segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Gênios: quando um deles senta ao lado!



A vida é feita de etapas que ora começam, ora se encerram. No caso, acabo de encerrar um ciclo maravilhoso, no qual voltei a ser estudante. Foram seis meses de curso, com direito a mochila nas costas, uniforme e provas semanais. Só faltou a confecção do cartazinho com os “acordos da turma” visto que, em nosso caso, ele veio pronto e não houve economia no rigor das regras nem no nível elevado de exigências das diversas disciplinas. Tudo para o bem geral da nação – quase que literalmente falando.

Mas as semelhanças com o Ensino Fundamental não terminaram aí: na sala de aula, a disposição das carteiras obrigava-nos a associações em duplas ou trios. Disposta a impressionar, sentei-me na primeira fila, bem em frente ao professor. Só houve um problema: sentei-me ao lado de Vania.

Vânia parecia uma pessoa normal a princípio, uma rica colega, amiga e sempre disposta a ajudar. Simpática e agradável, era a melhor companhia que se poderia ter na sala de aula. Até começarem as provas.

Aí começou meu dilema. A pessoa ao meu lado revelou-se um cérebro privilegiado, fez coleção de notas DEZ!!! Lógico que nessas horas as máscaras caem e a modéstia inicial sucumbe diante da consciência do próprio mérito. Não para Vania, continuou com a mesma impressionante humildade! Sorria e oferecia ajuda. Se pelo menos fosse falsa e competitiva, seria mais fácil tolerar, pois as salas estão cheias de pessoas assim, já estamos até acostumados...

Vania era mesmo diferente, e não apenas na maneira de lidar com o sucesso. Ela tinha um jeito estranho de memorizar e aprender: enquanto eu pintava  minhas apostilas com todas as cores possíveis, fazendo flechas pra tudo quanto é lado, com explicações detalhadas da matéria – numa tentativa desesperada de atender aos apelos de minha memória visual –  Vania silenciosamente me humilhava com  um lápis preto e de ponta grossa, o qual utilizava para marcar os pontos principais do polígrafo. Era sistemática, contudo: o traço era leve e somente realizado com o auxílio de régua, para ficar tudo bonitinho, organizadinho!  Preciso dizer quem gabaritava? Pois é...

A situação piorou na reta final do curso. Eu, exausta, já não dava conta das aulas expositivas sem as tradicionais “pescadas”, quando por alguns segundos os olhos param e a cabeça cai. Não que eu quisesse fazê-lo, era involuntário, mais forte do que eu. E mais forte do que a turma inteira. Quero dizer, quase a turma inteira, pois é claro que Vania não sofria desse mal. Acompanhava os professores ativamente, participando com perguntas perspicazes e comentários sempre pertinentes – motivo pelo qual a prática do bullying foi introduzida em nossa sala de aula.

Acredito que, conforme a descrição, todos entendem o drama que vivi em classe. Nunca imaginei que, ao escolher a primeira carteira da primeira fila, escolheria justamente compartilhar os estudos com um gênio camuflado de gente comum. Eu, que sempre fui aluna dedicada, dessa vez saí escaldada, implorando uma vaguinha no fundão. Nada contra a fantástica pessoa que era Vania, mas eu precisava zelar pelo mínimo de dignidade que ainda havia nas minhas notas 8,0 e 9,0.

Concluído o curso, sinto faltar algo em meus dias. Talvez o inconfundível “presentE” (pronunciado com esse sotaque, carregando no último E) sempre que os professores realizavam a chamada; talvez os sussurros da ilustre representante de São Borja, que tinha a terrível mania de ler seus textos em voz que não era alta e nem baixa, mas que deixava escapar um constante sssssssss de seus lábios, enquanto estudava suas apostilas sem cor e sem graça...

Na verdade, sei bem: sinto falta de uma das melhores amigas que já tive considerando um curto espaço de tempo, pessoa íntegra, de caráter inquestionável; guerreira sob todos os aspectos, dedicada ao extremo àquilo que se propõe a fazer; e prestativa no mais estrito significado da palavra: nunca esquecerei do dia em que a flagrei oferecendo-se para lavar as roupas de colega, cuja máquina de lavar havia estragado... Um gênio, talvez, mas uma grande mulher, com certeza!

Apenas uma última observação: se você é da região de São Borja, não se assuste se, logo após a apresentação, Vania perguntar sem rodeios: “Você é filho de quem?” A moça não está interessada em sua nobre genealogia, apenas quer uma referência patriarcal para identificar sua família, já que não há morador da fronteira oeste do estado que a senhora em questão desconheça. A popularidade é tamanha que fico aqui pensando se a famosa Terra dos Presidentes não enviará algum dia sua representante feminina... Minha única preocupação é com os santinhos da campanha, sem dúvida naquele sem graça preto e branco!

Na parte central da foto,
Vania aplica em mim golpe de defesa pessoal
- amigas são pra essas coisas, né!!! 

Suzy Rhoden

9 comentários:

  1. rssssssss...Tu me matas!! És muito hilária e é legal te ler ,pois tudo flui...

    Que linda homenagem fizeste à Vânia que certamente, também deve sentir tua falta. Ainda mais após essa última foto,rsrs Muito lindo! beijos às duas,chica

    ResponderExcluir
  2. Oi Suzy,boa noite!
    Adorei vc ter colocado a imagem do Einstein.
    Ao ler a crônica sobre a Vânia,achei a genialidade dela,parecida com a do célebre cientista.Ele também era modesto e discreto.Há relatos que:
    'Mesmo com toda a genialidade e sucesso,Einstein sempre se manteve humilde e aberto para novas descobertas e revisões.'
    Não lembra a Vânia?!
    Um abração.Adorei a postagem.

    ResponderExcluir
  3. Suzy, que sorte a sua! Nada melhor que ter uma amiga "crânio" ao lado, é sempre uma inspiração.
    Sua amiga vai ficar feliz por ter sido tão bem descrita nessa crônica, que sorte a dela!

    Beijos

    ResponderExcluir
  4. Oi Clau!

    Também gosto muito de Einsten, a escolha da imagem dele não aconteceu por acaso :)
    Mas confesso que eu não tinha feito a associação que você fez com minha colega Vania! E você está certíssima!
    Acho que gênio mesmo é quem consegue ser humilde apesar de todo sucesso, pois são pessoas doutrináveis, ou seja, capazes de aprender ao longo da vida toda!
    Por isso, todos os elogios a minha querida amiga Vania são merecidos, pois, tal qual Einsten, ela é exemplo de humildade e discrição.

    Muito bom ter você aqui! Boa semaninha :)

    ResponderExcluir
  5. Neia,

    É verdade, muita sorte a minha!
    Vania foi, sim, constante inspiração ao longo do semestre. Sabia que sempre podia contar com ela, e acho que ela também pode contar comigo, como revela a foto que postei ao final do texto... rsrsrsrs
    Muito bom ter amigos, e amigos crânios melhor ainda! rsrsrs Tenho vários assim, felizmente.

    Beijão!!!

    ResponderExcluir
  6. Querida Suzy, nem sei extamente o que dizer!
    Caramba!
    Tive uma amiga-irmã assim: minha Carmena! Nos conhecemos no cursinho de pré-vestibular e, graças a ela e à sua inteligência, fui me aprimorando e aprendendo coisas que nem sequer suspeitava. Não apenas os conhecimentos culturais, mas, principalmente, os humanos, como observei que aconteceu com vc em relação a Vania.
    Carmen e Vânia se assemelham: mulheres inteligentíssimas e humanérrimas (existe isso?!), muito bom!
    Obrigada por, através desta postagem, trazer minha amiga especial ao meu coração já que, infelizmente, por não estar mais entre nós, não posso mais vê-la, abraçá-la, ouvi-la e aprender com ela!
    Bjssssssssssssssss, quérida!

    ResponderExcluir
  7. Querida Suzy:

    Pena que não fomos coleguinhas! Mas ainda seremos em algum lugar, mesmo se voltarmos um dia quando nossas almas se encontrarem...
    Eu sempre precisei de uma 'Vania' na minha vida, mas nas ciências exatas. No resto fui boa aluna, não diria gênio, mas boa aluna, pulava de alegria com um 8 – era modesta! E com um 10 botava fogo no mundo.
    Lembro que na minha frente, naqueles velhos tempos, sentava um gordinho feliz, genial nas matérias que eu precisei, ou seja, nas exatas. O (in)feliz foi tão egoísta que não adiantou o meu 'peloamordedeus'. Lembro que manchei toda sua camisa de tanto cutucá-lo para dar uma chegada para o lado... Não são todos os gênios que estão dispostos a ajudar... Gênios são humanos. O pior é que quando ele precisou de mim, eu coloquei minha prova bem na ponta da classe e disse para copiá-la, modificando as frases. Ali ele tirou um 10 – com a desconfiança da professora. Era fraco onde eu era forte.

    Hoje, ele é médico - E conhecido por aqui... rsrs
    Ó, mundo pequeno...
    beijossssss

    ResponderExcluir
  8. Suzy,
    Você escreve muito bem e tem um lindo coração, homenagear os amigos é um lindo ato de amor.
    Beijos
    Denise

    ResponderExcluir
  9. Menina, amei essa história... e fiquei muito feliz de chegar aqui, depois de ver teu comentário querido lá no blog! Também voltei à classe depois de um tempão... e está ótimo! É uma sensação deliciosa! Abs.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...