Todo leitor tem suas manias. Uns são ávidos, leem quinhentas
páginas bem lidas em 3 dias; outros fazem questão do exercício diário, em doses
homeopáticas, cujo tratamento para a mente dura semanas, meses.
Há os que,
considerando a leitura um momento sagrado, não abrem mão do silêncio, da
reclusão e da calmaria. Leem em bibliotecas, escritórios, debaixo de árvores,
em praias desertas. Mas existem também
os que leem no transporte público, na fila do banco, na areia lotada de gente,
no topo das árvores, no consultório médico ou onde quer que se encontrem,
sozinhos ou acompanhados.
Uns só entendem o livro se lido em voz alta, outros
devoram a história com os olhos e a mente, sem qualquer ruído exterior. Há quem
leia o primeiro e o último parágrafo, depois mergulhe com vontade na obra. E
ainda os que interagem: brigam, xingam, riem, choram com os
personagens, como se estivessem diante de pessoas e situações reais.
É inevitável, temos nossas excentricidades, nossos
rituais particulares. Eu, por exemplo, gosto de saborear minhas leituras como
quem saboreia rara especiaria. Tenho a necessidade de degustar
e identificar cada tempero da obra, da introspecção até a ironia escancarada. Isso requer tempo, cuidado, interação com o objeto de
leitura. Ou seja, nada de uma saga em 3 dias! Faço questão de manter a mesma
companhia por semanas…
Contudo, quando mergulho em um livro, fecho a porta de
conexão com o mundo exterior. Isso quer dizer que choro no
metrô e dou gargalhadas na fila, totalmente alheia às caras de “alguém denuncie
esta foragida do hospital psiquiátrico!”.
Não me privo de me emocionar em publico, permito-me
viver as emoções que a boa leitura proporciona – esteja onde estiver!
Mas tem uma coisa: essa história de “best seller” não
me convence! Leio se o assunto me interessa, se o conteúdo me agrada, e não
porque foi o mais vendido ou porque é o preferido da torcida do Flamengo. Leio
o que gosto e o que quero, e quando quero. Por exemplo, enquanto minha vida
segue num único tom de cinza, sem qualquer pretensão de conhecer os outros 49,
pego Um Lugar na Janela com Martha
Medeiros e saio por este mundão afora, fazendo escala em Cabul, no Afeganistão,
para conhecer a famosa história do menino (O)
Caçador de Pipas.
- Mega atrasada! – muitos dirão. Admito. Mas sem peso na consciência: acredito
que cada obra tem o seu tempo e o seu momento para fazer sentido em nossa vida.
Não devem ser engolidas goela abaixo...
Quando era adolescente, preocupava-me em vencer as disputas com minha
melhor amiga, numa corrida silenciosa para determinar quem lia mais em menos
tempo. Devorei livros, e isso foi maravilhoso. Quanto mais lia, mais sedenta me
sentia!
Tornei-me adulta e continuo lendo muito. Mas sem a
pressa de outros tempos, sem qualquer concorrência. Leio por puro e indizível
prazer, leio por paixão, por anseio de viver!
E se for pra apontar minhas manias, que seja essa – a qual
preservo com muito empenho e muito orgulho:
- Ela tem mania... de LITERATURA!
Suzy Rhoden
Muito legal seu texto! Me identifico em muitas partes.Sou do tipo que lê 'o primeiro e o último parágrafo', depois mergulho com vontade na obra!kkkkkkk Leio devagarinho, no ônibus, na cama antes de dormir, não importa, só não abro mão do silêncio, pra me aproveitar de cada entrelinha... E amo fazer isso! Beijo grande
ResponderExcluirRealmente, ler é muiiiito bom! E não existe uma regra específica, cada um tem seu jeito de aproveitar e de interagir com a obra. Mas muito interessante essa sua "mania" de ler o primeiro e o último parágrafo!!! Não perde a graça saber como a história termina?! Aposto que não!!!
ExcluirBom demais ter você aqui, beijão Liliane!
Sempre maravilhosos teus textos, reflexos óbvio de tua "mania de literatura"...
ResponderExcluirAdorei e ler deve ser do nosso jeito e pronto,sem correrias, sem estar na mosa da literatura. Eu gosto de ler aquilo que "me chama" ....
beijos,tudo de bom,chica
É verdade, as obras nos chamam! Ninguém merece ter que ler literatura empurrada, enfiada contra a vontade... Bom mesmo é escolher e depois ler da forma que melhor nos apraz!
ExcluirBeijo pra você, Chica, querida!
Suzy, essa é uma das melhores crônicas suas que já li. Aquele papo de fazer parte da diferença em 2013? Você faz. Nós fazemos. Brasileiro lê pouquíssimo então somos um grupo não muito extenso como em alguns países.
ResponderExcluirAcredito que seu único tom de cinza possa fazer diferença independentemente dos outros 49. Na verdade sei muito pouco do que fala esse livro. Febres de "best-sellers" também não me agradam. Gosto mesmo é das indicações que me fazem (quer fazer uma ou mais?), daqueles que não estão entre os mais comentados, mas que tem um conteúdo fantástico. Sou apaixonadíssimo por Agatha Christie. Mas também dou o devido valor a obras clássicas da literatura brasileira. Algumas eu tive o prazer de ler duas vezes.
Rir no metrô? hahahaha não te acharia louca, mas ficaria extremamente curioso para saber o motivo da risada. O parágrafo legal!
Ler faz muito bem. Sua mania é linda.
Abraço!
Obrigada, Luís Fellipe! Tinha meus palpites de que você gostaria muito desta crônica... Afinal, você também tem mania de literatura, não tem?
ExcluirSabe, comecei lendo Memórias de um Burro e Os Desastres de Sofia, serve como indicação? rsrsrs Nunca esquecerei desses livrinhos, com os quais eu me divertia na minúscula biblioteca da escola, onde cursei meus primeiros anos... Depois veio a coleção Vaga Lume inteirinha, eu era fascinada por aqueles livrinhos para pré-adolescente! rsrsrs Depois de crescida, dou espaço aos clássicos e a um pouco de tudo que me pareça interessante. Indico Os Miseráveis, de Vitor Hugo, já leu? Para sempre o meu preferido (eu acho... rsrs).
Abraço, amigo leitor!
Suzy, acredito que temos fases onde somos levados pela ênfase própria de cada idade, também na adolescência, quando aprendi a gostar dos livros, uma ansiedade tomava conta de mim e eu queria ler tudo! Hoje, movida pela tranquilidade que os meus cinquenta anos tem me proporcionado, leio prazerosamente e vou lhe dizer, caso o livro não me conquiste até as 20 primeiras páginas, parto para outro, afinal vou ficar insistindo numa leitura chata para quê? Com tantas opções darei preferência aos bons, certamente, rsrs. Gosto muito de ler numa ambiente silencioso e costumo prestar muita atenção nas palavras, esse é um hábito que adquiri ao tentar escrever meus primeiros textos, vi o quanto eu precisava delas.
ResponderExcluirAdorei seu texto, tão agradável de ler e um incentivo à leitura, parabéns!
Beijos
Néia, estou a caminho dos 50 (bem, tenho alguns anos de estrada até lá), mas já aprendi essa lição sobre a qual você fala: ler precisa ser um prazer, a não ser em casos de faculdades, cursos, onde exista uma literatura obrigatória. Mas, no restante, temos o direito e o privilégio de escolher o que ler, e assim como você sou seletiva! Se a leitura não flui, a fila anda! rsrsrs
ExcluirBeijo pra você, minha querida!
Que texto ótimo!
ResponderExcluirPenso em primeiro lugar na liberdade que os professores devem dar aos seus alunos: que não obriguem a ler determinados autores, mas que comecem a estimular o hábito de ler, apenas isso. Deixem a escolha para os alunos. Nada funciona melhor.
Lembro que há anos éramos obrigados a ler determinados clássicos, o que causava um rebuliço nas pobres cabecinhas em formação. Clássicos tem seu momento certo, mas os professores não pensavam nisso. Então não havia vontade.
Digo que peguei o hábito não graças à escola, mas graças ao meu pai, graças à minha rebeldia, graças à família.
Mas cada um, como você disse tem seu mundinho já feito. Minhas leituras requerem silêncio, nem música baixinho; nem vozes por perto. Eu e o livro. Adoro entrar numa livraria, num Sebo, numa Feira Literária. Adoro o formato, o cheiro e manusear um livro. Na Internet leio textos curtos, caso contrário são os livros: não ofuscam, não cansam. E adoro ler deitada.
Seu texto, seu pensamento vem ao encontro do que penso também. E quanto aos best-sellers, tá tudo muito 'cinza' pro meu gosto...rsr. Todo o ritual da escolha é gostoso. A leitura é pra mim, e dessa forma me cerco de vários, pois não abro mão de na minha cabeceira ter um sobre artes. Ler não deve ter regras: é preciso ter gosto, paixão.
Ah...rsrs, jamais poderia ler na grama, como na foto!! E os bichinhos, formigas, aranhas etc. Hein?
Beijão! Mandou no capricho!
Essa da Néia, acima, concordo e muito! Não insisto quando vejo que não agrada, que vai virar sacrifício. Muitas vezes nos enganamos...
ExcluirQuanto aos clássicos que falei, sou muito a favor, mas numa época de mais maturidade, e não com 13 anos - numa época que ainda se brincava com bonecas. Foi um pouco forçado. E se fosse professora, hoje, incentivaria meus alunos deixando-os bem à vontade para suas escolhas.
Vou parar por aqui, esse é um assunto para quilômetros...
Tais, temos de fato um assunto para quilômetros! Penso que toda sobrecarga deixa de ser positiva e se transforma em obrigação, em fardo. Claro que o estímulo é necessário, mas impor certas leituras a adolescentes me parece um tiro no pé: leem obrigados, engolem aquelas histórias desinteressantes, e passam a odiar livros! Alguns leitores a menos no mundo num futuro próximo...
ExcluirAcredito que a motivação começa cedo, e dentro de casa. Sem muita imposição, mas oferecendo-se muita literatura, criando hábitos como o de contar historinhas... As crianças se apaixonam sem fazer esforço! Ontem minha caçula, de 3 anos, dormiu agarrada em um livro, e eu achei a coisa mais fofa deste mundo...
Gosto dos clássicos, eles tem o seu valor. E o seu tempo também.
Quanto as manias, tudo relacionado a livros é gostoso, até o cheiro, não é verdade? Ah, que coisa bem boa estar sempre cercada de boas obras... Mas não preciso do silêncio, não, acho até que sou raridade nesse quesito: mergulho no livro até com a casa caindo em cima de mim! Mas ainda não tentei abrir meu livro e me concentrar bem no meio de um salão de baile... acho que vou fazer a experiência! kkkkk
Por fim, que formigas, que nada! Leio tranquilamente na grama se meu sobrinho colecionador de insetos estiver por perto... ele caça tudoooo, estuda os bichinhos, preserva-os com todo amor e carinho. Cada um com sua mania, não é? kkkkkk
Beijoca!
Livros que nunca sairão de minha memória: Pollyana, Pollyana Moça e Meu Pé de Laranja Lima!!!! Sou eternamente apaixonada, já os mais de uma vez inclusive! E a cada fase de minha vida, sinto "necessidade" deles!!!! AmooooOOoOOOOOOooo
ResponderExcluirNossa, Lili, você me fez lembrar dos livros de minha infância e adolescência! Pollyana também foi muito marcante pra mim, mas acho que estou precisando reler para lembrar de algumas coisas... Da infância, trago Os Desastres de Sofia, não sei bem porque... acho que desde cedo eu já me identificava com aquela menina atrapalhada, só pode ser isso! rsrsrs E Monteiro Lobato, muito Monteiro Lobato... ler é mesmo uma delícia, em qualquer idade!
ExcluirQue maravilha!!!! Também sou assim. gosto de estar de verdade com o livro. Nada de correrias. Até pouco tempo pensava que era atrasada e que era lenta demais. Até tentei correr, mas dai acabai deixando de ler e isso me entristeceu. percebi que o tempo é nosso e deve ser bem aproveitado, principalmente quando o tempo é literatura.
ResponderExcluirtexto maravilhoso Suzy!
Beijo!
R. Vieira, que bom vê-la aqui também compartilhando suas "manias" literárias! Realmente, o importante é não perdermos o amor pelos livros, não importa nosso ritmo, nosso jeito pessoal de viver essa paixão. Beijos!!!
Excluir
ResponderExcluirOlá Suzy,
Crônica linda.
Creio que passei por quase todas estas manias que você descreveu. Já devorei um livro em três dias, já li em "câmara-lenta", quando o livro não me envolvia o suficiente, mas era "obrigada" por força de trabalhos e estudo; já li em doses homeopáticas, quando o livro era tão bom que queria degustá-lo mais vagarosamente (para durar-rsrs). Enfim, hoje, como você, só leio o que gosto e no meu ritmo. E isto em qualquer lugar. Preferencialmente, gosto de ler à noite, antes de dormir, quando o silêncio já tomou conta da casa. Faço do livro um companheiro e uma companhia.
Beijo.
Vera,
ExcluirObrigada por ter vindo e ter deixado conosco suas experiências com a leitura. Com o tempo, vamos achando nosso jeito de aproveitar ao máximo esses companheiros preciosos que temos a nossa disposição: os livros que nos agradam.
Beijo pra você também!
Bom dia Suzy!
ResponderExcluirEu também tenho mania de literatura!
Me identifiquei com vários 'rituais' que vc citou!rsrs;
exceto esse de 'ler em voz alta e no transporte público,na fila do banco,na areia lotada de gente,no topo das árvores,no consultório médico.'
Como vc lembrou:cada um tem sua excentricidade!
Mas,quem dera se todos tivessem o hábito da leitura!
Atualmente,continuo lendo todos os dias,mas em doses homeopáticas.
Na verdade eu amo o silêncio da biblioteca!.
Adorei a crônica.
Bjs \o/
Olá Suzy!
ResponderExcluirTambém tenho essa mania, sem muitas manias anexas ou sistemáticas atreladas a ela.
Leio em pé, sentada, deitada, no claro, no escuro, com barulho, silêncio, mais de um livro ao mesmo tempo, só um, demoro dias ou meses...
Da mesma forma que escrevo, seja em guardanapos, num diário, no computador, de dia, de noite...
Inciei com FLICTS, Planeta Lilás, Pequeno príncipe e ai não parei mais e não consigo parar, não pode falar pra mim, café, pão e algo pra ler.
Amo os livros e escritos de Jostein Gaarder, Saramago, Manoel de Barros, Cecília Meireles, Martha Medeiros...
Modinhas não são muito o que me levam a querer ler um livro, leio, escolho, busco muito por algum autor que eu já li e gostei, por indicação de alguém que sabe dos meus gostos, ou sugerido por alguém que não me conhece, mas eu admiro, algo nono que acho que vai me agregar algo, pela capa (creia, já comprei um livro pela capa e adorei...rsrs), pelo assunto, por intuição, sem regras mais uma vez.
Eu li e amei O Livreiro de Cabul, O caçador de pipas, O catador de Conchas...
"De livros encham-se as casas
Eis um conselho excelente
Pois um livro aberto em asas
Põe asas n´alma da gente"
Arianas são mesmo assim, móbiles soltos em um furacão e falta de livros, papel, palavras escritas, ditas e faladas me dão solidão.