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Arte: Marci Oleszkiewicz |
O que dizer a uma mãe que
teve de sua princesa arrancada a virtude, maculada a pureza sublime da
infância? Alguma palavra, qualquer que fosse, teria sentido?
Não tive a intenção de
reabrir a ferida, jamais cicatrizada, porém disfarçada pelo passar dos dias e
escondida da própria filha, a vítima imediata da monstruosidade. Mas precisei
tocar no assunto.
Chorava sozinha, nas noites
sombrias, aquela mãe. Pela manhã, engolia a dor e sorria esperança. Sorria para
o futuro que, lutava para acreditar, a filha ainda teria. Mas ela própria se
encontrava destruída, não mais vivia: sofria.
Não quis machucá-la outra
vez, acordando-a para um pesadelo que fingia esquecer. Onde a realidade era o
medo. A revolta. A impotência. A culpa que jamais teve, mas que atribuiu
a si mesma por não ser onipresente e não estar lá, na hora fatal.
Precisei fazer sangrar
feridas, contudo, que jorraram na forma de lágrimas de olhos entristecidos.
Para que o monstro fosse identificado, apreendido, julgado, condenado pela
justiça dos homens e lançado no próprio inferno que ergueu para si, quando
escolheu violar a dignidade suprema de uma criança.
Ela, a menina, sofreu a dor
na pele. A mãe sofreu a dor da filha na alma. Queria não ter mais de viver,
para não enxergar todos os dias sua criança mutilada. Mas precisava, mesmo com
a alegria amputada de sua existência, encarar cada novo amanhecer. Por sua
angelical menina.
Concluí meu trabalho, com a
garganta seca e a voz embargada. A imparcialidade profissional não me obriga a
ser desprovida de emoções – felizmente, me emociono! Tenho sentimentos, e eles
me impelem para a ação tão bem feita quanto possível. Para que haja justiça.
Para que exista a possibilidade de paz em algum futuro ainda distante. Para que
se vislumbre a luz, quando tudo que se tem é completa escuridão.
Ela entendeu. Secou as
lágrimas e se levantou, estendeu-me a mão e eu estendi um abraço. Ela sorriu!
Trancou novamente a dor no coração, e partiu. E eu fiquei com a imagem daquele
sorriso gravada em minha memória.
Quanto altruísmo! Revestir-se
de força e alento que ela mesma não possui, para ter o que ofertar a
filha amada. Grandeza. Verdadeira coragem. Vitória absoluta do amor sobre
a dor.
“Língua
alguma é capaz de expressar a força, a beleza e o heroísmo do amor de uma mãe”
– Presidente David O. Mckay
Suzy
Rhoden