Foto: arquivo pessoal |
O
Trabalho de Parto
“A voz de um anjo sussurrou no meu ouvido
E eu não duvido, já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo...”
Alceu Valença
Música: Anunciação
Eram aproximadamente 2h
da manhã do dia 27/12, domingo, quando voltaram as contrações. Estava disposta
a ignorá-las, permaneci na cama. Mas, era impressão minha, ou o negócio estava
violento? Claro que era impressão minha, fora avaliada horas atrás e não havia dilatação
alguma. Forcei-me a ficar deitada, fui valente, resisti! Por uns 2 minutos, se
isso, e pulei enlouquecida de dor da cama! Que era aquilo?! Pensei em chamar o
marido, mas o pobrezinho não dormia há 3 noites também, e tudo fora alarme falso. Passei a andar pela casa como um
fantasma, ora no quarto, ora no banheiro, ora na sala; agachada, de quatro,
sentada na bola de pilates, desabada sobre a bola; e aquela agonia não passava,
não dava trégua.
Prometi a mim mesma que
iria dormir, deitei. Mas deitada sentia como se estivessem me rasgando ao meio.
Recorri Àquele que nunca me deixou desamparada: implorei ao Pai Celestial que
me permitisse dormir, mesmo com dor, pois eu realmente precisava renovar minhas
forças físicas. Então vivi um milagre, algo de que nunca esquecerei: assim que
terminou uma contração, adormeci. Dormindo, percebi que começava a próxima
contração, e meu corpo começava a despertar. Uma voz, porém, sussurrou em meu
ouvido: aceita a dor que ela passa. Aceita! Entendi a orientação e cedi, me
entreguei, deixei que a dor viesse e me tomasse completamente. E passou! A
situação se repetiu por algum tempo, sendo que a voz em meus sonhos me
orientava e eu atendia. A dor vinha, me dominava, e ia embora. E eu suportava, me
aliava a ela e não despertava! Foi algo mágico, foi extraordinário, e foi tudo
que eu precisava para enfrentar o que ainda viria pela frente.
Depois de dormir
literalmente com a dor por algum tempo, não tenho a menor ideia de quanto em
minutos ou horas, acordei e não aguentei, tive que levantar. Estava cada vez
mais intenso. Algumas vezes chamei Jeff e pedi massagem nas costas. Ele atendia
no piloto automático e voltava a dormir. Eu não insistia, só recorria a ele em
caso extremo. Afinal, aquilo ia durar alguns dias ainda, melhor acostumar de uma vez.
O dia começava a clarear
quando fui para o chuveiro pela enésima vez, acho, e passei a gritar de tanta
dor. Até então estava mantendo a
elegância, inspirando profundamente e vocalizando quando expirava. Mas na
solidão daquele banheiro, soltei o verbo e chorei, gritando que não aguentava
mais, ia enlouquecer ou morrer, mas não suportaria outra noite daquelas. Não
havia anotado as contrações, mas a sensação era de que uma emendava na outra,
sem tempo sequer para mudar de posição. Nos poucos instantes em que ainda
conseguia raciocinar, questionava se aquela sensação não estaria fora de ordem,
pois a partolândia não vinha lá no final, quase na hora do expulsivo?! Eu me
rendia, entregava os pontos. Fim de linha.
Como num passe de mágica,
mais uma vez, tudo aliviou. Eram 7h da
manhã de domingo, aproximadamente. Peguei o celular e escrevi o mais rápido que
pude para Claudia e Thays, antes que a
sofrência retornasse . Disse para as duas que não aguentava mais. Ambas queriam
informação, descrição, detalhes do que eu sentia, da frequência, duração,
intervalos entre as contrações. E eu por acaso sabia? Havia perdido a noção de
tempo, nem pensei em anotar, afinal, bastava de registrar pródromos né! Fui
taxativa: se os sintomas não aliviassem, iria para o Conceição ter uma cesárea
naquele mesmo dia. Pois sempre fui, em geral, resistente a dor, mas reconhecia ter chegado ao meu
limite.
Exatamente nesse ponto
da conversa, o famoso líquido escorreu por minhas pernas. Transparente, cheirando
a cloro, em grande quantidade. Fiquei em êxtase, pura felicidade! Pois, em 4
gestações, era a primeira vez em que a bolsa rompia espontaneamente!
Sabia que, com a bolsa
rompida, passava a ter prazo pra parir. Se as coisas não evoluíssem em poucas
horas, viveria uma cesárea. Mas estava feliz que algo tinha acontecido e a
intensa dor da madrugada não fora em vão. Sentia-me confiante. Afinal, a voz de
um anjo havia sussurrado em meu ouvido, e aquela era uma bela manhã de
domingo...
Avisei Thays sobre a
bolsa, disse que iria para o Hospital Regina aguardar o desfecho. Lembramos que
ela não poderia me acompanhar, o cadastro seria feito somente na manhã
seguinte. Thays perguntou se eu preferia ir ao hospital público, onde haveria
alguma chance de ela poder me acompanhar no pré parto. Lembrei da frustração
que me perseguia desde a primeira gravidez, há 10 anos: 1 dedo de dilatação. Se
chegasse ao hospital com bolsa rompida e mínima dilatação, meu destino seria um
só: cesárea. Dependeria da boa vontade do plantonista, um desconhecido que não
se arriscaria por minha causa. Não, eu não suportaria isso novamente. Queria
minha equipe, o hospital de minha escolha, ser bem tratada. Decidi ir para o
Regina, onde minha doula infelizmente não poderia entrar. Seríamos apenas marido e eu, como tudo começou 40 semanas
atrás. Estávamos preparados!
O
Parto Normal Após 3 Cesáreas
“Porque
um menino nos nasceu, um filho se nos deu.”
Isaías 9:2
Chegamos ao hospital por
volta de 10h30, pouco antes da obstetra. Fui direto para o cardiotoco, tudo
maravilhosamente bem com bebê. O exame também captava minhas contrações, que
começavam a retornar. Marido e eu atentos, vibrando quando o aparelho alcançava
as medidas mais altas, torcendo: sobe mais, sobe mais. Estranho torcer para
sentir dor, mas naquele contexto era exatamente isso o que nos fazia felizes.
Guísella chegou, fez o
toque e sacudiu a cabeça com expressão de
surpresa. Aqueles segundos pareceram eternos, pois ficou evidente que era 8 ou
80; permanecia com 1 dedo de dilatação, ou o trabalho de parto estava avançado.
Fala, doutoraaaaa! 7 cm de dilatação, disse ela vibrando conosco! Ah, que
alegria, quase chorei naquele momento. Quanta felicidade! Eu, a sem dilatação, lá estava, praticamente
parindo! Profunda gratidão.
Lembrei-me de ter lido
que a maternidade aproxima a mulher da divindade. Senti isso naquele momento.
Senti-me sendo elevada. As promessas que meu Pai Celestial me havia feito de
que teria meu filho por parto natural estavam se concretizando – Ele sempre
cumpre Suas promessas!
A partir daí, foi pura
diversão. Na bola de pilates, eu praticamente dançava. Estava sem minha
playlist, porque sei lá onde foram parar o pen drive e meu celular com as
músicas selecionadas, mas não precisava: notas musicais nasciam de mim, meu
coração cantarolava!
Fui levada para a sala
pré parto, onde usei o chuveiro livremente, a bola e a banqueta. Fiquei alguns
instantes sozinha, enquanto marido cuidava da parte burocrática, mas estava
bem, sabia as posições que mais proporcionavam alívio. Em determinado momento, de
súbito veio uma contração intensa. Agachei apoiada na cama, sem conseguir
falar. Queria Jef ou Thays ali comigo. Mas antes que me sentisse desamparada,
vi Guísella se aproximar, agachar e me confortar com voz suave, ao mesmo tempo
em que massageava minhas costas com mãos
que pareciam ter o calor do fogo. De repente, a dor se mesclava com amparo e
amor. Aquela dor não era exatamente isso? A passagem para que o amor se personificasse
numa nova vida que chegava.
Naqueles instantes
finais rumo a dilatação total, ao invés de ir quase à loucura como imaginava,
sentia-me abraçada e acolhida pelo momento. Não havia violência obstétrica, não
havia verticalidade na relação obstetra-paciente, ninguém me censurando por
minhas escolhas, nem exigindo silêncio. Havia paz interna e externamente. Havia
humanização no real sentido da palavra. Assim, nesse clima, dilatei dos 8 aos
10 cm e senti meu bebê avisando que chegava.
Eu estava na banqueta
quando vieram os primeiros puxos, isto
é, aquela vontade involuntária de fazer força. Era outro nível de dor, era a
certeza de que meu Felipe estava ali, querendo sair para o mundo de amor que
preparamos pra recebê-lo. Jeff chamou a médica, disse que estava nascendo,
Guísella veio correndo. Convidou-nos para deslocarmos até outra sala, mas eu
não queria ir, sentia o neném chegando e não queria sair de jeito nenhum de
onde estava nem eu sei porquê (rsrs). A obstetra me avaliou e disse que ainda
não havia coroado, teríamos tempo para andar até a sala.
Amparada por Jeff,
cheguei a um local cuidadosamente preparado pra eu dar à luz em total
segurança. Não era uma sala de parto normal, como eu imaginava que seria, mas
nem percebi naquele momento. Mais tarde, entendi que estava no bloco cirúrgico,
com mesa preparada para qualquer intervenção. Em meu braço, acesso para a
eventualidade de precisar ser medicada às pressas. Várias pessoas na sala,
dentre elas o obstetra Fabiano, responsável pela organização do local, motivo
pelo qual eu mal o tinha visto até então: estava garantindo que meu parto fosse
o mais seguro de todos. Aquelas pessoas compunham a equipe de enfermagem do
hospital, caso evoluíssemos para uma cesárea. Tudo cuidadosamente preparado.
Se fiquei constrangida
com toda aquela gente na sala? Eu sinceramente não enxergava ninguém, só queria
saber de meu bebê, que estava vindo! Mas senti a vibração positiva daquela
equipe, a torcida para que tudo corresse de acordo com meus sonhos mais
íntimos.
Lembro de como me senti
quando entrei no local: acolhida mais uma vez, respeitada. Fui levada até uma
banqueta, posição com a qual já tinha me identificado e de certa forma
escolhido para parir. Meu sonho mesmo era usar banheira, mas um vba3c me
chamava à realidade, lembrando que a água retardaria a intervenção, caso fosse
necessária. Escolhemos ser prudentes.
Jeff sentou-se em um
banco atrás de mim, de onde me apoiava e fortalecia. Guísella a minha frente,
sentada no chão, com o sorriso mais encorajador deste mundo! Como me fez bem
aquele sorriso, cuja mensagem inequívoca era: você vai parir, confio
integralmente em ti!
Também recordo do
ambiente a meia luz e da música animada tocando ao fundo. Mas que música era
mesmo? Não faço a menor ideia, embora na hora tenha adorado e pensado: que bom
ouvir esse som! Alguém perguntou: quer que desligue a música? Respondi que não,
de modo algum. Queria música, me fazia bem.
Os puxos continuavam, quando vinham eu me agarrava em Jeff e gritava a
plenos pulmões. No intervalo entre eles, conversava e recebia orientação.
Foto: arquivo pessoal |
Não
sei quanto tempo ficamos nessa situação, o tempo inexiste para uma mulher
vivendo o expulsivo. De repente, um desejo muito grande de fazer força e o bebê
coroou. Estava esperando pelo círculo de fogo, mas essa sensação ficou para o
bebê 5, pois não identifiquei a queimação sobre a qual havia lido. Ao invés
disso, sentia a presença do bebê e a urgência em fazer força.
Foto: arquivo pessoal |
Porém, cadê minhas
energias? Me sentia fraca diante do tamanho da missão, a cabecinha que estava
coroada voltou! Precisei aguardar o próximo puxo
e fazer força novamente, para que coroasse outra vez. Mas parecia tudo tão
distante no tempo, como se estivéssemos há horas ali e meu neném entalado. Em
algum momento, verbalizei que me sentia sem forças, não conseguiria. Fabiano,
ao meu lado, estimulou: “ele está aqui, já está nascido! Vamos lá, você
consegue!” Guísella conduziu minha mão até a cabecinha dele, senti uns fiapos
de cabelos e aquilo me renovou!
Orei ao Senhor, pedi que
Ele me ajudasse, proferindo algumas palavras em voz alta. Lembro de ter pensado na Expiação do Salvador
Jesus Cristo naquele momento de dor e agonia. Assim como Cristo padeceu para
nos dar de presente a ressurreição e vida eterna, sentia-me padecendo por algo
maior, pela vida que nasceria do sofrimento de um momento. Tudo, simplesmente
tudo valia a pena!
Foto: arquivo pessoal |
Com tal sentimento, fiz
a força mais comprida que consegui, mantendo o esforço até que Felipe veio à
luz, lindo de viver! Meu mundo parou, o relógio congelou, as pessoas passaram a
se mover em câmera lenta como se estivessem num outro plano, distantes de mim.
Só tinha olhos e emoções para meu bebê, meu Felipe, que veio no mesmo instante
para meus braços.
Se alguém me falasse em
dor, que dor?! Tudo simplesmente desapareceu, transformou-se para sempre. Ao
meu lado, Jeff compartilhava da minha emoção. Ele, que foi meu apoio o tempo
inteiro, tanto emocional quanto fisicamente. Estávamos extasiados, admirando,
cheirando e amando nossa cria! Juntos, em sintonia, na mesma inesquecível
emoção, ocitocinados!
Foto: arquivo pessoal |
Felipe nasceu com uma circular de cordão, coisa que não atrapalha e nem impede em nada um parto normal – inclusive um parto atípico como o meu, após 3 cesáreas. Logo depois, nasceu a placenta. Tão rápido, que não senti qualquer contração, ela simplesmente veio seguindo o bebê. E era enorme a árvore que nutriu nosso garotinho por 40 semanas e 6 dias! Em poucos minutos, parou de pulsar o cordão e coube ao papai a honra de cortá-lo.
Soube então que eram
apenas 13h52 quando nasceu Felipe, num expulsivo tranquilo e relativamente
rápido. Pra mim, pareceu uma eternidade, mas o relógio contestou minhas
sensações: tudo acontecera num ritmo sensacional.
O parto foi natural do
início ao fim, sem nenhuma intervenção. Não houve indução de nenhum tipo. Não
recebi e nem sequer pensei em pedir anestesia. Não fui submetida a episiotomia
(aquele corte de rotina, totalmente desnecessário). Sofri pequena laceração,
embora tenha realizado exercícios preventivos de fortalecimento do períneo, e
recebi alguns pontos que em nada me atrapalharam, nem causaram dor posterior –
nada que se compare ao desconforto causado pela episio ou cesárea, por exemplo.
O parto foi inteiramente
meu e eu o vivi intensamente em cada detalhe. Trabalhava comigo o parceiro
perfeito: meu bebê, no seu ritmo, no seu momento. Nossos corpos juntos, abrindo
caminho. O papai nos amparando, para que não duvidássemos de nossa capacidade.
Mostramos que mamãe sabe parir e bebê sabe nascer. Vivemos a travessia do útero
para a vida fora dele da maneira mais digna possível, como todo bebê merece ser
recebido neste mundo.
A amamentação foi
iniciada no primeiro momento, no primeiro colo, mas bebê estava cansado do
esforço e parecia querer mais descansar do que se alimentar. Isso não foi
problema, logo depois mostrou que entendia bem do assunto e exigiria mamãe a
sua completa disposição (rsrs).
Foto: arquivo pessoal |
Após eterno instante de carinho, reconhecimento e estabelecimento de vínculos, Felipe acompanhou papai para pesagem e alguns outros procedimentos. Infelizmente, a pediatria seguiu os protocolos do hospital e assim nosso filho não foi dispensado do nitrato de prata, por exemplo. A falha foi nossa nesse quesito, pois não apresentamos plano de parto já que tínhamos equipe e consideramos que a mesma agiria de acordo com atendimento humanizado, sem qualquer forma de violência. Ainda assim, Felipe logo retornou para mim e dos meus braços não mais saiu até nossa liberação do hospital.
Felipe Emanuel Rhoden
nasceu com 3.275 kg, apgar 9 e 10, 52 cm e uma pinta charmosa na cabeça, pouco
acima da testa. Comprido e magrelo, como seus outros irmãos quando nasceram. Já
não havia vérnix em seu corpo, pois o moço amadureceu tanto quanto pode antes
de dar sinais de nascimento: estava prontinho, madurinho, todo enrugadinho, a
pele descascando. Fui consultada sobre o banho do bebê, se queria que fosse
dado naquele momento e respondi que não. Eu o queria como nasceu, com seu
cheiro de recém parido.
Foto: arquivo pessoal |
Fomos para o quarto, eu carregando meu bebê nos braços. Aquilo era incrível pra mim, eu ainda estava processando o sentimento incomparável de ter conseguido viver meu vba3c!!! Sair de lá com meu filho nos braços, sorrindo, já alimentada e cheia de autonomia não tinha preço, fazia de mim uma mulher realizada na vida. Eu me sentia ótima, e mal cheguei ao quarto já estava andando de um lado para outro e cuidando de meu filho. Não precisava de ajuda para sair da cama, usar o banheiro, tomar banho. Nada em mim doía! Incrível a sensação de autonomia que o parto normal proporciona! Sei que nem todos os partos normais, inclusive os humanizados, tem desfecho tão satisfatório assim, então recebi tudo isso como recompensa pelas 38 semanas de incertezas que vivi. Me sentia realizada, genuinamente feliz.
Somente no quarto, Jeff
e eu lembramos dos registros fotográficos: tarde demais! Não tínhamos fotógrafa
conosco, mas havíamos levado a câmera. Nenhum de nós lembrou. Felizmente,
alguém da equipe (provavelmente o obstetra Fabiano) fez algumas fotos de seu e
do nosso celular. E isso é tudo que temos. Os momentos mais preciosos,
portanto, não serão jamais compartilhados visualmente, mas se reproduzirão para
sempre dentro de nossa mente e coração. Parto inesquecível, para lavar a alma
sedenta que eu carregava!
Permanecemos no hospital
pouco mais de 24h e, após avaliação, bebê e eu fomos liberados, ambos em
excelentes condições. No local, fomos muito bem tratados e respeitados. Logo
minha história ficou conhecida entre a equipe de enfermagem e todos me
parabenizavam pela coragem de encarar um parto normal após 3 cesáreas. Eu, que
havia sido discreta na chegada, saí alardeando a conquista, provando que muito
da tradição obstétrica é mito e acabava de ser derrubado.
Foto: arquivo pessoal |
Cumpriu-se a promessa que recebi de anjos que me visitaram em sonhos e que, no momento em que mais precisei, vieram sussurrar em meu ouvido e nos auxiliar na travessia. Cumpriu-se também o sonho de Claudia, na tarde do dia 27/12/2015, mesmo dia em que ela celebrava o nascimento de sua caçula, parida em um vbac. Cumpriu-se um capítulo de minha existência, escrito com dor e amor, mas começava outro, de ativismo numa causa que me ganhou: pelo fim da violência obstétrica e das cesáreas eletivas contra a vontade da mulher. É possível escrever uma história diferente após 1, 2 ou até 3 cesáreas!
A
Transformação
“Não
existem limites para o que uma mulher com coração de mãe pode realizar.
Mulheres dignas mudaram o curso da história e continuam a fazê-lo, e sua
influência se espalhará e se multiplicará através das eternidades.”
Julie B. Beck
Sempre ouvi histórias de
parto associadas à transformação e libertação. Tinha curiosidade em saber como
se daria a minha história, se algo mudaria de verdade dentro de mim ou se
aquilo era força de expressão. Chegou o meu momento!
A transformação, pra
mim, assim como o empoderamento, não se deu apenas na hora do parto como num
passe de mágica. Começou antes. Foi um processo. Fui me transformando conforme
aprendia e entendia que aquilo fazia sentido, que havia respaldo científico,
baseado em evidências. Meu pensamento foi mudando e, conforme eu mudava, meu
companheiro se transformava também. Se o único benefício fosse a mudança para
melhor em nosso casamento, já teria valido a pena. Refiro-me à parceria que
começou com as massagens diárias nos pés inchados e se estendeu ao ápice da
dor, quando Jeff me deu o suporte exato que eu precisava, tanto físico quanto
emocional. Nos tornamos “um” no mesmo propósito, e então não houve quem nos
convencesse de que não seria possível - embora muitos tenham tentado.
Transformei-me durante
os 3 dias de dores, que suportei resignadamente. Precisava exercer paciência e
aceitar que não sou senhora do tempo. Mas sou senhora de mim e poderia, sim,
aguentar firme aqueles momentos preparatórios. Foi o que fiz. Não fossem os
pródromos desta gestação, não saberia com certeza absoluta que meu primogênito
nasceu durante as contrações de treinamento, esclarecendo porque na época não
dilatei.
Libertei-me quando
expurguei todos os meus fantasmas e enfrentei meus medos, sozinha na madrugada,
sem saber que tinha entrado em trabalho de parto. Descobri a força que possuo,
a capacidade fenomenal de resistir, não à dor que vinha me trazer meu maior
presente, mas resistir ao medo de sentir dor que envolve toda mulher nas minhas
circunstâncias. Dilatei 7 cm em poucas horas, tendo adquirido conhecimento
suficiente pra comandar meu próprio corpo ao invés de bloqueá-lo. Aprendi a
abraçar a dor e andar com ela, porque era ela que me guiava.
Por fim, renasci. Eu,
que por 3 vezes havia celebrado o nascimento de meus filhos praticamente
beijando as mãos dos médicos que os trouxeram ao mundo, desta vez não fui
platéia que assiste ao maior espetáculo de sua vida imaginando o que acontece
por trás das cortinas. Fui para o palco: gritei, chorei, dancei, sorri, me
contorci, sofri, vivi! A história era minha e exigi escrever lucidamente o desfecho dela!
Coadjuvantes ali eram os médicos, a equipe, e sabiam disso, se alegravam nisso.
Porque assim, evento fisiológico e familiar, os partos devem ser. Pela primeira
vez pude nascer junto com meu filho, alcançando profundezas do que antes para
mim era apenas superfície.
Alguns mitos caíram por
terra com minha experiência:
- Uma
vez cesárea, sempre cesárea: Não! Eu pari depois de 3 cirurgias;
- A mulher não pode entrar em trabalho de parto porque isso provoca a
ruptura uterina: Pode sim, na maioria dos casos. Meu útero não rompeu. E,
incrível, em nenhum momento durante o trabalho de parto temi por minha vida ou
por Felipe, o sentimento era muito forte de que nossos corpos estavam
preparados, sabiam o que fazer;
- Circular de cordão é indicativo de cesárea: Não! Felipe nasceu com
circular de cordão, que foi removida no nascimento, sem qualquer risco para o
bebê;
- Existe mulher sem dilatação: Não, existe mulher que ainda não
entrou em trabalho de parto. Quando entrar, ela vai dilatar;
- A mulher precisa obrigatoriamente de episio pra dar passagem pro bebê:
Não! Muitas mulheres conseguem parir bebês enormes sem qualquer laceração, e
mesmo quando lacera, geralmente a fissura é pequena e não causa prejuízos
maiores a puérpera. Foi meu caso;
- É arriscado ficar ‘sofrendo’ 3 dias em casa sozinha ou acompanhada
apenas pela doula: Não é arriscado, porque tal sofrimento, em meu caso, se
referiu aos pródromos e não ao trabalho ativo de parto. As dores nessa fase são
totalmente suportáveis, visto serem apenas contrações de treinamento. Meu
trabalho de parto não durou 4 dias e sim iniciou por volta de 2h da manhã do
dia em que meu filho nasceu, portanto foram no máximo 12 h de trabalho ativo!
Fui para o hospital na hora certa, já com dilatação suficiente para evitar
qualquer forma de indução e diminuir os riscos de necessidade de intervenção;
- O bebê estava em risco porque passou da hora: Não! Felipe não
passou da hora, visto que a gestação poderia se estender seguramente até as 42
semanas. Estávamos apenas com 40 + 6, ele estava bem, não apresentava
sofrimento fetal e não havia qualquer indício da presença de mecônio. Líquido
amniótico abundante mantinha Felipe muito bem acomodado em meu ventre, sem
pressa alguma para sua travessia.
- A posição segura de parto é de litotomia (posição ginecológica): Segura
para os médicos, não para a mulher, que sente muito mais dor deitada com as
pernas abertas e elevadas! Para mim, permanecer deitada era insuportável até
nas simples contrações de treinamento, quanto mais em trabalho de parto ativo!
A posição vertical me pareceu muito mais confortável, utilizei a banqueta
(espécie de cadeira com buraco no meio), alcançando expulsivo relativamente
rápido e tranqüilo.
Esses são alguns, dentre
os tantos mitos que o próprio relato vai se encarregando de desmistificar. Cada
mulher que escolhe parir tem a chance de, ao seu modo, mudar o curso da
história, pois exerce influência positiva sobre suas semelhantes que desejam um
parto normal, mas não acreditam que poderão tê-lo. Muitas, a grande maioria de
nós, veio ao mundo fisiologicamente capaz de gestar e parir e tem perfeitas
condições de fazê-lo. Mas, assim como o corpo, a mente precisa estar preparada
com instrução correta, fé e empoderamento. Não há sistema operante que limite uma
mulher determinada que confia plenamente em seu Pai Celestial.
O
Acerto de Contas
“E
Cristo disse: Se tiverdes fé em mim, tereis poder para fazer tudo quanto me
parecer conveniente.”
Morôni 7:33
Olhando para trás e
revendo a sucessão de acontecimentos que levaram ao parto dos meus sonhos,
observo que muitas pessoas foram tiradas de meu caminho pela providência
divina. Foram aqueles que me disseram não, que viraram as costas quando
solicitei acolhimento em meus anseios. Não estavam à altura da experiência que
eu viveria, não mereciam participar de momento tão lindo e sublime de meu
protagonismo.
Permaneceram, ou
surgiram na hora exata, aqueles que nunca duvidaram, que olhavam pra mim e
acreditavam: ela vai parir. Entendi que tal sintonia e vibração positiva é fundamental.
Antes de tudo, eu precisava acreditar. Mas a equipe que me assistiria precisava
também confiar num parto lindo e sem intervenções, como de fato aconteceu. Ana
Lu, Thays, Luana, Guísella e Fabiano não chegaram ao acaso em minha vida. Foram
preparados e escolhidos. Juntos, escrevemos um novo capítulo para a história de
partos planejados no Rio Grande do Sul, incluindo um vba3c.
Mas, será que eu
precisava passar por tudo que passei nas primeiras 38 semanas? Refiro-me a
angústia que poderia ter abalado negativamente minha gestação. Provavelmente
sim, precisava para aprender algumas verdades inestimáveis: posso escolher o
protagonismo ao invés da vitimização, em qualquer circunstância, até na mais
adversa e desfavorável! Posso manter a mente firme e mover o universo a meu
favor quando não me deixo abalar por julgamentos e má vontade alheios. Posso
contestar médicos quando estou munida de informação, conheço meu corpo,
acompanho a evolução de meu bebê, e tenho motivos reais e não idealizados para
crer em condições de parir sem intercorrências óbvias.
Mas será que eu merecia
passar por tudo que passei? Não, eu não merecia. Foram 38 semanas amargas, de
um pré natal sem referência. Em caso de intercorrência, não sabia a quem me
reportar, pois simplesmente não havia obstetra fazendo meu acompanhamento!
Certamente eu merecia ter sido acolhida, orientada e acompanhada.
Sinto-me na obrigação de
relatar o cenário que encontrei em meu estado quando parti em busca do parto
normal. É o cenário que outras mulheres na mesma situação encontrarão e, se não
estiverem verdadeiramente determinadas, acabarão desistindo de algo que mudaria
para sempre suas vidas! A verdade precisa ser escancarada, e esta é a hora,
este relato é o lugar: não fui acolhida por aqueles que se colocam como
alternativa ao sistema cesarista. Lamentavelmente, fui julgada e rejeitada por
profissional que se proclama publicamente a serviço da humanização do
atendimento a gestante.
A rejeição é um direito
do profissional, que honestamente pode informar a gestante que o procura: “Sinto muito, mas seu caso significa riscos
para o exercício de minha profissão. Não estou disposto a correr tal risco
neste momento”. Porém, o julgamento e a falta de honestidade são inaceitáveis!
Especialmente quando vem de alguém que tantas vezes criticou os médicos
cesaristas por enganarem suas pacientes, levando-as a cesáreas eletivas.
Fui taxada de gestante
não empoderada, e rapidamente descartada a fim de não causar estragos à
reputação do doutor. Tão bom livrar-se das encrencas, não é, e assumir apenas
casos de baixo risco. Tão fácil acolher mulheres em tais circunstâncias e
proferir belos discursos a respeito da humanização do nascimento. Mas aquelas
que mais precisam ser acolhidas em seus anseios, pois vivem sua ÚNICA chance de parir, são simplesmente ignoradas.
Que se entendam com seus sonhos e sentimentos, façam terapia!
Ocorre que a não empoderada aqui insistiu, incomodou,
cutucou. Foi atrás de meio mundo pedindo ajuda. Ao invés de avaliar que,
talvez, a pessoa estivesse mesmo determinada e merecia apoio, o que fez o profissional
a serviço da humanização? Excluiu a encrenca da rede social, alertou colegas
sobre o problema à vista e atrapalhou ainda mais a batalha que já era desleal
sob muitos aspectos.
Para fechar os estragos
com chave de ouro, questionou: por que tal obsessão pelo parto normal agora e
não antes das 3 cesáreas? Ou seja, azar o seu se foi vítima de violência
obstétrica em outras gestações e teve seus partos roubados, eu não tenho nada
com isso, lavo minhas mãos. Agora é tarde. Claro que a pergunta não foi feita
diretamente a mim, e sim através de terceiros, pois eu responderia com outra
pergunta: por que o senhor realizou cesáreas eletivas, conforme se comprova em
seu histórico, antes de descobrir a importância da humanização do atendimento à
gestante? Pois é...
O mais frustrante dessa
história toda é saber que tal profissional, habituado a oferecer duras críticas
ao sistema obstétrico vigente, não teve a dignidade de apresentar-me sua
opinião face a face, durante as consultas particulares que paguei para receber
seu atendimento. Fez-me acreditar que sua agenda estava cheia, que não poderia
me internar pelo plano, e uma série de outros empecilhos, especialmente
preparados para meu caso delicado (e indesejado). Não seria mais honesto
dizer-me francamente que recuava, que temia o desfecho de meu parto? Eu
compreenderia, assim como compreendi as razões da médica que me escreveu,
referindo ter ficado comovida com minha causa, mas não se sentir à vontade para
ir contra os protocolos vigentes. Ela foi honesta. Ela me deu retorno. Ela foi
humana.
Ele se livrou de mim.
Como em tudo há um
propósito, a verdade veio à tona, documentada pelo próprio profissional.
Registrou seus julgamentos e os motivos pelos quais não fazia questão de me
atender. Deixava claro que não tinha a menor intenção de se arriscar por uma
desconhecida. Fez isso novamente através de terceiros, sem um pingo de
consideração. Cadê a hombridade que se espera de alguém que tem seu nome
atrelado ao conceito de humanização? Mentia para si mesmo e sabia disso,
escolheu manter a máscara. Infelizmente, coube a mim vir tirá-la publicamente.
Não bastasse encontrar
tal recepção (surpreendente!) entre os humanizados, descobri que parir é
exclusividade de primípara ou de abastada por aqui. Primípara porque, sem
histórico de cesáreas, consegue bom atendimento em (alguns) hospitais públicos
da região. Abastada porque o atendimento é caro, inacessível a grande maioria
das mulheres. Em meu caso, face à exigência de dois obstetras, o valor
investido foi além de minhas possibilidades. Não fosse o empréstimo obtido com
amiga, eu estaria amargando agora minha quarta cirurgia. Fiz sacrifícios
pessoais para manter o desejo de um nascimento digno para Felipe.
Mas será que tal serviço
humanizado deveria ser disponibilizado somente a quem pode pagar altas
quantias? O que dizer para mulheres que pagam o convênio mês a mês, como eu,
confiando que encontrarão respaldo quando surgir a necessidade? Nem obstetra,
nem pediatra, tudo particular. Até quando esse abuso conosco, pagantes de
planos de saúde?!
É... A frustração foi
grande. Fiquei chocada com o que encontrei nos bastidores.
Felizmente, nem todos se
preocupam em fazer bonito apenas sob a luz dos refletores. Há quem realmente
viva a humanização como prática diária.
E eu tive a sorte de encontrar pessoas assim, já apresentadas neste relato. Sou
grata a cada uma delas por mostrarem que é possível o ativismo discreto, aquele
que não sente a necessidade de atrair todos os olhares sobre seus feitos. Por,
mesmo distante dos holofotes, fazerem sua parte de maneira impecável. Fui
assistida por profissionais assim. Para esses, meu aplauso e minha gratidão.
Que a crítica aqui
oferecida não sirva de desestímulo para a gestante em busca de seu ideal de
parto. É direito seu buscar e receber o melhor. Se houver certeza do que se
quer e mesmo assim as portas continuarem fechadas, a resposta é uma só: aquela
é a porta errada. Levante-se e vá atrás de outra. Bata, insista, cutuque,
incomode, lute. Isso se chama empoderamento, começa na gestação (ou antes) e
alcança seu ápice no trabalho de parto.
Se alguém disser que
você não é empoderada, não perca tempo com esse profissional. É fraco e vai
recuar. Não gaste seus argumentos, não é a hora de desperdiçar energias.
Guarde-as para sambar logo adiante, como eu estou sambando agora: na cara do
sistema cesarista e na hipocrisia do supostamente humanizado. EU CONSEGUI, EU
PARI APÓS 3 CESÁREAS!!!
Emocionante e transpira a alegria e o agradecimento por teres conseguido esse sonho ,que não era só teu! Lindos momentos e tudo passado ficou pra trás! Restou a alegria e a garra que te levaram a conseguir! Parabéns! Adorei as fotos e Felipe é lindo! bjs, chica
ResponderExcluirOi Suzy ;)
ResponderExcluirA conveniência e o comodismo reinam
em nosso sistema de saúde.
Então, depois de 3 cesáreas, só tendo muita audácia
e valentia para peitar o sistema.
Parabéns por sua autosuperação, afinal você conseguiu! \o/
P.S.: Lindas fotos!
Feliz por vcs! muito feliz!
ResponderExcluirAmiga! Foi a primeira coisa que procurei pra ler quando liguei o computador hoje!
ResponderExcluir‘Comi’ cada palavra desse último relato e pensava enquanto lia: quanta informação preciosa, quanta denuncia necessária!
Suzy, vc é 1000!!!
Dividir conosco essa etapa da tua vida foi generosidade singular! Chegou tarde pra mim, mas me levou a reflexões profundas de que é preciso perseverar com coragem e fé. Não uma fé baseada em credulidade, mas baseada na confiança que temos no único Deus verdadeiro, cujo desejo é que tenhamos firme persuasão e a expectativa certa de que o que pedimos se tornará realidade. Uma fé com dúvidas, não é fé: é desejo. E quando a fé é somada aos esforços coerentes em demonstração dela, saímos vitoriosos.
Grandes emoções vivi desde o primeiro relato! Deu pra ir do riso ao choro num piscar de olhos. E vise versa. Tua escrita, pontual, elegante... As fotos, de uma delicadeza autêntica... Que pena que acabou! ADOREI!!!
Como não chorar? E como não se colocar em seu lugar? Parabéns, parabéns!!! Estou emocionada e feliz por você e por sua família. Um grande abraço Suzy, continue confiante em Deus e colhendo os frutos de sua fé. BJS. Tudo de bom, de maravilhoso, para seu Felipe e seus outros filhinhos.
ResponderExcluirAmiga querida, to aqui chorando... não sei o que dizer. Emocionada demais...
ResponderExcluirQue o Pai Celestial abençoe seus passos e sua causa.
Agora posso contar, há uns três meses um amigo meu perdeu a esposa no parto humanizado. Foi muito triste. Eu não podia te falar e tinha certeza de que ia dar tudo certo, mas mesmo assim fiquei com o coração na mão...
Estou muito feliz por voce!!! Já sou admiradora do Jeff, um parceiro no verdadeiro sentido da palavra. E que seja muito bem-vindo o seu Felipe.
Um abraço apertado desta amiga que já era sua fã e que está daqui chorando de emoção...
Leila
Suzy querida,
ResponderExcluirVocê foi uma grande guerreira. Um verdadeiro exemplo para as mulheres comodistas, que optam pelas cesáreas apenas para não 'sofrerem'. Infelizmente, os médicos, no geral, objetivando maior lucro para si e para os hospitais, costumam induzir as gestantes a fazerem cesárias.
Seu caso foi especial, pois envolvia riscos, o que afastava os médicos de comprometimento diante de seu firme propósito de trazer Felipe ao mundo através do modelo de parto escolhido.
Sua narrativa emociona. Sua garra é admirável. Seu marido foi um grande companheiro. Felipe teve sorte de chegar a este mundo num grupo familiar como o seu.
Você fez jus às bençãos recebidas durante todo processo do parto e foi um grande exemplo, fazendo a diferença.
Adorei ver a carinha fofa de Felipe e a alegria de papai e mamãe.
Que muitas bençãos envolvam sua linda família!
Parabéns!!!!
Beijos.