quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Parto Normal Após 3 Cesáreas (VBA3C) – Parte I


O Sonho Dourado

Dia 20 de abril de 2015 sonhei que estava grávida.
Dia 21 escrevi pra Claudia, amiga (quase irmã) desde os tempos da faculdade. Queria saber mais sobre o parto normal após cesárea (pnac em Português, ou vbac em Inglês)  protagonizado por ela há  2 anos. Tinha lido o relato no blog do Vicente, esposo da Claudia, e ficado encantada. Não sabia se teria mais filhos, então não me aprofundei no assunto na época... Mas aquele relato me tocou profundamente e, como semente lançada em terra fértil, ficou germinando em meu coração.
Claudia, curiosa, perguntou se eu estava grávida. Respondi que oficialmente ainda não (mas sabia que estava rsrs). De qualquer modo, queria mais informação, conhecimento sobre o assunto, e ela era a única pessoa de minhas relações que recentemente havia parido na água, mesmo depois de uma cesárea. Claro que meu caso em particular era outra história, eram 3 cesáreas e não uma só... Eu não alimentava esperanças reais, nada além de um sonho dourado. Mas conhecimento não ocupa espaço, então queria conhecer, me informar, aprender.

O Despertar

Claudia apresentou-me ao mundo do parto humanizado, enviando-me links, artigos, livros, e direcionando-me para grupos virtuais de apoio. Li tudo que me caía nas mãos sobre o assunto. Nessa busca sedenta por informação, tive acesso ao primeiro relato de parto normal após 3 cesáreas do qual me lembro, e era o registro de um pai! O relato sacudiu as estruturas de meu sonho dourado: havia como evoluir do sonho para a realidade? Seria mesmo possível?! Aquele casal fez exatamente isso!!!
Na época eu nem imaginava, mas esse pai chamado Rafael era justamente o marido da Larissa, pioneira no Brasil em partoS após cesáreas – sim, foram 3 partos normais depois de 3 cesáreas! – e Larissa tornou-se alguém muito próximo, embora distante fisicamente, que me fortaleceu e inspirou ao longo da gestação.
Pouco a pouco, fui encontrando outros relatos e devorando todos, bem como livros e artigos no assunto. Tudo isso nas primeiras semanas de gestação, antes mesmo da primeira consulta médica. A propósito, precisava encontrar um adorável obstetra humanizado, que aceitasse assistir meu vba3c pelo plano de saúde, neste Rio Grande do Sul naaada conservador e burocrático. Missão dada é missão cumprida! Só que não. Muitos nãos!

O Risco Incontestável

Início de maio. Primeira consulta pelo plano. Data provável de parto para 21/12/2015. Fui apresentada ao ‘risco incontestável’: rotura uterina, aderência da placenta, hemorragia pós parto, sofrimento fetal, etc, etc. Também fui apresentada a data de minha quarta cesárea, dia 14/12/2015, com 39 semanas, no hospital de escolha do médico. Perguntei se poderia pelo menos aguardar entrar em trabalho de parto para então... Nem me deixou terminar a frase, pois “que diferença isso faria? Com tanta coisa importante em relação ao nascimento de uma criança, por que encucar justo com a via de nascimento?!”, e ainda recebi conselho não solicitado de brinde: “não entra nessa modinha aí de parto humanizado, pois não há fundamento algum, é um retrocesso. É puro romantismo que esconde grandes riscos!”.
Não preciso nem dizer que marido saiu do consultório com olhos arregalados, afirmando que não iria cuidar de 4 criancinhas órfãs de mãe, portanto para ele a ideia de parto normal, a partir daquele momento, estava fora de cogitação.
Logo marido entendeu que a única coisa fora de cogitação de fato era a ideia de retornar àquele médico. Meu filho poderia até nascer de cesárea, mas seria no tempo dele e não em um parto programado, agendado com 8 meses de antecedência  para não atrapalhar as festas do fulano!!! Nem pensar. GO riscado da lista.
Busquei equipe dentro do plano de saúde como quem busca a luz no fim do túnel. Isso sim foi um sonho dourado, tolo e ingênuo. A questão não era apenas o vba3c, refutado categoricamente através da exclamação ‘risco incontestável!’, mas o fato de não haver médico que aceitasse aguardar os primeiros sinais de trabalho de parto para então realizar o procedimento cirúrgico, considerado indiscutível em meu caso.

A Porta que Abre por Dentro

A essa altura, claro que eu já integrava grupos virtuais de apoio ao parto normal após cesáreas, contatava algumas doulas e havia recebido indicação dos médicos humanizados da região. Liguei para todos (todos mesmo!) e, ou não atendiam meu plano, ou estariam de férias na data esperada. Sucessivos nãos. Portas fechadas, trancadas, lacradas.
Ao expressar minha frustração nos grupos, não recebi apenas fortalecimento. Recebi, por vezes, firme questionamento: é isso mesmo  que você quer? Compreende e aceita os riscos? Está disposta a assumir o protagonismo e escrever sua própria história? Então siga em frente! Na hora certa tudo se organizará e portas se abrirão!
Fui informada de que dificilmente encontraria o que buscava dentro do plano de saúde, pois nosso sistema obstétrico é cesarista. É difícil para uma primípara parir dentro dos convênios médicos, quanto mais uma louca com 3 cesáreas prévias! Minhas opções seriam o planejamento particular, com a devida valorização dos profissionais envolvidos, ou recorrer à rede pública de saúde, que tem avançado significativamente no que diz respeito ao parto humanizado em alguns hospitais, mas que, em virtude de seus protocolos, somente me autorizaria um parto normal se eu chegasse literalmente parindo.
Voltei ao sonho dourado: não tinha dinheiro para bancar um parto particular, ao mesmo tempo em que tinha ciência da delicadeza de  um vba3c e sabia que seria imprudência extrema fazê-lo sem equipe, indo para hospital público e submetendo-me ao plantão em pleno expulsivo.

Quando estive prestes a desanimar, lamentando minha má sorte, aprendi algo fundamental para a ocasião e para a vida: o empoderamento é uma porta que não se abre pelo lado de fora. Ela só abre por dentro. Se realmente desejasse,  iria abri-la.
Suzy Rhoden

*Este é o primeiro de 3 textos que compõem meu relato de parto. 

4 comentários:

  1. Muito legal,Suzy e que bom teres conseguido normal . Eu como todos os 4 filhos nasceram em 5 anos,não deu!

    Linda foto e adoro esse lugar! bjs, chica

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  2. Ai fiquei morrendo de vontade de ler os demais textos...vai demorar????#LindoLindo

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  3. Lindo Suzi, inspirador! Admirável!!!obrigada por compartilhares tua experiência, busca e coragem... É quase impossível vencer um sistema tão fechado, e tu és vencedora! Passei por 2 cesarianas, não por opção, mas eu deveria ter insistido, passei por várias ocorrências no pós parto... Queria muito ter essa experiência incrível de um parto humanizado. Obrigada por demonstrares que é possível.

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