Final de janeiro e eu ainda não tinha falado sobre elas: as férias escolares tão esperadas, sonhadas, desejadas pelos brasileirinhos! Lembro bem de meus tempos de criança, contava os dias para entrar em férias... Mas acho que meus pais contavam os dias para que elas acabassem: eu não era o tipo de criança que se satisfazia com desenhos animados na TV, requeria um pouco mais de emoção, adrenalina nas atividades, para angústia de meus progenitores. Minhas aventuras demandavam energia extra que eles nem sempre tinham a oferecer...
Sei exatamente como eles se sentiam há uns vinte e tantos anos atrás. Tenho filhos em idade escolar. Mas será coisa de primogênito essa teimosia em desbravar o mundo?! Meu garotinho de 6 anos me colocou essa dúvida no último final de semana...
Tivemos a ideia de levá-los a um sítio. Lugar perfeito, com local adequado para pescaria, piscina, área para camping, e até uma cascata. A pesca foi uma beleza, atividade ideal, recomendo para todos os pais: você ensina o filho a sentar e esperar a boa vontade do peixe. A cada 3 horas, dá uma conferida pra ver se o pobre fisgou. E tudo no mais absoluto silêncio, pra não espantar as vítimas.
Mas como meu filho é realmente meu filho, morreria de tédio se tivesse que passar 5 minutos ali, naquela interminável espera. Não teve outro jeito, tivemos que encarar a cascata...
Subimos pela montanha, e retornamos pelo riacho. Não sei qual das trilhas foi mais cansativa. Pra mim, claro. Pois meu primogênito agia como se fosse o guia de nosso grupo, a frente de todos, explorando todas as possibilidades. Sua alegria era completa quando encontrava um desafio! Acessorado por seu irmãozinho e outros amigos de mesma faixa etária, deliberava sobre a ação mais acertada: contornar um tronco que obstruía nosso caminho ou andar sobre ele, exercitando o equilíbrio? Nós, adultos, não éramos chamados a dar palpites. Talvez porque, ofegantes, estivéssemos alguns quilômetros atrás da criançada...
Ao final da trilha, como era de se esperar, algumas crianças reclamaram do cansaço. Citaram os obstáculos como pontos negativos. Mas foram de imediato contestadas por meu menino, que curtiu especialmente os desafios da caminhada. Disse que o mais divertido era ter que decidir o que fazer diante de um problema... Nem os espinheiros que encontramos o detiveram, para tudo seus olhos perspicazes encontraram uma solução.
Aprendi tanto com meu pequenino em um único dia! Ele cresceu e eu nem havia percebido... não tanto em estatura, mas em conhecimento e sabedoria. O menino tímido da sala de aula deu lugar ao aventureiro resoluto, decidido a enfrentar e vencer qualquer barreira em seu caminho. Se pudéssemos olhar como ele para nossos problemas diários, não perderíamos tempo chorando e lamentando: avaliaríamos a situação e então agiríamos, sendo positivos em todas as coisas.
Como recompensa, encerramos o dia nas águas cristalinas da piscina. Quem se lembrou das quedas durante a trilha? Ou dos espinhos que por um instante causaram dor? E ainda do esforço para escalar pedras lisas e íngremes? Ou dos obstáculos superados dentro d’agua? Não, as dificuldades não foram lembradas. Mas serviram, certamente, para que desfrutássemos da calmaria da piscina com ainda mais alegria e gratidão.
Engana-se quem pensa que férias escolares são pausas no aprendizado. Eu particularmente penso que é para essa época, quando estamos mais próximos de nossos filhos, que a Escola da Vida reserva suas melhores lições.
Suzy Rhoden