comigo mesma, sejam as mesma, novas, clássicas, do cotidiano, verídicas ou imaginárias. Contar e escutar, ler, amo.
Acho fantástico ler para crianças, divino ler para crianças cegas, mágico e social despertar e alimentar a literatura na infância.
Prazer em conhecer, volte sempre por lá, voltarei por aqui e através da blogosfera, das nossas histórias, filosofias, fé, fantasias, lutas e glórias vislumbro que nascerá uma amizade :)
Oi Suzy,
ResponderExcluirQuantas coisas boas me trazes com teu relato. rsrs Ora, fiquei aqui lembrando do meu Curso normal, quando no último ano na aula de literatura tivemos muitas apresentações como a sua. lembro-me como se fosse hoje. A sensação que descrevestes ali em cima foi exatamente o que senti.
hoje fico toda boba quando vejo as contadoras de história do município impressionando as crianças e a mim também (hehehe)
Coisa boa estas experiências. Feliz em saber deste projeto. Sucesso grande pra vocês!