Já
não nos causa assombro: crianças inteligentes e dotadas de habilidades variadas
vêm a este mundo a todo instante. São consideradas prodígios pela precocidade
com que desenvolvem certos talentos – às vezes vários ao mesmo tempo! Assim
como as crianças especiais, elas requerem de nós uma atitude diferenciada. Mas...
Diferenciada em que sentido? A questão é: estamos sabendo lidar com os gênios
modernos, cada vez mais comuns nas
escolas e em praticamente todos os lares?
Vivi
ontem experiência que trouxe esse assunto ao centro das conversas em minha
casa: meu segundo filho, 4 anos, começou inesperadamente a ler e a escrever,
tudo ao mesmo tempo. Já presenciávamos seus ensaios para a leitura há alguns
dias, estimulado pelo irmão, que lê desde os 5. Mas normalmente há um
intervalo entre a leitura e a escrita. Para Gabriel não, pronunciava a palavra
e ia reproduzindo as letras, conforme o som delas, por escrito. Então lia o
resultado.
Não
sei se o encantamento é comum a todos os pais ou se é exclusividade de mãe
professora, fato é que esse processo me fascina. Eu realmente vejo as portas do
mundo abrirem-se para a criança que aprende a ler. O conhecimento dos livros
não lhe poderá mais ser negado, a não ser que ela própria o rejeite. É como se
de repente asas crescessem e, pequenos pássaros que são, até então alimentados
culturalmente por nós, eles agora se lançassem sozinhos num vôo de aprendizagem
que durará toda a vida.
Como
essas experiências surgem cada vez mais cedo, trazem consigo a dúvida: as
instituições de ensino estão preparadas para lidar com crianças que já
chegam a pré-escola alfabetizadas, enquanto que outras sequer conhecem as cores? As diferenças existem, não
podem ser ignoradas. Cada criança
precisa ser valorizada em sua individualidade, sem que haja prejuízo para uma
ou para outra. Isso acontece na prática escolar?
Recentemente
uma amiga, cuja filha apresenta maturidade impressionante para seus 12 meses de
vida, foi orientada pelo pediatra a cessar o estímulo cognitivo, a fim de evitar
problemas futuros, em idade escolar. Como assim?! Não posso parar meu filho no tempo, impedir o
acesso natural à informação, que produz, ao longo do tempo e da experiência, o
aprendizado! Percebo aqui um equívoco, uma inversão, já que cabe à instituição
de ensino rever sua metodologia até adequá-la à necessidade de seu grupo
escolar – e não o contrário.
Meu
primeiro filho mostrou-se precoce de várias maneiras. Aos 5 meses,
incapaz de engatinhar, seguia-me pela casa rolando como se fosse uma bola.
Nessa mesma idade, despedia-se de mim acenando quando eu saía para trabalhar e
com 8 meses começou a reconhecer e reproduzir o som da letra inicial de seu
nome. Com 12 meses falava frases e se comunicava como um adulto, tão amplo era
seu vocabulário. Aos 15 meses conhecia todo o alfabeto, fazendo associações do
tipo B de bola. Com 18 meses deixou as fraldas completamente, sem necessitar de
um processo de adaptação. A mudança se deu literalmente da noite para o dia.
Nessa época, ele também já tinha, por iniciativa própria, abandonado a chupeta –
jogou no lixo – e recusado o seio
materno. Sua precocidade era visível e tive que aprender a lidar com isso.
Quando ele recebeu um irmão, aos 19 meses, a lição que a experiência nos deu foi a
de jamais comparar personalidades distintas. O irmãozinho levou o dobro do tempo
para sair das fraldas, quase isso para começar a andar e não estava nenhum
pouco preocupado com o alfabeto aos 15 meses. E nem nós preocupados em impor a
ele algo para o que não estivesse preparado. Oferecemos estímulos a um e a
outro, e esperamos que se desenvolvessem em seu próprio ritmo, interferindo
somente em caso de necessidade. Contudo, agora nos surpreende aos 4
anos, lendo e escrevendo de maneira espontânea e natural – ainda mais cedo do
que o primeiro, que se mostrou precoce em vários outros aspectos.
Estímulo
de nossa parte? Nem demais, nem de menos. São crianças, não precisam dominar a
gramática da Língua Portuguesa para serem considerados inteligentes, não lhes
cabe isso agora. Mas naturalmente crescem cercados de livros, familiarizados
com eles, para que possam fazer por conta própria suas descobertas, ao seu
tempo. Nosso amado filho fez a sua ontem e estamos muito felizes por isso.
Importante
não cobrarmos demais de nossos pequenos prodígios. Muitas vezes nos equivocamos
pensando que, por seu raciocínio rápido, estamos lidando com adultos em pequena
estatura. Não são adultos, e emocionalmente são como qualquer criança de sua
idade. A maturidade para compartilhar, por exemplo, lhes falta muitas vezes.
Também é comum a dificuldade para aceitar derrota em jogos, sentem-se
profundamente frustrados. Não podemos ressaltar esse aspecto negativo,
aumentando a pressão ou a cobrança sobre
eles. Enchê-los de atividades e cursinhos, roubando o tempo das brincadeiras
também me parece um erro. Porém, atividades baseadas na ludicidade são sempre
bem-vindas, tal qual o Inglês, a música, o balé, o teatro – com a devida
atenção para a escolha dos métodos didáticos.
Aos
que se perguntam qual minha formação dentro da psicologia para fazer aqui
afirmações categóricas, informo que os anos de atuação na
Educação Infantil me garantiram a especialização em Psicopedagogia. A
maternidade me acrescentou os demais títulos: mestrado, doutorado e o PhD. Não aceito facilmente as
teorias sem ir a fundo nelas para certificar-me de sua validade, pois se
existirem erros que não seja justamente na educação e na formação de meus ‘pequenos
prodígios’. Palavra de mãe leoa!
Suzy Rhoden
Gravataí, 14 de novembro de 2011
Que amor e parabéns pelos sapequinhas...Isso é demais mesmo.
ResponderExcluirApenas as escolas, segundo minha experiência, não estão preparadas. Querem e deixam os mais adiantadinhos marcando passo, esperando os demais.
Vivo isso com o Neno... Sei bem!!!
No mais, continua firme e fica feliz de verdade!!! Um amor! beijos,chica
Pelo visto Suzy você não é a única mãe blogueira que vive essa situação. Também cá vou dizer que o meu filho, hoje com 23 anos, aprendeu a ler aos 4 e as escolas que frequentou não estavam nem um pouco preparadas para o ritmo com que ele absorvia conhecimentos. Muitas vezes eu pude perceber que haviam professoras que não gostavam nem um pouco de ter um aluno na sala com mais facilidade na aprendizagem, diziam que atrapalhava o desenvolvimentos dos outros.
ResponderExcluirEnfim, apenas nós que somos mães, entendemos bem a atenção diferenciada que esses pequenos prodígios merecem ter. São talentos que o país precisa aprender a valorizar.
Parabéns aos seus lindos e inteligentes garotos, imagino o seu orgulho!
Beijos
Suzi, teu texto está ótimo! Penso quando nossos filhos demonstram algo precoce, que bom, maravilha. Deixe que a natureza deles siga seu curso, não colocando nossa colher nem para estimular demasiadamente e nem para travar esse desenvolvimento. Apenas observar seu desenvolvimento e auxiliar no que for necessário. Não cabe a nós e a ninguém comparações de nossos filhos ou com outras crianças; isso é um dos piores desastres no quesito 'educar'. E quanto às escolas, acho que não estão lá preparadas...
ResponderExcluirDe uns anos pra cá, tenho observado a ansiedade que muitos pais impõe aos filhos: estudar línguas, aulas de dança, algum instrumento musical, esporte... Crianças em atividades horas e horas. Deixar as crianças com algum tempo disponível para brincarem, para terem infância é algo saudável. Terão toda uma vida pela frente para escolherem o que realmente querem.
Leitura? Essa sim, tem de ser estimulada, sem ela o desastre na faculdade, nos concursos, e na futura profissão está garantido. Um ótimo profissional se faz lendo, estudando. Vejo que teu 'lindinho' aí tem o exemplo da mãe, está em plena expansão, mas porque quer, porque gosta. Por tudo que li e vi, só posso te dar os parabéns!
Grande beijo, amiga.
Tais Luso
Boa noite Suzy!
ResponderExcluirObrigada pela visita e por seu comentário tão simpático.
Já li e reli essa crônica e ela ficaria tão bem num artigo de jornal!
Narração esclarecedora de uma mãe e profissional da educação.
Tem,muitas pessoas que eu gostaria que lessem esse texto...
É decepcionante,mas a maioria das escolas,não estão preparadas para 'acolher' os 'gênios modernos'.
Pelo menos é isso que tenho presenciado por aqui.
Bjs!!
Suzy,
ResponderExcluirQue história linda.
Um beijo
Denise
Concordo com a Chica, pena que as Escolas não estão preparadas, mas a culpa não é dos professores, sou uma*..[é a super lotação nas salas de aula, enquanto um progride demais o outro é mais devagar e tem imensas dificuldades, é complicado, não exitem turmas homogêneas;
ResponderExcluir"não são adultos e, emocionalmente são crianças", bom que seja assim, e que seu Gabriel brinque* muito, que sua vida seja uma aventura, é o que toda criança merece*...
Ótimo post, amei e dá o que falar.
Beijo da Mery*
Voltei pra te desejar um lindo fds!beijos, tudo de bom,chica
ResponderExcluirSuzy, estava lendo o seu post hoje, dia 10/06/2014 quando vi na barra lateral do blog o título deste. Não participava do teu blog à época. Mesmo assim quero deixar as minhas impressões.
ResponderExcluirPerfeito o teu relato quanto à precocidade natural. Não há estímulos demais e nem de menos. É algo da criança e então a sociedade quer barrá-la, especialmente a escola precisa encaixotá-la segundo sua idade e não sua capacidade.
Passei o mesmo que você com uma criança que lia e calculava aos quatro anos de idade. Recebi como recomendação da escola que eu deveria mais levá-la a passear. Precisaria ficar em casa, pois era muito estímulo externo que ela recebia.
E eu que levava para teatro infantil me senti a pior das mães... Foi com ajuda de uma profissional em psicopedagogia, laudos e leis que briguei exaustivamente com o "ensino" e a criança nào foi encaixotada conforme a idade. Meu filho não fez nem o primeiro nem o terceiro ano. Somente hoje é que reconhecem que era exatamente o que tinha que ser feito.
Sempre uma luta, mas que vale muito à pena!
Beijo.