Dinâmica utilizada em aula, pela
professora de Direitos Humanos, merece meus comentários neste texto. Copos com água foram distribuídos aleatoriamente entre
os alunos. Dentre os 38 copos, havia 2 de aparência idêntica a dos demais, porém
contaminados com hidróxido de sódio. A atividade consistia na interação entre nós, alunos, como se estivéssemos em uma festa. Quando a música parava, porém, trocávamos algumas gotas de nosso copo, com colegas de nossa escolha. A
música parou 3 vezes e muitos foram os “contatos sociais” estabelecidos nesse
intervalo de tempo, misturando as substâncias dos copos de todos que participaram. Finalmente, a atividade foi concluída com o acréscimo de
uma gota de fenolftaleína em cada copo. A fenolftaleína reage com o sódio, alterando a cor. Todos que adquiriram coloração rósea
foram contaminados ao longo da brincadeira, ou seja, não apresentavam mais a água pura com a qual a atividade teve início. No princípio, eram 2 os contaminados; no final, eram muito! Dessa forma, disse a
professora, a AIDS – entre outras doenças – propaga-se entre nós. No começo, são apenas 2, mas em questão de dias são 20, 30 pessoas, e daí por diante.
Acredito que a dinâmica é conhecida de
muitos, bem como a experiência química aqui descrita. A interpretação, com base
nos símbolos, dispensa comentários. Não acontece exatamente assim em nossos
dias? Trocam-se “fluidos” indiscriminadamente e sem preconceitos, afinal somos
uma sociedade livre, e nos orgulhamos disso. Questionados sobre os motivos pelos
quais nos envolvemos nas trocas, as respostas foram: “parecia divertido”, “todos
estavam trocando”, “o colega me convidou para trocar, então pensei que seria chato
dizer não”, “era apenas uma brincadeira”, entre outras. Alguns gostariam de se
omitir, mas acabaram cedendo à pressão do grupo, pois não queriam carregar o
rótulo de divergentes, individualistas ou qualquer coisa do gênero. Outros foram
atraídos justamente pelo risco de serem contemplados com as gotinhas fatais –
há quem goste de brincar com o perigo!
Mas houve 2, dentre os 38 participantes,
que tinham a certeza de não estar contaminados: uma colega e eu. Bem, havia um
risco mínimo de contaminação, já que recebemos os copos já preenchidos com a
substância. Mas tínhamos a certeza de não ter levado a contaminação adiante,
pois não trocamos fluidos com ninguém. Explico meus motivos:
Era apenas uma brincadeira, obviamente,
mas de grande valor simbólico. Posso considerá-la, inclusive, um reflexo exato
de nossa sociedade atual. Seria muito fácil interpretar a atividade como uma
diversão e me deixar levar pelo clima do momento. Foi constrangedor, por exemplo,
dizer não a uma colega querida que se
aproximou pronta para a troca: percebi a surpresa estampada no rosto dela! Muitas
pessoas abandonam princípios assim, racionalizando, dizendo para si mesmas que
aquilo não terá a menor importância, que não trará nenhuma conseqüência. Não
abandonei os meus, fui firme justamente
por se tratar – aparentemente – de uma brincadeira.
Mas que princípios são esses, aos quais
me refiro? Contrariando o que a sociedade moderna e livre de tabus prega,
acredito num padrão de moralidade. Escolhi para mim esse padrão, o que não
significa que saio por aí julgando o padrão dos outros. Mas levanto
questionamentos, apresento meus argumentos, dentro da liberdade que possuo para
fazê-lo.
Por exemplo, como somos orientados a
educar nossas filhas no que se refere a vida sexual? Mal entram na adolescência,
somos estimulados a levá-las ao
ginecologista, com a ajuda do qual deverão escolher o melhor método
contraceptivo. Camisinhas são apresentadas e doadas, como se fosse o melhor
presente que o melhor dos pais pudesse oferecer a uma filha. Quanto aos filhos,
elimina-se a visita ao médico e antecipa-se a idade em que receberá o referido
presente.
Não me importo de ser taxada de careta,
antiquada, alienada, conservadora, moralista, etc, e nem me preocupo um
instante sequer com a possibilidade de ficar sozinha defendendo o que acredito,
mas fui criada com determinados valores, e eles serão passados adiante, de
geração em geração, dentro de minha família – com o devido respeito ao livre
arbítrio, digno de todo ser humano.
Não presenteio meus filhos com as
camisinhas, ensino-lhes a lei da castidade tal qual relatada nas escrituras (a
saber: Bíblia, Livro de Mórmon e outros escritos sagrados). Naturalmente, eles
recebem toda informação, e justamente por isso tendem a fazer escolhas
semelhantes a minha e a de meu marido, nos tempos de namoro: mantermo-nos puros
e castos até o dia de nosso casamento. Fiz isso pessoalmente, meu marido fez o
mesmo, e de igual maneira agem os jovens fieis de nossa religião, homens e
mulheres indistintamente. Falta-nos algo por isso? Fomos privados de alguma alegria
realmente importante por tomarmos essa decisão? Tenho a certeza mais absoluta
de que não, muito pelo contrário: fomos preservados de doenças venéreas de todo
tipo, gravidez precoce e indesejada – que conduz ao aborto muitas vezes – e de
relações vazias e insatisfatórias, que duram uma noite e conduzem a frustração
por muitos dias.
Alguns mencionarão minha coragem por
fazer publicamente esta declaração, e eu me antecipo na resposta: coragem? Não.
São princípios. Não preciso de coragem para escolhê-los, já foram escolhidos há
muitos anos. Preciso apenas de firmeza para vivê-los. Corajoso mesmo é quem
encara todos os riscos que enumerei por uma noite de prazer apenas! Desculpem-me
os adeptos, mas meu corpo e minha saúde valem muito, muito mais do que algumas
horas de diversão.
Sei de antemão que minhas palavras são
chocantes, e isso é o que mais me incomoda: por que a moralidade choca hoje em
dia? Dizer-se cristão ou, independente de religião, fiel a princípios parece
ofensivo atualmente. Como chegamos a esta inversão?! Não prego o preconceito,
muito pelo contrário: luto arduamente contra ele. Não interfiro na vida alheia,
cada um com suas escolhas! Mas não preciso dizê-las corretas só para agradar,
não tenho de modo algum que concordar com elas. No fim das contas, apresento
simplesmente meus argumentos e minhas justificativas para a escolha que fiz, em
termos de moralidade, e que cada um julgue por si mesmo e faça o que lhe
parecer melhor, lembrando que cada escolha traz atrelada a si pelo menos uma conseqüência.
Atesto a alegria de viver segundo valores
firmemente estabelecidos. Não são imposições, são escolhas. Não são fardos, não
me pesam. Demonstram minha disposição de viver plenamente e minha
responsabilidade em relação ao meu companheiro, pois não me coloco como um risco
em potencial na vida dele. Se tivesse que defender sozinha esse padrão de
moralidade, ainda assim o faria. Mas felizmente há uma multidão de Santos dos
Últimos Dias e de pessoas de todas as religiões, ou mesmo sem religião, que
vivem segundo esse princípio: preservam a castidade até o casamento. Levantamos
aqui, pacificamente mas com firmeza, a nossa bandeira!
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Atividade realizada com moças SUD, em Santa Maria RS
Programa Novos Inícios - Retorno à Virtude
(abril 2009) |
Suzy Rhoden