segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Casarão


Uma maravilha esta tecnologia! Minha amiga Gabriela, em viagem de férias, tem passado os dias em West Virginia. E eu aqui, no cantinho sul do Brasil, acompanho tudo como se a viagem fosse minha!

A penúltima informação de Gab foi esta: “Minha querida amiga, depois de muita ponderação decidi ficar por aqui, virar colona, plantar batatas e mandiocas”. A verdade é que minha amiga se apaixonou pela região, caracterizada pelo bucolismo, e estava verdadeiramente disposta a trocar a correria metropolitana pela paz do interior estadunidense.

Mas hoje chegou a última informação, contradizendo a declaração anterior: “coisas estranhas acontecem aqui!” Minha amiga mencionava os casarões antigos e a incômoda sensação da presença de seus primeiros donos, a zelar por seu patrimônio... Segundo minha amiga, plantar batatas não parece mais tão atrativo... Vai saber se o pioneiro desbravador daquelas terras não aparece pra ajudar?!

A conversa com Gabriela me trouxe lembranças: morei certa vez num casarão. Não era uma mansão, que fique claro. Apenas um casarão à moda antiga, com “duzentos” cômodos, “quatrocentas” portas, duas por cômodo, e “oitocentas” janelas – perdi a conta de quantas por aposento! Está bem, não era tudo isso... Mas o exagero dá uma idéia de como eu me sentia naquele lugar sem fim, com aspecto de labirinto.

Como todo casarão, o teto era alto e os cômodos amplos. Tudo muito antigo. O assoalho rangia acompanhando nossos passos, o que ficava assustadoramente mais evidente na madrugada. E nem preciso dizer que o imóvel pertencera, em outros tempos, a uma idosa que adoeceu e se negou a terminar seus dias em qualquer lugar que não fosse sua propriedade: ela partira desta vida ali, em algum daqueles quartos!

A melhor parte – na verdade, a pior – era a varanda dos fundos, cujas paredes eram de vidro transparente. Dali, observávamos as árvores – plantadas na época do descobrimento do Brasil – que  rodeavam a casa e se estendiam até os limites do terreno, vários metros à frente. Quando ventava, a cena era digna de filme de terror: os galhos pareciam braços balançando  sobre a casa, prontos para arrancá-la a qualquer momento de seus velhos alicerces.

Pois foi numa noite dessas que meu marido decidiu assistir filme na varanda. Um filme qualquer... O Grito! Pegou um litrão de Coca, um copo e uma cadeira de praia e lá acampou na madrugada. Corajoso é pouco pra ele, o melhor adjetivo mesmo é maluco, doido de pedra! E eu, que não sou doida nem nada, fui dormir sozinha em nosso aposento de múltiplas portas.

A cena que transcorreu a seguir também é assunto pra gente de coragem: relata meu marido que ia o filme pela metade, no auge do terror, quando percebeu um movimento na varanda. Olhou ao redor e nada viu, porém, ao baixar os olhos, deparou-se com o copo girando sem parar! Da TV irrompeu o grito que seus lábios não tiveram forças para emitir naquele momento, enquanto que...

Do cômodo contíguo eu caía na melhor gargalhada da minha vida! Impagável assistir aquela cena de camarote e, melhor ainda, ser responsável por ela. Cadê o valentão, hein? Foi vencido por um copo que gira misteriosamente. Mas o mistério desfaço aqui: levantei-me no meio da madrugada e, ao visualizar meu marido completamente absorto pelo filme, decidi pregar-lhe uma peça. Joguei contra ele um pano, com o intuito de roubar-lhe a atenção. O pano acertou o copo e foi parar, silenciosamente, debaixo da cadeira. De seu ângulo de visão, Jeff enxergava apenas o copo girando imotivadamente... O resto ficou por conta de sua imaginação, justificando o pânico que vi em sua expressão.

Com este relato, acalmo a mente inquieta de Gabriela: coisas estranhas acontecem em todos os lugares. Mas os culpados raramente são seres do além: o mais provável é que sejam seres bem vivos e muito espertos!
Suzy Rhoden

8 comentários:

  1. rsrsr, olha, olhando esse casarão aí, não sei não... dá uma certa ansiedade, uma vontade de sair correndo. Não pelos mortos que não retornam, mas pelos vivos que podem nos pregar muitas peças... entendeu, dona Suzy? Pensando e já te contando, não foram poucas as vezes que tive vontade de me mandar para um lugar silencioso, calminho... Mas atualmente só penso neles nas férias, e não muito calmo!
    Beleza, esta sua crônica e nos mostra que você não foi muito santa! Agora, amiga, que é uma delícia pregar peças nos outros, não tenho dúvida. Eu até hoje tenho meu lado infantil que volta e meia se manifesta.
    Adorei; adorei essa história e muito bem contada. E essa foto aí dá arrepios! Não tinha algo mais leve? rsr

    Texto bem enxuto! E ficou na medida. Com um gostinho de 'quero mais'.
    Beijão, amiga!
    Tais

    ResponderExcluir
  2. Que legal te ler e ainda bem foi logo cedinho.... Divertida peça pregaste(pelo menos pra ti!) no teu marido. Essas coisas fazem bem e as boas risadas só ajudam sempre no relacionamento.. Assim, nem fantasmas resistem!!! Muito legal e em casarão assim, só com um policiamento da BM na frente, ao lado e dentro,srsr E olha há! Sou medrosa...


    beijos,tudo de bom e adorei te ler,mais uma vez!

    ResponderExcluir
  3. Oi Suzy :)
    Adorei a crônica e também a imagem.
    Não sou medrosa (pelo menos de fantasmas nunca tive medo!!),e tenho curiosidade de visitar esses casarões.
    Vc tem toda razão:
    coisas estranhas acontecem em toda parte.
    E quando os culpados não são os seres humanos,a ciência explica e justifica,esses 'fenômenos'.
    Eu sempre fico do lado da explicação lógica...
    Chega até ser engraçado,mas as pessoas se assustam por causa das histórias contadas a respeito de determinado local,e também por causa da imaginação fértil!
    Ri muito do pânico que vc causou no seu marido!rsrs
    Bjs!

    ResponderExcluir
  4. OI SUZY!
    ADOREI TEU TEXTO, RICO EM DETALHES E CAUSANDO UM ARREPIO...
    ESTAS CASAS ANTIGAS, CAUSAM MESMO ESTA IMPRESSÃO, DAI, É SÓ DEIXAR A IMAGINAÇÃO AGIR.
    ABVRÇS

    zilanicelia.blogspot.com.br/
    Click AQUI

    ResponderExcluir
  5. Oi Suzy, a mim os casarões não metem medo, apenas uma tristeza medonha! Mas aos temerosos a imaginação é fértil e ela faz muitos barulhos, rsrs.


    Beijos

    ResponderExcluir
  6. Suzy querida,
    Confesso que fui uma criança muito medrosa e não foi fácil não ter medo desses lugares tipo casarão. Hoje tudo isso passou, mas se me perguntar se entro lá sozinha eu vou te responder que não, ainda não.
    Beijos
    Denise

    ResponderExcluir
  7. Minha querida Susy!
    Gênio! Idéia de gênio! Só não posso dizer que você é das minhas porque vc teve a coragem da execução, eu apenas teria a idéia! rsssssssssssssss
    Eu iria me borrar para tentar assustar o marido e correr o risco de, na contra-mão, ser assustada por um vento, um barulho, uma sombra! rsssssssssss Sou frouxa a dar com pau, como se diz!
    Mas vc está de parabéns, não apenas pela beleza do texto mas, tb, pela idéia posta em prática! rssssssssssss
    Bjsssssssssssss, quérida!

    ResponderExcluir
  8. Ou Suzy, obrigada pelos elogios às roupas para minha filha! Amo fazer isso, pois além da economia, ainda tenho comigo que, agasalhar os filhos é dever da mãe. Bem, não tão agasalhar, pois minha filha usa micro saias (heheh). Sei como sentiu saudade da época em que sua mãe costurava suas roupas e quer fazer o mesmo para os filhos. A minha mãe costurava também nossas roupas e quando via que estava costurando algo para mim, aquilo era como ganhar um abraço ou algo parecido como "filha, você é muito importante para mim". Dou a maior força que inicie sim nas costuras, mesmo que seja no início para costurar roupas para a sua casa. Inicie com costuras bem fáceis, tipos paninhos de prato e vai evoluindo, mas tente fazer tudo com capricho. Procure um curso bem básico, nada desses muitos demorados que precisa ficar desenhando toda a pasta, que seja prático, que lhe ensine apenas o necessário, pois o resto você aprende fuçando na net, observando as roupas que compra...
    Se precisar de ajuda, me escreva "no reservado", ok?
    Li alguns textos do seu blog. Todos muito bem escritos. Só não li mais porque estou preparando um cursinho intensivo para setembro. Quando tiver mais tempo eu volto, por isso estou lhe seguindo, ok?
    Beijos

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...