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Foto: arquivo pessoal |
No
dia 28 de dezembro, uma segunda-feira, tomei meu bebê recém parido nos braços e
voltamos para casa, felizes da vida. Não é todo dia que se vive um parto normal
após 3 cesáreas, afinal (pensa na alegria!!!).
E
começava o puerpério, período conhecido como pós parto ou quarentena.
Em
casa, três maninhos ansiosos esperavam pelo bebê do Natal. Foram 9 meses
conversando com ele na barriga, lendo para ele, cantando e dançando com ele –
tudo isso fizemos em família! Os irmãos estavam completamente envolvidos, e
isso era maravilhoso.
A
vovó também nos aguardava, foi o apoio imediato que toda puérpera merece ter.
Cuidava do trio e das tarefas domésticas pra mim.
Eu
havia tido um parto normal, o que fez toda diferença nos cuidados com o bebê. Tinha
pontinhos no períneo e me perguntava se viveria em algum momento o drama de
amigas minhas, que passaram dias e até meses sem poder sentar sem almofadas
devido à episiotomia. Logo comprovei as vantagens da laceração espontânea,
quando ocorre, em relação ao corte planejado e geralmente bem maior do que
seria necessário: não tive qualquer problema com dor, infecção ou sangramento.
Em dias, não havia qualquer sinal de pontos ali. E, cá entre nós, com tudo tão
perfeito eu me sentia a própria diva parideira.
Acontece
que a diva aqui, mãe de quarta viagem, achava que iria tirar tudo de letra,
passar desfilando pelo puerpério. Oh, coitada! Sabe de nada inocente! A diva
esqueceu que está mais perto dos 40 do que dos 30... e cadê a energia para as
mamadas da madrugada? Muito madura emocionalmente, mas desde quando maturidade
repara sono atrasado?!
Não
teve jeito, este puerpério me pegou no aspecto físico. Passava os dias
saracoteando, elétrica que sou, sem conseguir cochilar junto com o bebê. E à
noite era aquilo que toda mãe de recém nascido sabe bem. Parecia um zumbi
cambaleante pelo quarto, balançando o neném. De diva parideira a noiva cadáver
em menos de uma semana!
Ou
seja, puerpério será sempre puerpério: na primeira ou na quarta gestação, não
importa. Será sempre um período de reconhecimento entre mãe e bebê e de
adaptação ao novo mundo que surgiu com a chegada daquele serzinho inteiramente
dependente. Pois a vida não será mais a mesma. Será muito melhor,
possivelmente, mas a felicidade cobrará seu preço na forma de sacrifícios
pessoais. E quer saber? É uma troca muito justa que vale, sim, a pena!
Aprontei
mais uma nesta minha quarentena: puxei o tênis pra corrida 15 dias após o
parto! Afinal, mesmo sem dormir de noite e virada em olheiras, eu me achava a
Mulher Maravilha por ter tido um parto normal e ansiava por fazer coisas que a
danada da cesárea não havia permitido em ocasiões anteriores. Santa ignorância!
Felizmente, meu caminho cruzou com o de várias doulas e uma delas me ensinou: o
puerpério não é o momento mais adequado para retorno às atividades físicas, não
importa o quão bem fisicamente estejamos nos sentindo. É um período de reclusão
por muitos motivos, durante o qual se estabelecem vínculos eternos com o bebê. Como
eu poderia recriar para ele as sensações do útero se, mal foi trazido a este mundo, a mamãe já se
ausentou para malhar, mais ocupada com o próprio corpo do que com suas
necessidades? Como poderia alimentá-lo em livre demanda se, quando ele me
solicitasse através do choro, eu estivesse numa academia ou na pista de
corrida?
Não
foram exatamente essas as palavras da doula, mas foram as respostas que eu
mesma alcancei ponderando e estudando sobre o pós parto. Teria o resto da vida
para voltar a boa forma física, mas quanto tempo teria um recém nascido em
casa? Poxa, eles crescem tão rápido, logo as noites mal dormidas serão nossa
melhor saudade! Pois são justamente essas as noites que passamos agarradinhos,
sentindo o cheiro e o calorzinho um do outro!
Mudei
o foco, eliminei algo que, mesmo na maturidade, ainda insistia em perfazer meus
dias: a pressa. Voltei-me para o que mais importa nesta vida, ou seja, a
relação com meus filhos, em especial com o bebezinho que acabava de chegar,
visto sua condição de total dependência de mim. Foi a coisa mais gratificante
que fiz!
Felipe
tem colo em tempo integral, todo o restante pode esperar. Tornei-me mãe dele e
do trio, e dona de casa apenas nas horas vagas – se sobra alguma. Com frequência,
pilhas de roupas por dobrar são vistas em algum lugar da casa. No chão, se
acumulam farelos com mais insistência do que algum tempo atrás. A louça por
vezes faz aniversário na pia. Não importa, não é minha prioridade.
Mas
meu neném nunca chorou abandonado no berço. Berço que, por sinal, ele usa
apenas para dormir à noite, quando não fazemos cama compartilhada (ele gosta de
sua caminha à noite, dorme tranquilo nela, mas durante o dia só aceita colinho
ou sling).
Acredito
de verdade na exterogestação e nos benefícios dela para mãe e bebê (mas isso é
assunto para próximos textos). Por ora importa informar que Felipe vem
crescendo e se desenvolvendo sem uso de bicos artificiais (chupeta ou
mamadeira), sem administração de leite artificial (mesmo quando inicialmente
perdeu peso, o qual recuperou e dobrou em questão de dias, alimentando-se
exclusivamente de leite materno), e isso só foi possível quando assimilei a
importância de viver meu puerpério sem pressa e sem cobranças.
Como
todos os bebês (pelo menos os que tem refluxo fisiológico e sofrem após as
mamadas), Felipe apresentou por um período necessidade de sucção ininterrupta.
Isso quer dizer que grudou em meu seio e ali passou dias, meses, anos... rsrs Sem
exageros, nessa hora a gente se sente sugada até a última gota e uma chupeta
parece providência divina. Parece, mas não é. Pois pode criar a confusão de
bicos e provocar o desmame precoce. Sou o melhor (no caso, o pior) exemplo
disso: em meus 2 meses de vida, minha mãe apresentou-me chá na mamadeira, influenciada
pela palpitaria gratuita da vizinhança. Nunca mais aceitei seu leite materno.
Ela chorava com os seios vazando leite, e eu chorava me projetando para trás,
recusando o alimento que ela me ofertava. Venci a batalha. E perdi imunidade e tantos
outros benefícios da amamentação exclusiva. Definitivamente, não deixaria que o
mesmo ocorresse com meus filhos. Deixei-me sugar tanto quanto Felipe precisou e
aquela fase terrível passou.
Hoje
estamos há uma semana dos 3 meses, que marcam, simbolicamente, o fim da exterogestação.
Tenho um bebê calmo e sorridente em casa, que não sofreu com cólicas em momento
algum. Se inicialmente acordava quinhentas vezes para mamar na madrugada, ao
final do primeiro mês acordava apenas 3 vezes; com 2 meses acordava 2 vezes e na noite que passou dormiu
das 21h30 às 5h45, acordando com um sorriso enorme ao me ver e não com o choro
desesperado de um esfomeado. Ele está criando sua própria rotina, e não poderia
ser melhor e mais tranquila para todos nós em casa.
Não
tenho dúvidas de que essa rotina está diretamente relacionada à dedicação em
tempo integral que tenho oferecido a ele no puerpério. Acredito também que ele
crescerá seguro, sabendo ser muito querido, muito amado.
Sou
solidária às mães que passam anos levantando várias vezes à noite, afinal os
bebês são diferentes um do outro – tenho 4! Estendo minha empatia àquelas que
experimentam pela primeira vez a maternidade, sentindo-se muitas vezes
desamparadas pela própria inexperiência e pelo medo de errar. Fiquem tranquilas,
estão fazendo o melhor que podem e seus bebês sentirão isso. Mas, se lhes
interessar uma sugestão, eliminem a pressa de sua vida. Vivam dia após dia,
colham cada sorriso, deixem-se embalar pelos primeiros gugu-dadá. A carreira espera, o corpo dos sonhos retorna. A fase recém nascido vai num piscar de olhos e deixa apenas lembranças.
O
puerpério não tem nem de longe o glamur das novelas, porque não há glamur algum
em andar de pijama, com unhas por fazer e descabelada pela casa. Mas puerpério
tem olhinhos apaixonados que te flecham de baixo pra cima e te fazem lembrar
do que realmente importa na vida: sua natureza divina.
Puerpério
é amor sem hora marcada.
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foto: arquivo pessoal |