quarta-feira, 13 de julho de 2011

Previsão do tempo: sol ou raios e trovoadas?



Embalada pelo som de inesperados pingos de chuva ecoando sobre o telhado, no momento em que um sol enorme resplandece dentro de mim, lembrei da situação inversa que acompanhei diversas vezes, quando criança, em meus desenhos animados favoritos: o personagem azarado não consegue escapar da nuvem cinza que o persegue, e enquanto todos os outros se divertem e são felizes, sobre sua cabeça caem raios e trovoadas. Na ficção, esses patéticos personagens nos garantem boas risadas. Na vida real, contudo, eles não são nada engraçados.

Refiro-me às pessoas que carregam suas nuvens negras por todos os lados. Agem como o bom velhinho em época de Natal: reúnem caixas variadas e de todos os tamanhos, num saco grande e pesado, e saem a distribuí-las. O presente que distribuem, porém, são suas próprias dores e mágoas. E nós, por um senso de educação, nos sentimos obrigados a aceitar a “lembrancinha”, retribuímos com um sorriso amarelo, que para esses seres sofridos é interpretado como um “muito, muito obrigada!”, e então é certo que muito antes do próximo Natal virão mais “presentes”, e em caixas bem maiores.

Sei que há fases em nossa vida para as quais a trilha sonora mais acertada é Via Láctea, de Legião Urbana, e tão grandes são nossas tribulações que nos empolgamos em cantar por entre lágrimas: “Queria ser como os outros e rir das desgraças da vida, ou fingir estar sempre bem”. São momentos de intensa dor e sofrimento, durante os quais não conseguimos ter excelente humor ou estampar o melhor sorriso no rosto. Compartilhar esses sentimentos com alguém que nos compreenda é um alívio, especialmente se esse bom amigo nos retribuir com um pouco da paz que tanto precisamos. Não questiono esses momentos, ou essa troca maravilhosa que se dá em momentos assim. Pois, como sugere a música de Renato Russo, gostaríamos de estar bem, de conseguir rir, de não contagiar os outros com nosso estado de espírito, e provamos isso aceitando a oferta de paz que eles nos fazem. Questiono aqueles que carregam  sua nuvem negra em turno integral, nos 365 dias do ano, e que se negam a receber qualquer raio de luz, pois pensam que a obrigação é sempre dos outros de se deixar contagiar por seu mau humor.

Considero-me relativamente paciente e tolerante, mas não tenho qualquer vocação para o sofrimento interminável – nem para o meu, nem para o dos outros. Aprendi com um grande amigo e com a vida que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional e podemos nos livrar dele a qualquer tempo. Se não escolhemos a ação em muitas circunstâncias, temos o poder da reação, e optar pelo papel da eterna vítima do destino é um enorme erro. Lamentar, murmurar não muda a direção dos ventos, não faz com que eles soprem a nosso favor. Ao contrário, faz com que se crie uma nuvem cinza que nos acompanhará por toda vida e afastará de nós as pessoas mais alegres e brilhantes.

Tenho a impressão de que a esta altura do texto cada leitor se encontra em sincera auto-avaliação. Isso é ótimo! Se todos parassem para medir sua temperatura nesse quesito, talvez afetássemos decisivamente a meteorologia de nosso país, provocando dias sucessivos de sol por tempo recorde: driblaríamos todas as tempestades! Tão bom estar perto de quem sabe rir de si mesmo, de pessoas que transformam suas tardes mais trágicas em encenações divertidas para a família e os amigos à noite, dando um tom cômico ao que antes era um dilema. Tenho amigos assim, e como me fazem bem! São tão empenhados na tarefa de ser feliz que, estou certa, já passaram diversas vezes bem no meio de uma tempestade e nem perceberam, pois em suas trevas houve luz.

No mundo já há tragédias e tristezas demais. Não somemos, saibamos rir! Lembremos que o termômetro do humor é nosso e nós o regulamos. E então, sol ou raios e trovoadas?

Suzy Rhoden
Gravataí, 13 de julho de 2011

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