Tenho
observado a correria típica de final de ano: a busca desesperada por presentes
que agradem no Natal, os preparativos para a ceia – que deve ser a melhor de todos os tempos – e uma
série de ocupações voltadas para a grande noite de 24 para 25 de dezembro, que
precisa ser perfeita. O que muitos não percebem é que nesse empenho incansável
para garantir a festa, acumulam também o estresse, terminando o ano fatigados e
carrancudos. Vejo muitas pessoas assim, cabisbaixas nesta época linda do ano!
Não desfrutam da alegria do Natal, nem da recepção do novo ano que se aproxima,
pois para elas tudo tornou-se um fardo pesado demais, um incômodo, uma
obrigação indesejada.
Vejo
tudo isso de longe. Sim, de longe. Pois me nego a participar da parte comercial
do Natal. Enquanto a maioria corre, permaneço serena, experimentando suavemente
o espírito natalino. Será isso possível em tempos atuais? Sim, se tivermos
disposição e força o suficiente pra nadar contra a correnteza. Pois a moda é
comprar, ostentar, extravazar.
Não
sigo tendências, faço o que me alegra e eleva a alma. Nesta semana, por
exemplo, ao invés de correr atrás de presentes, deixo-me levar pelas doces
lembranças de outros Natais, enquanto me preparo tranquilamente para este. Meus
pensamentos me levam para a infância, quando o Natal era ansiosamente esperado
em nossa casa. A face de meus pais não estampava o estresse que vejo hoje nos
semblantes, dezembro era recebido com alegria e satisfação. Meu pai encerrava novembro com as compras para
o mês sagrado, e nossa alegria era visitar a despensa sem tocar em nada, numa
expectativa prazeirosa pelas guloseimas que seriam preparadas. A mãe fazia
biscoitos caseiros e nós nos encarregávamos de decorá-los, tudo com deliciosa
antecipação – o que nos dava a nítida impressão de que o Natal durava o mês
inteiro!
Também
me lembro do Papai Noel, que naquela época entrava pela chaminé. Era querido,
mas ao mesmo tempo temido, pois sabíamos que investigava rigorosamente nossa
conduta durante o ano. Saber da existência dele sem nunca conseguir vê-lo era a
melhor parte para mim, pois me fazia traçar mil planos para capturá-lo no ano
seguinte, no instante exato da entrega dos brinquedos. Nunca consegui, ele era
incrivelmente rápido e silencioso, e por isso eu o amava. O Papai Noel hoje
entra pela porta da sala, carregando um saco de brinquedos caros, e ai dele se
não forem do gosto da criançada! Corre o risco de sair linxado, o pobre
velhinho...
Nunca
reclamei de nenhum brinquedo que recebi, lembro-me de ter sido ensinada a ser
grata. Além disso, ainda na infância aprendi que a aniversariante não era eu,
mas um menino especial que nascera em Belém para ser nosso rei: o menino Jesus.
Para Ele iam as honras daquela noite especial e o motivo da comemoração. O
hábito de trocar presentes funcionava apenas como um lembrete de que havíamos
sido presenteados por Deus, recebendo Dele um Salvador. Assim, a comercialização
do Natal nunca ofuscou, em nossa casa, os propósitos de adoração na noite
encantada.
Mas foi
na juventude que minha concepção do verdadeiro espírito do Natal se
solidificou: compreendi que não basta adorar a Cristo e receber presentes – é preciso
doar, sacrificar por outros, para que minha noite e minha vida sejam
infinitamente mais significativas! Lembro do dia em que acompanhei um grupo de
missionários a um asilo em Santa Maria, levando cada dupla uma pequena árvore
de Natal enfeitada. Deixamos uma árvore em cada quarto visitado, e o nosso
carinho por aqueles idosos. A melhor parte foi quando um dos missionários
cantou Jingle Bell Rock com voz de
trovão, e todos encontramos um par entre os velhinhos. Eles riam, dançavam como
podiam. Outros sacudiam apenas as mãos, mas sentiam e movimentavam-se no ritmo. E nós, moças e
rapazes presentes, chorávamos sabendo que aquela tarde especial nunca mais
seria esquecida.
Não
tive uma experiência isolada, tornei a dedicação ao próximo parte importante de
minha vida, de várias maneiras, conforme conseguia. E não somente no Natal, mas em especial nessa data tão significativa. Um
desses Natais passei em Belo Horizonte, MG, distante dos amigos gaúchos e de
minha família. Poderia, pelas circunstâncias, considerá-lo o Natal mais triste
e solitário de minha vida, mas foi exatamente o contrário: foi o Natal no qual
consegui esquecer completamente de mim mesma para alegrar outras pessoas, e isso me acrescentou alegria genuína.
Junto
com minha companheira de trabalho e 2 outras duplas de missionários, saímos ao
longo do dia 24 a cantar canções de Natal na casa daqueles que conhecíamos –
membros ou não de nossa religião. Levamos, através do canto, a paz natalina a
todos que nos receberam: alguns em prédios luxuosos, outros em casas humildes; algumas
famílias bem-estruturadas, já reunidas em seus preparativos para a ceia, outras
completamente destruídas pela violência ou pelo abandono, sem qualquer
pretensão de celebrações naquela data. Cantamos igualmente para todos o nosso
canto de amor, às vezes com voz embargada ou então provocando lágrimas, mas com
uma certeza muito íntima e muito real: cantava conosco um coro celestial.
Desde
então, quando chega o Natal e o mundo corre, eu paro e escuto as lembranças do
passado: elas me ajudam a saber o que realmente vale a pena na Noite Especial,
e aquilo de que me alegrarei em lembrar no Natal do ano que vem. E então
tranquilamente ajo.
Suzy
Rhoden
Lindo texto e desabafo. Compartilho contigo.
ResponderExcluirNão entro nessa loucura nem que me amarrem!
Gosto de Natais tranquilos, sem correrias e afobações.
Nosso Natal é em família e em Paz! Desejo que teu Natal seja lindo ! beijos,chica
Suzi, teu natal é o verdadeiro, não tenho dúvidas, este deveria ser o verdadeiro espírito dos cristãos. Porém, mais forte do que isto conseguiram os comerciantes e as indústrias. Fizeram muitas cabeças, milhões! E infelizmente eu estou nesta pela herança familiar que veio da minha avó (rsrs). E com carga muito forte. Estou tentando, aos poucos, modificar isso. Porém, compro mas sem grandes estresses. Contudo estou ciente de que isso se tornou um vício coletivo dado ao insistente apelo comercial.
ResponderExcluirEngraçado como a gente se conscientiza, mas difícil de mudar. Por isso penso ser um vício estas alucinantes compras em que temos várias pessoas a presentear. Todas juntas, e por quê? É quase uma obrigação, difícil de entender este costume.
Interessante nos darmos conta disso e não cortar, não acabar com tudo numa guilhotinada: de um golpe acabamos com a festa dos presentes. Aí que vemos a força, o apelo do comércio. Tudo aconteceu há muitos anos, tipo lavagem cerebral.
Mas cabe a nós dar um basta. Quando eu conseguir, saberás, mas já diminuí bastante certas coisas. Estou em processo de cura (rsrs)
Beijo grande, linda crônica. (...e agora estou rindo daquelas 'sacolas' do e-mail!).
Tais Luso
Sabe Suzy, eu nem gosto de ver tv por esses dias,agoniam-me as imagens de shoppings super lotados, gente na correria na compra de presentes como se estivessem adquirindo o passaporte do paraíso. Não digo que presentear é algo ruim, o que me incomoda é essa ânsia desesperada em querer mostrar que um pode mais que o outro, pelo valor do que se compra.
ResponderExcluirVim de uma família muito simples e nossos Natais sempre foram modestos, mas com profundo sentido de religiosidade. Procuro manter em casa o costume de reverenciar Jesus nessa data acima de tudo, embora a figura do papai noel, por toda parte, insista em ser o convidado especial dessa festa.
Seu texto é de encher os olhos Suzy e é muito gratificante saber que nem todos comungam da ideia de um Natal consumista.
Desejo mais uma vez um Feliz Natal a você e sua família.
Beijos
Boa tarde Suzy!
ResponderExcluirQue linda postagem :)
Suas lembranças de Natal (de sua infância e juventude),são emocionantes.
É uma pena,quando chega dezembro,e algumas pessoas começam a fazer compras desenfreadamente.
O verdadeiro sentido do Natal,passa despercebido pra uma porção de gente.O que é uma pena.
E o que me chateia também é que a hipocrisia fica muito nítida nessa época do ano.
Mas graças a Deus que muitas famílias,sabem desfrutar da alegria do Natal!
Pra você e os seus:Um Natal de paz!
Bjs!
Suzy,
ResponderExcluirSeu texto é lindo e o Natal no meu coração é exatamente isso.
Feliz Natal, com meu carinho e meu obrigado por sua delicadeza de sempre.
Um beijo
Denise
Voltei pra agradecer o carinho que li e deixar meus votos de um NATAL lindo, cheio da luzinha interior piscando e que as alegrias dele fiquem por todo 2012 que vi chegar!
ResponderExcluirbeijos,chica
Olá Agradeço e retribuo sua visita. Compartilho dos seus pensamentos sobre o Natal.
ResponderExcluirAmiga querida, um lindo Natal pra você e um ano com muita paz e ótimas idéias.
ResponderExcluirFelicidades pra você e sua linda família.
Meu carinho
Tais Luso
Suzy, agradeço a pequena mas bela convivência contigo neste ano. Tuas palavras foram sábias e amigas. Desejo a ti e a todos que lhe são caros um natal feliz, repleto de luzes e cores... Abs, Moran
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